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Embargo não afeta empregos e rotina em cooperativa do Paraná

Mesmo com a unidade industrial na lista de frigoríficos proibidos de exportar à UE, diretor-presidente da cooperativa afirma que não há risco de demissões ou parada de trabalho

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"Foi uma infelicidade muito grande. Não o trabalho de fiscalização em si, mas a forma como foi divulgado o procedimento. Nenhum país do mundo faria o que o Brasil fez. Parece que foi uma tentativa de destruição da produção brasileira”. A afirmação é de Ricardo Chapla, diretor-presidente da Cooperativa Agroindustrial Copagril, um dos 20 estabelecimentos exportadores brasileiros de frango que foram retirados da lista geral das empresas autorizadas a vender aves à União Europeia. 

Chapla afirma que não é o primeiro e nem será o último a afirmar que, no Brasil, “se fez um negócio totalmente errado”, critica. “O Brasil não tem uma estratégia. Parece que cada um quer aparecer mais que o outro e acaba por prejudicar o todo”, declarou à reportagem de O Presente. 

Instalada em Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, desde 2005, atualmente a Unidade Industrial de Aves (UIA) emprega cerca de 1,8 mil pessoas. No ano passado, de acordo com Chapla, a Copagril foi responsável por 40% do total de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) gerados localmente. 

Desde a instalação da indústria, pontua o diretor-presidente da cooperativa, a Unidade Industrial de Aves foi conquistando habilitação para exportação a diversos países. “Uma das primeiras foi a lista geral, na qual entram diversos países, porém também conquistamos diversas habilitações especiais, como é o caso da União Europeia, México, China, Rússia, Japão, países do Oriente Médio, entre outros”, enaltece.

Ele diz que atualmente a empresa possui negócios com mais de 50 países, sendo que os maiores volumes de exportações de carne de frango são destinados ao Japão e à China. 

Expressividade

Conforme o diretor-presidente da Copagril, no ano passado, a indústria rondonense foi uma das últimas empresas suspensas para exportar o peito salgado para a União Europeia – um dos itens que é enviado ao bloco. “Este é o item que mais remunera. Porém, nós continuamos enviando os demais itens que processamos”, salienta. “Os envios à União Europeia, do total de exportações da Copagril, não chegam a 7%. O restante vai para outros mercados”, revela. 

Seja por desconhecimento de como funciona o mercado do frango ou pela forma como a deslistagem de exportação da carne de frango brasileira ao bloco foi divulgada, Chapla explica que não há possibilidade de a Unidade Industrial de Aves parar o trabalho da planta frigorífica ou de ocorrerem demissões. “Os nossos colaboradores, assim como produtores e a comunidade não precisam se preocupar com desemprego ou parada de produção. Nos últimos meses, inclusive, temos ampliado nossa quantia de exportação”, enfatiza o diretor-presidente da Copagril. 

Tanto o trabalho na Unidade Industrial de Aves quanto a produção dos associados, explica, está ocorrendo normalmente e a cooperativa continua atuando dentro do seu planejamento. “Simplesmente poderíamos ter uma remuneração de uma parte do frango um pouco maior e não temos, mas estamos trabalhando junto a entidades como a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) para reverter este cenário”, garante. 

Questão comercial

Na visão do diretor-presidente da cooperativa, o embargo foi uma questão totalmente comercial e não sanitária. “O Brasil, salvo algumas exceções, possui um controle sanitário excelente e não somente na produção de carne de frango, mas de suínos e bovinos também. Considero que temos uma das melhores produções de carnes do mundo e adotaram o nome de uma operação que não condiz com a realidade brasileira”, opina ele. 

Chapla afirma que ao passo em que se orgulha da produção brasileira de proteína animal, especialmente da paranaense, também é totalmente favorável à fiscalização, pois assim como exige a qualidade daquilo que produz e comercializa por parte da Copagril, acredita que o mesmo deve ocorrer pelas demais empresas. “Todavia, se há irregularidades em um ou dois lugares, esses locais devem ser punidos, mas não deve ser generalizado que toda a carne do Brasil é fraca, porque ela não é. Nós conhecemos a produção lá de fora, vemos como ocorre e inclusive já entramos em frigoríficos de outros países e por isso afirmamos que nós não brincamos em serviço”, reforça. 

Cenário nacional

O vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin, afirma que a decisão do bloco europeu é considerada lamentável e “baseada em puro protecionismo escondido”. “A decisão, que é infundada, não se ampara em riscos sanitários ou de saúde pública. Nada mais é que uma medida desproporcional e em critérios inconsistentes diante das regras estabelecidas pelo Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, declarou ao O Presente.

Santin aponta que esta questão, no entanto, não é recente e há tempos a ABPA estudava a proposição ao governo brasileiro de um painel junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). “Nossos questionamentos se referem aos critérios determinados para os embarques de produtos salgados (com apenas 1,2% de sal adicionado), que são obrigados a cumprir critérios de análises para mais de 2,6 mil tipos de Salmonella. Para que se tenha uma ideia, os produtos estritamente in natura (sem sal adicionado) são avaliados apenas pelos resultados das análises para dois tipos de Salmonella”, compara.

Baseado neste fato, ele comenta que é possível que 30% do comércio com a União Europeia seja impactado, o que nos patamares atuais de preços devem gerar perdas na casa dos US$ 300 milhões. “As empresas já falam perdas de postos de trabalho”, assinala. 

O vice-presidente de mercados da ABPA explica que para tentar reverter este cenário a Associação encomendou um estudo que embasará o painel que o Brasil poderá apresentar na OMC contra a União Europeia, conforme já anunciado em coletiva pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi. “Além do próprio painel na OMC, o setor tem pleiteado ações incisivas do governo nas tratativas com o bloco europeu, o que tem sido efetivado pelo próprio Ministério da Agricultura. Há expectativa de avanços nas negociações bilaterais entre as autoridades brasileiras e europeias, especialmente por se tratar de questões que de fato não são sanitárias”, menciona Santin. 

Impacto interno

Ele avalia que a decisão da União Europeia provocou impactos no mercado interno, assim como o diretor-presidente da Copagril, que afirma que o mercado interno do frango está “péssimo e com o frango quase de graça”. “Acreditamos que chegamos ao fundo. Agora a tendência é de melhora de cenário. Com o milho em alta, empresas do setor optaram por reduzir os níveis de produção, o que diminuirá a oferta interna e reequilibrará os preços dos produtos”, ressalta Santin. 

Algumas plantas frigoríficas, conforme a ABPA, anunciariam férias coletivas em vista ao impacto do embargo, como a BRF e a Aurora Alimentos. “Por enquanto, tivemos apenas férias coletivas anunciadas. Mas empresas do setor já informaram que se tal cenário perdurar, até 15 mil postos de trabalho poderão ser atingidos”, lamenta Santin. 

Reacomodação da cadeia produtiva

Apesar das ações, o vice-presidente de mercados da ABPA expõe que ainda não é possível falar no prazo em que a União Europeia coloque as plantas brasileiras novamente na lista de países aptos a exportar para o bloco. “É esperado que ocorra uma reacomodação do cenário, estabilizando e melhorando paulatinamente o cenário da cadeia produtiva”, aponta. 

Santin enfatiza que é importante destacar para a população que a questão está toda em torno da Salmonella spp, que não representa qualquer risco para o consumidor europeu, já que são produtos direcionados para o processamento – o que, necessariamente, prevê o cozimento e a eliminação da Salmonella. “Tanto é que, anteriormente, as próprias autoridades europeias fiscalizavam esta questão de forma randômica”, esclarece.  

Na prática, se pegássemos um peito de frango, salgássemos metade e deixássemos a outra metade sem sal, a metade sem adição de sal entraria no bloco europeu sem qualquer problema. “E não há qualquer problema sanitário no uso do sal. Tudo se trata de critério: sem sal, o produto é avaliado por apenas dois tipos de Salmonella. Se adicionar, sal, passam a ser 2,6 mil tipos”, exemplifica o vice-presidente de mercados da ABPA. “A Salmonella sp não é um problema de saúde pública. Não é hábito consumir carne de frango crua. E basta cozinhar o produto por 15 segundos a 70º para eliminar a bactéria”, reforça Santin.

Apoio

Por meio de nota oficial, o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) afirma que as consequências da decisão do bloco europeu são inevitáveis, já que esses países são destinos importantes para os produtos avícolas do Estado e do país. “O sindicato ainda aguarda a divulgação dessa lista oficial pela autoridade sanitária da União Europeia com o nome dos frigoríficos para mensurar reflexos exatos no setor e apoia os esforços do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), assim como da ABPA, na busca por meios diplomáticos e jurídicos para estudo de painel contra o bloco europeu”, diz a nota.

Fonte: O Presente

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Prazo para o preenchimento da plataforma Contabilizando Resíduos é prorrogado até julho

Entidades privadas também ganharam mais tempo para apresentação de relatório sobre planejamento de logística reversa.

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Foto: Divulgação/AEN

O Governo do Paraná prorrogou por meio da Resolução Conjunta Sedest/IAT Nº 004/2024 publicada no Diário Oficial do Estado na última quarta-feira (27) os prazos para o preenchimento da Plataforma Contabilizando Resíduos, da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (Sedest), que se encerrariam domingo (31). Agora, municípios podem preencher o módulo de “Resíduos Sólidos Urbanos – RSU” até 31 de julho de 2024.

Fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos e embalagens pós-consumo também têm até 31 de julho de 2024 para apresentação, de forma individual ou coletiva, do Relatório Comprobatório dos Planos de Logística Reversa. Este relatório deve conter as informações e resultados, tendo como base o ano anterior (janeiro a dezembro) a fim de que seja avaliado e aprovado, e emitido documento que ateste sua aprovação pela Secretaria. A plataforma e os manuais de utilização podem ser acessados no site da Sedest.

O coordenador de Gestão Econômica e Territorial da Sedest, Filipe Dalboni, afirma que havia necessidade de prorrogar o prazo para garantir a qualidade dos dados recebidos. “Aumentamos o prazo para que tivéssemos tempo hábil de fornecer uma formação online para quem está com dificuldades de preenchimento da plataforma, a fim de que possamos obter dados mais fidedignos”, explica.

A formação online ainda não possui data marcada, mas está prevista para ocorrer ainda em abril e buscará trazer informações aos gestores municipais sobre o preenchimento adequado da Plataforma Contabilizando Resíduos – Módulo RSU. Os municípios serão informados do dia da formação por meio do Grupo R-20.

Outros prazos

Dentro deste contexto, a Sedest definiu 31 de outubro de 2024 como o prazo aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos e embalagens pós-consumo sujeitos à logística reversa submeterem o Plano de Logística Reversa referente ao ano de 2025. A razão desta definição é garantir que os empreendimentos sujeitos à logística reversa entrem no ano de 2025 com seus planos devidamente aprovados.

Para aqueles que que iniciarem suas atividades entre 01/11/2024 e 31/12/2024, será admitida a apresentação de seus respectivos Planos de Logística Reversa dentro deste período.

Dalboni reiterou a importância de municípios e entidades privadas estarem em dia com os prazos legais de preenchimento da Plataforma. “Queremos que os municípios estejam em dia com suas obrigações referentes aos resíduos sólidos urbanos, e lembramos que as empresas que não enviarem suas comprovações poderão ter dificuldade em renovar algumas licenças”, pontua.

Sobre a plataforma

O Sistema Estadual de Informações sobre Resíduos Sólidos do Estado do Paraná, a plataforma digital Contabilizando Resíduos, é uma ferramenta de gestão e planejamento sobre os resíduos sólidos do Estado, a qual foi instituída pela Lei Estadual nº 20.607, de 10 de junho de 2021, e teve seus critérios e procedimentos regulamentados pelas Resoluções Conjuntas Sedest/IAT n° 20, de 20 de julho de 2021, e n° 22, de 28 de julho de 2021.

Fonte: AEN-PR
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Embrapa e Agricampanha realizam giro técnico do projeto Integra Pampa

Evento teve como objetivo mostrar alguns dos resultados do primeiro ano do Integra Pampa, iniciativa das duas instituições que visa avaliar os melhores arranjos para sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no bioma Pampa, a partir de diferentes desenhos envolvendo a produção de grãos, carne e madeira.

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Foto: Fernando Goss

A Embrapa Pecuária Sul e a Associação de Agricultores da Região da Campanha (Agricampanha) realizaram o primeiro giro técnico sobre as atividades do projeto Integra Pampa, nesta quinta-feira (28), nos campos experimentais da Embrapa em Bagé (RS). O evento teve como objetivo mostrar alguns dos resultados do primeiro ano do Integra Pampa, iniciativa das duas instituições que visa avaliar os melhores arranjos para sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) no bioma Pampa, a partir de diferentes desenhos envolvendo a produção de grãos, carne e madeira.

O presidente da Agricampanha, Gesiel Porciúncula, ressaltou a importância da parceria com a Embrapa por aproximar mais os produtores rurais da instituição de pesquisa. “A Região da Campanha é delicada para a agricultura pelo regime de chuvas e características de solos e a parceria visa justamente buscar respostas para que o agricultor tenha melhores resultados no campo”. Já para o Chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sul, Gustavo Martins da Silva, um dos grandes méritos do projeto é abordar sistemas de produção como um todo. “Estamos trabalhando com diferentes atividades que podem compor um sistema de produção na propriedade, sempre tendo em vista a sustentabilidade da agrocupecuária”.

O coordenador do projeto, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Naylor Perez, apresentou em linhas gerais as diferentes pesquisas que estão sendo desenvolvidas no escopo do projeto. Segundo ele, o Integra Pampa vai desde a avaliação e desenvolvimento de cultivares de soja adaptados à região e para sistemas integrados, sistemas integrados de pecuária-lavoura e pecuária-lavoura-floresta, uso de adubação, agricultura de precisão, uso de bioinsumos, entre outros aspectos. “Nosso objetivo é gerar informações sólidas que possam ser utilizadas pelos produtores, tanto em relação aos sistemas de produção como no uso de novas tecnologias já desenvolvidas ou em desenvolvimento”.

Já a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado e especialista em melhoramento genético da soja, Ana Cláudia Barneche de Oliveira apresentou alguns experimentos que estão sendo realizados nesse primeiro ano de trabalho. Ana destacou que em diversas parcelas estão sendo testadas diferentes cultivares já disponíveis no mercado, além de linhagens que vão ser utilizadas no desenvolvimento de uma variedade adaptada para a região da Campanha. Também estão sendo testados o uso de dois bioinsumos nas lavouras e o controle de plantas indesejadas. “Desde que comecei a visitar a região recebo dos produtores a demanda por cultivares de soja mais resistentes à seca. Nosso objetivo é entregar uma cultivar que atenda a essa demanda, sempre com o grande desafio de ser altamente produtiva”, destacou.

Fonte: Assessoria Embrapa Pecuária Sul
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Mundo joga fora mais de um bilhão de refeições por dia, diz ONU

O desperdício de alimentos continua a prejudicar a economia global e a fomentar as mudanças climáticas, a perda da natureza e a poluição. Índice de Desperdício de Alimentos estimado em 94 kg per capita, ao ano, o desperdício de alimentos na etapa de consumo familiar no Brasil.

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Fotos: Gustavo Porpino

Domicílios de todos os continentes desperdiçaram mais de 1 bilhão de refeições por dia em 2022, enquanto 783 milhões de pessoas foram afetadas pela fome e um terço da humanidade enfrentou insegurança alimentar. O desperdício de alimentos continua a prejudicar a economia global e a fomentar as mudanças climáticas, a perda da natureza e a poluição. Estas são as principais conclusões de um relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), coordenado pela WRAP, publicado na quarta-feira (27), durante evento do Dia Internacional do Resíduo Zero. A Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió – AL) colaborou na revisão do novo levantamento global sobre desperdício de alimentos nas etapas de varejo e consumo.

O Índice de Desperdício de Alimentos estima em 94 kg per capita, ao ano, o desperdício de alimentos na etapa de consumo familiar no Brasil. A estimativa leva em conta apenas o consumo doméstico de alimentos e é resultante de um estudo piloto realizado, em 2023, em cinco regiões distintas da cidade do Rio de Janeiro.

Este estudo realizou análises de resíduos orgânicos, por meio de gravimetria, em regiões do Rio com diferentes perfis socioeconômicos. “Embora seja um estudo restrito ao Rio de Janeiro (RJ), os dados mostram que o desperdício ocorre mesmo em bairros de classe média baixa. Os fatores que levam ao desperdício precisam ser explorados em pesquisas qualitativas. É importante destacar que o montante de 94 kg por pessoa ao ano leva em conta tanto sobras de refeições, tais como arroz e feijão, quanto cascas de frutas e ossos. A metodologia do PNUMA não categoriza o desperdício em evitável e inevitável, por que consideram relevante reduzir o descarte de resíduos orgânicos como um todo”, comenta Gustavo Porpino, pesquisador da Embrapa Alimentos e Territórios que atuou como revisor do Índice.

Em 2022, foram gerados 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares (incluindo partes não comestíveis), totalizando 132 quilos per capita e quase um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores. Do total de alimentos desperdiçados em 2022, 60% aconteceram no âmbito doméstico, com os serviços de alimentação responsáveis por 28% e o varejo por 12%. “O desperdício de alimentos é uma tragédia global. Milhões de pessoas passarão fome hoje, enquanto alimentos são desperdiçados em todo o mundo”, salienta Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. “Além de ser uma questão importante de desenvolvimento, os impactos desse desperdício desnecessário estão causando custos substanciais para o clima e a natureza. A boa notícia é que sabemos que, se os países priorizarem essa questão, eles poderão reverter significativamente a perda e o desperdício de alimentos, reduzir os impactos climáticos e as perdas econômicas e acelerar o progresso das metas globais.

Desde 2021, houve um fortalecimento da infraestrutura de dados com um número maior de estudos rastreando o desperdício de alimentos. Globalmente, o número de dados em nível domiciliar quase dobrou. No entanto, muitos países de baixa e média renda continuam a carecer de sistemas adequados para acompanhar os avanços no cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3 de reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030, particularmente no varejo e serviços de alimentação.

Foto: Divulgação/Frepik

Apenas quatro países do G20 (Austrália, Japão, Reino Unido, EUA) e a União Europeia têm estimativas de desperdício alimentar adequadas para acompanhar os progressos até 2030. Canadá e Arábia Saudita têm estimativas adequadas no nível de domicílios, enquanto no Brasil estão em andamento atividades para desenvolver uma linha de base robusta até o final de 2024. Neste contexto, o relatório serve como um guia prático para os países medirem e comunicarem consistentemente o desperdício alimentar.

Os dados confirmam que o desperdício de alimentos não é apenas um problema de “país rico”, com os níveis de desperdício de alimentos domésticos diferindo nos níveis médios observados para países de renda alta, média-alta e média-baixa em apenas 7 kg per capita. Ao mesmo tempo, os países mais quentes parecem gerar mais desperdício de alimentos per capita nos domicílios, potencialmente devido ao maior consumo de alimentos frescos com partes substanciais não comestíveis e à falta de cadeias de refrigeração adequadas.

De acordo com levantamentos recentes, a perda e o desperdício de alimentos geraram de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) – quase 5 vezes mais do que o setor de aviação – e uma perda significativa de biodiversidade ao ocupar o equivalente a quase um terço das terras agrícolas do mundo. Segundo o Banco Mundial, o custo da perda e do desperdício de alimentos na economia global é estimado em cerca de US$ 1 trilhão.

A expectativa é que os esforços para fortalecer a redução do desperdício de alimentos e a circularidade beneficiem especialmente as áreas urbanas. As áreas rurais geralmente têm menor desperdício, com maior direcionamento de restos de alimentos para animais de estimação, animais de criação e compostagem doméstica como explicações mais prováveis.

Segundo o PNUMA, em 2022, apenas 21 países incluíram a perda e/ou redução do desperdício de alimentos em seus planos climáticos nacionais (NDCs). O processo de revisão das NDCs de 2025 oferece uma oportunidade fundamental para aumentar a ambição climática, integrando a perda e o desperdício de alimentos. O relatório sublinha igualmente a urgência de abordar o desperdício alimentar, tanto a nível individual como sistêmico.

Linhas de base robustas e medições regulares são necessárias para que os países mostrem mudanças ao longo do tempo. Graças à implementação de políticas e parcerias, países

Foto: Roberto Dziura Jr

como Japão e Reino Unido mostram que a mudança em escala é possível, com reduções de 31% e 18%, respectivamente.

“Com o enorme custo para o meio ambiente, a sociedade e as economias globais causado pelo desperdício de alimentos, precisamos de uma ação coordenada maior em todos os continentes e cadeias de suprimentos. Apoiamos o PNUMA ao pedir que mais países do G20 meçam o desperdício de alimentos e trabalhem em direção ao ODS 12.3”, comenta Harriet Lamb, CEO da WRAP. “Isso é fundamental para garantir que os alimentos alimentem as pessoas, não os aterros sanitários. As Parcerias Público-Privadas são uma ferramenta fundamental para a obtenção de resultados, mas requerem apoio: sejam filantrópicas, empresariais ou governamentais, os atores devem se unir em torno de programas que abordem o enorme impacto que o desperdício de alimentos tem na segurança alimentar, em nosso clima e em nossas carteiras”.

O PNUMA continua acompanhando o progresso em nível nacional para reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030, com um foco crescente em soluções além da medição para a redução. Uma dessas soluções é a ação sistêmica por meio de parcerias público-privadas (PPPs): fomentar cooperações entre governos, setor privado e o terceiro setor para identificar gargalos, desenvolver soluções e impulsionar o progresso. O financiamento adequado pode permitir que as PPP proporcionem reduções do desperdício alimentar da produção agrícola à mesa, reduzam as emissões de gases com efeito de estufa e o estresse hídrico, partilhando simultaneamente as melhores práticas e incentivando a inovação para uma mudança holística a longo prazo. As PPP sobre perda e desperdício de alimentos estão crescendo em todo o mundo, incluindo Austrália, Indonésia, México, África do Sul e no Reino Unido, onde ajudaram a reduzir mais de um quarto do desperdício domiciliar de alimentos per capita em 2007-18.

Perspectiva brasileira

Se levado em conta apenas partes usualmente comestíveis dos alimentos, o desperdício anual per capita, com base no estudo piloto no Rio de Janeiro, é de 29 kg. Deste montante, 21% são formados por produtos de panificação (11%) e frutas e hortaliças (10%). “A metodologia para quantificação do desperdício em famílias do Rio foi bastante robusta, por que analisa todos os resíduos gerados pelos domicílios, mas caso a família tenha o hábito de compostar sobras das refeições ou destinar para animais de estimação, esta parcela dos alimentos não consumida por pessoas não é captada pelo estudo”, analisa Porpino.

Foto: Geraldo Bubniak

“Evitar o desperdício de alimentos nas famílias brasileiras requer implementar ações desde a produção, por que as hortaliças que estragam rápido na geladeira, por exemplo, por vezes são descartadas em função do manejo inadequado de pragas, deficiências no manuseio pós-colheita ou uso de embalagens inapropriadas para armazenagem e transporte”, comenta Porpino. “Por fim, a educação nutricional é essencial para mudar hábitos de consumo enraizados na cultura brasileira que ainda valoriza muito a fartura na mesa”, complementa.

Para o especialista da Embrapa, nas etapas finais da cadeia produtiva de alimentos, o Brasil pode incrementar a quantificação e a implementação de soluções para melhorar a gestão dos resíduos orgânicos, por exemplo, em centrais de abastecimento (Ceasas), feiras livres e supermercados. Em recente estudo da Embrapa em parceria com a Abreme, por meio dos Diálogos União Europeia – Brasil, quantificou-se o desperdício em feiras livres de Curitiba, Recife e Rio Branco (https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1156846/cidade-e-alimentacao-relatorio-de-pesquisa-dialogo-uniao-europeia—brasil-sobre-sistemas-alimentares-urbanos-sustentaveis). O tomate foi o alimento mais descartadao nas feiras livres analisadas. “As soluções podem envolver implementação de programas de colheita urbana para que alimentos seguros sejam destinados, por exemplo, a bancos de alimentos, e incremento da compostagem para os resíduos orgânicos não comestíveis. Os resíduos das feiras livres, por exemplo, podem virar adubo para hortas urbanas e escolares”, destaca Porpino.

Fonte: Assessoria Embrapa Alimentos e Territórios
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