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Especialista analisa safra de milho 2023/24, aponta perspectivas para 2024/25 e os principais desafios do setor

A queda dos preços dos insumos combinada com uma breve reação dos preços internos do cereal, estimulou o plantio, reduzindo o impacto da queda de área na segunda safra.

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O início da safra brasileira de milho 2023/24 foi marcado por incertezas quanto à área plantada, devido à desvalorização dos preços no segundo semestre de 2024, que deteriorou a relação de troca com os principais insumos. No entanto, na reta final do período de definição por parte do produtor, a queda dos preços dos insumos combinada com uma breve reação dos preços internos do cereal, estimulou o plantio, reduzindo o impacto da queda de área na segunda safra. A área total de milho no Brasil diminuiu entre 4% e 5%, o que trouxe uma queda na produção.

Após um recorde de 137 milhões de toneladas na safra 2022/23, a Consultoria Agro do Itaú BBA estima uma colheita de 2023/24 em cerca de 122 milhões de toneladas, uma redução de 11%. “Embora a queda seja significativa, o volume deve ser suficiente para atender ao mercado interno e permitir exportações de aproximadamente 40 milhões de toneladas”, menciona Francisco Queiroz, responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA.

A colheita da segunda safra está quase concluída, com boas expectativas de produtividade em Mato Grosso, Goiás e Tocantins. No entanto, o excesso de calor e a falta de chuva no Sul do Mato Grosso do Sul e no Noroeste do Paraná resultaram em quebras importantes, afetando a produtividade média nesses estados. A projeção da Consultoria Agro do Itaú BBA para a segunda safra é de cerca de 96 milhões de toneladas, comparada a 107 milhões de toneladas no ano passado.

Nos EUA, a safra de milho 2023/24 alcançou quase 390 milhões de toneladas, estabelecendo um recorde histórico, apesar de condições climáticas não excepcionais. Com isso, o balanço global de oferta e demanda do milho melhorou, e o balanço americano se tornou mais confortável, mesmo com o aumento do consumo doméstico e das exportações em relação à safra anterior. “Esse panorama se traduziu em forte pressão para os preços do milho em Chicago, que cederam 32% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2023. No Brasil, a desvalorização para os preços do milho foi menos intensa que a observada no mercado internacional”, aponta Queiroz.

Tomando como referência a praça de Sorriso (MT), as cotações no primeiro semestre apresentaram redução de 25% sobre o mesmo período do ano anterior. “A menor oferta da primeira safra ajudou a amenizar a redução dos preços internos em relação à CBOT”, menciona.

A safra 2024/25 já começou no Hemisfério Norte e as primeiras projeções indicam estabilidade no balanço global em relação à 2023/24. A produção mundial deve se manter em torno de 1,2 bilhão de toneladas, com um crescimento de 1% no consumo e nos estoques.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê aumento na produção de soja na China e no Brasil, enquanto os EUA e a Argentina devem enfrentar reduções.

2024/25

De acordo com Queiroz, o balanço global 2024/25 para o milho não terá a mesma folga observada na soja. “Com uma oferta americana menor, o saldo entre produção e consumo deverá cair de 19 milhões de toneladas em 2023/24 para oito milhões de toneladas em 2024/25, reduzindo a margem para quebras de safra nos principais produtores”, expõe.

Responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz: “Expectativa de grandes safras de soja e milho para 2024/25 coloca uma pressão adicional sobre a logística interna, aumentando o risco de atrasos logísticos e pressão contínua na cadeia de suprimentos” – Foto: Arquivo pessoal

Safra americana

Para a safra americana de milho 2024/25, o USDA projeta uma produção de 383,6 milhões de toneladas, uma queda de 1,6% em relação à safra 2023/24. A área plantada deverá ser reduzida em 3,3%, totalizando 37 milhões de hectares, devido à menor rentabilidade comparada à soja. No entanto, a produtividade deve aumentar 2%, alcançando 11,4 toneladas por hectare.

O ritmo de plantio nos EUA está abaixo do registrado em 2023, mas está dentro da média dos últimos anos e da janela considerada ideal. “Atualmente (início de agosto), 68% das lavouras de milho estão classificadas entre boa e excelente, 13 pontos percentuais acima do ano passado, o que indica boas perspectivas de produtividade. No entanto, as próximas semanas serão decisivas para confirmar o potencial produtivo das lavouras”, ressalta o profissional.

Apesar da previsão de menor produção, o balanço de oferta e demanda de milho nos EUA deve se equilibrar na safra 2024/25, com um estoque inicial 38% maior, resultando em um estoque final estimado em 53,3 milhões de toneladas, 11,7% acima da safra anterior. A relação estoque/uso deve aumentar de 12,6% para 14,1%, o que deverá continuar pressionando os preços do milho em Chicago durante este ano.

Safra chinesa

Segundo maior produtor global e grande importador do cereal, a China deverá crescer 1% na produção de milho, chagando a 292 milhões de toneladas, com uma expansão de cerca de 500 mil hectares na área plantada para a safra 2024/25, segundo projeções do USDA.

A grande questão é o nível de importação da China. Alguns agentes de mercado acreditam que o país vai importar somente 7,3 milhões de toneladas, enquanto o USDA estima 23 milhões de toneladas e o Ministério da Agricultura da China prevê 13 milhões de toneladas. “Essa diferença nas projeções pode complicar o mercado para o Brasil, especialmente com a Argentina, que recentemente obteve acesso ao mercado chinês para seu milho”, avalia Queiroz, frisando que a menor demanda da China poderia pressionar ainda mais o mercado global e afetar as exportações brasileiras.

Safra brasileira

Para a safra brasileira de milho 2024/25, o USDA projeta uma produção de 129 milhões de toneladas, considerando um aumento de 800 mil hectares (+3,7%) na área plantada e uma leve melhora na produtividade. A Consultoria Agro do Itaú BBA estima um crescimento de 3% na área total, chegando a 22,1 milhões de hectares, e uma produção de 125 milhões de toneladas, três milhões de toneladas a mais em relação à safra anterior.

Queiroz chama atenção para o cenário climático, especialmente com a formação da La Niña. De acordo com ele, a previsão é de um fenômeno de fraca intensidade, mas se a La Niña se fortalecer, pode haver impacto nas safras, principalmente na primeira safra do milho em estados do Sul, como o Rio Grande do Sul.

Segundo o profissional, nos próximos meses os preços internos do milho devem permanecer acima da paridade de exportação, com o mercado interno pagando prêmio para garantir o milho para processamento. “Apesar da oferta maior projetada para 2025, o crescimento do consumo deve manter o balanço interno de oferta e demanda equilibrado, evitando quedas significativas nos preços domésticos”, estima.

Outros fatores conjunturais, como o câmbio e o preço externo, podem exercer influência nas cotações. O movimento recente de valorização do dólar frente ao real impactou positivamente a formação do preço interno. “A estrutura da curva dos preços futuros em Chicago apresenta valorização dos vencimentos mais longos, diante de uma expectativa de menor produção para os EUA, o que tende a favorecer a formação dos preços no Brasil”, aponta Queiroz, enfatizando que a curva de preços futuros da B3 apresenta o mesmo desenho, com os contratos mais longos mais caros que os contratos mais curtos, acompanhando o carrego da CBOT e do dólar.

Queda dos custos amplia margem dos produtores

Para a safra 2024/25, a Consultoria Agro do Itaú BBA prevê que as margens da cultura do milho permanecerão comprimidas, embora melhores do que as da temporada 2023/24. No entanto, ainda estarão significativamente abaixo dos níveis observados em 2020/21 (53%) e 2021/22 (58%). Apesar da redução dos custos de produção, os preços deverão se manter em níveis mais baixos.

O custo com fertilizantes deve diminuir cerca de 25%, impactando positivamente o custo operacional, que se projeta cair em torno de 6% em relação à safra 2023/24. No entanto, nas últimas semanas, os preços internacionais dos fertilizantes subiram consideravelmente, com o MAP e a ureia registrando as maiores altas, enquanto o KCl se manteve mais estável. “Essas elevações são atribuídas a desequilíbrios entre oferta e demanda interna e a problemas na oferta de grandes fornecedores globais. Isso tem agravado a relação de troca entre fertilizantes e milho, o que pode levar alguns produtores a enfrentar custos mais altos do que o previsto”, ressalta Queiroz.

Além disso, o analista de mercado afirma que a expectativa de grandes safras de soja e milho para 2024/25 coloca uma pressão adicional sobre a logística interna, aumentando o risco de atrasos logísticos e pressão contínua na cadeia de suprimentos.

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Fonte: O Presente Rural

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Mercado de cria e recria sinaliza recuperação em 2025 com retenção de fêmeas e reação nos preços

A produção formal de carne bovina no Brasil deve crescer cerca de 15% neste ano, ultrapassando 10 milhões de toneladas em equivalente carcaça.

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Apesar de 2024 estar sendo marcado por elevados abates no Brasil, começa a surgir um sinal de mudança com a redução na intensidade dos descartes de fêmeas. Contudo, o preço do bezerro, principal indicador de uma possível virada no ciclo, continua desvalorizado.

A expectativa é que o mercado de cria possa reagir em 2025, após três anos consecutivos de aumento nos abates de fêmeas. Com a contração na produção de crias, os preços do bezerro devem iniciar um processo de recuperação, o que pode fortalecer a retenção de fêmeas e, consequentemente, reduzir o excesso de gado disponível para abate.

Esse cenário de 2024 e 2025 apresenta semelhanças com os períodos de 2014/2015 e 2019/2020, quando a retenção de fêmeas começou e ganhou força. “Nos dois biênios, o preço do bezerro subiu 41% e 56% em termos reais, respectivamente, ao longo dos dois anos. Entretanto, até julho de 2024, o bezerro acumulou uma queda de 14%. No entanto, em ciclos anteriores, antes de uma disparada nos preços do bezerro, houve uma fase de estabilidade nos valores”, relembra o gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves.

Historicamente, o preço do boi gordo tende a seguir o movimento do bezerro, o que sugere que o animal terminado não ficará para trás quando o processo de recuperação do bezerro começar.

No que diz respeito à demanda, as exportações têm sido robustas, alcançando recordes e ajudando a escoar a crescente produção. Mesmo com esses embarques consistentes, espera-se uma elevação significativa no consumo interno de carne bovina em 2024. “Esse aumento será impulsionado pela maior oferta, que deverá resultar em preços mais acessíveis para o consumidor final”, expõe Alves.

De acordo com o especialista de mercado, a produção formal de carne bovina no Brasil deve crescer cerca de 15% neste ano, ultrapassando 10 milhões de toneladas em equivalente carcaça. As exportações, por sua vez, devem aumentar em 20%, atingindo 3,4 milhões de toneladas equivalentes carcaça. “Apesar desse forte desempenho no mercado externo, a oferta interna também vai expandir, com um crescimento estimado de 13%, elevando o consumo per capita de carne bovina para 32 kg/habitante, igualando o recorde histórico de 2013”, ressalta Alves.

Gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves: “Apesar do desempenho robusto nas exportações, oferta interna deve crescer 13%, elevando o consumo per capita de carne bovina para 32 kg/habitante” – Foto: Arquivo pessoal

Momento é de reposição do rebanho

Após anos difíceis, com pressão sobre os preços pecuários e margens reduzidas para os produtores, o cenário começa a apresentar sinais de melhora.

Com a expectativa de uma recuperação no mercado de cria, a estratégia de reter fêmeas se torna cada vez mais atrativa. “Essa retenção visa aproveitar a futura valorização do bezerro, que, uma vez em alta, tende a seguir um ciclo prolongado de crescimento, como observado em ciclos anteriores”, aponta Alves.

Para os segmentos de recria e engorda, o momento é propício, pois o preço do bezerro ainda está em patamares baixos. Conforme Alves, a aquisição dessas arrobas de entrada deve contribuir positivamente para as margens, uma vez que os preços estão projetados para se recuperarem gradualmente.

No segundo semestre de 2024, Alves diz que a expectativa de crescimento no volume de gado confinado em relação ao ano anterior, impulsionado por boas margens, decorrentes dos baixos custos da ração e do boi magro, além das oportunidades favoráveis de fixação de preços no mercado futuro.

Para os confinamentos, o uso de hedge para o gado terminado é essencial quando o resultado projetado é positivo. “Isso se deve ao ciclo rápido de produção, que não permite ao produtor aguardar por melhores condições de mercado quando o animal está pronto para o abate”, salienta.

De acordo com o profissional, os anos anteriores demonstraram que, mesmo durante a entressafra, os preços do boi gordo podem sofrer quedas bruscas, comprometendo os resultados planejados. “Seja por fatores externos, como embargos, ou simplesmente por uma oferta confortável, o investimento em proteção se mostra essencial para mitigar riscos e garantir a rentabilidade do pecuarista”, evidencia.

Margens dos frigoríficos

Para a indústria, Alves afirma que o cenário deve seguir favorável, apoiado nos preços mais retraídos do boi em relação aos da carne, embora o spread no mercado doméstico, que tem se mostrado muito positivo neste ano, possa acomodar um pouco dos patamares atuais.

As exportações devem continuar apresentando resultados favoráveis, impulsionadas pelo boi barato em dólares, mesmo diante da queda nos preços da carne na China e da desvalorização cambial no país asiático, que têm limitado uma recuperação nos valores de embarque.

Embora a China permaneça como principal destino das exportações, absorvendo cerca de metade do volume total, outros mercados como Emirados Árabes, Estados Unidos e Chile, têm mostrado um crescimento robusto, com margens mais atrativas do que as obtidas nas vendas para o mercado chinês.

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Fonte: O Presente Rural
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Trigo tem balanço global apertado, mas competição com milho limita alta de preços

A La Niña promete impulsionar a produtividade da cultura, garantindo que a produção atinja a segunda melhor marca histórica, mesmo com uma redução na área plantada.

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Apesar de um balanço global apertado para o trigo, a competição com o cenário mais favorável do milho está colocando um teto nas cotações internacionais do cereal. No Brasil, a La Niña promete impulsionar a produtividade da cultura, garantindo que a produção atinja a segunda melhor marca histórica, mesmo com uma redução na área plantada. O câmbio fraco também deve contribuir para elevar o piso dos preços internos no momento da colheita, oferecendo suporte adicional para o mercado local. Com esses fatores em jogo, os preços do trigo tendem a seguir uma trajetória positiva, refletindo as dinâmicas globais e as condições específicas do país.

Balanço entre oferta e demanda

De acordo com o analista de Commodities Agrícolas da Consultoria Agro do Itaú BBA, Fernando Gomes, os problemas climáticos no Leste europeu têm prejudicado a produtividade das lavouras de trigo na Ucrânia e na Rússia, que juntas representam cerca de 30% das exportações globais, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). “Para a safra 2024/25, o balanço global de oferta e demanda deve ser o mais apertado das últimas dez safras”, aponta Gomes.

Apesar da produção recorde estimada em 796 milhões de toneladas – 0,9% acima da safra anterior -, o consumo também é esperado para atingir 794 milhões de toneladas, apenas 0,4% abaixo do ano anterior, marcando a segunda maior demanda da história. “Esse cenário de consumo firme, aliado à redução dos estoques, vai resultar na quinta queda consecutiva na relação estoque/consumo, projetada para alcançar 32,2%, o pior nível desde 2014/15”, expõe o analista.

Mesmo com o aperto global entre oferta e demanda, o trigo enfrenta pressão de preços devido à substituição potencial por milho, que também é utilizado na produção de ração. “A oferta ampliada de milho está mantendo os preços do trigo para baixo, limitando o teto de mercado do cereal”, salienta Gomes, enfatizando que ajustes na disponibilidade de milho, especialmente em função de condições climáticas adversas na região do Mar Negro, podem impactar os preços tanto do trigo quanto do milho.

Além disso, a Rússia deve pressionar os preços globais, oferecendo descontos na região. “A janela de exportação russa é limitada, necessitando de grandes volumes perenes para evitar o aumento dos estoques. Essa necessidade de vender a preços mais baixos também contribui para a pressão sobre as cotações, independentemente dos fundamentos do balanço global”, menciona o profissional.

Por sua vez, o balanço dos Estados Unidos, onde está a principal bolsa que precifica o cereal globalmente, está indo na direção oposta ao balanço global, competindo com a oferta russa e aumentando a percepção de disponibilidade. “O aumento da área plantada e a recuperação das lavouras, mesmo em condições climáticas adversas, elevam a disponibilidade do cereal americano”, afirma o analista.

De acordo com o USDA, a safra americana de trigo 2024/25 está projetada para atingir 54,7 milhões de toneladas, marcando um aumento de 10,8% em relação ao ano anterior. “Este crescimento representa a colheita mais avançada das últimas safras”, relata Gomes, afirmando que o aumento da oferta traz conforto ao balanço, tornando-o mais folgado desde 2020/21, com a relação ao estoque/consumo, alcançando 75,5%.

Na Argentina, principal fornecedor de trigo para o Brasil, o fenômeno de La Niña previsto para a safra 2024/25 deve impulsionar a oferta do cereal, prevista para alcançar 18 milhões de toneladas, uma recuperação de 13,6% em relação à safra anterior, que foi prejudicada pelo El Niño. “Com essa recuperação, os níveis de oferta devem se alinhar com os preços globais, intensificando a competição com o mercado brasileiro”, pontua Gomes.

Analista de Commodities Agrícolas da Consultoria Agro do Itaú BBA, Fernando Gomes: “Com uma oferta superior à demanda, a paridade de exportação pode gerar competição entre tradings e a indústria, especialmente porque a qualidade do trigo tende a ser alta em anos de La Niña, o que deve sustentar as cotações locais” – Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Safra brasileira

A produção brasileira de trigo para a safra 2024/25, projetada pelo USDA, deve alcançar 8,9 milhões de toneladas, marcando um aumento de 10,6% em relação à safra anterior. Apesar desse crescimento na oferta, Gomes diz que o cenário cambial pode manter os preços elevados.

No entanto, segundo o analista, com a melhora no balanço doméstico e a fraqueza dos preços internacionais, não se espera uma firmeza nas cotações, especialmente durante a janela de colheita, quando a competição com a armazenagem de outros grãos pode pressionar os preços devido à alta disponibilidade em um curto período. “Ao longo do ano, um câmbio mais fraco pode ajudar a sustentar os preços ao manter a paridade de exportação”, avalia.

As recentes chuvas no principal estado produtor, o Rio Grande do Sul, resultaram na perda de camadas férteis do solo em algumas regiões e dificultaram a obtenção de sementes de boa qualidade devido às perdas do ano passado causadas pelo El Niño, desestimulando o plantio do cereal no estado gaúcho.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada deve diminuir em 11,6%, mas a oferta nacional ainda pode totalizar 8,9 milhões de toneladas, o que representaria a segunda maior produção da história, mesmo com a redução na área. Assim como na Argentina, o clima favorável deve beneficiar a produtividade e a qualidade do trigo na colheita.

Cotações domésticas

Gomes ressalta que o mercado de trigo tem poucos fundamentos para um aumento expressivo nos preços. Isso se deve ao balanço mais folgado da oferta para esta safra, somado a uma janela de comercialização curta no final do ano. “A janela restrita é resultado da necessidade de manter estoques limitados e da chegada da colheita da primeira safra, o que cria competição com o trigo armazenado e pressiona os preços para aumentar a liquidez do mercado”, explica.

Segundo o especialista, o câmbio local será o principal fator determinante para os preços durante a colheita e comercialização. “Com uma oferta superior à demanda, a paridade de exportação pode gerar competição entre tradings e a indústria, especialmente porque a qualidade do trigo tende a ser alta em anos de La Niña, o que deve sustentar as cotações locais”, analisa.

Durante a safra, Gomes diz que os produtores podem fixar preços em Chicago, garantindo que parte da produção tenha margem de operação fixada antes da comercialização física do cereal, considerando volatilidades favoráveis tanto nos preços do trigo quanto no câmbio.

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Fonte: O Presente Rural
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Bovinos / Grãos / Máquinas Nova DEP para facilidade de parto

Conheça tecnologia inédita para combater aumento dos partos distócicos em novilhas de raças zebuínas

A ênfase no crescimento foi justificada pelo retorno produtivo e econômico, mas os desafios relacionados a essa abordagem começaram a surgir, trazendo à tona a necessidade de um equilíbrio entre crescimento e bem-estar animal.

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Nos últimos anos, o foco da seleção genética nas raças zebuínas, tradicionalmente voltado para características de crescimento, tem passado por uma grande transformação. A preocupação com os impactos a longo prazo dessa estratégia, especialmente no que se refere ao crescimento em idades jovens e seus reflexos no tamanho adulto, composição da carcaça, fertilidade e produtividade dos rebanhos, está em alta. Historicamente, a ênfase no crescimento foi justificada pelo retorno produtivo e econômico, mas os desafios relacionados a essa abordagem começaram a surgir, trazendo à tona a necessidade de um equilíbrio entre crescimento e bem-estar animal.

À medida que a pecuária de corte avança, a precocidade sexual e a fertilidade têm ganhado posição de destaque no melhoramento genético das raças zebuínas. A antecipação da prenhez, por exemplo, é uma característica que se mostra promissora, devido à alta variabilidade genética aditiva que apresenta, justificando sua adoção como critério de seleção. No entanto, a seleção para maiores taxas de crescimento e precocidade sexual não é isenta de desafios.

Pesquisadores e pecuaristas observaram ao longo dos últimos anos um aumento na incidência de distocia (dificuldade de parto) em novilhas precoces, associada ao maior peso ao nascer do bezerro e à menor idade ao primeiro parto, fatores que impactam negativamente a fertilidade e aumentam a mortalidade dos bezerros.

Atualmente, o peso ao nascer (PN) é a principal característica utilizada como indicativo de dificuldade de parto nas raças zebuínas. As estratégias de acasalamento baseadas em DEPs (Diferença Esperada na Progênie) moderadas a baixas para PN são comuns, com o objetivo de reduzir a incidência de distocia. No entanto, há indícios de que a seleção para baixo PN pode prejudicar o desenvolvimento animal, impactando negativamente o ganho de peso e o peso vivo em idades mais avançadas, o que levanta a necessidade de explorar alternativas genéticas.

Enquanto a facilidade de parto (FP) é uma característica bem estabelecida nas raças taurinas, nas zebuínas os estudos ainda são poucos. Contudo, a seleção direta para FP, associada à seleção para PN, pode ser uma estratégia promissora, com potencial para proporcionar ganhos genéticos a longo prazo, sem comprometer o desempenho dos rebanhos zebuínos. “Este novo enfoque reflete um equilíbrio necessário entre crescimento, fertilidade e bem-estar animal, buscando soluções que sustentem a eficiência reprodutiva e produtiva dos zebuínos no futuro”, enaltece o  PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), Fernando Sebastián Baldi Rey.

Presidente do Conselho Deliberativo da ANCP, João Carlos Guimarães Giffoni Filho: “Tecnologia veio para ficar e com certeza se tornará o foco dos principais criatórios de seleção” – Foto: Fernando Samura

DEP para Facilidade de Parto de Primíparas

A Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), em parceria com a USP, Unesp e Embrapa Cerrados, realizou um estudo para analisar a importância da adoção da FP como critério de seleção, resultando na criação da nova DEP para Facilidade de Parto de Primíparas. Essa ferramenta foi lançada durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, realizado em agosto dentro da ExpoGenética 2024, em Uberaba (MG).

O presidente do Conselho Deliberativo da ANCP, João Carlos Guimarães Giffoni Filho expressou seu orgulho em liderar uma gestão que deu um grande passo no melhoramento genético com o lançamento da nova ferramenta. Ele destacou que, com os avanços obtidos em desempenho, qualidade de carcaça e redução da idade ao primeiro parto, era necessário ir além da tradicional DEP para peso ao nascimento. “A tecnologia veio para ficar, para auxiliar os criadores, e com certeza se tornará o foco dos principais criatórios de seleção, integrando o objetivo de seleção dos melhores rebanhos”, frisou.

À frente das pesquisas desde 2018, o PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da ANCP, Fernando Sebastián Baldi Rey, destacou os benefícios dessa nova DEP. “Utilizando dados fenotípicos fornecidos pelo programa de melhoramento genético Nelore Brasil da ANCP, o estudo classificou partos de primíparas quanto à necessidade de assistência, constatando que 88% dos partos ocorreram sem assistência, enquanto 12% necessitaram de auxílio”, afirmou.

Os resultados do estudo, segundo o pesquisador, indicam que a correlação genética entre FP e características indicadoras de precocidade sexual das fêmeas é moderada, sugerindo que a seleção para antecipação do parto em novilhas pode aumentar a incidência de distocia, trazendo consequências negativas para a fertilidade.

Por sua vez, Baldi explica que entre peso ao nascer e FP, as estimativas de correlação genética foram moderadas, indicando que a seleção para menor peso ao nascer poderia reduzir a incidência de distocias. “Apesar da correlação genética moderada com FP, a estimativa não é alta o suficiente para afirmar que a característica PN possa servir como indicador direto de FP. Além disso, a seleção para baixo PN pode potencialmente retardar o crescimento animal, dada a sólida e favorável correlação genética entre PN com peso ao desmame e sobreano. Assim, é possível concluir que a FP é um componente que deve ser considerado em primíparas da raça Nelore”, analisa o PhD em Melhoramento Animal.

Neste contexto, a nova DEP para Facilidade de Parto de Primíparas surge como uma ferramenta inovadora para auxiliar os criadores na redução da frequência de partos assistidos, especialmente em novilhas precoces. “Essa nova DEP disponibiliza ao mercado uma ferramenta expressada em probabilidade de parto com sucesso, ou seja, parto com sucesso é parto não assistido”, ressalta, dizendo que embora o peso ao nascimento tenha sido tradicionalmente utilizado como uma ferramenta para controlar problemas no parto, especialmente em relação à duração da gestação, as pesquisas demonstram que ele explica apenas 40% da variabilidade genética associada à facilidade de parto. “Em outras palavras, 60% dos fatores que influenciam a facilidade de parto não estão relacionados ao peso ao nascimento. É nesse contexto que a nova ferramenta desenvolvida será decisiva para auxiliar os criadores a reduzir a incidência desses problemas”, enfatizou.

Durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, a ANCP também lançou a DEP Maternal para Facilidade de Parto, que considera fatores como a largura da anca e cistos ovarianos, que influenciam na facilidade de parto. “Associada à genômica que, assim como as outras características, tem uma contribuição muito importante para o melhoramento destas DEPs. Através da genômica podemos identificar e selecionar reprodutores ou selecionar fêmeas com menor incidência de partos distócicos e, desta forma, em um animal jovem conseguir saber de antemão se como reprodutor vai trazer ou não problemas ao parto”, salienta Baldi.

O que motivou o estudo

O pesquisador explica que, apesar da melhoria genética da precocidade sexual de fêmeas em rebanhos zebuínos, a incidência de problemas de parto aumentou nos últimos anos, provavelmente devido ao maior peso ao nascimento das progênies e à menor idade ao primeiro parto das novilhas sexualmente precoces, como consequência da seleção para maiores taxas de crescimento e precocidade sexual.

Segundo Baldi, a maioria das raças zebuínas são reconhecidas por uma baixa frequência de problemas de parto (distocia), mas sua incidência aumentou na raça Nelore, podendo chegar a 20% de partos assistidos em alguns rebanhos. “Geralmente, uma menor facilidade de parto está associada a maiores pesos ao nascer, pois os bezerros com alto peso ao nascer são mais suscetíveis à distocia que os bezerros com peso ao nascer baixo ou moderado”, evidencia o PhD em Melhoramento Animal.

“O uso do peso ao nascer do bezerro para indicar dificuldade no parto em novilhas sexualmente precoces compreende até hoje estratégias de seleção e acasalamento que adotam DEPs moderadas a baixas para o peso ao nascer”, complementa o pesquisador, ressaltando que os estudos têm demonstrado uma associação genética de moderada a alta entre o peso ao nascer e os problemas ao parto.

Para o desenvolvimento da nova DEP para Facilidade de Parto em novilhas precoces da raça Nelore foram coletadas desde 2018, com a colaboração de criadores associados, dados fenotípicos de FP de rebanhos zebuínos, totalizando 40 mil registros de FP e mais de 300 mil animais genotipados, dos quais aproximadamente 5% envolvem partos com assistência. “Esses dados incluem tantas vacas precoces, que conseguem parir antes dos 30 meses, quanto vacas não precoces. Entre as fêmeas jovens desafiadas precocemente, entre 12 e 15 meses, a incidência de partos distócicos chega a cerca de 7%, o que acende um alerta para os criadores. E nas vacas primíparas tradicionais, que parem com mais de 30 meses, a incidência de partos anormais é menor”, ressalta.

Estudos preliminares mostram que a nova ferramenta será particularmente útil em situações de animais com DEP para peso ao nascer maior que 1 kg. “A DEP Direta para Facilidade de Parto de Primíparas e a DEP Maternal deverão ser utilizadas de forma complementar junto com a DEP para peso ao nascer na hora de realizar a seleção e o acasalamento dos animais, utilizando os filtros genéticos que oferece o programa de acasalamentos MaxPag da ANCP”, aponta Baldi.

Seleção de touros

O pesquisador afirma que a nova DEP será também uma ferramenta para a seleção de touros destinados a novilhas precoces, especialmente quando utilizada em conjunto com outras DEPs, como Probabilidade de Permanência no Rebanho (Stayability – STAY %), Probabilidade de Parto Precoce (3P – %), Habilidade Maternal, precocidade no acabamento de carcaça e peso, características que contribuem para reduzir a incidência de distocia em novilhas precoces. “Além disso, a DEP Maternal para Facilidade de Parto também está sendo introduzida, uma vez que o parto distócico é influenciado não apenas pelo tamanho e peso do bezerro, condicionados tanto pelo pai quanto pela mãe, mas também por fatores maternos”, expõe.

PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da ANCP, Fernando Sebastián Baldi Rey: “A DEP Direta para Facilidade de Parto de Primíparas e a DEP Maternal deverão ser utilizadas de forma complementar junto com a DEP para peso ao nascer na hora de realizar a seleção e o acasalamento dos animais” – Foto: Fernando Samura

Riscos que aumentam incidência de parto distócico

A incidência de parto distócico, ou dificuldade no parto, pode ser influenciada por diversos fatores. Entre os principais riscos estão os fatores genéticos, como o peso elevado ao nascimento do bezerro e a seleção para características de crescimento rápido e precocidade sexual, que podem predispor as fêmeas a partos difíceis.

Fatores fisiológicos também desempenham um papel importante, como a idade das novilhas no primeiro parto, especialmente quando muito jovens, e a condição corporal das fêmeas, com excesso de gordura na pelve dificultando o parto.

O pesquisador frisa que a utilização de touros com alta capacidade de crescimento, comum em programas de engorda, também aumenta o risco de distocia. “A nova DEP para Facilidade de Parto, uma ferramenta inédita para raças zebuínas, foi desenvolvida em resposta ao aumento dos partos distócicos em novilhas, intensificado pelo progresso genético em precocidade sexual e pelo aumento do peso ao nascimento”, menciona Baldi.

Além disso, Baldi diz que o manejo e a nutrição inadequados durante a gestação, como dietas excessivamente energéticas ou deficientes, aumentam os riscos, assim como condições ambientais estressantes e a falta de monitoramento adequado.

Embora a nutrição, especialmente no último terço da gestação, possa ajudar a reduzir a incidência de distocia, estratégias como a redução da alimentação das novilhas nesse período podem comprometer a reconcepção. “É muito importante adotar estratégias nutricionais e de manejo que evitem o aumento excessivo do peso ao nascimento, além de selecionar touros e novilhas com alta facilidade de parto. Isso é fundamental para mitigar esse problema crescente nos rebanhos bovinos brasileiros, especialmente aqueles que utilizam seleção genética avançada e tecnologias de ponta”, enfatiza.

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Fonte: O Presente Rural
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