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É o momento de prevenir as clostridioses nas crias
Proteger os bezerros das clostridioses previne perda de animais e reflete na qualidade produtiva da fazenda.

As clostridioses são um grupo de doenças causadas pelas toxinas produzidas por bactérias do gênero Clostridium, e estão entre as doenças que mais matam os bovinos em todo o Brasil. A produção destas toxinas é decorrente da proliferação bacteriana, que pode ocorrer no organismo do animal ou no próprio ambiente, dependendo da bactéria relacionada.
As bactérias deste grupo estão presentes no ambiente sob formas denominadas esporos, que apresentam uma grande capacidade de resistência, o que torna o seu controle ainda mais desafiador. Estes esporos presentes no ambiente são ingeridos pelos bovinos e vão para diversos locais no organismo dos animais, aguardando condições para se multiplicarem e produzir grande quantidade de toxinas, que irão determinar graves prejuízos culminando com a morte de animais.
Infelizmente, quando os animais mostram sinais das clostridioses a quantidade de toxinas presentes já tem capacidade de levar os animais afetados ao óbito. Por isso diversas tentativas de tratamento são infrutíferas.
Principais clostridioses
“As principais clostridioses que afetam o gado são o carbúnculo sintomático (“manqueira”), a gangrena gasosa, as enterotoxemias, o botulismo e a morte súbita por clostrídios. Todas, na maioria das vezes, são doenças letais, com progressão muito rápida ou até mesmo casos de morte súbita, quando o quadro é tão rápido que não notamos animais com sinais de doença, encontrando-os mortos. Daí, em boa parte das situações, a suspeita é picada de cobras ou ingestão de plantas tóxicas. Por isso, o diagnóstico é fundamental e o calendário de vacinações prevenindo as clostridioses deve fazer parte do protocolo sanitário de todas as fazendas”, alerta o médico-veterinário gerente de Serviços Veterinários para Bovinos da Ceva Saúde Animal, Marcos Malacco.
As enterotoxemias decorrem de uma toxinfecção intestinal aguda geralmente promovida pela bactéria Clostridium perfringens, que habita naturalmente os intestinos dos ruminantes. Fatores ambientais e de manejo, como a troca repentina de dieta, dietas mal balanceadas ou com problemas na homogeneização dos ingredientes, ingestão rápida de grandes quantidades de dietas ricas em grãos, assim como a brotação das pastagens, pode ter papel desencadeador do desequilíbrio da microbiota intestinal dos animais, favorecendo a proliferação de C. perfringens e, consequentemente, a produção de sua toxina.
De acordo com Malacco, “esta produção excessiva de toxinas no intestino do animal é responsável por desencadear um processo inflamatório na mucosa intestinal, aumentando sua permeabilidade. Quando a toxina alcança a corrente sanguínea, pode causar danos importantes em outros órgãos, o que leva o animal ao óbito, incluído casos de mortes súbitas”.
O manejo alimentar também está relacionado aos casos de botulismo, que é causado pela bactéria Clostridium botulinum dos Tipos C e D em bovinos aqui no Brasil. O botulismo acontece nos animais que consomem alimentos malconservados ou indevidamente armazenados, água contaminada, ou ossos e carcaças de animais mortos. “Os casos de osteofagia, que é quando os animais acabam recorrendo ao consumo de ossos de outros animais eventualmente presentes na pastagem, são frequentes quando existe uma deficiência de fósforo na dieta do gado, e pode desencadear surtos de botulismo na fazenda”, Malacco explica.
Animais que ingerem a toxina botulínica apresentam um quadro de paralisia flácida progressiva, com dificuldade de locomoção, paralisia parcial ou completa dos membros posteriores e que progride em direção à cabeça. Os animais acabam morrendo em decorrência de paralisia da musculatura respiratória.
O carbúnculo sintomático tem grande importância nos bovinos jovens, até os 24 meses de idade. É causado pela toxina produzida pelo Clostridium chauvoei. Os esporos desta bactéria, como de outras espécies de Clostridium, são altamente resistentes, permanecendo por anos nas pastagens, até serem ingeridos pelos animais e se alojarem em sua musculatura. Inflamações na musculatura determinadas por traumas (pancadas, por exemplo) e até mesmo esforços exagerados, podem levar a redução da oxigenação no local, condição básica para a multiplicação e produção de toxinas pelas bactérias do gênero Clostridium, o que favorece a germinação destes esporos e a manifestação da doença.
A musculatura dos animais que sofrem com carbúnculo sintomático fica inchada e há formação de bolhas de gás, que podem ser sentidas ao apalpar o local (crepitação). O óbito do animal acontece em até 72h, mas pode ocorrer casos de morte súbita.
Já a gangrena gasosa é causada pelas toxinas de diferentes bactérias do gênero Clostridium, como Clostridium septicum, Clostridium sordellii e Clostridium novyi tipo A, que podem se instalar no subcutâneo dos animais por meio de feridas acidentais ou cirúrgicas, como castração, lesão ao parto, por meio do cordão umbilical, ou até mesmo decorrentes de aplicações parenterais (vacinação, por exemplo). Nos animais afetados, o tecido subcutâneo e a musculatura do local contaminado aumentam o volume (inchaço), há hemorragia e necrose, que pode ser notada na pele no local da introdução das bactérias. O óbito pode acontecer entre 24h e 48h após os primeiros sintomas, em decorrência do quadro toxêmico.
Prevenção
O que fazer então? Prevenir, através de medidas como a vacinação com vacina polivalente e efetiva, que deverá contemplar o calendário sanitário da fazenda, realizar a esterilização e o descarte necessário de materiais empregados em vacinações e cirurgias, adotar manejo não agressivo e promover uma boa adaptação às novas dietas, por exemplo.
“Os esporos destes agentes patológicos estão presentes no ambiente ou no próprio organismo do animal, sendo muito difícil o seu controle e total eliminação. Desta forma, a vacinação do rebanho é uma importante medida preventiva a ser adotada, e precisa iniciar ainda nos primeiros meses de vida, porque os bezerros passam por uma gama de desafios ainda durante a fase de cria e têm o sistema imunológico pouco maduro”, Malacco enfatiza.
Para garantir uma vida produtiva mais saudável para o gado, o protocolo preventivo das clostridioses inicia-se com a primovacinação dos animais entre 3 e 4 meses de idade. Neste manejo, são aplicadas duas doses e uma vacina polivalente e eficaz, com intervalo de 28 dias entre elas. A partir daí, revacinações são necessárias e repetidas a intervalos de 6 ou 12 meses, de acordo com o calendário elaborado pelo médico veterinário, em todo o rebanho. É importante mencionar que, independentemente da idade dos animais, aqueles com histórico vacinal desconhecido, também devem passar por este protocolo de primovacinação (duas doses com intervaladas por 28) e então seguir o protocolo de revacinações da fazenda.
A vacina polivalente (Botulinomax®) auxilia na proteção contra o botulismo, carbúnculo sintomático, gangrena gasosa ou edema maligno, enterotoxemias, hepatite necrosante infecciosa e doença do rim polposo. Possui composição que contém toxóides (as toxinas inativadas dos clostrídios) e bacterinas correspondentes aos gêneros de Clostridium mais importantes para os bovinos, ovinos e caprinos presente no Brasil.
“Cuidar da saúde dos bezerros e das bezerras reflete na qualidade da produção da propriedade, olhar com mais atenção os cuidados sanitários nesta fase é colher melhores frutos e resultados no futuro. Para um produtor que busca uma pecuária mais produtiva e sustentável, investir na saúde do rebanho é um dos principais pilares da produtividade”, finaliza.

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Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.
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Oferta robusta pressiona preços do trigo no mercado brasileiro
Levantamento do Cepea aponta desvalorização influenciada pela ampla oferta interna, expectativas de safra recorde no mundo e competitividade do produto importado.

Levantamento do Cepea mostra que os preços do trigo seguem enfraquecidos. A pressão sobre os valores vem sobretudo da oferta nacional, mas também das boas expectativas quanto à produtividade desta temporada.
Além disso, pesquisadores do Cepea indicam que o dólar em desvalorização aumenta a competitividade do trigo importado, o que leva o comprador a tentar negociar o trigo nacional a valores ainda menores.

Foto: Shutterstock
Em termos globais, a produção mundial de trigo deve crescer 3,5% e atingir volume recorde de 828,89 milhões de toneladas na safra 2025/26, segundo apontam dados divulgados pelo USDA neste mês.
Na Argentina, a Bolsa de Cereales reajustou sua projeção de produção para 24 milhões de toneladas, também um recorde.
Pesquisadores do Cepea ressaltam que esse cenário evidencia a ampla oferta externa e a possibilidade de o Brasil importar maiores volumes da Argentina, fatores que devem pesar sobre os preços mundiais e, consequentemente, nacionais.



