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Embrapa defende uso racional de aditivos na avicultura brasileira

A pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves concedeu entrevista ao O Presente Rural para falar um pouco mais sobre os antibióticos e outros aditivos usados na produção de proteína animal

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A pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Vivian Feddern, concedeu entrevista exclusiva a O Presente Rural para falar um pouco mais sobre os antibióticos e outros aditivos usados na produção de proteína animal. Em sua opinião, faltam mecanismos capazes de comprovar cientificamente a importadores que as dosagens usadas em países exportadores de carnes não são prejudiciais à saúde humana. Para ela, esses produtos de uso veterinário, administrados com parcimônia, só beneficiam a produção nacional.

Para Feddern, “a carne brasileira obtida através de abate inspecionado pelos órgãos de fiscalização oficiais é segura. Isto tem sido anualmente comprovado pelo Mapa por meio de relatórios disponíveis ao público. O Mapa vem investindo muitos recursos nestas análises, que são minuciosas e onerosas. Muitas vezes o que o Brasil tem é falta de comprovação, resultados científicos, bem embasados para ganhar confiança dos mercados interno e externo para os quais o Brasil exporta”.

Ainda conforme a pesquisadora, “a população precisa estar bem informada e cuidar com mídias sensacionalistas que muitas vezes proíbem algo e daqui a pouco permitem, como foi o caso do ovo, considerado em um passado próximo um vilão, quando hoje em dia se sabe que ingerir sete ovos semanalmente não causa qualquer problema ao organismo”.

O Presente Rural (OP Rural) – O que são os antibióticos?

Vivian Feddern (VF) – Antibiótico é um termo generalizado, muitas vezes usado erroneamente para definir uma ampla classe de substâncias indicadas para o tratamento de doenças em humanos e animais. Os antibióticos são substâncias derivadas de microrganismos ou podem ser sintetizadas, as quais inibem o crescimento de outros microrganismos, podendo combater a infecção. O primeiro antibiótico descoberto e, um dos mais conhecidos, é a penicilina, usada para prevenir e tratar infecções.

OP Rural – Qual a diferença para os antimicrobianos?

VF – Os antimicrobianos são substâncias naturais (antibióticos) ou sintéticas (quimioterápicos) que agem sobre microrganismos, inibindo o seu crescimento ou causando a sua destruição. Portanto, os antibióticos são uma classe dentro dos antimicrobianos. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), antimicrobianos são substâncias utilizadas na avicultura com função terapêutica e profilática, com objetivo de controlar e prevenir doenças infecciosas.

OP Rural – Com que finalidades os antibióticos são usados na avicultura?

VF – O termo mais correto seria produtos de uso veterinário ou aditivos, pois nem sempre são utilizados somente antibióticos. Dentre os produtos de uso veterinário estão os antimicrobianos usados principalmente para prevenir e impedir o aparecimento de algumas enfermidades. Eles devem ser empregados na quantidade estritamente necessária à obtenção do efeito desejado. A dosagem, o período de uso e o período de retirada, quando for o caso, são prescritos por um médico veterinário atendendo a legislação vigente.

OP Rural – Quais os principais antibióticos usados na avicultura?

VF – Na avicultura são adicionados outros aditivos que não somente antibióticos, os quais são monitorados pelo Mapa. Temos que analisar o conjunto e a real necessidade de emprego destes aditivos. Os resíduos e contaminantes monitorados são classificados em antimicrobianos, anticoccidianos, contaminantes inorgânicos, piretroides, substâncias de ação anabolizante, micotoxinas, dioxinas e furanos, betagonistas, antiparasitários e organoclorados. Alguns destes podem ser encontrados decorrentes do uso de produtos veterinários acima da dosagem permitida, ou por contaminação cruzada ou ainda por não seguir as recomendações estabelecidas pela legislação.

Em relação aos principais antimicrobianos utilizados na avicultura, podem ser citados a oxaciclina, oxiciclina, oxitetraciclina, ampicilina, eritromicina, enrofloxacina, sulfametazina, sulfametoxazol, difloxacina, entre outros. Com relação aos anticoccidianos (previnem coccidiose, doença muito comum que acomete os frangos), os mais utilizados são a nicarbazina (normalmente de menor custo, eficiente e causadora de poucos problemas com resistência), monensina, lasalocida, narasina, maduramicina, salinomicina, amprólio, clopidol, robenidina e diclazuril.

OP Rural – Os antibióticos trazem prejuízos à saúde humana? Se sim, quais?

VF – Primeiramente, é preciso esclarecer que os antibióticos são ferramentas poderosas para a saúde humana e vêm salvando milhões de vidas desde sua descoberta e uso no combate às infecções. O problema está no seu uso sem a recomendação e acompanhamento de um médico, no caso de saúde humana, ou de um médico veterinário, quando se tratar dos animais. Uma das preocupações está na possibilidade de trazer resistência antimicrobiana. Outro fato está relacionado à ocorrência de resíduos nos produtos cárneos e vísceras.

No Brasil, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento é o órgão responsável pela regulamentação e fiscalização de produtos e insumos agropecuários e, portanto, autoriza o uso controlado de aditivos na ração animal, para que não ocorram resíduos destes aditivos nos alimentos consumidos pela população.

Existem equipamentos sofisticados que detectam níveis traço e ultra-traço de resíduos de aditivos utilizados. O Mapa segue os padrões do Codex Alimentarius, que é um Comitê formado por diversos especialistas, oriundos de mais de 100 países, com as mais diversas formações acadêmicas. Este Comitê se reúne periodicamente, antes da liberação de um determinado aditivo ao mercado, para decidir toda parte toxicológica, estabelecer a ingestão diária aceitável (IDA) pelas pessoas e os limites máximos de resíduos (LMRs), abaixo dos quais existe evidência científica de que não há qualquer problema ou perigo à saúde humana e animal.

Como ferramenta de “gerenciamento de risco” e com o objetivo de promover a garantia de qualidade do sistema de produção de alimentos de origem animal ao longo das cadeias produtivas, o governo criou, em 1986, o Plano Nacional de Controle de Resíduos em Produtos de Origem Animal. Este plano contempla o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) em Carnes, o qual foi implementado em 1988. Os resíduos são monitorados anualmente em uma série de amostras aleatórias de diversas matrizes e espécies animais, através de laboratórios credenciados pelo Mapa.

O que muitas vezes falta nos países exportadores de produtos cárneos para países mais exigentes é base científica para tomada de decisão, estudos de qualidade comprovando que determinado produto é seguro. Como as análises de resíduos de aditivos são caras, devido ao preparo da amostra envolver etapas de extração, padrões importados, além das amostras serem enviadas para locais de longa distância para serem analisadas em centros especializados, encarecendo o frete, algumas empresas não conseguem comprovar cientificamente a segurança de seus produtos aos países mais exigentes.

É possível usar estes medicamentos e estes deixarem resíduos nos produtos alimentícios e ainda estes produtos serem absolutamente saudáveis, desde que os resíduos estejam abaixo dos chamados limites máximos de resíduos. O Mapa, órgãos de pesquisa, e o Codex Alimentarius, estão atuando para garantir que se possa ao mesmo tempo aumentar a produção e a produtividade e preservar a saúde humana.

Existe ainda a não conformidade da dosagem de determinado aditivo veterinário, que muitas vezes é utilizado de forma incorreta. A crença de que se utilizar uma quantidade acima da recomendada pelo Mapa de determinado produto fará efeito maior na prevenção de certa doença precisa ser modificada, pois isto poderá refletir na ocorrência de resíduos na carne ou órgãos dos animais, que, se consumidos, serão prejudiciais às pessoas.

OP Rural – Há países que restringem o uso de aditivos na produção de proteína animal. O que eles alegam?

VF – A proibição de muitos aditivos ocorre na Europa, mas não necessariamente por serem prejudiciais à saúde. A Europa legisla por precaução e não por base científica, como acontece nos Estados Unidos, por exemplo, que permitem ou proíbem determinado antibiótico quando possuem convicção por meio de dados científicos sólidos de que determinado produto é benéfico ou prejudicial.

Alguns países penalizam o uso excessivo de antibióticos, como a Dinamarca e a Holanda. Em alguns países como a Alemanha, Itália, França, Bélgica e Suécia existem sistemas de monitoramento para ajudar os produtores a controlar o uso de antibióticos e, desta forma, não exceder os valores prescritos pelo médico veterinário.

Dessa forma, em um cenário cada vez mais competitivo, torna-se necessário garantir a produtividade e, ao mesmo tempo, manter a competitividade nos mercados interno e externo. Portanto, são necessários mais estudos para aumentar a confiança do Brasil com outros países que restringem o uso de aditivos de uso veterinário.

OP Rural – Quem defende os antibióticos inclusive como promotores de crescimento, o que alegam?

VF – Alegam que sem evidências científicas de que seu uso seja prejudicial à saúde, eles são extremamente importantes para garantir o bem-estar animal, evitar doenças e consequente propagação da doenças, o que pode causar a condenação de todo um lote.

OP Rural – É possível produzir aves sem o uso de antibióticos?

VF – A produção de frangos sem produtos de uso veterinário, ou mais especificamente sem anticoccidianos ainda é inviável nas condições atuais de produção. Há necessidade de maiores estudos para encontrar formas econômicas para, aos poucos, substituir parcialmente o uso destes aditivos para produtos destinados à alimentação animal, para garantir ao consumidor o preço condizente com suas condições de compra.

No sistema de criação intensivo, caracterizado pela alta concentração de animais, que se tem hoje em dia, é praticamente impossível não utilizar nenhum medicamento veterinário. Se um animal estiver doente, este por sua vez pode contaminar os outros, causando grandes danos em toda granja.

Produtos alternativos aos antimicrobianos convencionais são de interesse, mas para que sejam viáveis a longo prazo, devem ser seguros, efetivos, baratos e fáceis de usar. Assim, restringir o uso de substâncias antimicrobianas apenas para fins terapêuticos implicaria em vários desafios, como segregação de rações nas fábricas, adaptações no manejo (redução da densidade do lote, maior tempo de vazio sanitário, limpeza com maior frequência, maior cuidado com temperatura, manutenção da biossegurança rigorosa, reduzir o estresse, não reaproveitar a cama de aviário); desafios na saúde animal (aumento de doenças entéricas e sistêmicas); desafio no bem-estar animal (quando e como tratar animais doentes, qual seria a alternativa ao programa convencional?).

Os principais desafios enfrentados pelos produtores de animais criados sem produtos de uso veterinário serão, sem dúvida, relacionados à saúde intestinal e mais especificamente para a prevenção e controle da coccidiose e enterite necrótica.

OP Rural – Quais as substâncias alternativas para substituir os aditivos?

VF – O uso de substâncias químicas tem sido eficaz no controle da coccidiose e outras doenças na avicultura. No entanto, devido à ocorrência de resistência, alternativas como vacinas e suplementos naturais têm sido estudadas ao longo dos anos. As vacinas atuam promovendo a geração de estímulos nos mecanismos de defesa das aves e previnem infecções entéricas, evitando o uso de uma terapia medicamentosa. Outras alternativas estudadas para reduzir as perdas causadas pela infecção são os extratos herbais, complexos multienzimáticos, prebióticos e probióticos, entre outros, porém sua eficácia tem sido questionada e os estudos insatisfatórios para propor uma mudança na utilização de aditivos, em grande escala.

OP Rural – Quais os possíveis impactos para o setor em uma possível restrição ao uso de produtos de uso veterinário na produção de proteína animal, seja na questão sanitária, de saúde animal, de produção ou até mesmo econômica?

VF – As consequências serão diversas, as quais vão afetar o bem-estar animal se não for ministrado antibiótico/aditivo no momento certo; redução na produtividade, pois os animais terão que ser criados em densidades menores, para dificultar a propagação de eventuais doenças; maior investimento em biossegurança; perdas econômicas com o possível tratamento de doenças existentes, perda de alguns lotes acometidos por doenças, investimentos extras para adequar as plantas processadoras. Além disso, as empresas vão ser obrigadas a investir mais em pessoal técnico, equipamentos sofisticados, para realizar as análises exigidas pelos países importadores. Do contrário, irão perder mercados importantes para a economia do nosso país. Somado a isso, as empresas terão que se adequar à legislação de cada país importador, pois o Codex estabelece os limites seguros dos antibióticos, mas cabe a cada país decidir se segue ou não. E claro, investir mais pesquisa na busca por produtos alternativos aos antibióticos, que já estão bem consolidados atualmente.

OP Rural – A cadeia produtiva de aves está preparada para substituir os antibióticos?

VF – A cadeia ainda não está preparada, pois não existe substituição total, além de poucos estudos sobre alternativas ao uso de antibióticos. Os poucos estudos que se têm não são confirmatórios e nem decisórios para mudar drasticamente toda uma cadeia que está indo bem, e exportando para mais de 100 países.

Alexander Fleming, quando criou a penicilina em 1928, objetivou auxiliar no tratamento de doenças, as quais não possuíam sinal de cura por nenhum outro método, uma vez instalada a enfermidade. Hoje em dia se tem a opção de prevenir, o que é muito mais inteligente e barato. Logo, não vejo motivos concretos da não utilização de antibióticos. Por que iria se querer deixar os frangos adoecerem?

OP Rural – Cada vez mais, debates acerca do tema tomam os grandes eventos do setor de aves e suínos no país. Em sua opinião, a tendência é que o Brasil crie nova legislação para abolir os antibióticos?

VF – O Mapa publicou no DOU de 24/05/2016 a criação da Comissão sobre Prevenção da Resistência aos Antimicrobianos em Animais. Até o presente os mercados aderentes ao tema têm usado como base a classificação da OMS, tabela que segue:

Não acredito que o Brasil vá abolir, pois perderia competitividade e mercado, sem garantias de que terá um sistema que propicie maior segurança dos alimentos do que se tem atualmente. O que deve haver é o controle do uso de aditivos adicionados na ração. Para isso, é de suma importância utilizar o produto correto, na dosagem correta, tempo (com ou sem período de retirada; quantos dias antes do abate precisa retirar o aditivo) e momento correto (fase inicial, fase adulta).

 

Mais informações você encontra na edição de Aves de junho/julho de 2016 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Avicultura

Congresso APA debate avanços e desafios na avicultura de postura

Em uma maratona de 30 horas de conteúdo técnico, mais de 850 congressistas de vários estados brasileiros e países tiveram acesso a uma variedade de temas através de 25 palestras distribuídas nos painéis sobre Genética, Influenza aviária e Inspeção.

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Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

Considerado um dos maiores eventos avícolas do Brasil, o Congresso APA de Produção e Comercialização de Ovos foi mais uma vez sucesso absoluto de público. Realizado pela Associação Paulista de Avicultura (APA), a 21ª edição reuniu produtores, fornecedores, academia, profissionais da área e grandes nomes do setor no mês de março, em Ribeirão Preto (SP).

Coordenador do congresso e diretor técnico da APA, José Roberto Bottura: “O sucesso do nosso evento é resultado de cada um que trabalha, acredita e confia em nós para sua realização”

Em uma maratona de 30 horas de conteúdo técnico, mais de 850 congressistas de vários estados brasileiros e países tiveram acesso a uma variedade de temas através de 25 palestras distribuídas nos painéis sobre Genética, Influenza aviária e Inspeção. Além disso, 75 trabalhos científicos foram expostos em pôsteres, enriquecendo ainda mais o ambiente acadêmico e profissional do evento.

O coordenador do congresso e diretor técnico da APA, José Roberto Bottura, destaca a evolução do evento. “A cada ano o congresso tem crescido em tamanho, o que muito nos orgulha. Superamos todas as nossas expectativas”, enfatizou. “O sucesso do nosso evento é resultado de cada um que trabalha, acredita e confia em nós para sua realização”, frisou.

Debates

Na edição 2024 temas essenciais do cotidiano do setor foram abordados, incluindo sanidade, inovação, evolução genética, exigências nutricionais, qualidade da água na granja, práticas de manejo, uso de minerais e aditivos alternativos, qualidade de casca, análise de dados, vacinação contra coccidiose, nutrição de precisão, vacina autógena, Influenza aviária, entre outros. “O fato de estarmos em um evento que não tem um espaço de feira de negócios em paralelo contribui muito para a interação dos participantes, que aproveitam os momentos de intervalo para tirar dúvidas, compartilhar opiniões, adquirir novas ideias, até por estarmos ainda no início do ano muitos dos assuntos discutidos no congresso podem ser bem utilizados ao longo de 2024”, salientou o zootecnista Diogo Ito, membro da Comissão Organizadora.

Responsável pelo controle de qualidade na Granja Odan, localizada em Pindamonhangaba (SP), Raquel Marques: “Esse congresso oferece uma riqueza de informações que muitas vezes são difíceis de encontrar no nosso cotidiano”

Riqueza de informações

Responsável pelo controle de qualidade na Granja Odan, localizada em Pindamonhangaba (SP), Raquel Marques compartilha suas impressões sobre o congresso e destaca os aspectos que mais a impressionaram: “Esta foi a primeira vez que participei deste congresso e foi uma experiência enriquecedora. Ele oferece uma riqueza de informações que muitas vezes são difíceis de encontrar no nosso cotidiano, especialmente dada a especificidade da nossa área. Foi uma experiência repleta de aprendizados, oportunidades de networking e compartilhamento de conhecimento”, frisou.

Trabalhos premiados

Durante o evento, os melhores trabalhos científicos em cada categoria foram premiados. O estudante Felipe Dilelis, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, recebeu o prêmio na categoria Outras Áreas pelo trabalho intitulado “Biofilmes proteicos para manutenção da qualidade interna de ovos caipiras armazenados em temperatura ambiente”. Na categoria Sanidade, o prêmio foi para Viviane Amorim Ferreira, da Unesp Jaboticabal, pelo trabalho “Deleção do gene mgtC em Salmonella Gallinarum resulta em progressão retardada do Tifo Aviário”. Raully Lucas Silva, da Unesp de Jaboticabal, levou o 1º lugar na categoria Nutrição com o trabalho “Modelos não-lineares de efeito misto para predição das exigências de energia metabolizável e líquida em galinhas poedeiras na fase de postura”. Na categoria Manejo, o principal prêmio foi conquistado por Ednardo Rodrigues Freitas, da Universidade Federal do Ceará, com o trabalho “Programa de luz e forma física da ração pré-inicial sobre o desempenho de pintainhas até 35 dias de idade”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Desafios na integridade estrutural de frangos de corte e intervenções nutricionais

Investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para identificar e implementar estratégias sustentáveis que promovam a saúde e o bem-estar das aves, ao mesmo tempo em que garantam a produção eficiente e de alta qualidade na indústria avícola.

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Fotos: Shutterstock

Nas últimas décadas a indústria avícola tem feito avanços significativos, especialmente no que diz respeito às melhorias genéticas e ao manejo, resultando na produção de frangos de corte altamente eficiente e de crescimento rápido. O manejo e a nutrição foram meticulosamente ajustados para suprir as necessidades genéticas e produzir aves maiores em um período de tempo reduzido.

No entanto, os frangos modernos tendem a priorizar a deposição muscular em detrimento do desenvolvimento do esqueleto e dos tecidos moles, o que pode resultar em desafios à integridade estrutural. Este artigo resume os desafios emergentes da integridade estrutural enfrentados pela indústria de frangos de corte, propondo intervenções nutricionais que podem mitigar esses problemas, incluindo pododermatite, questões relacionadas à qualidade da carcaça e incidência de claudicação.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Qualidade da carne 

O peito amadeirado (WB) é uma miopatia degenerativa observada em frangos de corte, resultando na degradação da qualidade dos filés de peito e rechaço/repúdio do consumidor. Os filés afetados exibem maior resistência antes e depois do cozimento, além de menor capacidade de retenção e absorção de água.

Apesar do significativo número de estudos conduzidos, a etiologia precisa ainda permanece obscura, indicando que a condição está associada a aves com taxas de crescimento mais aceleradas ou com filés de maior peso.

Uma das hipóteses sobre a etiologia da WB e de miopatias semelhantes é que frangos de corte com uma taxa de crescimento muscular hipertrófico demanda mais metabolicamente, o que pode resultar em maior risco de acúmulo de resíduos metabólicos, desencadeando assim um aumento do estresse oxidativo.

Os radicais livres acumulados são altamente reativos e podem danificar o DNA, RNA, proteínas e lipídios presentes nas células musculares, desencadeando inflamação e distúrbios metabólicos, que eventualmente levam à degeneração das fibras musculares. Quando os danos causados pelo aumento do estresse oxidativo excedem a capacidade regenerativa das células musculares, resulta em um acúmulo de tecido fibroso e gordura, contribuindo para miopatias como o WB.

Pododermatite

A pododermatite é uma inflamação da pele que resulta em lesões necróticas na superfície plantar das patas em aves. Foi observado que a umidade na cama é o principal fator que predispõe o desenvolvimento de pododermatite em aves. Sabe-se que minerais como Zn, Cu e Mn, desempenham um papel fundamental na manutenção da integridade estrutural de vários tecidos, incluindo a pele. Além disso, nutracêuticos como probióticos, prebióticos ou enzimas melhoram a integridade intestinal e promovem melhora na consistência fecal, consquentemente na qualidade da cama, podendo reduzir as lesões nas patas.

Diversas pesquisas foram conduzidas para investigar o papel dos minerais orgânicos na prevenção de lesões nas patas. Em um estudo conduzido em 2017 foi constatado que a suplementação de uma combinação dos oligoelementos Zn, Cu e Mn, na forma de quelato metal metionina hidroxi (MMHAC), não apenas melhorou o desempenho, mas também reduziu as lesões nas patas, aprimorando o processo de cicatrização de feridas.

Estratégias de intervenção

Diversas estratégias de intervenção estão sendo consideradas para diminuir a incidência de WB na indústria avícola, incluindo restrição alimentar, redução da densidade de nutrientes e diminuição de lisina durante a fase de crescimento. Essas estratégias têm o intuito de diminuir ou desacelerar a taxa de crescimento, no entanto, se não forem aplicadas adequadamente, essas abordagens apresentam o risco de comprometer o desempenho.

Por outro lado, estratégias baseadas em antioxidantes, como a inclusão de arginina, vitamina C, selênio e minerais na dieta, têm sido avaliadas para reduzir miopatias. O uso de antioxidantes reduz o estresse oxidativo em tecidos animais. Com o intuito de reduzir as miopatias, pesquisadores avaliaram o efeito de várias intervenções dietéticas (antioxidante dietético, mineral orgânico Zn-Cu-Mn- MMHAC e selênio) na incidência de WB quando as aves foram expostas ao estresse oxidativo.

Em resumo, sob diferentes condições de estresse oxidativo, programas de intervenção dietética podem aprimorar o desempenho e promover a integridade da carcaça, reduzindo problemas como o WB. Este efeito é provavelmente alcançado ao melhorar simultaneamente o status antioxidante, tanto exógeno quanto endógeno, reduzindo o estresse oxidativo e aprimorando o processo de cicatrização dos tecidos da ave.

Incidência de claudicação

A incidência de claudicação vem aumentando nas últimas décadas e está correlacionado com o rápido crescimento e peso corporal. Os machos mostram maior suscetibilidade à claudicação em comparação com as fêmeas. Ainda não está claro se a claudicação é um efeito direto do rápido aumento da taxa de crescimento e do peso corporal ou se é um efeito indireto do desenvolvimento inadequado dos ossos e tendões, ou mesmo da falha da barreira intestinal, provável é que seja uma junção dos fatores citados.

As aves com claudicação enfrentam dificuldades para acessar ração e água, o que pode levá-las à desidratação e, eventualmente, à morte. As significativas perdas econômicas atribuídas à claudicação são resultados do aumento da taxa de mortalidade e das condenações durante o processamento no frigorífico. A necrose da cabeça femoral (NCF) é uma

condição metabólica mais prevalente em frangos de corte com crescimento acelerado, sendo reconhecida como a principal causa de claudicação.

Há evidências que mostram que as bactérias associadas ao NCF se originaram no intestino Enterococcus (E.) spp. Estudos demonstraram que a fonte de infecção por Enterococcus (E.) spp pode ser tanto de transmissão vertical quanto horizontal. A ventilação inadequada no aviário cria um ambiente propício, o que leva a rápida proliferação de bactérias afetando o intestino. Além disso, o estresse oxidativo ou doenças entéricas anteriores podem comprometer a integridade mucosa intestinal.

A falha na barreira intestinal pode facilitar a invasão de bactérias patogênicas, levando à translocação dessas bactérias para os ossos. Os ácidos orgânicos e óleos essenciais podem interferir no desenvolvimento da NCF, atenuando ou reduzindo a população de bactérias patogênicas, melhorando a função da barreira intestinal e reduzindo a translocação de bactérias através da parede intestinal. Os minerais desempenham um papel crucial no desenvolvimento ósseo e na saúde das articulações.

Descobertas recentes indicam que o Zn-Cu-Mn-MMHAC são fontes orgânicas eficazes para atender às necessidades de frangos de corte, melhorarando a saúde estrutural dos ossos, tendões, patas e intestino, e reduzindo a incidência de claudicação em aves.

Conclusão

Em resumo, enfrentar os desafios emergentes na integridade estrutural de frangos de corte requer uma abordagem multifacetada que combina práticas de manejo adequadas, intervenções nutricionais eficazes e uma compreensão aprofundada dos mecanismos subjacentes aos problemas observados. Investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para identificar e implementar estratégias sustentáveis que promovam a saúde e o bem-estar das aves, ao mesmo tempo em que garantam a produção eficiente e de alta qualidade na indústria avícola.

As referências bibliográficas estão com as autoras via e-mail manara.grigoletti@novusint.com.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Mercedes Vázquez-Añón, zootecnista, doutora em Ciência Animal e diretora de Iniciativas Estratégicas e Colaboração de Contas na Novus; e Kelen Zavarize, zootecnista, doutora em Nutrição e gerente de Serviços Técnicos na Novus.
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Avicultura Artigo

A importância das monitorias sanitárias no incubatório de aves

A qualidade dos pintos com um dia de vida é determinada pela interação de múltiplos fatores inerentes ao incubatório

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Divulgação Zoetis

Artigo escrito por: Beatriz Silva Santos, médica veterinária, assistente técnica da Zoetis na divisão de Aves para as regiões Sudeste e Centro-oeste*

A avicultura brasileira se destaca pelo uso de tecnologia avançada, controle de qualidade e constante monitoramento microbiológico nas diversas etapas da produção. Entre essas etapas, os incubatórios de aves têm o papel fundamental de conectar diferentes origens de ovos embrionados e o destino das aves recém-nascidas em um mesmo ambiente.

A qualidade dos pintos com um dia de vida é determinada pela interação de múltiplos fatores inerentes ao incubatório, que podem gerar condições ideais para a disseminação de patógenos, com consequentes perdas embrionárias e de pintinhos, má qualidade das aves e enfermidades que levarão a grandes prejuízos.

As bactérias, de modo geral, podem penetrar no ovo pelos poros em menos de 30 minutos após a postura. Esta penetração é facilitada, nos primeiros minutos após a postura, pela umidade e temperatura natural do ovo. Durante a incubação, a umidade e a temperatura também favorecem o rápido aumento da população microbiana.

As fontes de contaminação em uma planta de incubação, além de ovos contaminados e penugem dos pintinhos, podem estar associadas a vários fatores como a qualidade do ar e da água, o fluxo de pessoas (funcionários e visitantes) e de veículos, a presença de pragas (roedores e insetos), pássaros, a remoção e tratamento de resíduos (biológicos, químicos e físicos) e a higienização de ambientes e equipamentos.

Os incubatórios de aves e os nascedouros também são uma área de alto risco, pois fornecem temperatura e umidade ideais para muitos microrganismos sobreviverem e se reproduzirem.

Os patógenos mais prejudiciais aos pintos de um dia que podem causar mortalidade embrionária, mortalidade ao nascer, aumento de refugos e mortalidade nas primeiras semanas de idade são: Escherichia coli, que serve como parâmetro quantitativo da contaminação bacteriana em um incubatório; Salmonella e Pseudomonas e fungos da espécie Aspergillus.

Pesquisas realizadas demostraram que 70% dos casos de onfalite e morte embrionária são causadas por Escherichia coli e quando estes embriões não morrem, os pintinhos apresentam má reabsorção do saco vitelino, não ganham peso e apresentam baixo desempenho.

O Aspergillus fumigatus é o fungo de maior importância que pode crescer em um ambiente de incubatório de aves. Existe uma associação entre a presença de grande número de colônias de Aspergillus fumigatus com o desenvolvimento de aspergilose clínica nos primeiros dias de vida do pintinho. No entanto, grande quantidade destes indica que há necessidade de uma melhor higienização dos ovos na granja ou no incubatório.

Programa sanitário

Um programa sanitário deve ser elaborado para minimizar os riscos relacionados as fontes de contaminação que prejudicam a qualidade dos produtos da “granja ao prato”, desde os ovos férteis até a carne servida a mesa do consumidor, pois afetam a saúde das aves e/ou a saúde pública, com ênfase especial aos microrganismos causadores de ETA (Enfermidades transmitidas por alimentos), como Salmonella spp, Escherichia coli, Campylobacter jejuni, Staphylococcus aureus e Clostridium sp.

O programa deve ser rotineiramente realizado e os resultados regularmente conferidos e interpretados usando processos-padrão contínuos de validação e monitoramento da população microbiológica.

Para que as aves possam expressar seu potencial genético e produtivo elas devem estar dentro de padrões de genética, nutrição, manejo, ambiente e microbiológico desde o primeiro dia de vida. A avaliação microbiológica qualitativa e quantitativa funciona como um termômetro dos processos relacionados as reprodutoras e as medidas de biosseguridade dos incubatórios a fim de conferir se o programa sanitário adotado está sendo eficaz no controle destes microrganismos.

Entre os principais itens a ser monitorados nos incubatórios estão: qualidade dos ovos, limpeza do ambiente e equipamentos utilizados nos processos (carrinhos, bandejas de ovos, caixas de pintos, triturador), limpeza e fluxo de caminhões de transporte de ovos e pintos, qualidade da água, contaminação de ovos bicados, mecônio, pintos de 1 dia, vacinas de aves, mãos dos sexadores, troca de filtros, entre outros, de acordo com a especificidade das plantas, sempre buscando cumprir as exigências sanitárias do Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) e legislações do mercado brasileiro e internacional.

Outras análises utilizadas são: pesquisa de Salmonella spp. em swabs de superfícies; pesquisa de salmonellas e/ou outras bactérias em penugens, ovos bicados, mecônio e pintos de 1 dia; análise microbiológica de solução vacinal; análise bacteriológica e físico-química da água de abastecimento e água destilada; monitoramento e diagnóstico de enfermidades através de exames sorológicos, histopatológicos, biologia molecular; entre outras análises extras.

Ao analisar os resultados é possível agir na causa do problema, em casos de amostras fora dos padrões de qualidade estabelecidos. Pode ser necessário revisar o manejo dos ovos na granja, melhorar o processo de desinfecção deles e/ou do incubatório, verificar os procedimentos de sanitização de ambientes e equipamentos, avaliar a limpeza do sistema de climatização de aviários, controlar a qualidade da água e conferir a desinfecção em incubadoras e nascedouros, conforme o mapeamento das falhas encontradas.

Tão importantes quanto as análises microbiológicas, treinamentos regulares dos funcionários, a avaliação da qualidade dos ovos (AQO), embriodiagnóstico realizado por pessoas especializadas e checklists frequentes dos procedimentos de boas práticas de produção são monitorias sanitárias que garantem o sucesso do programa de biosseguridade, e consequentemente, a qualidade do produto final do incubatório de aves, os pintinhos de um dia.

Fonte: Assessoria
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