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Entrada de fundos e Fiagros acelera reconfiguração do mercado de terras agrícolas no Brasil

Pressão global por alimentos e sucessão patrimonial no campo atraem capital institucional, elevam preços, mudam critérios de compra e iniciam um ciclo de troca de controle fundiário no país.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

As terras agrícolas brasileiras estão passando por uma reconfiguração estrutural. O movimento, antes restrito a produtores rurais, famílias tradicionais e transações locais, agora tem novos protagonistas: fundos de investimento, Fiagros e gestoras nacionais e internacionais que tratam o campo como uma classe estratégica de ativos.

Em apenas três anos, os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) saíram do papel e se tornaram um dos segmentos que mais cresce no mercado financeiro brasileiro. Hoje já há 142 fundos registrados, com patrimônio líquido superior a R$ 43 bilhões, segundo o Boletim de Finanças Privadas do Ministério da Agricultura e Pecuária. Paralelamente, fundos privados como ARAR Capital, Mobius, Vinci, Riza, Suno e BTG Pactual vêm captando centenas de milhões e, em alguns casos, mais de R$ 1 bilhão, para aquisição direta de terras produtivas no país.

O interesse não é casual. O pano de fundo dessa movimentação está ligado a duas pressões globais crescentes: insegurança alimentar e sucessão patrimonial no campo. O Brasil ocupa uma posição estratégica nesse tabuleiro. Projeções da FAO mostram que, até 2030, o mundo terá dois bilhões de pessoas a mais e uma demanda 60% superior por alimentos.

A Cargill estima que 80% desse crescimento será atendido por ingredientes provenientes do Brasil, indicando que oito em cada 10 novos pratos consumidos no planeta terão origem em território nacional. Em um cenário em que EUA e Europa têm limites rígidos de expansão agrícola, o Brasil segue como uma das últimas fronteiras com terras férteis, escala e capacidade produtiva.

Mudanças  no perfil de comprar áreas rurais

Foto: Jonathan Campos

Esse contexto atrai capital e eleva o nível de exigência. A compra de terras, que historicamente se baseava em relações pessoais e conhecimento empírico, agora passa a ser guiada por análise técnica, estruturas jurídicas formalizadas e governança. “Existe uma corrida silenciosa acontecendo. A demanda por terras vinda de FIAGROs e fundos aumentou muito desde 2023. É a maior transformação que já vimos no mercado fundiário”, afirma a especialista em Negócios Geórgia Oliveira, que atua em plataforma especializada em vendas de propriedades rurais.

Segundo ela, o avanço dos FIAGROs trouxe ao setor um mecanismo comparável ao dos fundos imobiliários, mas aplicado ao agronegócio, algo raro no mundo e decisivo para democratizar o acesso ao mercado fundiário. “Esse novo apetite financeiro já está mexendo com preços e liquidez. Nos últimos cinco anos, o valor médio das terras dobrou, superando ações, renda fixa e fundos imobiliários”, expõe, salientando: “Terras agrícolas oferecem atributos que investidores buscam em ciclos de incerteza: baixa volatilidade, renda recorrente atrelada à produção e proteção cambial indireta, já que grande parte do agronegócio é dolarizada. Não por acaso, fundos multimercados, family offices e investidores estrangeiros passaram a disputar áreas com logística estabelecida, acesso a crédito e potencial de alta produtividade”.

Sucessão no campo

Ao mesmo tempo, um segundo vetor impulsiona a mudança: a sucessão no campo. Estimativas da consultoria Cerulli Associates indicam que US$ 84,4 trilhões serão transferidos globalmente até 2045, e o Brasil representa mais de 10% desse volume. “Uma fração relevante desse patrimônio está atrelada a terras rurais e operações agropecuárias familiares. Porém, sem planejamento sucessório ou interesse da próxima geração em assumir a atividade, muitas propriedades tendem a ser vendidas, não por estratégia, mas por necessidade”, ressalta.

Esse fenômeno pode pressionar o mercado em duas direções. Em regiões com baixa liquidez, a entrada repentina de oferta pode reduzir preços no curto prazo. Por outro lado, propriedades com gestão estruturada, escrituração organizada, sucessão definida e vocação produtiva clara devem ganhar prêmio de mercado e se tornar alvo de consolidação por investidores institucionais. “O mercado de terras agrícolas no Brasil registra aumento no volume de consultas por fundos e investidores estrangeiros desde 2023. Eles chegam com tese, com capital levantado e com uma necessidade clara de alocar. Esse comportamento nos mostra, com muita nitidez, que estamos vivendo uma fase importante de troca de donos de terras na história do agronegócio brasileiro”, afirma Geórgia, enfatizando que o que antes era uma negociação baseada predominantemente em tradição e relações pessoais passou a incorporar processos mais estruturados, como auditoria, due diligence, análise geoespacial e simulações de desempenho agrícola.

Foto: Shutterstock

Ou seja, atualmente não basta ter terra. É preciso ter gestão, governança e documentação em dia. “Os investidores institucionais só olham áreas com auditoria, histórico produtivo e potencial de escala. A mudança no perfil do comprador de terras, agora mais profissional do que nunca, forçará a profissionalização no campo como um todo e o reposicionamento dos preços. As propriedades preparadas sobem de patamar; as que não acompanharem esse movimento perderão liquidez. É uma mudança estrutural e irreversível”, menciona.

A confluência de capital financeiro, pressão global por alimentos, transição geracional e marcos regulatórios mais maduros apontam para uma nova era no mercado rural brasileiro. Uma era em que terras não são apenas herança, nem apenas patrimônio, mas instrumento de estratégia econômica, geopolítica e segurança alimentar. E, à medida que novos atores entram no jogo, uma coisa fica clara: o mapa de quem controla as terras brasileiras está mudando e rápido.

Fonte: Assessoria Chãozão

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Tarifas pressionam comércio Brasil–EUA e ampliam déficit bilateral em 2025

Exportações recuam pelo quarto mês seguido, enquanto importações dos EUA avançam em ritmo recorde.

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Foto: Divulgação

As exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 2,7 bilhões em novembro, queda de 28,1% na comparação com o mesmo mês de 2024, segundo a edição de novembro do Monitor do Comércio Brasil–EUA, elaborado pela Amcham Brasil. O resultado marca o quarto mês consecutivo de retração nas vendas ao principal parceiro comercial do Brasil fora da Ásia, ainda que represente uma desaceleração frente à queda recorde de outubro, quando o recuo havia atingido 37,8%.

A melhora marginal observada em novembro é atribuída, sobretudo, à retirada, em meados do mês, das sobretaxas adicionais de 40% e 50% impostas a parte dos produtos brasileiros, especialmente do setor agrícola. Ainda assim, no acumulado de janeiro a novembro, as exportações registram a maior queda do ano, com retração de 6,7%.

Foto: Divulgação

Na direção oposta, as importações brasileiras de produtos norte-americanos mantiveram trajetória de forte expansão. Em novembro, as compras somaram US$ 3,8 bilhões, alta de 24,5% na comparação anual, o maior crescimento mensal registrado em 2025.

O descompasso entre exportações em queda e importações em aceleração ampliou de forma expressiva o déficit comercial bilateral. Entre janeiro e novembro, o saldo negativo alcançou cerca de US$ 8 bilhões, o segundo maior da última década para o período e quase dez vezes superior ao registrado no mesmo intervalo do ano anterior. O desempenho evidencia o impacto das distorções provocadas pelas tarifas sobre a competitividade dos produtos brasileiros e sobre o equilíbrio da corrente de comércio entre os dois países.

Para Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil, há espaço político para reverter esse quadro. Segundo ele, o recente telefonema entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump sinaliza uma janela de oportunidade para a retomada do diálogo bilateral. “É uma oportunidade que precisa ser aproveitada para a construção de um acordo comercial mutuamente benéfico e para a correção das distorções geradas pelas tarifas adicionais de 40% e 50%”, afirma.

Petróleo lidera retração das exportações

Mais uma vez, os óleos brutos de petróleo exerceram forte pressão negativa sobre o desempenho exportador. Em novembro, as vendas do produto aos Estados Unidos recuaram 65,9% na comparação anual, refletindo a menor demanda das refinarias norte-americanas. O movimento explica, em grande medida, a queda de 53,2% nas exportações de bens isentos de taxação no mês.

Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná

No grupo de produtos sujeitos às tarifas adicionais, as exportações caíram 18,3% em novembro frente ao mesmo período de 2024. Embora o resultado represente a menor retração desde o início da aplicação das sobretaxas, os bens ainda submetidos às alíquotas mais elevadas, de 40% e 50%, majoritariamente industriais apresentaram desempenho mais fraco, com queda de 27,8%.

No acumulado do ano, esse grupo também concentra o pior resultado, com retração de 4,5%, evidenciando que os efeitos das medidas tarifárias seguem limitando o acesso de produtos brasileiros ao mercado norte-americano.

Os dados integram a edição de novembro do Monitor do Comércio Brasil–EUA, publicação trimestral da Amcham Brasil que acompanha a evolução do comércio bilateral e seus impactos econômicos. Se quiser, posso ajustar o texto para uma versão mais curta, no formato de nota de mercado, ou reforçar ainda mais a análise macroeconômica e setorial.

Fonte: O Presente Rural com Amcham Brasil
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Reforma tributária impõe ajustes nas notas fiscais e amplia incertezas no agro a partir de 2026

Inclusão de IBS e CBS no XML da nota fiscal inaugura fase de adaptação operacional no setor; norma técnica flexibiliza exigência, mas especialistas alertam para riscos fiscais e impacto ainda indefinido sobre custos e preços dos insumos.

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tecnologia
Foto: Shutterstock

Com a entrada em vigor da primeira etapa da reforma tributária em 2026, o agronegócio inicia um período de adaptação às novas regras fiscais. A norma técnica recentemente publicada, que trata da inclusão dos novos tributos nas notas fiscais, trouxe uma mudança operacional de adequação de sistema neste momento, mas também ampliou as incertezas no setor.

A partir de janeiro, dois dos três novos tributos – o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) – deverão constar no XML da nota fiscal, que é o arquivo digital que reúne todas as informações oficiais da operação, como valores, produtos, códigos fiscais e dados do emissor e do destinatário.

O terceiro imposto, o Imposto Seletivo (IS), batizado de ‘imposto do pecado’, cujo foco é desestimular o consumo de produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e combustíveis fósseis entrará em vigar a partir de 2027.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Embora o consumidor tenha acesso apenas ao DANFE, é o XML que a Secretaria de Estado da Fazenda utiliza para validação e fiscalização tributária. Pela reforma, o IBS substituirá ICMS e ISS, a CBS unificará PIS e Cofins, e o IS funcionará como imposto seletivo complementar ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Inicialmente, a ausência dos campos IBS e CBS no XML impediria a emissão da nota. Entretanto, a nova norma técnica revisada no início de dezembro flexibilizou a exigência e o faturamento seguirá liberado mesmo sem as informações inseridas. Apesar disso, a legislação permanece vigente e o descumprimento pode gerar penalidades posteriores, como alerta a contadora, especialista em Direito Tributário, Munique Lopes. “A reforma é gradativa e, por isso, 2026 funciona como um período de teste. Os novos tributos ainda não serão cobrados na prática, mas devem constar no XML, mesmo que de maneira informativa. A nota será emitida ainda que sem esses dados, porém isso não isenta o contribuinte de responsabilidade. É melhor se preparar agora do que descobrir um problema anos depois”, orienta.

A profissional destaca que a reforma seguirá passando por ajustes até o fim de 2032, o que exige acompanhamento constante das atualizações. “Cada mês traz uma mudança, uma nova nota técnica. O setor que se antecipar estará mais protegido e terá mais clareza sobre seus custos tributários”, reforça.

Para ela, o agronegócio deve tratar 2026 como um ano de diagnóstico e organização interna. Empresas, cooperativas, revendas e produtores precisam revisar suas bases de produtos e entender como cada item se encaixa na nova estrutura tributária. “Estamos diante de novos códigos e regras. Quem não fizer essa análise agora pode enfrentar problemas de custo ou até riscos fiscais nos próximos anos”, explica.

Impacto no preço dos produtos agrícolas

A possível influência da reforma nos preços de insumos como fertilizantes, defensivos e sementes tem sido um dos principais pontos de preocupação. Como os benefícios fiscais atuais serão gradualmente revistos, há expectativa de mudanças na carga tributária desses itens.

Mesmo assim, Munique ressalta que ainda não é possível fazer previsões. “As alíquotas não estão totalmente definidas. No caso dos defensivos, discute-se a possibilidade de enquadramento no imposto seletivo, mas nada está consolidado. Por isso, não há como afirmar se haverá aumento ou redução de preços”, pontua.

Fonte: Assessoria Agrotis
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Duimp redesenha comércio exterior e deve gerar até R$ 40 bilhões em ganhos anuais

Com adoção integral a partir de 2026, novo modelo de importações reduz prazos, integra órgãos anuentes e prepara o país para um salto de eficiência, previsibilidade e competitividade no comércio internacional.

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Foto: Rodrigo Félix Leal

O comércio exterior brasileiro deve passar por uma das maiores transformações de sua história em 2026, com a consolidação da Declaração Única de Importação (Duimp) e o desligamento definitivo do Siscomex. A expectativa do governo federal é de que o novo processo reduza prazos, elimine etapas burocráticas, impulsione a competitividade e gere até R$ 40 bilhões por ano em economia para as empresas. A mudança ocorre em um momento em que o país se prepara para um salto nas importações, favorecido pela simplificação operacional e pela maior previsibilidade na chegada de mercadorias.

A migração das operações para o Portal Único de Comércio Exterior começou em 2014, inicialmente com as exportações, e agora entra na reta final na área de importações. Em 2025, a adoção da Duimp torna-se integral, e 2026 será o primeiro ano com toda a cadeia funcional operando exclusivamente no novo modelo.

O governo projeta que a simplificação das etapas e a integração dos órgãos anuentes resultarão em um salto na eficiência logística, ampliando o fluxo de bens importados e reduzindo custos associados ao tempo de carga parada.

Presidente da Fiorde Group, Mauro Lourenço Dias: “A Duimp não é apenas tecnologia, é transformação operacional. Quem entende isso estará à frente na corrida global pelo comércio exterior” – Foto: Divulgação

A experiência com as exportações mostrou o potencial do sistema. A migração do antigo Registro de Exportação para a Declaração Única de Exportação, concluída em 2018, reduziu em mais de 50% o tempo médio de desembaraço, segundo dados oficiais. Agora, o mesmo movimento deve ocorrer com as importações: o tempo médio já caiu de 17 para nove dias e pode chegar a apenas cinco dias após a consolidação total do modelo. “A redução do prazo de desembaraço não é apenas um ganho operacional, é também um ganho financeiro significativo para as empresas que dependem de importações”, afirma Mauro Lourenço Dias, presidente da Fiorde Group.

Além de eliminar etapas redundantes e reduzir a necessidade de autorizações prévias, o sistema permite que licenças de órgãos como Anvisa e Mapa sejam analisadas diretamente no momento do registro da Duimp, evitando múltiplas aberturas de carga e acelerando a fiscalização.

O governo estima que a desburocratização e a redução de custos operacionais poderão gerar impacto econômico acumulado de US$ 130 bilhões até 2040. Dias menciona que a Duimp cria uma visão compartilhada entre todos os intervenientes do comércio exterior, o que significa menos atrasos e maior previsibilidade para o planejamento estratégico das empresas. “A Duimp impacta não só as operações, mas também os fluxos financeiros. As empresas precisam ter atenção especial ao catálogo de produtos, à classificação correta e à integração de todos os sistemas”, explica.

Ele avalia que a chegada plena da Duimp representa uma mudança estrutural na forma como o Brasil administra o comércio exterior. “O Brasil possui um sistema moderno de comércio exterior e a Duimp é a evolução natural. Quem não se adapta corre risco de perder competitividade”, salienta.

Dias destaca ainda que a integração entre logística, pessoas, processos e dinheiro se torna ainda mais determinante em um ambiente em que o desembaraço antecipado e a análise conjunta dos órgãos intervenientes passam a ser a norma. “A Supply Chain é dinheiro. Se usada de forma eficiente, gera competitividade; se usada mal, gera custos”, afirma, acrescentando: “As empresas que entendem essa nova dinâmica podem reduzir estoques, otimizar o fluxo de caixa e ganhar agilidade para aproveitar oportunidades de mercado”.

Canal de conferência

Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná

A partir de 2026, a liberação antecipada das cargas permitirá que o canal de conferência seja conhecido na chegada da mercadoria ao país, e não dias depois. Esse fator deverá reduzir estoques, melhorar o planejamento das empresas e reforçar a previsibilidade da cadeia de suprimentos.

A expectativa é que a diminuição do tempo de liberação possa chegar a 70% em comparação ao modelo atual, fortalecendo a posição do Brasil no comércio internacional. “Quem se prepara com antecedência terá vantagem competitiva, enquanto atrasos ou falhas de integração podem gerar custos adicionais”, alerta Dias.

Para o governo e especialistas, o país inicia 2026 com condições de dar um salto quantitativo e qualitativo no volume das importações. Com processos mais simples, custos menores e maior transparência, a Duimp marca a transição para um modelo mais competitivo e alinhado às melhores práticas internacionais. “A Duimp não é apenas tecnologia, é transformação operacional. Quem entende isso estará à frente na corrida global pelo comércio exterior”, exalta Dias.

Fonte: Assessoria Fiorde Group
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