Avicultura Nutrição
Enzimas: tecnologia reduz custos de produção e garante desempenho animal
Cada empresa, com o seu nutricionista, poderá definir a melhor estratégia no uso da solução enzimática para a redução nos custos das rações

Artigo escrito por Adriana Toscan, Maria Spindola e Agnes Mori da Adisseo América Latina
Nesse segundo semestre de 2020 enfrentamos um forte aumento nos custos de produção animal. Esta alta ocorreu basicamente pelo desabastecimento interno dos principais ingredientes utilizados na produção de ração que, impulsionados pela valorização cambial, tiveram alta nas exportações. Podemos estimar um impacto de 10% a 35% no aumento do custo por unidade dos principais nutrientes da ração, como a energia, aminoácidos e fósforo, dependendo dos níveis nutricionais utilizados.
Uma das estratégias adotadas pelos nutricionistas é a da redução de níveis nutricionais das fórmulas, buscando um equilíbrio entre custo de ração e desempenho animal. Isso com certeza faz parte de um processo de pesquisa e desenvolvimento técnico das empresas, porém no momento de crise, com mudanças repentinas e bruscas nos preços dos ingredientes, nem sempre é fácil encontrar o ponto de equilíbrio.
A medida mais segura seria explorar ao máximo o potencial e uso de enzimas exógenas, em especial as carbohidrolases e fitases. Essa estratégia nutricional, além de garantir o desempenho animal, permite reduzir os custos das rações. Dentre todos os aditivos usados na alimentação animal as enzimas fazem parte dos produtos mais pesquisados, especialmente nas rações de aves e suínos. Desempenham um papel preponderante na produção animal, já que ajudam a melhorar a digestibilidade dos ingredientes da dieta. A suplementação enzimática tem um impacto significativo sobre a sustentabilidade e rentabilidade da produção animal. Avanços recentes em pesquisa e inovação provam que há potencial para se extrair ainda mais valor com o uso de enzimas na nutrição animal; portanto, conhecer o substrato para ação destas enzimas é essencial para definir a melhor estratégia dentro de inúmeras possibilidades.
Todos os cereais e farelos proteicos contêm um alto valor nutricional. No entanto, os animais são incapazes de utilizá-los completamente, devido à sua natureza complexa, bem como dos mecanismos digestivos parcialmente eficazes. Uma ração balanceada contém cerca de 20% de frações indigeríveis, que são compostas por:
- Polissacarídeos não amiláceos (PNAs) mais representativos: celulose e arabinoxilanos
- ß-glucanos
- Outros PNAs, e
- Fitatos
Segundo a literatura, até 35% dessa fração indigestível (7% do total) pode se tornar digerível pela ação de enzimas exógenas.
Nutrientes como amido, proteínas, gorduras e minerais estão indisponíveis (10 a 20%) pois se encontram inacessíveis pelas propriedades antinutricionais dos PNAs e dos fitatos.
Polissacarídeos não amiláceos (PNAs) e suas propriedades antinutricionais
Os PNAs são polímeros α(β), presentes principalmente nas paredes celulares do endosperma, embora também sejam encontrados nos farelos de grãos. Estes incluem celulose, hemicelulose e pectina e também podem ser classificados de acordo com seu valor nutritivo em frações solúveis ou insolúveis em água.
Os PNAs são conhecidos por possuírem propriedades antinutricionais que incluem:
- Formação de viscosidade pelos PNAs solúveis
- Mecanismo de aprisionamento de nutrientes (“efeito jaula”) pelos PNAs insolúveis
- Redução da saúde e ecologia intestinal
- Maiores perdas endógenas
- Alteração das funções enzimáticas endógenas
As paredes celulares dos tecidos externos dos grãos contêm principalmente celulose e xilanos complexos, juntamente com quantidades significativas de lignina. Os heteroxilanos do milho são os que mais contém substituições (80%) comparados com os do trigo (70%). Essa complexidade afeta a suscetibilidade às enzimas exógenas. Mesmo que um alto grau de substituições previna problemas de viscosidade, a quebra dessas estruturas melhora a digestibilidade da ração.
Uma compreensão adequada do conteúdo e da estrutura das frações indigeríveis presentes nos ingredientes da ração é o primeiro passo para uma boa função enzimática. Quanto mais amplo o espectro da solução enzimática, maior será seu efeito.
Devido a sua especificidade limitada a apenas uma ligação, são necessárias diferentes enzimas para a degradação dos arabinoxilanos. Enquanto as endoxilanases hidrolisam a coluna vertebral das xiloses, sua atividade é frequentemente dificultada pela substituição por resíduos de arabinose. Para alcançar a eficiência, as endo-1,4-β-xilanases requerem uma extensão suficientemente longa de xilanases não substituídas sobre a coluna vertebral de xilanos.
As α-L arabinofuranosidases (Abf) são glicosil hidrolases (GH) capazes de romper a arabinose a partir da cadeia de xilose, atuando como enzimas desramificadoras. Desta forma elas possuem um papel importante no sistema hidrolítico quando se trata da degradação das hemiceluloses, como os arabinoxilanos, arabinanos e arabinogalactanos. Por pertencer a diferentes famílias de GH (GH43, 51, 54, 62 etc.) elas são capazes de liberar arabinose das xiloses mono ou dissubstituídas em oligo ou polissacarídeos. Ainda é importante complementar que as Abf atuam em um pH menor do que o das endoxilanases, desta forma, a consequência direta no trato digestivo é que a ação de desramificação é realizada na parte superior (estômago), enquanto as endoxilanases atuam posteriormente.
Combinação de enzimas para redução de custos
A ação primária das carbohidrolases sobre as paredes celulares aumenta ainda mais a eficiência da fitase, que terá posteriormente um maior acesso aos fitatos localizados no interior da própria célula. Quando utilizada em conjunto, sua ação é muito mais eficaz, aumentando a disponibilidade do amido e aminoácidos, além de minerais.
Cada enzima visa especificamente um substrato. As enzimas comerciais para a alimentação animal têm por objetivo melhorar a digestibilidade tanto dos nutrientes, como da energia. Mas a inclusão de vários tipos de enzimas na ração induz um efeito cumulativo sobre o aumento na digestibilidade? Essa questão sempre foi uma discussão entre nutricionistas. E isso pode ser atribuído às complexas interações que ocorrem entre as enzimas exógenas, endógenas, substratos e intestino. Por essa ração, não é correto considerar os efeitos das enzimas de maneira individual. A melhor maneira de avaliar um aumento da digestibilidade do alimento é utilizar o conceito de várias enzimas exógenas como uma solução enzimática única, que atente à fração indigerível da dieta e libere nutrientes a partir desta. Esta visão é descrita como conceito feedase. Com essa nova abordagem, o referido efeito enzimático já não está mais ligado a um nutriente específico, mas à fração indigerível da dieta, a qual será reduzida graças às ações complementares das enzimas.
A possibilidade de combinações destas atividades enzimáticas é imensa e por isso deve-se tomar alguns cuidados no momento da definição da estratégia enzimática, buscando ter comprovações robustas e consistentes do efeito sinérgico in vivo que está sendo esperado uma vez que se tenha a combinação.
No cenário de preços atuais (Fig.1) não há mais espaço para utilizar margens de segurança na valorização das combinações de diferentes enzimas por não possuir dados técnicos do efeito complementar das mesmas na formulação e no desempenho dos animais. A utilização de monoenzimas, como xilanases simples especificamente em dietas milho e soja também mostra um efeito limitado, necessitando de enzimas desramificadoras complementares, para maior eficiência na degradação destas matérias primas.

Considerando a matriz nutricional de energia, aminoácidos e minerais, o uso de um complexo enzimático de multicarbohidrolases (CMC) pode reduzir aproximadamente US$ 22,00/t de alimento para frango de corte (Fig.2) e US$ 12,00/t de ração de suínos. Isso corresponde a uma redução de aproximadamente 7% e 4% no custo da ração de cada espécie, respectivamente.
A utilização de superdosing de fitase adicional ao CMC traz uma possibilidade maior ainda de economia e desta forma temos excelentes e comprovadas ferramentas para amenizar os aumentos recentes nos custos de produção animal.

As enzimas podem fazer muito mais do que garantir um desempenho consistente. Elas são alavancas fundamentais para otimizar a formulação de rações, e assim reduzir os custos do alimento enquanto mantém o desempenho zootécnico nos níveis esperados. Linhagens modernas de aves e suínos com alto potencial de produção demandam alimentos que sejam eficientemente digeríveis para atingir seu potencial. Portanto, o uso de uma solução enzimática completa se adapta melhor a tal estratégia.
Cada empresa, com o seu nutricionista, poderá definir a melhor estratégia no uso da solução enzimática para a redução nos custos das rações.
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Avicultura
Paraná registra queda no custo do frango com redução na ração
Apesar da retração no ICPFrango e no custo total de produção, despesas com genética e sanidade avançam e mantêm pressão sobre o sistema produtivo paranaense.

O custo de produção do frango vivo no Paraná registrou nova retração em outubro de 2025, conforme dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves. Criado em aviários climatizados de pressão positiva, o frango vivo custou R$ 4,55/kg, redução de 1,7% em relação a setembro (R$ 4,63/kg) e de 2,8% frente a outubro de 2024 (R$ 4,68/kg).
O Índice de Custos de Produção de Frango (ICPFrango) acompanhou o movimento de queda. Em outubro, o indicador ficou em 352,48 pontos, baixa de 1,71% frente a setembro (358,61 pontos) e de 2,7% na comparação anual (362,40 pontos). No acumulado de 2025, o ICPFrango registra variação negativa de 4,90%.
A retração mensal do índice foi influenciada, principalmente, pela queda nos gastos com ração (-3,01%), item que historicamente concentra o maior peso no custo total. Também houve leve recuo nos gastos com energia elétrica, calefação e cama (-0,09%). Por outro lado, os custos relacionados à genética avançaram 1,71%, enquanto sanidade, mão de obra e transporte permaneceram estáveis.

No acumulado do ano, a movimentação é mais desigual: enquanto a ração registra expressiva redução de 10,67%, outros itens subiram, como genética (+8,71%), sanidade (+9,02%) e transporte (+1,88%). A energia elétrica acumulou baixa de 1,90%, e a mão de obra teve leve avanço de 0,05%.
A nutrição dos animais, que responde por 63,10% do ICPFrango, teve queda de 10,67% no ano e de 7,06% nos últimos 12 meses. Já a aquisição de pintinhos de um dia, item que representa 18,51% do índice, ficou 8,71% mais cara no ano e 7,16% acima do registrado nos últimos 12 meses.
No sistema produtivo típico do Paraná (aviário de 1.500 m², peso médio de 2,9 kg, mortalidade de 5,5%, conversão alimentar de 1,7 kg e 6,2 lotes/ano), a alimentação seguiu como principal componente do custo, representando 63,08% do total. Em outubro, o gasto com ração atingiu R$ 2,87/kg, queda de 3,04% sobre setembro (R$ 2,96/kg) e 7,12% inferior ao mesmo mês de 2024 (R$ 3,09/kg).
Entre os principais estados produtores de frango de corte, os custos em outubro foram de R$ 5,09/kg em Santa Catarina e R$ 5,06/kg no Rio Grande do Sul. Em ambos os casos, houve recuos mensais: 0,8% (ou R$ 0,04) em Santa Catarina e 0,6% (ou R$ 0,03) no território gaúcho.
No mercado, o preço nominal médio do frango vivo ao produtor paranaense foi de R$ 5,13/kg em outubro. O valor representa alta de 3,2% em relação a setembro, quando a cotação estava em R$ 4,97/kg, indicando que, apesar da melhora de preços ao produtor, os custos seguem pressionados por itens estratégicos, como genética e sanidade.
Avicultura
Produção de frangos em Santa Catarina alterna quedas e avanços
Dados da Cidasc mostram que, mesmo com variações mensais, o estado sustentou produção acima de 67 milhões de cabeças no último ano.

A produção mensal de frangos em Santa Catarina apresentou oscilações significativas entre outubro de 2024 e outubro de 2025, segundo dados da Cidasc. O período revela estabilidade em um patamar elevado, sempre acima de 67 milhões de cabeças, mas com movimentos de queda e retomada que refletem tanto fatores sazonais quanto ajustes de mercado.
O menor volume do período foi registrado em dezembro de 2024, com 67,1 milhões de cabeças, possivelmente influenciado pela desaceleração típica de fim de ano e por ajustes de alojamento. Logo no mês seguinte, porém, houve forte recuperação: janeiro de 2025 alcançou 79,6 milhões de cabeças.

Ao longo de 2025, o setor manteve relativa constância entre 70 e 81 milhões de cabeças, com destaque para julho, que atingiu o pico da série, 81,6 milhões, indicando aumento da demanda, seja interna ou externa, em plena metade do ano.
Outros meses também se sobressaíram, como outubro de 2024 (80,3 milhões) e maio de 2025 (80,4 milhões), reforçando que Santa Catarina segue como uma das principais forças da avicultura brasileira.
Já setembro e outubro de 2025 mostraram estabilidade, com 77,1 e 77,5 milhões de cabeças, respectivamente, sugerindo um período de acomodação do mercado após meses de forte atividade.
De forma geral, mesmo com oscilações, o setor mantém desempenho sólido, mostrando capacidade de rápida recuperação após quedas pontuais. O comportamento indica que a avicultura catarinense continua adaptável e resiliente diante das demandas do mercado nacional e internacional.
Avicultura
Setor de frango projeta crescimento e retomada da competitividade
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, produção acima de 2024 e aumento da demanda doméstica impulsionam perspectivas positivas para o fechamento de 2025, com exportações em recuperação e espaço para ajustes de preços.

O setor avícola brasileiro encerra 2025 com sinais de recuperação e crescimento, mesmo diante dos desafios impostos pelos embargos que afetaram temporariamente as margens de lucro.
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, a produção de frango deve fechar o ano cerca de 3% acima de 2024, enquanto o consumo aparente deve registrar aumento próximo de 5%, impulsionado por maior disponibilidade interna e retomada do mercado externo, especialmente da China.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a competitividade do frango frente à carne bovina voltou a se fortalecer, criando espaço para ajustes de preços, condicionados à oferta doméstica. A demanda interna tende a crescer com a chegada do período de fim de ano, sustentando a valorização do produto.
Além disso, os custos de produção, especialmente da ração, seguem controlados, embora a safra de grãos 2025/26 ainda possa apresentar ajustes. No cenário geral, os números do setor podem ser considerados positivos frente às dificuldades enfrentadas, reforçando perspectivas favoráveis para os próximos meses.



