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Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

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Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

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Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Apesar dos custos de produção em queda, desafios persistem na suinocultura

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária Nicolle Andreassa Wilsek reforça que a gestão financeira e de dados é
essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

A suinocultura, um dos pilares da agroindústria nacional, enfrenta desafios constantes, entre os quais o custo de produção se destaca como um dos mais significativos. O setor, altamente dependente de fatores como preços de insumos, produtividade e condições de mercado, é fortemente influenciado pelas variações desses elementos. Nesse contexto, o custo de produção afeta a rentabilidade dos produtores e a competitividade do setor no mercado global.

Médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek: “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

O último ano encerrou com os custos de produção na atividade atingindo a marca de R$ 6,20 por quilo vivo, queda de 23,16% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves.

Santa Catarina, líder nacional na produção de suínos e referência para os cálculos do CIAS, registrou em março uma queda de 1,42% em relação a fevereiro, com o custo de produção por quilo de suíno vivo chegando a R$ 5,61 em sistema de ciclo completo. No acumulado do ano, houve uma redução de -9,52%, fazendo com que o ICPSuíno atingisse 321,12 pontos. Essa diminuição foi impulsionada pelo custo da alimentação dos suínos, que caiu para R$ 4,09, representando 73,33% do custo total.

Composição dos custos de produção

A médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek, explica que os custos de produção na suinocultura são compostos por quatro categorias principais: os custos variáveis, que flutuam de acordo com o nível de produção, englobam despesas diretas do produtor e têm o maior impacto nos custos, incluindo genética, produtos veterinários, mão-de-obra, alimentação, transporte, energia e combustíveis, manutenção e conservação, EPIs, seguros, equipamentos, despesas financeiras, administrativas e ambientais; os custos fixos, por outro lado, ocorrem independentemente da produção e incluem depreciação de máquinas, equipamentos e edificações, além de pagamentos de capital investido na atividade; já os custos operacionais são a soma dos custos variáveis e depreciação; enquanto o custo total é a soma dos custos variáveis e fixos, excluindo o custo operacional.

Impacto direto

O preço dos insumos tem um impacto direto no custo de produção, especialmente porque a alimentação representa uma parcela significativa dos custos no setor, variando de 60 a 70%. “O aumento dos preços do milho e da soja tem um impacto imediato no aumento do custo de produção. Esse efeito também se estende a outros tipos de insumos, como energia elétrica, produtos veterinários, EPIs, entre outros”, expõe Nicolle, que tratou sobre o tema no início de abril durante o Inovameat Toledo, que se destaca como um dos principais encontros dedicados à proteína animal no Paraná.

Gestão financeira

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária reforça que a gestão financeira e de dados é essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor. “É muito importante para obter um retorno maior, para atenuar os gastos desnecessários e para conservar o patrimônio, preconizando a eficiência econômica e financeira da granja”, enfatizou.

Quanto às estratégias para diminuir os custos de produção na suinocultura, a profissional destaca a importância de identificar os gargalos dentro da granja, isso inclui evitar desperdícios, como de ração, vazamentos de água e a presença de fêmeas improdutivas, entre vários outros fatores que devem estar no radar do produtor.

E da porteira para fora da granja, Nicolle cita a necessidade de pensar na organização industrial, que envolve adequação do peso de abate, adequação de formulações nutricionais e logística de transportes.  “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas, o que é alcançado por meio de bons índices zootécnicos, práticas eficientes de gestão e considerações ambientais equilibradas”, evidencia.

A profissional menciona que a suinocultura se beneficia de diversas tecnologias que podem contribuir para diminuir os custos da atividade. “Nas granjas a automação ajuda a reduzir a necessidade de mão de obra, enquanto o uso de energias renováveis, como solar e biodigestor, auxilia na diminuição dos custos com energia elétrica e combustíveis”, relata, acrescentando: “E a escala de produção influência de forma direta os custos na suinocultura, por isso que quanto mais animais produzindo, mais eficiência terá a propriedade e, consequentemente, maior rentabilidade. Além de otimizar logística de transporte, alimentação e demais suprimentos”, aponta.

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Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes No Paraná

Vizinhos compartilham biodigestor para produzir energia limpa da suinocultura

Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, dois produtores de Itaipulândia, no Oeste, decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, ambos conseguem baratear contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

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A cerca que divide as propriedades de José Valdir Genaro e Ari Facioni, em Itaipulândia, no Oeste do Paraná, é uma mera formalidade quando o assunto é sustentabilidade na suinocultura. Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, os produtores decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, os dois conseguem baratear suas contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

Usina de BioGás – produção de energia gerada a partir, neste caso, dos dejetos de suínos -, em Itaipulândia, região Oeste do Paraná.- Fotos: Roberto Dziura Jr./AEN

O compartilhamento do sistema também permite que o investimento feito pelos produtores se pague mais rápido, com uma produção diária de energia ainda maior. O modelo também serve de exemplo para pequenos produtores, que individualmente não teriam fôlego financeiro ou volume de dejetos para manter um sistema sozinho.

A história dos produtores é tema da série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo”, que mostra exemplos de adesão ao programa RenovaPR e ao Banco do Agricultor Paranaense para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades.

“Para o meu vizinho montar o gerador, a quantidade de suínos que ele tinha não seria suficiente para a finalidade que ele tinha imaginado, então ele me convidou para fazer uma parceria, cedendo o esterco dos meus animais para aumentar a capacidade de geração de energia”, explica Ari Facioni.

Com a soma dos dejetos dos 3 mil suínos da propriedade de Genaro e de 1,8 mil da propriedade de Facioni, o gerador instalado por eles produz cerca de 75 kilowatts por hora, funcionando mais de 12 horas por dia. O volume é suficiente para dar independência energética para as duas propriedades de maneira limpa e renovável. “É algo que dá conforto para nós. É uma despesa a menos que nós temos, com perspectiva, inclusive, de render uma renda extra com a venda da energia excedente para a rede”, conta Genaro.

Sistema

A geração de energia a partir dos dejetos e resíduos orgânicos acontece em duas etapas. Na primeira, os restos de ração, fezes, urina e carcaças são depositados em um poço cavado no chão e coberto por uma lona especial, chamado de biodigestor, onde passar por reações químicas que produzem o biogás. Depois, os gases passam por um gerador que os transforma em energia.

Além da energia, o sistema garante o manejo adequado dos dejetos dos animais, um dos maiores passivos da suinocultura atualmente. Com os biodigestores, todos os resíduos têm uma destinação ambientalmente correta, dentro da propriedade. “Dar destino para os dejetos e as carcaças era um serviço complicado, quase insalubre, com muita mosca e mau cheiro. Hoje o material é depositado no biodigestor e o manejo é muito mais limpo e fácil”, explica Genaro.

Os processos químicos do sistema também produzem um composto que pode ser devolvido à lavoura ou ao pasto da propriedade como um fertilizante rico em nutrientes. “Os resíduos voltam como um adubo tratado, de boa qualidade, que não queima a terra”, afirma o produtor Ari Facioni.

Sem este processo, o depósito destes dejetos é altamente prejudicial ao meio ambiente. Por causa disso, muitos suinocultores só conseguem aumentar suas produções ao construírem biodigestores nas suas propriedades. “Muitos agricultores não produzem mais porque isso significa dar destinação a mais dejetos. Sem este processo, os dejetos produzem muitos agentes contaminantes. Por outro lado, quando ele passa pelo biodigestor, ele se transforma em um fertilizante natural que deixa de ser agressivo ao meio ambiente”, explica o diretor ambiental da Prefeitura de Itaipulândia, Altair Ruschel.

Apoio

O investimento feito para a instalação de todo o sistema, que também conta com um triturador de carcaças, foi de cerca de R$ 800 mil e contou com o incentivo do Programa Paraná Energia Renovável (RenovaPR), do Governo do Estado.

O empréstimo para a construção do sistema foi feito a juro zero, por meio do Banco do Agricultor Paranaense, como forma de estimular a transformação energética no campo. O programa é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, e conta com recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), administrado pela Fomento Paraná.

Ao todo, a subvenção de juros por meio do Governo do Estado para projetos deste tipo já passou de R$ 231 milhões desde 2021. Com este estímulo, já foram investidos mais de R$ 4,2 bilhões em 34 mil projetos de energia renovável em todo o Estado.

Em Itaipulândia, um programa da prefeitura da cidade em parceria com a Itaipu Binacional também oferece subsídio para a instalação dos biodigestores e fornece os geradores em consignação aos suinocultores. “Era uma vontade antiga instalar um sistema destes para gerar energia e dar a destinação para os resíduos da produção. Só assim a gente vai conseguir aumentar a nossa produção. Graças ao subsídio do RenovaPR a gente conseguiu concluir um projeto como este”, diz José Valdir Genaro.

Economia

A produção de suínos para corte é a quinta cultura agropecuária com maior Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná, com R$ 8,45 bilhões movimentados em 2023, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral). Este valor representa 4,27% de toda a economia do campo paranaense.

A região Oeste do Paraná, onde fica Itaipulândia, concentra a maior parte desta produção. A cidade é a sétima maior produtora de suínos do Estado, com R$ 246 milhões em VBP a partir da suinocultura. Toledo (R$ 1,25 bilhão), Santa Helena (R$ 560 milhões), Missal (R$ 482 milhões) e Marechal Cândido Rondon (R$ 450 milhões) são as maiores produtoras do Paraná.

Na comparação com outros estados, o Paraná é o segundo maior produtor do Brasil, com 3,1 milhões de suínos abatidos no primeiro trimestre de 2024, segundo dados da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Santa Catarina lidera a produção nacional, com 4,1 milhões de animais abatidos. Rio Grande do Sul (2,3 milhões) e Minas Gerais (1,4 milhão) e São Paulo (735 mil) completam a lista de cinco maiores produtores do Brasil.

Série de reportagens

A série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas aqui.

Confira o vídeo

Fonte: AEN-PR
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Suínos / Peixes

Codigestão de dejetos e plantas: a nova era na produção de biogás

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos.

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Foto: Geraldo Bubniak

Em busca de explorar o potencial de culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante combinados com resíduos da produção animal para a produção de biogás, pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Embrapa Milho e Sorgo e da Embrapa Gado de Leite apresentaram os primeiros resultados do estudo realizado na Bioköhler Biodigestores durante o Dia de Campo sobre codigestão de culturas energéticas e resíduos da produção animal para produção de biogás, que integrou a programação do Inovameat Toledo, um dos principais eventos dedicados à proteína animal no Paraná, realizado em meados de abril na região Oeste do estado.

Doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz: “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Liderada pelo doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz, a iniciativa visa avaliar a viabilidade de culturas energéticas na produção sustentável de biogás para validar essa nova abordagem. “A codigestão de resíduos da produção animal com as culturas energéticas representa uma alternativa promissora para melhorar a eficiência da produção de biogás. Essa nova abordagem envolve a mistura de vários resíduos para otimizar a produção de biogás. Ao combinar dejetos suínos, aves ou de bovinos, por exemplo, com culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante, podemos alcançar resultados significativos em termos de produção sustentável de energia”, explicou Kunz.

Em comparação com outras formas de produção de biogás, o pesquisador ressalta os benefícios ambientais associados à codigestão de dejetos e culturas energéticas, destacando sua capacidade de conferir maior estabilidade aos processos de geração de biogás. “Isso é fundamental para a implementação bem-sucedida de novos arranjos de produção e utilização do biogás”, afirma.

Desafios técnicos e operacionais

Em relação aos desafios técnicos e operacionais associados ao uso de culturas energéticas na codigestão com dejetos, Kunz destaca a importância de compreender os arranjos produtivos específicos dessas culturas. Ele ressalta a necessidade de considerar as peculiaridades de cada cultura, incluindo seus ciclos de cultivo e colheita, assim como os processos de silagem, para garantir um suprimento consistente desse substrato para a geração de biogás.

Com o uso das culturas energéticas, o pesquisador diz que se busca não apenas melhorar a estabilidade da composição do biogás, mas também dos volumes produzidos em comparação aos processos de monodigestão, que se restringem apenas aos dejetos. “Essa abordagem objetiva aprimorar tanto a qualidade quanto a consistência do biogás gerado. Ao introduzir culturas energéticas na codigestão, espera-se minimizar as variações na composição do biogás e otimizar os volumes produzidos, proporcionando uma fonte de energia mais confiável e previsível”, expõe Kunz.

Impactos sociais e econômicos

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos. De acordo com Kunz, esse processo impulsiona o desenvolvimento e a criação de empregos, especialmente nas regiões onde as cadeias de produção de proteína animal, como no Sul do Brasil, estão consolidadas, com modelos de integração bem estabelecidos que geram oportunidades de trabalho. “A integração de culturas energéticas e outros resíduos nesse contexto não só diversifica as atividades econômicas, mas também contribui para a geração e agregação de renda”, salienta, frisando: “Essa abordagem não apenas fortalece os elos existentes na cadeia produtiva, mas também abre novas perspectivas para a comunidade rural, promovendo um desenvolvimento mais sustentável e equilibrado”.

Abordagem em evidência

Foto: Monalisa Pereira/Embrapa Suínos e Aves

A adoção da codigestão de dejetos e culturas energéticas para a produção de biogás está ganhando destaque em diversas partes do mundo, com a Europa liderando o caminho. Países como a Alemanha se sobressai, contando com aproximadamente 10 mil plantas de geração de biogás, muitas das quais fundamentadas no uso de culturas energéticas como substrato.

No entanto, o Brasil se diferencia ao adotar uma abordagem adaptada às suas condições tropicais. Aqui, explica o pesquisador, cultivares específicas são desenvolvidas com genética local, dedicadas à geração de biogás. “Esse foco em cultivares adaptadas garante uma eficiência ainda maior no processo de codigestão”, evidencia.

Os pesquisadores brasileiros estão empenhados no desenvolvimento de tecnologias que garantam a eficiência operacional da codigestão, dimensionando cuidadosamente os parâmetros técnicos envolvidos. Isso inclui a determinação precisa da produção de biogás por hectare, a relação ideal entre os materiais dentro dos biodigestores e a quantidade de biogás produzida. “Essa abordagem orientada para a eficiência técnica não apenas impulsiona a inovação no campo da produção de biogás, mas também facilita a adoção dessas tecnologias pelo setor produtivo. A equipe da Embrapa trabalha focada no aprimoramento contínuo desse processo, para posicionar o Brasil como um líder na produção sustentável de biogás, contribuindo desta forma para um futuro energético mais limpo e resiliente”, salienta Kunz.

Na vanguarda

O pesquisador ressalta que a equipe da Embrapa está empenhada em estabelecer arranjos completos para a codigestão de dejetos com culturas energéticas, considerando todos os parâmetros técnicos e as nuances de toda a cadeia produtiva. “Entendemos que este é um processo dinâmico, com espaço para inovação contínua. Uma das áreas-chave de foco da pesquisa é o desenvolvimento de processos de tratamento para aumentar a capacidade de geração de biogás a partir dessas culturas energéticas”, expõe.

Além disso, a Embrapa está conduzindo trabalhos de melhoramento genético de cultivares especificamente voltadas para a produção de biogás. “Este investimento em pesquisa visa otimizar ainda mais o desempenho dessas culturas em termos de produção de biogás”, constata Kunz.

O doutor em Química Ambiental reforça que uma das razões fundamentais para adotar a codigestão de culturas energéticas junto aos dejetos é a complementaridade entre esses materiais. “Enquanto os dejetos líquidos, como dos suínos, têm uma alta concentração de água, em torno de 98%, as culturas energéticas possuem uma porcentagem entre 20 a 27% de matéria seca. Ao combinar esses dois materiais, aumentamos a concentração de sólidos no biodigestor, resultando em processos mais otimizados e maior rendimento na produção de biogás”, sustenta, acrescentando: “Essa abordagem é fundamental para garantir um fornecimento estável de substrato, permitindo o estabelecimento de arranjos para diversos fins, desde a geração de energia elétrica até a produção de biometano, que nada mais é que o biogás purificado, e que está ganhando destaque como uma solução de mobilidade sustentável”.

Para o setor agropecuário, a sustentabilidade dessa operação é especialmente relevante, uam vez que contribui para a redução da dependência de combustíveis fósseis, fortalecendo a competitividade das commodities tanto no mercado nacional como internacional, ao mesmo tempo que o país avança na descarbonização das cadeias de produção animal. “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos”, exalta Kunz.

A pesquisa da Embrapa representa um importante avanço no setor de energia renovável, oferecendo uma alternativa econômica e ambientalmente sustentável para a produção de biogás. Com a continuidade dos estudos e o apoio de instituições parceiras, espera-se que essa tecnologia contribua significativamente para a transição para um futuro energético mais limpo e eficiente.

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Fonte: O Presente Rural
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