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ESG no agronegócio: práticas que favorecem o acesso ao crédito
As práticas ESG (Ambiental, Social e Governança em português) são demandas latentes da sociedade e têm sido utilizadas como criação de vantagem competitiva e geração de valor no setor.

Com o status de celeiro do mundo por ser um dos maiores exportadores de commodities agrícolas, a produção do agronegócio brasileiro chama a atenção e desperta anseios globais sobre o seu futuro. De acordo com pesquisa divulgada em 2021 pela PwC, as previsões para o setor em 2030 elencam um acréscimo de 50% na demanda por água e de 40% na demanda por energia, dados que desencadeiam uma pressão por maior sustentabilidade no agronegócio brasileiro e uma busca pelo aprimoramento ESG no setor.
Com isso, as questões ambientais, sociais e de governança passaram a integrar o dia a dia de quem vive no campo. As práticas ESG além de serem demandas crescentes na sociedade, têm sido utilizadas também como estratégias para a criação de vantagem competitiva e geração de valor no agro. “A pauta ESG entrou de vez no agro do Brasil, não apenas pela demanda dos consumidores, mas pela necessidade que o produtor enxerga de que ele precisa ter uma produção mais limpa e sustentável, sem interferir demais no solo, otimizando a utilização de fertilizantes e agroquímicos, e trabalhando ativamente nas áreas de proteção permanente (APPs) das propriedades”, comenta o COO (Cheif Operating Officer) da Tarken, Rodrigo Esteves, acrescentando: “O produtor sabe que isso melhora a qualidade da produção, melhora a terra, melhora o ambiente, a propriedade de uma forma geral”.
As questões ambientais levantadas pelo executivo são algumas das que, junto com questões sociais e de governança, fazem parte das recentes mudanças trazidas pelo Plano Safra dos últimos anos, onde as concessões de crédito rural passam a abordar boas práticas ESG como um dos critérios para a avaliação dos produtores. “Quando são levantados os dados das práticas ESG, a ideia é que o produtor rural que consegue seguir uma série destes critérios tenha mais vantagens quando recorre ao crédito, e as razões são simples: para a entidade que fornece o crédito, o produtor rural que adota as práticas de sustentabilidade tem no longo prazo um fluxo de caixa melhor, uma maior probabilidade de superar as variações e dificuldades climáticas, vai ter menos problemas no setor jurídico, e vai ser capaz de produzir mais e com maior qualidade e maior retorno sem precisar gastar mais”, reforça Esteves.
Além do favorecimento nas questões financeiras, a propriedade rural que adota práticas ESG beneficia diretamente a comunidade a qual faz parte e aos seus parceiros de negócios, alcançando um reconhecimento social diferenciado e agregando de maneira indireta mais valor ao seu produto.
Embora o conceito seja muito falado, ainda existem dúvidas sobre a aplicação de ações ESG nas propriedades, ou de qual maneira elas efetivamente podem favorecer o produtor rural e a cadeia produtiva como um todo.
ESG na prática, para começar…
O conceito ESG surgiu em 2004, na publicação “Who Cares Wins (WCW)”, elaborada em parceria entre o Banco Mundial e o Pacto Global – uma iniciativa da ONU. Os seus critérios estão intimamente relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que busca disseminar boas práticas em passos curtos, mas que fomentem mudanças profundas nas gestões de negócios, tornando-as essenciais nas análises de risco e nas tomadas de decisão dos investidores.
Embora pareça complexo, muitas práticas ESG já fazem parte do dia a dia do produtor rural:
Redução da pegada de carbono (redução da emissão dos gases de efeito estufa): a utilização de tecnologias como plantio direto, a integração lavoura-pecuária-floresta, a alimentação do rebanho com alimentos de maiores digestibilidade, o uso adequado de fertilizantes, e a redução do consumo de diesel melhorando a logística de transporte e a eficiência das máquinas, são exemplos de ações ESG com foco ambiental que buscam reduzir ou mitigar a emissão de carbono (agricultura zero carbono) ou até mesmo gerar créditos de carbono para aquela propriedade – que pode ser comercializado e promover uma renda extra ao produtor.
Avaliação do impacto social: o agronegócio é a atividade mais pulverizada no mundo, e é importante entender quais são as vantagens da atividade rural no local em que aquela propriedade se encontra, os empregos que ela gera e os impactos na economia local. As vantagens de sua existência para a comunidade em que ela está inserida precisam ser maiores do que as possíveis desvantagens. Neste mesmo ponto, a rastreabilidade da cadeia de valor é importante e traz transparência no compliance socioambiental, garantindo que fornecedores não estejam praticando desmatamento ilegal, por exemplo.
Liderança transparente: uma comunicação clara e efetiva com todas as partes interessadas e envolvidas no negócio é muito importante para uma relação de confiança e maior engajamento das pessoas que se dedicam àquela produção. A adoção de melhores práticas de governança corporativa, com gerenciamento de riscos, compliance socioambiental e plano sucessório são fundamentais.
Por que isso influencia no crédito?
“As ações ESG e sua relação com o agronegócio são constantemente desenvolvidas a fim de manter o setor sempre à frente das demandas da sociedade como um todo. Com o intuito de incentivar a adoção dessas medidas de forma mais efetiva, bancos e financeiras passaram a adotar, com o aval do Banco Central, tais critérios como apoio para a avaliação e concessão de crédito. Hoje, quanto mais o produtor se enquadra nas práticas ESG, mais fácil é de obter o crédito. Isso porque a avaliação de crédito antes era baseada no risco – risco do produtor não pagar, risco de fazer algo errado, risco de não ter o retorno da produção… e agora, os olhos do agente que fornece o crédito estão focados também em quais as vantagens que aquele produtor traz para o contexto em que ele se encontra”, explica Rodrigo.
Além disso, a adoção dos critérios ESG pelo agronegócio nacional atrai também novos mercados que entendem a necessidade da expansão da produção mundial de alimentos, mas que pressionam para que essa expansão aconteça com mais sustentabilidade.
“Agronegócio e sustentabilidade são palavras que andam juntas. Uma produção mais sustentável é chave importante para o produtor rural abrir uma porteira de investimentos novos e mais favoráveis a ele”, finaliza.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



