Bovinos / Grãos / Máquinas Nutrição
Doutor da UFV fala sobre desafios e oportunidades na nutrição do gado de corte
Mateus Pies Gionbelli trabalha na área de produção de gado de corte, com ênfase em nutrição de ruminantes

Mateus Pies Gionbelli possui graduação em Zootecnia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Possui mestrado, doutorado e pós-doutorado no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Lavras e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFLA (cursos de Mestrado e Doutorado em Zootecnia). Trabalha na área de produção de gado de corte, com ênfase em nutrição de ruminantes, atuando principalmente nos seguintes temas: exigências nutricionais de bovinos, nutrição gestacional e programação fetal, intensificação da produção de carne bovina e crescimento e desenvolvimento animal. Ele fala sobre os principais desafios e as oportunidades na nutrição do gado de corte. Confira.
Por que tem ocorrido aumento do uso de concentrados nas dietas de gado de corte?
Mateus Pies Gionbelli – Pelo fato de haver necessidade de intensificar a produção de gado de corte no Brasil, por estarmos com uma demanda de produção de carne cada vez maior e custo da terra cada vez mais alto. O cenário é de necessidade de evolução e intensificação, com o intuito da sobrevivência no segmento da produção de gado de corte.
Isso faz com que os produtores busquem gradualmente tecnologias para condensar energeticamente as dietas e aumentar a rapidez de crescimento dos animais, acelerando assim o ciclo produtivo com o objetivo de produzir mais carne em menos espaço e em menor tempo.
Aliado a isso, nos últimos 20 anos ocorreu um crescente aumento da disponibilidade de subprodutos e coprodutos da exploração agrícola e de outros segmentos de produção de alimentos para uso em gado de corte. Esses subprodutos e coprodutos possuem ótima aplicação, principalmente para dietas de confinamento, assim como para a formulação de suplementos e concentrados.
Todos esses fatores contribuem para que nós tenhamos aumentado cada vez mais o uso de grãos e subprodutos nas dietas de gado de corte no Brasil.
Qual o grande desafio nutricional quando se fala da produção intensiva de gado de corte a pasto e em confinamento?
Mateus Pies Gionbelli – Um dos maiores desafios que nós temos quando estamos intensificando a produção de gado de corte, seja a pasto ou em confinamento se trata da adaptação dos animais a dietas com alta concentração de grãos. Veja bem, nós estamos falando de animais que evoluíram por milhões de anos e em condições de dietas à base de forragem. A natureza preparou fisiologicamente esses animais para ingerirem dietas ricas em fibra e não dietas ricas em amido.
Isso faz com que seja importante que do ponto de vista fisiológico, que nós consigamos dar condições tanto nutricionais quanto de tempo para que haja uma adaptação do rúmen deste animal à nova condição desejada, com dietas ricas em carboidratos rapidamente fermentáveis no rúmen.
Caso esse processo não seja bem feito, nós corremos risco de perder muito em eficiência no sistema de produção, ao ter muitos animais com acidose sem que possamos perceber.
O que se faz no Brasil para adaptar um bovino de corte a dietas com alta inclusão de grãos?
Mateus Pies Gionbelli – A adaptação para dietas de alta concentração de grãos é um desafio principalmente do ponto de vista de logística e manejo. Quando falamos em confinamento, por exemplo, nós temos situações em que confinamentos médios e grandes possuem muitos currais de manejo e engorda, então temos animais chegando toda hora. Isso faz com que seja necessário ter dietas de adaptação várias vezes ao longo de alguns meses ou até mesmo do ano. E isso gera dificuldades de logística para arraçoamento, para organização de ingredientes e para acompanhamento das condições dos animais.
Dessa forma, é muito importante que tudo seja feito com bastante critério e atenção, pois erros no processo de adaptação vão fazer com que o animal perca um tempo significativo de confinamento, tendo baixo desempenho, podendo até mesmo dar prejuízo para o produtor.
Para contornar isso, nós temos o uso de aditivos e também a tentativa de uso de produtos ricos em fibra, sejam volumosos ou até mesmo subprodutos.
Sobre os aditivos, praticamente toda dieta de confinamento ou semiconfinamento de gado de corte contém aditivos. Mas é bom lembrar que os aditivos apresentam pontos favoráveis e desfavoráveis. Existem aditivos, principalmente os ionóforos, que causam redução de consumo. Isso não é desejável no processo de adaptação dos animais, quando queremos que eles possam atingir o seu potencial de consumo máximo mais rapidamente para poderem chegar no máximo de desempenho de forma eficiente.
Porque a acidose ruminal pode trazer tanto prejuízo em gado de corte?
Mateus Pies Gionbelli – A acidose ruminal traz muito prejuízo em gado de corte por que é um problema silencioso. A imensa maioria dos animais que sofrem de acidose tem acidose subclínica, ou seja, existe acidose dentro do rúmen do animal, estão ocorrendo problemas metabólico, o desempenho está sendo reduzido, mas não vemos isso a olho nu.
Por causa disso, é superimportante prevenir. Animais com acidose têm eficiência alimentar piorada e não atingem seu máximo potencial de desempenho. Como isso nem sempre acontece com todos os animais dentro de um lote, e os animais estão em grupo, é difícil identificar quais animais estão com esse problema.
Dessa forma, acabamos tendo sempre uma parcela dos animais que passa o confinamento o semiconfinamento ou a terminação a pasto sofrendo com a acidose ruminal e nós não percebemos. Isso significa, na prática, que o desempenho que poderíamos ter nessas condições é maior do que o desempenho que realmente estamos vendo. E isso ocorre, é claro, por que provavelmente temos animais sofrendo com acidose subclínica sem que possamos nos dar conta disso.
Como podemos reduzir a acidose ruminal em gado de corte?
Mateus Pies Gionbelli – Basicamente usando duas estratégias, fibra adequada e em quantidade correta e uso de aditivo adequado no momento correto. É claro que ambas as estratégias só funcionam com manejo e logística acertados.
Em relação à fibra, é importante ter uma quantidade mínima de fibra efetiva na dieta, ou seja, fibra longa capaz de estimular a ruminação e consequentemente o tamponamento do rúmen. Porém, isso nem sempre é fácil de atingir, pois envolve questões relacionadas a regulagem de máquina na hora da colheita do volumoso, mão-de-obra das operações de produção e ensilagem, entre outros.
Se considerarmos a fibra de subprodutos, é muito difícil termos subprodutos e coprodutos com fibra efetiva de qualidade. Muitas vezes temos subprodutos com alto teor de FDN (fibra em detergente neutro), mas sem fibra efetiva em quantidade significativa.
Em relação aos aditivos, já mencionamos que muitos ionóforos, como a monensina, podem reduzir o consumo, o que não é muito desejado no início do confinamento, pois queremos que os animais cheguem rapidamente ao seu máximo potencial. É bom lembrar que existem alguns aditivos novos não antibióticos com o potencial de controlar a acidose ruminal e melhorar o desempenho sem provocar redução do consumo.
Quais os maiores desafios para o confinamento e semiconfinamento de bovinos no Brasil?
Mateus Pies Gionbelli – Eu diria que hoje talvez o maior desafio esteja relacionado ao manejo no dia a dia. Na teoria as coisas sempre funcionam muito bem, mas na prática os produtores enfrentam inúmeros desafios diários que são muitas vezes difíceis de prever. Esses desafios, porém, acabam impactando muito no manejo.
Com isso, podemos ter, por exemplo, a melhor dieta e os melhores animais, mas se o manejo não for bom, se tivermos problemas que causem estresse nos animais e tivermos situações em que o período de fornecimento da dieta, ou até mesmo as quantidades fornecidas ou algum ingrediente não está de acordo, isso certamente vai reduzir o desempenho e eficiência dos animais.
Logo, tudo o que for relacionado a facilitar e melhorar o manejo de bovinos de corte em terminação intensiva, seja a pasto ou confinamento, tem grande potencial de trazer melhorias e benefícios (principalmente econômicos) para produtores de gado de corte. Muito importante ressaltar ainda que tudo o que facilitar o dia a dia e a vida do produtor dentro da fazenda possui enorme potencial de uso na pecuária de corte, pois vivemos uma época boa para a atividade, onde buscamos reduzir os riscos de fatores que possam causar prejuízos para o sistema de produção.
Outras notícias você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de 2020 ou online.

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Exportações recordes de carne bovina reforçam preços no mercado interno
Com 96% do volume anual já embarcado até outubro, o ritmo forte das exportações e o avanço nas vendas de animais vivos reduzem a oferta doméstica e sustentam as cotações, apesar da resistência recente de compradores a novos ajustes.

As exportações brasileiras de carne bovina continuam avançando em ritmo expressivo e já impulsionam diretamente o mercado interno. De acordo com a análise quinzenal do Cepea, os embarques acumulados até outubro alcançaram 96% do total exportado em 2024, configurando um novo recorde para o setor.

Além da carne bovina, as vendas de animais vivos também registram alta. No acumulado do ano, o volume enviado ao exterior chegou a 842 mil toneladas, crescimento de 12,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
Esse fluxo intenso para o mercado externo reduz a oferta doméstica e, somado à baixa disponibilidade de animais terminados, mantém as cotações firmes no mercado interno. A demanda por carne bovina e por boi gordo permanece consistente, com estoques enxutos e vendas estáveis.
Por outro lado, compradores começam a demonstrar resistência a novas elevações, indicando uma possível acomodação dos preços no curto prazo.
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Retirada da sobretaxa pelos EUA devolve competitividade à carne brasileira
Decisão tem efeito retroativo, pode gerar restituição de valores e reorganiza o fluxo comercial após meses de retração no agronegócio.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) manifestou grande satisfação com a decisão dos Governo dos Estados Unidos de revogar a sobretaxa de 40% imposta sobre a carne bovina brasileira. Para a entidade, a medida representa um reforço da estabilidade do comércio internacional e a manutenção de condições equilibradas para todos os países envolvidos, inclusive para o Brasil.

Foto: Shutterstock
A sobretaxa de 40% havia sido imposta em agosto como parte de um conjunto de barreiras comerciais aos produtos brasileiros, afetando fortemente o agronegócio, carne bovina, café, frutas e outros itens. A revogação da tarifa foi anunciada pelo presidente Donald Trump por meio de uma ordem executiva, com vigência retroativa a 13 de novembro. A medida também contempla potencial restituição de tarifas já pagas.
De acordo com veículos internacionais, a retirada da sobretaxa faz parte de um esforço para aliviar a pressão sobre os preços de alimentos nos EUA, que haviam subido em função da escassez de oferta e dos custos elevados, e reduzir tensões diplomáticas.
Reação da ABIEC
Na nota divulgada à imprensa na última semana, a ABIEC destacou que a revogação das tarifas demonstra a efetividade do diálogo técnico e das negociações conduzidas pelo governo brasileiro, resultando num desfecho construtivo e positivo.
A entidade também afirmou que seguirá atuando de forma cooperativa para ampliar oportunidades e fortalecer a presença da carne bovina brasileira nos principais mercados globais.
Comércio exterior
A retirada da sobretaxa tem impacto direto sobre exportadores brasileiros e o agronegócio como um todo. Segundo dados anteriores à

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aplicação do tarifaço, os EUA representavam o segundo maior destino da carne bovina do Brasil, atrás apenas da China.
O recente bloqueio causava retração nas exportações para os EUA e aumentava a pressão para que produtores e frigoríficos redirecionassem vendas para outros mercados internacionais. Com a revogação da sobretaxa, abre uma nova perspectiva de retomada de volume exportado, o que pode fortalecer as receitas do setor e ajudar a recompor a fatia brasileira no mercado americano.
Próximos desafios
Apesar da revogação das tarifaço, a ABIEC e operadores do setor devem seguir atentos a outros desafios do comércio internacional: flutuações de demanda, concorrência com outros países exportadores, exigências sanitárias, regime de cotas dos EUA e eventual volatilidade cambial.
Para a ABIEC, o caso também reforça a importância do protagonismo diplomático e da cooperação institucional, tanto para garantir o acesso a mercados como para garantir previsibilidade para os exportadores brasileiros.
Bovinos / Grãos / Máquinas
Abates de bovinos disparam e pressionam preços no mercado interno
Alta oferta limita valorização do boi gordo, apesar de exportações recordes e forte demanda internacional.





