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Em meio à crise, produtores de leite travam luta pela sobrevivência
Diante da crise, bovinocultores usam estratégias para levar a atividade para o próximo round, torcendo para que novos ventos afastem os oponentes dos lácteos.
Uma crise sem precedentes empurra os produtores de leite para as cordas na luta pela sobrevivência na atividade. Diante de fortes oponentes como o alto custo de produção, importação da Argentina e do Uruguai, queda no preço do produto pago ao produtor e falta de suporte do poder público, os bovinocultores estão quase indo a nocaute. Resta, agora, o apelo às autoridades para que tomem medidas de fomento à cadeia produtiva e a “esquiva” dentro da porteira, na busca pela redução dos gastos, esperando que o mau momento passe antes da temida queda à lona.
Neste duelo, em todas as regiões do Paraná, os produtores que resistem têm a gestão como prioridade. Muitos vivem dilemas como mudar a dieta dos animais em determinadas fases, redução do tempo de ventilação em dias menos quentes para economizar na conta de luz, corte de funcionários, secar animais antes do tempo habitual, descarte de vacas menos produtivas, entre outras medidas necessárias para a sustentabilidade do negócio.
Em Itapejara d’Oeste, no Sudoeste do Paraná, maior bacia leiteira estadual em volume, o bovinocultor Douglas Oliveira busca alternativas para resistir na atividade, como processar 15% da sua produção em um laticínio próprio, como leite pasteurizado de pacote. “Comecei a reduzir o custo. Antes, nós dávamos caroço de algodão para os animais, agora não. Isso baixou um pouco a gordura do leite, mas o custo diminuiu. Também reduzimos a frequência de visita do veterinário e tivemos que demitir um funcionário”, compartilha Oliveira, que tem um rebanho de 89 vacas em lactação.
Um pouco para cima no mapa, na região Oeste, mais especificamente em Marechal Cândido Rondon, o produtor Edio Chapla também precisou alterar o planejamento para se manter na atividade.
Quando começou a produzir leite, há oito anos, o plano era atingir 100 vacas em lactação em 2023. As dificuldades enfrentadas nos últimos tempos fizeram com que Chapla alcançasse somente 40 animais no atual momento, com produção de 1,3 mil litros por dia. “Nós ainda temos frango, peixe e suínos [sistema crechário] e plantamos um pouco de lavoura. No aspecto geral, todas as atividades estão com problema, pelo alto custo de manutenção de estrutura, mão de obra e energia elétrica. Vamos costurando, tirando de uma para tapar a outra, mas vai chegar um momento que produzir leite será inviável”, reflete Chapla.
No Noroeste, em Umuarama, a estratégia de Elson Junior para seguir produzindo leite passa pela união com outros produtores. Ele preside uma cooperativa de 57 bovinocultores que, juntos, acumulam 10 mil litros de leite/dia. “Um produtor de 100 litros por dia não tem poder de negociação e, às vezes, não possui conhecimento de mercado para sentar com a indústria e negociar. Agora, para a indústria perder 10 mil litros de leite por dia, já é outra coisa”, detalha o bovinocultor, que conta com 35 animais em lactação e produção diária de mil litros de leite.
A tempestade perfeita para o mercado de lácteos começou com a queda no consumo. A demanda por leite em 2022 voltou ao patamar de 2011, em termos de produção e consumo per capita. “Abrimos o ano passado com queda de 10% no preço em relação a 2021. Nunca tínhamos visto uma queda tão acentuada”, descreve o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Glauco Rodrigues Carvalho. “Para piorar, entramos em 2023 com consumo mais fraco. E, como a economia da China desacelerou, a Argentina e o Uruguai, que tinham o país da Ásia como importante parceiro comercial, direcionou suas vendas para o Brasil”, acrescenta. Somente entre janeiro e agosto deste ano, o país já importou 1,4 milhão de litros (veja no infográfico).
Além disso, nem mesmo o inverno, período no qual historicamente as cotações do leite costumam aumentar, fez o preço pago ao produtor subir. Conforme dados do Conseleite-PR, desde abril, o preço de referência para o leite vem acumulando quedas consecutivas.
Outro fator de dificuldade envolve a oscilação no preço dos grãos, o que afeta diretamente o custo de produção de alimentos para as vacas. Em outubro de 2022, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), o milho estava cotado a quase R$ 80 a saca. Como o planejamento ocorre com antecedência, a alimentação dos animais está pesando, apesar da cotação atual do cereal estar na casa dos R$ 42.
Em Castro, nos Campos Gerais, município que mais produz leite no Brasil, o produtor Roelof Hermannes Rabbers, há décadas na atividade, compara a crise da época da hiperinflação, início dos anos 1990, com o atual momento vivido pela cadeia do leite. “A receita diminuiu e a despesa ficou igual ou até cresceu. Ou seja, tudo subiu e o leite baixou”, resume Rabbers, que produz 5 mil litros/dia, com 160 vacas em lactação no regime semiconfinado.
Eficiência como contragolpe
As estratégias adotadas pelos produtores para resistir ao momento sinalizam para caminhos comuns em todas as regiões do Paraná. Diante do cenário alarmante, está clara a necessidade de eficiência na gestão da propriedade rural leiteira, para enfrentar oponentes pesos pesados. “Hoje, todos sofrem os efeitos da crise. O que determina o maior poder de resistência é a eficiência, e isso não tem ligação apenas com o tamanho da propriedade”, expõe o presidente da Comissão Técnica (CT) de Bovinocultura de Leite da Faep, Ronei Volpi.
Esse apontamento encontra força nos dados da Embrapa Gado de Leite, ao revelar que diferentes modelos de tecnologia e eficiência coexistem no Brasil, com produtores obtendo renda de R$ 5 mil por hectare por ano e outros de R$ 300. Desta forma, segundo Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, com o passar do tempo, os bovinocultores com menor renda devem, gradativamente, deixar a atividade. “Produtores têm abandonado o leite e o motivo está atrelado à eficiência da produção. Por outro lado, produtores mais tecnificados e profissionais, que possuem escala de produção, são bonificados”, explica o especialista.
Atualmente, as propriedades que produzem até 49 litros de leite por dia representam 71% do número de estabelecimentos no Brasil. Por outro lado, estes respondem por apenas 16% do volume da produção.
Mesmo essa parcela dos pecuaristas, que investe em tecnologia, precisa estar atenta à gestão, de acordo com o diretor da empresa Labor Rural, Christiano Nascif. Para o dirigente, uma parcela significativa dos produtores de leite adota a cultura do custo mínimo e não do lucro máximo, o que pode resultar na falência do negócio. “Tem modelo de negócio mudando para Compost Barn, com a ordenhadeira mais atualizada que existe e usando transferência de embrião. Mas, muitas vezes, em descompasso com a gestão, que está atrasada, ainda no século XVIII”, explica. “Muitos usam a máxima: ‘meu avô fazia assim, meu pai fazia assim e eu faço assim’”, complementa.
Nesse aspecto, a solução para problemas de gestão passa necessariamente por uma mudança de cultura, especialmente da assistência técnica. “Tem muito técnico que valoriza questões tecnológicas e não a gestão. Em qualquer momento, mesmo em tempo de bonança, a gestão é fundamental. Hoje, são poucos, mas existem produtores de leite que estão ganhando dinheiro na atividade por meio da eficiência”, aponta o diretor da empresa Labor Rural, Christiano Nascif.
No atual momento de crise, esses produtores que trabalham no azul estão apostando no “arroz com feijão bem feito”, que envolve perseguir boa produtividade e comprar insumo de forma planejada e conjunta. “Um caminho é tentar a expansão mesmo, pois há bonificação por volume e qualidade que acresce de 20% a 30% no valor recebido pelo produtor”, recomenda Carvalho.
Cenário de crise também atinge a indústria
A situação delicada do produtor de leite também se reflete na indústria, conforme o gerente da divisão de leite da Frimesa, Erivelto Costa. A marca que reúne 1927 produtores processa diariamente 680 mil litros de leite, crescimento de 6% em relação ao ano passado. Porém o faturamento cresceu apenas 2,38%. No final da conta, a operação possui, na média de 2023, uma margem de 0,3%. “Nem todos os produtos estão ruins. Temos um portfólio grande de lácteos e isso permite migrar para o que dá resultado melhor em cada momento”, revela Costa.
As agroindústrias com um portfólio enxuto atravessam situação mais complicada para fechar as contas. Mesmo a Frimesa tem adotado medidas para reduzir custos, com redução máxima de desperdício, programas de inovação e controle. “Hoje, não é só o produtor que está ficando com o ônus, tudo que veio de fora ficou muito caro. Eu acredito que o fundo do poço seria hoje se o leite brasileiro chegasse aos 41 centavos de dólar [em agosto, o Conseleite-PR fechou em cerca de 45 centavos de dólar], que é o preço pago pelo leite de importação da Argentina”, opina.
Medidas do poder público
A presidente da Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite (FPPL) e deputada federal por Minas Gerais Ana Paula Leão, destaca as ações que estão sendo desenvolvidas pelo poder público para auxiliar o setor.
De acordo com ela, as frentes de ação a FPPL para minimizar os efeitos da crise estão focadas em estancar e tentar resolver o problema que está massacrando os pequenos e médios produtores: a importação. “Conseguimos que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) voltasse com a taxa de 10% e acrescentasse mais 8% aos produtos oriundos da União Europeia (UE), Nova Zelândia e Estados Unidos, não só leite em pó, mas 28 produtos lácteos. No entanto, o leite da UE representa 5% do problema. O grande problema é do Mercosul, especialmente do Uruguai e Argentina”, ressalta.
Quando questionada se houve avanço em relação a diminuir as importações da Argentina e Uruguai, a parlamentar disse que existe um programa no Mapa chamado “Mais Leite Saudável”, o qual permite a agroindústrias, laticínios e cooperativas de leite participantes utilizarem créditos presumidos do PIS/Pasep e da Cofins, da compra do leite in natura utilizado como insumo de seus produtos lácteos, em até 50% do valor a que tem direito. “Solicitamos ao Mapa que as empresas que compram leite em pó importado percam o benefício”, salienta.
Em relação aos impactos de um eventual colapso na produção leiteira, Ana afirma que seria um caos social. “Somos em mais de um milhão de produtores de leite, que geram em torno de 4 milhões de empregos, considerando empregados diretamente nas propriedades rurais e técnicos, veterinários e outros profissionais. Esperamos que o governo nos atenda, porque 90% da classe dos produtores de leite são formados por pequenos e médios produtores”, menciona, enfatizando que os produtores têm reclamado da dificuldade para manter em dia o pagamento de créditos de custeio e investimentos.
Ana afirma que foi solicitado ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, a prorrogação de prazo para quitação de financiamentos. “Fizemos o pedido para o que o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, encaminhe isso e tome a frente de negociação com os bancos para prorrogar. Não está acontecendo só no Paraná. É uma realidade em outros estados também”, pontua, ampliando: “Esse problema do leite é cíclico, mas temos que colocar um ponto final nele. A FPPL está trabalhando essa situação e também em projetos de políticas públicas de incentivo. Por isso, eu deixo uma mensagem de esperança de que, juntos, vamos resolver esse problema”.
Respiro ao setor
Na última quarta-feira (18), o Governo Federal publicou o Decreto 11.732 de 2023 que promove mudanças nos percentuais das alíquotas da contribuição para PIS/Pasep e da Confis. Na prática, as empresas que optarem por comprar leite in natura nacional terão redução de 50% nesses impostos. A medida passa a valer em fevereiro de 2024.
Prêmio Queijos do Paraná agrega valor ao leite
A primeira edição do Prêmio Queijos do Paraná deu uma amostra de um possível caminho para os pequenos e médios produtores de leite. Ou seja, esses podem apostar na produção artesanal de derivados lácteos e agregar valor ao produto. Ao todo, a iniciativa teve 323 queijos inscritos.
A premiação distribuiu 98 medalhas de bronze, prata, ouro e super ouro. Entre esses, os jurados escolheram o melhor queijo do concurso: o Parmesão, da Frimesa, produzido em Marechal Cândido Rondon (PR). Além disso, ao longo de nove meses do concurso, foram realizadas dezenas de ações, visando fortalecer o setor lácteo paranaense.
O sucesso do projeto promovido por um comitê gestor formado pelo Sistema Faep/Senar-PR, Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Sebrae-PR e Sindileite-PR, com apoio de 28 entidades, fez com que a segunda edição esteja confirmada para 2024, com novidades. “A primeira edição movimentou a cadeia do leite do Paraná, fazendo com que muitos produtores pudessem apesentar seus produtos ao público consumidor. Para a segunda edição, vamos trazer novidades, pois o objetivo é sempre agregar para desenvolver a cadeia produtiva”, destaca Ronei Volpi, presidente da Comissão Técnica (CT) de Bovinocultura de Leite da Faep.
Em Arapoti, operação estável evita desperdícios
A busca quase obsessiva pela eficiência explica o caminho de Fernanda Krieger Bacelar no leite. A publicitária, com 15 anos de uma carreira em comunicação e marketing, resolveu apostar suas fichas em uma propriedade leiteira em Arapoti, região vocacionada ao leite.
Há sete anos, Fernanda resolveu traçar os primeiros planos de construir a leiteria, com ajuda de cursos do Senar-PR. No final de 2016 a produção começou oficialmente, com 60 animais em lactação. A estrutura projetada para 400 vacas fez a produtora crescer a todo custo. “Naquela época, o leite entrava no resfriador e congelava, porque não tinha volume. Então percebi que para ser efetiva era preciso volume”, relembra.
O passo seguinte da operação foi apostar no aumento da remuneração pelo produto. Na região há cooperativas especializadas em leite, com programas de pagamento por qualidade. Hoje, com 430 animais em lactação e produção de 16 mil litros de leite por dia, Fernanda recebe mais de R$ 0,80 de bônus por litro com os índices de qualidade que obtém. “Desde que começamos, temos as metas e a análise de leite num quadro. Os funcionários esperam ansiosos para saber como está o indicador. Estou buscando eficiência, melhorando processos, deixando tudo redondo e isso casa com esse momento de crise. Temos que manter a mentalidade de crescimento, evolução, para que negócio vá para frente”, destaca a produtora de leite em Arapoti, Fernanda Krieger Bacelar.
A propriedade já ganhou cinco prêmios da Cooperativa Capal e três da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH). Em momentos difíceis, Fernanda aponta para a necessidade de controle total das contas. “Já que não posso controlar custos, tenho que controlar meus gastos para manter a operação estável, segura e evitar desperdícios. Assim, quando passar a crise, eu vou poder galgar melhores lucratividades”, reflete.
Hora de identificar ineficiências
Sem aumento no consumo doméstico e sem capacidade de competir no mercado internacional com exportações, por possuir um dos maiores custos de produção em comparação aos países exportadores, a produção total de leite no Brasil não cresce desde 2014. Neste ano, o cenário se agravou por conta do aumento de importações de produtos lácteos oriundos principalmente da Argentina e Uruguai. “Embora o setor tenha evoluído nas últimas duas décadas, com expressivas transformações estruturais, novas tecnologias, equipamentos e genética que resultaram em ganhos de produtividade e melhorias na qualidade do leite, a condição de rentabilidade dos produtores piorou”, afirma a técnica do DTE no Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Wilsek.
O leite paranaense é heterogêneo quanto à qualidade e volume produzido. Assim, somado ao cenário de dificuldades, muitos produtores com pequena produtividade deixaram a atividade. Já os remanescentes, retratam uma realidade de menos produtores e maior produção. “Mesmo com o cenário de dificuldades, o Paraná apresenta um potencial de produção de leite superior. A cadeia produtiva do leite viabiliza bons ganhos marginais, principalmente quando observadas as condições naturais da região, permitindo produção de pastagens e cereais durante o ano todo, além de ser uma atividade familiar. O momento é de o produtor conhecer a fundo a sua propriedade, identificando suas ineficiências para melhorar o custo produtivo, equilibrando com a receita atual”, constata.
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Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
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Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.