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Entenda por que a lactococose se tornou um dos principais problemas da tilapicultura

Surtos da doença bacteriana avançam pelo país, atingem tilápias em diferentes fases de crescimento e impõem altos prejuízos à piscicultura nacional.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Basta uma pequena mudança nas condições de um viveiro de tilápias para que a lactococose transforme a produção em um cenário de perdas. Água alguns graus mais quentes, tanques-rede superlotados ou mal higienizados já são suficientes para desencadear surtos capazes de comprometer a sobrevivência dos peixes e corroer a rentabilidade do produtor. Emergente e silenciosa até poucos anos atrás, a doença bacteriana se tornou atualmente um dos principais desafios sanitários da piscicultura brasileira. O primeiro caso positivo foi registrado em 2020, no Mato Grosso.

Desde então, a doença se espalhou de forma consistente, e a experiência acumulada no campo revelou que a Lactococcus petauri é responsável pela maior parte dos surtos e pela mortalidade mais expressiva nos plantéis nacionais. Embora existam registros pontuais de Lactococcus garvieae, esta espécie é considerada de menor impacto. “Hoje sabemos que a Lactococcus petauri é a grande causadora da lactococose no Brasil, e que ela encontra nas altas temperaturas da água, na densidade elevada e no acúmulo de sujeira em gaiolas um ambiente propício para se instalar”, explicou a médica-veterinária Maísa Santiago Selingardi, especialista em Gestão de Qualidade, durante sua participação no 4º Simpósio de Piscicultura do Oeste do Paraná (Simpop), realizado entre os dias 16 e 17 de julho, em Toledo (PR).

Foto: Shutterstock

Desde o registro oficial da doença, a experiência prática tem sido fundamental para decifrar seu comportamento e os riscos que representa. O entendimento dos fatores que favorecem a proliferação da bactéria – temperaturas acima de 26 °C, densidade elevada e acúmulo de sujeira nas gaiolas, em sua maioria com lodo ou mexilhões – tem orientado os produtores sobre como reduzir a exposição dos peixes e minimizar perdas econômicas.

Nos cinco anos seguintes ao primeiro surto, análises laboratoriais transformaram suspeitas em conclusões concretas. Embora inicialmente se acreditasse que apenas peixes mais velhos fossem vulneráveis, animais ainda pequenos, de oito a 10 gramas, também podem ser acometidos. A maior incidência, no entanto, se concentra em subadultos e adultos: 34,2 % dos casos ocorreram em peixes de 50 a 350 gramas e 63,8 % em animais acima de 350 gramas, justamente os peixes de maior valor econômico para o produtor.

O levantamento, realizado entre outubro de 2020 e abril de 2025, analisou 165 propriedades em todo o Brasil, totalizando mais de 10.400 animais, e identificou 83 fazendas positivas para lactococose, com 1.377 peixes infectados.

Com a doença agora presente em diversos estados, o desafio é acompanhar sua expansão, mapear a sazonalidade dos surtos e definir estratégias preventivas eficazes. Cada dado coletado no campo reforça o entendimento científico e fornece ao produtor informações essenciais sobre quando e onde a lactococose pode se tornar uma ameaça real ao plantel e à rentabilidade da atividade.

Como identificar a lactococose

Identificar a lactococose apenas pela observação no viveiro ainda não é possível. O diagnóstico definitivo depende de análise laboratorial: o peixe com sinais suspeitos precisa ser coletado e enviado ao laboratório, onde se confirma se a doença é de fato lactococose ou outra condição, como estreptococose.

Apesar disso, há indícios que podem alertar o produtor para a presença da bactéria, principalmente em propriedades já positivas ou em casos de introdução recente da doença. Desde os primeiros surtos, um dos sinais mais observados tem sido a opacidade ocular, presente tanto em peixes pequenos quanto nos maiores. Frequentemente, esse sintoma vem acompanhado de corrosão de nadadeiras, melanose (peixes com coloração mais escura) e necrose branquial, que pode ocorrer com ou sem alteração na córnea. “Já encontramos peixes que apresentavam apenas com melanose, sem opacidade ocular, mas ao abrir a brânquia, era evidente a necrose. Por isso, é fundamental que o produtor examine sempre as brânquias. Elas são um indicador importante da saúde do peixe”, alerta Maísa.

Em casos crônicos, a lactococose pode se manifestar com caquexia, deixando o peixe visivelmente mais magro, e abscessos no pedúnculo caudal. “Esses sinais, quando identificados em um plantel ainda livre da doença, podem indicar a introdução precoce da bactéria e permitem que medidas preventivas sejam adotadas antes que os surtos se agravem”, alerta a profissional, mencionando: “A experiência acumulada nos últimos cinco anos mostra que, embora o diagnóstico laboratorial seja indispensável, a observação cuidadosa no campo continua sendo uma ferramenta essencial para a detecção precoce, oferecendo ao produtor a chance de reagir rapidamente e proteger a sobrevivência e a rentabilidade da produção”.

Sazonalidade

Médica-veterinária, especialista em Gestão de Qualidade, Maísa Santiago Selingardi: “A experiência acumulada nos últimos cinco anos mostra que, embora o diagnóstico laboratorial seja indispensável, a observação cuidadosa no campo continua sendo uma ferramenta essencial para a detecção precoce da doença” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Cinco anos após os primeiros casos, a lactococose continua se espalhando pela piscicultura brasileira. As análises laboratoriais, apresentadas pela médica-veterinária, realizadas nesse período revelam uma sazonalidade clara, com variações significativas da ocorrência da doença ao longo do ano, com picos de incidência em abril, quando chegou a 49,9 %, e em outubro, atingindo 47,4 %, coincidindo com períodos de oscilação de temperatura.

Nos primeiros meses do ano, a doença se mantém relativamente estável: 28,3 % em janeiro, 25,4 % em fevereiro e 27,7 % em março. Após o pico de abril, a incidência ainda é elevada em maio (42,1 %), mas cai bruscamente em junho (25,3 %) e julho (25,4 %), chegando ao nível mais baixo em dezembro (18,7 %). Outro período de atenção ocorre entre setembro (40,6 %) e outubro (47,4 %), seguido de redução gradual até o fim do ano. “A lactococose circula o ano todo na piscicultura, mas, diferente da estreptococose, que provoca picos de mortalidade no verão, principalmente em dezembro, janeiro e fevereiro, a lactococose apresenta maior incidência em abril e outubro, períodos de oscilação de temperatura. Essa é uma informação nova identificada ao longo desses cinco anos e muito relevante para os técnicos no campo”, pontua Maísa.

Expansão da doença

A expansão da doença pelo território nacional também é preocupante. Após um ano do primeiro registro no Brasil, no final de 2021 os primeiros casos começaram a surgir no Nordeste. Em 2022, a lactococose chegou a Goiás e Minas Gerais, especialmente no Triângulo Mineiro, causando altas mortalidades. No mesmo ano, o estado de São Paulo registrou casos de forma pontual, mas a doença se intensificou em meados de 2024. Em novembro do mesmo ano foram confirmados os primeiros casos no Norte do Paraná, tornando o estado também positivo para Lactococcus. “Hoje, os estados com maior incidência são Bahia, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, responsáveis por 77 % das ocorrências. Juntos, eles representam cerca de um terço da produção nacional de tilápia. Ao todo, 14 estados já registraram ocorrências da doença, demonstrando que a lactococose segue em expansão no País”, ressaltou a médica-veterinária.

Esses dados reforçam que a doença persiste e se espalha, exigindo monitoramento constante, biosseguridade rigorosa e atenção redobrada nos períodos críticos para proteger plantéis e a rentabilidade da atividade.

Importância do programa vacinal

Foto: Divulgação/UEL

As análises das 83 fazendas positivas mostram o comportamento da lactococose ao longo do tempo, com aumento do número de peixes infectados à medida que a doença se espalhou pelo país. De acordo com a profissional, programas de vacinação com vacinas autógenas foram implementados em 2022, especialmente no Nordeste, mostrando redução significativa na frequência de casos positivos e comprovando a eficácia de um programa vacinal bem estruturado dentro de uma piscicultura.

No entanto, a partir do final de 2024 e início de 2025, Maísa relata que foram observados aumento expressivo de casos em propriedades que ainda não tinham imunização contra a doença. “Nos primeiros meses após a entrada da bactéria no plantel, a mortalidade foi intensa”, disse Maísa.

Combinação perigosa

O estudo também revelou a coexistência da Lactococcus com Streptococcus 1B e, no Nordeste, com o tipo 3. Apesar da presença simultânea dessas bactérias, Maísa salienta que as coinfecções são raras: dos quase 1,4 mil animais positivos, apenas quatro apresentaram infecção dupla. “Isso comprovou que as duas doenças não caracterizam coinfecção, mas sim infecção concorrente. Ambas circulam no mesmo plantel, mas em momentos distintos, dependendo de fatores como a sazonalidade de cada doença”, explica a profissional.

Mesmo após cinco anos de circulação da Lactococcus no Brasil, não há vacina licenciada comercialmente para combate à doença. Nesse cenário, as vacinas autógenas desempenharam um papel fundamental, evitando o uso excessivo de antibióticos e oferecendo proteção eficiente contra a mortalidade da doença, comparável à Streptococcus 1B. “Tanto a Lactococcus, como a Streptococcus 1B, tem potencial de mortalidade elevado, tornando a imunização um instrumento essencial”, reforça.

Programas de vacinação customizada desaceleram a dispersão da doença, reduzem a frequência de animais positivos e aumentam a rentabilidade do produtor, consolidando-se como ferramenta estratégica para o controle da lactococose. “Ao combinar essas informações – grupo de risco, mapa epidemiológico da evolução da doença e dados de sazonalidade – o estudo da Vaxxinova oferece aos produtores e sanitaristas do campo um guia prático para reforçar a biosseguridade e implementar programas de imunoprofilaxia eficazes, fortalecendo a piscicultura brasileira diante de um desafio emergente”, evidencia Maísa.

O acesso é gratuito e a edição pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

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Carta de Belém une entidades e leva aquicultura ao centro das discussões na COP 30

Setor aquícola conquista espaço histórico na agenda principal da COP.

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A Carta de Belém foi oficialmente entregue, na terça-feira (18), ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, na cidade de Belém, no Pará. Na última segunda-feira (17), a Carta de Belém foi apresentada aos participantes da COP30, no Pavilhão Oceano, Blue Zone.

Foto: Sergio Moraes/COP

Pela primeira vez na história das COPs, a produção de alimentos aquáticos entrou na agenda oficial e tantas atividades relacionadas constam da programação. E pela primeira vez, a produção de pescado está sendo debatida como uma das mais importantes soluções para a redução das emissões de gases de efeito estufa na produção de alimentos. O sistema alimentar é responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, e grande parte destas emissões vem da produção de proteínas terrestres, que consomem muita água, energia e utilizam extensas áreas de terra.

A Carta de Belém apresenta a produção de pescado como solução climática, por ser uma atividade de baixo carbono, baixo consumo d’água, excelente conversão alimentar no caso da aquicultura (menor consumo alimento para um kg de proteína), e na Amazônia, onde está localizada a maior reserva de água doce do mundo e a proteção da floresta é uma condicionante para o equilíbrio do clima a nível mundial,  se produz pescado preservando-a. A Amazônia pode transformar-se em um grande polo mundial de produção de pescado, gerando milhares de postos de trabalho, emprego e renda. Ou seja, a produção de pescado é uma atividade estratégica para a Amazônia e para o Planeta.

A Carta de Belém também apresenta uma série de propostas para o desenvolvimento da produção de pescado no Brasil: a sua Inclusão nas Políticas Públicas e no Fundo Clima como atividade de baixo carbono, investimentos em inovação, assistência técnica, infraestrutura, cooperativismo, agregação de valor, acesso ao mercado, entre outras, objetivando o desenvolvimento sustentável e inclusivo da cadeia produtiva da pesca e da aquicultura.

A Carta de Belém foi elaborada durante a realização do Internacional Fish Congres & Fish Expo Amazônia – IFC Amazônia, em Belém, em

Foto: Divulgação

abril deste ano, (o evento contou com 6.800 participantes)  e foi  subscrita por 23 entidades e organizações do setor de pesca e aquicultura, entre outras, como a Federação da Indústria do Estado de São Paulo – FIESP e a Confederação Nacional da Agricultura –  CNA e se constituiu em referência para uma ação propositiva na COP 30. A ação conjunta com o Ministério da Pesca e com a FAO, resultaram na inclusão desta temática na programação da COP.

Posição estratégica do setor

A participação do agro e da aquicultura ganhou destaque inédito na COP 30, realizada no Brasil, conforme destacou a CEO do IFC Amazônia, Eliana Panty. Segundo ela, diferentemente de outras edições da cúpula, em que esses temas permaneciam à margem das discussões, desta vez o agro e, especialmente, a aquicultura tiveram protagonismo expressivo. “Em edições anteriores da cúpula, esses assuntos ficavam de fora e, dessa vez, o agro e a aquicultura tiveram protagonismo importante com salas de reuniões, com o Pavilhão Oceano, com vários debates sobre a produção aquícola”, afirmou.

Panty ressaltou ainda a relevância do ato final da comitiva: “E, agora, entregar essa pauta através da Carta de Belém nas mãos do presidente André Lago é uma grande oportunidade de repercutir o interesse e a preocupação, os objetivos, repercutir o real desejo do setor.”

Presidente do IFC Amazônia e ex-ministro da Pesca, Altemir Gregolin: “Pela primeira vez na história das COPs, a produção de alimentos aquáticos entrou na agenda principal” – Foto: Divulgação

Para o presidente do IFC Amazônia e ex-ministro da Pesca, Altemir Gregolin, a Carta de Belém representa um marco de união e posicionamento estratégico do setor. Ele enfatiza que o documento, subscrito por 23 entidades, consolida a defesa da tese de que a produção de pescado é de baixo carbono, possui baixas emissões de gases de efeito estufa, demanda pouco consumo de água e é estratégica tanto para a Amazônia quanto para o planeta. “Na Amazônia também se pode produzir pescado preservando a floresta”, reforçou.

Gregolin explicou que a Carta de Belém foi essencial para iniciar um movimento conjunto com a FAO e com o Ministério da Pesca para inserir a produção de alimentos aquáticos como tema da agenda principal da COP 30. “Pela primeira vez na história das COPs, a produção de alimentos aquáticos entrou na agenda principal. Temos aqui mais de 30 painéis em torno desta temática”, destacou. Ele também relatou que o documento foi apresentado no Pavilhão Oceano, na Blue Zone, e entregue ao presidente da COP, André Lago. “Ele reconheceu a importância dessa temática, conhece dados e informações de baixas emissões, portanto foi extremamente receptivo. E nós queremos agradecer as entidades nacionais que subscreveram a carta, dando aquele peso político que toda manifestação tem que ter”, concluiu.

Entidades Subscritoras da Carta de Belém

A Carta de Belém conta com o apoio e a subscrição das seguintes entidades nacionais do setor aquícola e pesqueiro: IFC Amazônia; IFC Brasil; ABIPESCA – Associação Brasileira das Indústrias de Pescado; PEIXE BR – Associação Brasileira da Piscicultura; ABRAPES – Associação Brasileira de Fomento ao Pescado; ABCC – Associação Brasileira de Criadores de Camarão; PESCA BR – Associação Nacional de Armadores e Proprietários de Embarcações Pesqueiras; CONEPE – Conselho Nacional da Pesca e Aquicultura; CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil; FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo; Rede de Pesquisa Sustentabilidade na Aquicultura; ABLA – Associação Brasileira de Lojas de Aquariofilia; CBPE – Confederação Brasileira de Pesca Esportiva; ACRIPAR – Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia; FAEPA – Federação da Agricultura do Estado do Pará; SINDIPI – Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região; SINPESCA – Sindicato das Indústrias de Pesca, da Aquicultura e das Empresas Armadoras e Produtoras, Proprietárias de Embarcações de Pesca do Estado do Pará; PEIXE SP – Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União; PEIXE MG – Associação dos Aquicultores e Empresas Especializadas do Estado de Minas Gerais; PEIXE PR – Associação Paranaense de Aquicultura; ACAQ – Associação Catarinense de Aquicultura; CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada; CNPA – Confederação Nacional de Pescadores e Aquicultores.

 

Fonte: Assessoria IFC Brasil e IFC Amazônia
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Importação de tilápia vietnamita reacende alerta do setor de aquicultura

Operação comercial liderada pela JBS traz 700 toneladas do Vietnã. Dados oficiais mostram 48 toneladas já desembarcadas em 2025 e produtores apontam risco à competitividade e à sanidade.

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O recente avanço das importações de tilápia do Vietnã ao Brasil, autorizado pelo governo federal em abril deste ano e agora operacionalizado por um embarque de maior escala negociado pela JBS, reacendeu apreensões entre piscicultores e representantes do setor. A operação prevê a chegada de 700 toneladas de pescado, com o primeiro contêiner despachado em 06 de novembro e previsão de desembarque no Porto de Santos em 17 de dezembro, segundo informações sobre o acordo comercial fechado durante a Cúpula do BRICS.

Os números oficiais já registrados no sistema Comex Stat do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram que o País importou 48 toneladas de filé de tilápia congelado do Vietnã em 2025: 25 toneladas em agosto (US$ 123.877) e 23 toneladas em setembro (US$ 71.419), num total de US$ 195.296.

Embora representem um volume relativamente pequeno frente ao mercado produtor doméstico, as aquisições internacionais ganham peso diante da escala industrial prevista pela operação atual.

Contexto de produção
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de tilápia. Em 2024 a produção nacional foi registrada em cerca de 662.230 toneladas, volume que representa aproximadamente 68% da produção de peixes cultivados no país. Ainda assim, a entrada de matéria-prima importada suscita dúvidas sobre competitividade e equilíbrios de mercado.

O Brasil possui uma das legislações sanitárias mais rigorosas do mundo para a aquicultura, impondo aos produtores brasileiros padrões de biossegurança, rastreabilidade, fiscalização contínua e protocolos de inspeção animal que não são integralmente exigidos em alguns países exportadores, entre eles o Vietnã.

Preocupações com competitividade e normas
Representantes do segmento destacam que a assimetria regulatória é central nas preocupações. Enquanto a cadeia brasileira opera sob protocolos de biossegurança, rastreabilidade e fiscalização contínua que aumentam custos, parte do pescado importado pode provir de sistemas com exigências menos restritivas na origem, reduzindo preço final e, potencialmente, pressionando margens de produtores e frigoríficos nacionais.

Riscos sanitários e incerteza regulatória
Além do aspecto econômico, há receio explícito sobre riscos sanitários. A importação de tilápia estrangeira pode introduzir doenças, parasitas ou variantes de patógenos não presentes ou controlados no Brasil. A situação ficou mais sensível com a inclusão da tilápia na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras no início de novembro, medida que aumentou o debate sobre eventuais barreiras e requisitos para movimentação e manejo da espécie, embora o governo afirme que a inclusão não impede a produção comercial.

Produtores, no entanto, veem na listagem um fator de incerteza regulatória que pode resultar em maior burocracia e, consequentemente, inibir novos investimentos. Em suma, dizem, o risco é duplo: concorrência com produto importado a custos potencialmente menores e custos adicionais eventuais decorrentes de medidas administrativas vinculadas ao estatuto de espécie exótica invasora.

Fonte: O Presente Rural
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Aqua Summit BR 2025 traz programação estratégica para orientar o futuro da aquicultura no Brasil

Encontro reúne lideranças, especialistas e setor produtivo para integrar ciência, mercado e políticas públicas.

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A primeira edição do Aqua Summit BR 2025 reúne, de 26 a 28 de novembro, no Palácio Araguaia em Palmas, no Tocantins, uma programação intensa que combina conhecimento, estratégia e inovação para impulsionar o futuro da aquicultura brasileira. O evento estratégico vai reunir lideranças, pesquisadores, empresários e representantes das cadeias de proteína animal e da aquicultura para planejar o futuro da produção de pescado no Brasil. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.aquasummitbr.com.br.

A abertura oficial será realizada no dia 26 de novembro, às 19 horas, com a Palestra Magna “A Força das Proteínas Brasileiras no Cenário Mundial: O que a aquicultura pode aprender com as demais proteínas”, conduzida por Celso Luiz Moretti, engenheiro agrônomo, mestre e doutor em produção vegetal, pesquisador, ex-presidente da Embrapa e atual presidente do conselho do CGIAR, reconhecido internacionalmente por sua contribuição à sustentabilidade agrícola, incluindo o Prêmio Norman Borlaug.

No dia 27 de novembro, às 09 horas, inicia-se o primeiro painel, “Lideranças e sua importância no desenvolvimento da cadeia”, destacando o papel estratégico da gestão e da articulação institucional para o fortalecimento do setor, com participação de Diones Bender Almeida, da Genomar Genetics Latin América, e João Manoel Cordeiro Alves, do Sindirações, sob moderação de Altemir Gregolin, ex-ministro da Pesca e presidente do IFC Brasil.

Em seguida, às 10h30, ocorre o segundo painel, “Avanços Normativos e Governança Setorial em Debate”, abordando as atribuições do governo e do setor produtivo para garantir competitividade e construir um ambiente regulatório moderno e eficiente. Participam Juliana Satie Becker de Carvalho Chino, do Dipoa/Mapa, e Helinton Rocha, da Câmara Setorial.

A programação da tarde começa às 14 horas com o painel “Pacote Tecnológico Integrado: A Base da Competitividade nas Cadeias de Proteína Animal”, trazendo uma visão sobre soluções inovadoras para elevar produtividade e garantir sustentabilidade, com contribuições de Gustavo Maia, da Shrimpl, e Marcos Queiroz, da MqPack, sob mediação de Everton Krabbe, da Embrapa Suínos e Aves.

Às 15h30, o quarto painel, “Posicionamento Mercadológico e Branding Territorial”, explora estratégias de diferenciação, construção de marca e agregação de valor nas cadeias de proteína, com Tom Prado, da REI Alimentos, e Lidia Leal da Silva Lopes, da Angus Brasil, sob moderação de Carlos Humberto Duarte de Lima e Silva, da SICs.

Encerrando o dia, o Flash Embrapa e Sepea apresentará uma sequência de pitches sobre tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Pesca e Aquicultura, incluindo edição genética, inteligência de dados para aquicultura, programas de competitividade e soluções de reuso de água, com apresentações de Eduardo Varela, Manoel Pedrosa Filho, Renata Melon e Marccela Mataveli, além da participação de Thiago Tardivo, da Secretaria de Pesca e Aquicultura do Tocantins, destacando as condições favoráveis para investimentos no estado. “O Tocantins oferece condições ideais para o desenvolvimento da piscicultura: clima favorável, abundância de água, quatro grandes reservatórios federais, logística eficiente, incentivos fiscais e segurança jurídica para investidores. A realização da primeira edição do Aqua Summit em Palmas é uma oportunidade única para apresentar essas vantagens a investidores nacionais e internacionais, destacando o potencial do estado para impulsionar a cadeia produtiva do pescado”, destaca Tardivo.

No dia 28 de novembro, os participantes farão uma visita técnica à Embrapa Pesca e Aquicultura, onde poderão conhecer de perto pesquisas, tecnologias e estruturas que posicionam o Tocantins como referência nacional em inovação científica para o setor.

A programação do Aqua Summit BR 2025 foi concebida para integrar ciência, mercado e políticas públicas, estimulando decisões estratégicas e preparando a aquicultura brasileira para um novo ciclo de competitividade, sustentabilidade e crescimento.

Sede estratégica

A escolha de Palmas como sede é unanimemente celebrada pelas lideranças envolvidas. Para Danielle de Bem Luiz, analista e chefe da

Embrapa Pesca e Aquicultura, o Aqua Summit BR é uma oportunidade única para a cadeia do pescado refletir, aprender com o sucesso das demais cadeias de proteínas e avançar na consolidação da sua produção e na ampliação de mercados. “O evento integrará pesquisa aplicada, políticas públicas e mercado para reforçar a competitividade e o protagonismo da aquicultura brasileira”, ressalta Danielle.

Eliana Panty, diretora da Hollus Comunicação e Eventos, valoriza a realização no estado em que nasceu: “Realizar um evento no Tocantins ao lado da Embrapa e do Governo do Estado é um sonho antigo. Cresci às margens do Rio Tocantins, onde a vida sempre veio da água. Hoje, mais do que nunca, voltamos nosso olhar para essa proteína que nasce das águas. A piscicultura tem enorme potencial, mas ainda enfrenta desafios de infraestrutura, processamento, logística e mercado. Eventos como o Aqua Summit BR criam os espaços de debate necessários para transformar esse potencial em desenvolvimento real, gerando mais qualidade, mercado e consumo para o pescado brasileiro”, menciona.

Foto: Divulgação

“O Aqua Summit representa uma oportunidade estratégica para fortalecer a aquicultura tocantinense, pois aproxima produtores, pesquisadores, investidores e gestores públicos em torno de um mesmo objetivo: transformar o potencial natural do Tocantins em um setor produtivo robusto e sustentável”, afirma Roberto Sahium, secretário-executivo da Pesca e Aquicultura do Tocantins.

Citando condições que o estado possui (recursos hídricos, clima favorável e localização estratégica), Sahium lembra que é preciso avançar em conhecimento técnico, em inovação e em agregação de valor. “Eventos como o Aqua Summit permitem justamente essa troca de experiências e tecnologias, estimulando a adoção de boas práticas, o empreendedorismo e a atração de novos investimentos para o setor aquícola tocantinense”, reforça.

Com grande potencial de desenvolvimento também na aquicultura, o Tocantins tem avançado nessa área. Ainda longe de transformar em realidade todas as condições que possui para uma aquicultura sustentável nos três pilares (ambiental, econômico e social), o estado atualmente é o 17° maior produtor nacional, com 18.100 toneladas de peixes no ano passado, principalmente tambaqui.

Fonte: Assessoria Aqua Summit
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