Colunistas Opinião
ESG – Porque sair do empírico e ir ao mensurável
Falar sobre sustentabilidade e ESG pode hoje ser um assunto fácil de falar e difícil de cumprir

Falar sobre temas voltados a sustentabilidade e ESG tem sido uma missão demasiadamente fácil para todos os tipos de público. Desde a disseminação do termo “Desenvolvimento Sustentável”, vemos diversos materiais, artigos e notícias, comentando sobre a importância das medidas que atendam os pilares ambiental, social e econômicos. Poucos anos atrás, fomos atingidos por mais uma onda chamada de ESG, que também tem diversos tipos de publicações voltadas a questões ambientais, sociais e de governança corporativa.
A facilidade com a qual podemos entender quais são os pilares da sigla se assemelha com a facilidade de sabemos da importância de realizar ações para minimizar nossos impactos e riscos ao planeta, porém, esta facilidade é um paradoxo quando relacionado a inserção de métricas para controle e monitoramento desses mesmos temas.
Em pesquisas realizadas pela Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), 95% das empresas informaram que entendem que o ESG é importante e se preocupam com a sua realização, porém em contrapartida, em outra pesquisa conduzida pela XP investimentos, 61% das empresas mencionaram saber pouco ou quase nada sobre as questões relacionadas ao tema ou como estabelecer essas agendas.
Os números pesquisados demonstram a proporção de interesse por parte das empresas em tomar atitudes relacionadas ao ESG, porém, a falta de métricas transversais dificultam o seu entendimento, aumentando assim a complexidade para a saída da inércia em direção à ação.
Para alterar esse quadro, se faz necessário o estabelecimento de meios de medida claros e que realmente atendam os temas mais importantes para implementação, monitoramento e controle das agendas:
Estabelecer a materialidade: O termo materialidade surgiu no mercado financeiro, sob a breve descrição de “temas que preocupam o investidor”. Um pouco diferente disso, na sustentabilidade e ESG, a materialidade é considerada como “limiar a partir do qual um tema passa a ser suficientemente expressivo para ser relatado”.
A partir dessa prerrogativa da Global Reporting Initiative, podemos entender que a materialidade é a base para entendermos quais os pontos que devemos considerar importantes para serem monitorados, controlados e desenvolvidas ações para minimizar seus impactos. O estabelecimento dessa materialidade deve ser realizado em conjunto com stakeholders e organização, afim de que todas as partes interessadas realmente possam levantar informações sobre todos os temas considerados importantes.
Medição, monitoramento, controle e relato da materialidade: Os temas materiais, para que sejam realmente monitorados corretamente, precisam seguir alguns critérios básicos de referência, a fim de que tenham relevância para os públicos envolvidos com a atividade da organização e também para servir como tomada de decisão para a alta administração.
Nesse contexto a GRI estabelece princípios básicos para que um tema material seja devidamente controlado, são eles: comparabilidade (é necessário que a metodologia de monitoramento do tema seja possível comparar com outros períodos, outras organizações), exatidão (as informações utilizadas devem ter o máximo de precisão possível), clareza (os temas precisam ser claros e de pleno entendimento de todas as partes interessadas) e confiabilidade (esses temas precisam ser informados de forma confiável, com uma avaliação de terceira parte, por exemplo).
Métricas: Estabelecidos os temas materiais e as bases de monitoramento e relato, as métricas devem ser estabelecidas através de metas para os temas conhecidas como SMART (específica, mensurável, atingível, relevante e temporal). Essas métricas devem ser consideradas sempre como ferramenta de gestão e servir de base para análise crítica da alta administração da organização. Um exemplo importante de ser utilizado é uma empresa que utiliza água em seu processo produtivo. Essa empresa tem o consumo de água como tema material e por isso precisa estabelecer métricas de controle e monitoramento para esse fator, onde deve ser especificado conforme abaixo:
Compromisso: Reduzir em 50% o consumo de água no processo produtivo até 2035.
Fator material: Consumo de recurso natural – água.
Medição: Consumo em m³ de água (Trimestre atual x Trimestre anterior).
Redução: Meta de redução do consumo em 4% ao ano (e pequenas medições de 1% a cada três meses para monitoramento).
Como vemos nesse exemplo, temos estabelecida uma métrica de medição, controle e gestão de um tema material através de um compromisso e de metas estabelecidas, onde temos todos os fatores SMART presentes para controlar e direcionar o atendimento da meta, além de poder servir como ferramenta de decisão estratégica.
Como vimos, a transição do ESG de uma percepção empírica para uma medida nos auxilia no controle de ações e também na confiabilidade das ações perante aos stakeholders. Empresas que utilizam de métricas ESG conforme princípios básicos de relato do GRI têm maior confiança do investidor e também oferecem mais transparência de seu interesse pelas agendas.
Falar sobre sustentabilidade e ESG pode hoje ser um assunto fácil de falar e difícil de cumprir, porém, em alguns anos, quando estivermos com uma maturidade de medição dos temas gerais bem desenvolvida na sociedade como um todo, será muito mais simples para o investidor entender quem de fato está olhando para seus temas materiais e agindo em direção do desenvolvimento sustentável.

Colunistas
Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
Colunistas
Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
Colunistas
Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



