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Doença de Glässer, como superar esse desafio?

Esta bactéria é um dos primeiros microrganismos a colonizar o trato respiratório superior dos leitões, geralmente nos primeiros dias de vida, sendo a mãe uma fonte importante de transmissão para os filhotes.

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Foto: Shutterstock

Artigo escrito por Equipe técnica Ourofino

A doença de Glässer é causada pela bactéria Glaesserella (G.) parasuis e afeta exclusivamente suínos. Esta bactéria é um dos primeiros microrganismos a colonizar o trato respiratório superior dos leitões, geralmente nos primeiros dias de vida, sendo a mãe uma fonte importante de transmissão para os filhotes.

A manifestação da doença está associada a diversos fatores, incluindo a virulência do sorovar presente na granja, manejo, mistura de lotes, protocolo vacinal e a presença de co-infecções. As perdas econômicas decorrentes da doença de Glässer incluem refugagem, mortalidade, especialmente nos casos superagudos, além dos custos com tratamentos e assistência veterinária.

A principal característica das lesões observadas na doença de Glässer é uma inflamação serofibrinosa das serosas, que aparece na forma de pleurite, peritonite, pericardite e poliatrite. Esta inflamação gera um aspecto repugnante nas carcaças, levando à depreciação e consequente perda financeira para os produtores.

Etiologia, Epidemiologia e Patogenia

A G. parasuis é uma bactéria gram-negativa, com sorovares classificados conforme a virulência e o tipo capsular. Há 15 sorovares descritos, mas uma grande parte dos casos é causada por sorovares não-tipificáveis. No Brasil, a maioria dos isolados conhecidos são de alta e média virulência, além dos não-tipificáveis. A diversidade antigênica das cepas circulantes torna o controle do patógeno desafiador, impactando negativamente na eficácia das vacinas atualmente disponíveis.

As matrizes são a principal fonte de infecção para os leitões neonatos, transmitindo a bactéria por contato direto. Ao mesmo tempo, com a colostragem e amamentação durante a fase de maternidade, a mãe transfere aos filhotes anticorpos protetivos para os sorovares com os quais ela teve contato. Isso gera um equilíbrio que ajuda a prevenir o desenvolvimento da doença nessa fase inicial, e a bactéria pode ser isolada de animais saudáveis.

Quando os leitões vão para a fase de creche, ocorre normalmente uma mistura de lotes de leitões de diferentes origens, ao mesmo tempo em que há um decaimento da imunidade colostral, fazendo com que haja uma maior circulação de diferentes sorovares entre os leitões. Essa fase é um ponto chave no desencadeamento da doença, pois alguns animais podem ter ali o seu primeiro contato com o patógeno. Como há uma baixa proteção cruzada natural entre os sorovares, a janela imunológica que ocorre após o desmame juntamente com a mistura de lotes se tornam um importante fator de risco para a doença.

A depender da virulência dos sorovares circulantes, a doença poderá cursar com índices de mortalidade mais altos do que o esperado para a fase. Entendendo esse contexto, é possível encontrar diferentes sorovares em um único animal, gerando infecções mistas complexas.

A presença de co-infecções também contribui para a infecção pela G. parasuis, especialmente em condições de imunossupressão. Em novos surtos ou em granjas mais novas, observa-se a forma superaguda da doença, caracterizada por morte súbita, enquanto em granjas onde a doença é endêmica, apenas os animais negativos para aqueles sorovares manifestam a doença.

Após a colonização do trato respiratório superior, dependendo da virulência da cepa, a doença pode seguir diferentes caminhos (Figura 01). Cepas não virulentas ou de baixa virulência são controladas pelos macrófagos pulmonares, gerando uma resposta inflamatória moderada que impede a progressão da infecção.

Por outro lado, cepas virulentas possuem mecanismos de evasão do sistema imunológico, como a depleção de linfócitos T, permitindo que a bactéria se multiplique e se dissemine pela circulação sanguínea, alcançando as serosas. Há, então, uma resposta imunológica tardia com a ativação excessiva de macrófagos, levando a uma intensa inflamação com depósito de fibrina e acúmulo de líquidos, que é a principal característica desta doença.

Figura 01. Patogenia da Doença de Glasser

Como se apresenta

A doença de Glässer apresenta-se de diversas formas. A forma clássica, de curso agudo, ocorre principalmente em leitões na fase de creche, caracterizada por febre alta, apatia, anorexia e dificuldade respiratória. As articulações podem apresentar aumento de volume devido ao acúmulo de líquido sinovial. Na necropsia, é comum encontrar grandes quantidades de fibrina nos órgãos e líquido serofibrinoso nas cavidades.

A forma septicêmica ocorre sem polisserosite, com apatia, dificuldade respiratória e distúrbios da coagulação sanguínea, podendo resultar em morte súbita. As lesões incluem focos de hemorragia, petéquias e trombos. As formas crônicas apresentam fibrose do pericárdio, pleura e peritônio, além de artrite crônica.

A forma respiratória cursa com pneumonia, podendo G. parasuis atuar como patógeno primário ou secundário a infecções imunossupressoras, como em casos de circovirose e infecção pelo vírus influenza A.

Diagnóstico

O diagnóstico da doença baseia-se no histórico da granja, sinais clínicos e achados de necropsia, sendo a confirmação laboratorial essencial. Devem ser selecionados pelo menos cinco animais por unidade produtiva para aumentar as chances de isolar todos os sorovares envolvidos.

Após a necropsia, o coração, saco pericárdico e pulmões devem ser removidos e enviados para análise, juntamente com líquido articular colhido de forma asséptica. Suabes de pleura e peritônio também são indicados para isolamento do patógeno. É recomendado enviar a cabeça inteira para avaliação e coleta de materiais de forma asséptica, uma vez que o cerebelo costuma ser afetado na fase sistêmica da doença.

O isolamento do patógeno é importante para identificar os sorovares presentes, e a técnica de PCR multiplex é recomendada pela sua alta sensibilidade e especificidade. Técnicas sorológicas são indicadas para avaliar o processo de infecção e imunização.

Controle e Prevenção

O tratamento com antimicrobianos deve ser feito com base em testes de susceptibilidade para evitar o surgimento de cepas resistentes. É importante monitorar a ingestão de água e alimentos pelos animais, especialmente os mais apáticos, para garantir a eficácia do tratamento.

Para garantir um bom desempenho na granja, é necessário assegurar uma boa colostragem, cuidado na introdução de novos animais e correção dos fatores de risco associados à doença. Aliada a estas condições, a vacinação é a melhor estratégia para superar os desafios da doença de Glässer. Uma nova vacina foi desenvolvida utilizando-se cepas nacionais, com o objetivo de oferecer proteção heteróloga comprovada contra 96% dos sorovares circulantes no Brasil. Desta forma, independente dos sorovares circulantes na granja, os animais vacinados com esta vacina estarão protegidos. Esta proteção superior reduz a preocupação de um monitoramento constante e custoso para mapear os sorovares circulantes para posteriores ajustes em caso de uso de vacina autógena. Além disto, em razão da complexidade e dificuldade de isolamento, os sorovares circulantes podem não estar presentes na vacina autógena.

Além disso, essa nova vacina é polivalente, e promove uma proteção superior quando comparada às demais vacinas do mercado, com a conveniência de uma dose única. Esta característica possibilita inúmeros benefícios para os animais, técnicos e produtores, como por exemplo: otimização da mão-de-obra para vacinação, bem-estar e redução do estresse dos leitões em razão da não aplicação de uma segunda dose, redução de espaço para armazenagem (menor número de frascos).

Em resumo, o controle da doença de Glässer depende de uma vacinação eficaz. Já está disponível no mercado uma vacina com cepas nacionais, heteróloga e de dose única, que protege contra a maioria dos sorovares e simplifica o manejo, promovendo conveniência, economia e bem-estar animal.

As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: consultoria.imuno@ourofino.com.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Equipe técnica Ourofino

Suínos

Nova edição de Suínos evidencia os impactos da PSA na suinocultura chinesa e iniciativas sustentáveis no Brasil 

A publicação também destaca o início de um estudo fundamental para o futuro da suinocultura brasileira: o Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil, liderado pela Embrapa Suínos e Aves.

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A mais recente edição de Suínos de O Presente Rural já está disponível na versão digital, trazendo à tona temas de grande relevância para o setor agropecuário global. A matéria de capa oferece uma análise detalhada sobre como a Peste Suína Africana (PSA) está transformando o cenário da suinocultura na China, o maior produtor e consumidor de carne suína do mundo. O país, responsável por mais de 50% da produção mundial de carne suína, depende fortemente da suinocultura para garantir a segurança alimentar de sua população de 1,4 bilhão de pessoas.

Embora a China esteja investindo em tecnologias de ponta e métodos de alta eficiência em algumas áreas, a reportagem expõe uma realidade contraditória, onde muitas fazendas ainda operam de maneira tradicional e, por vezes, rudimentar. Essa disparidade acentua os desafios enfrentados pelo país em um momento de choque causado pela PSA, doença que já devastou parte significativa da produção chinesa, provocando um abalo nas cadeias de abastecimento globais.

A edição também destaca o início de um estudo fundamental para o futuro da suinocultura brasileira: o Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil, liderado pela Embrapa Suínos e Aves. A iniciativa visa padronizar a mensuração da sustentabilidade no setor, oferecendo métricas adequadas à realidade nacional. A importância desse estudo reside na crescente demanda por práticas sustentáveis, tanto por parte dos consumidores quanto dos mercados internacionais, e o Brasil busca se posicionar como um exemplo global de sustentabilidade na produção de carne suína.

Além disso, a publicação traz uma série de reportagens sobre as agroindústrias de carne suína que já estão adotando práticas sustentáveis. Em Minas Gerais, por exemplo, uma fazenda conseguiu neutralizar suas emissões de gases do efeito estufa e ainda capturar carbono, um modelo que pode servir de inspiração para outras propriedades do setor.

O conteúdo desta edição também explora debates de alto nível ocorridos no Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), onde grandes indústrias da carne suína nacional compartilharam suas perspectivas e desafios. A publicação apresenta ainda uma análise do mercado de rações no Brasil, com previsão de um crescimento de 2,4% na produção em 2024 em comparação com o ano anterior.

Há ainda artigos técnicos escritos por profissionais de renome do setor falando sobre manejo, inovação, produtos, bem-estar e as novas tecnologias existentes no mercado. A publicação conta ainda com matérias que trazem novidades das principais e mais importantes empresas do agronegócio nacional e internacional.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos Editorial

Sustentabilidade invisível prejudica o agro

Sem dados concretos e específicos para o Brasil, a sustentabilidade dessas iniciativas permanece invisível aos olhos dos mercados internacionais, o setor acaba sendo avaliado por métricas globais genéricas que não refletem nossa realidade.

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Artigo escrito por Giuliano De Luca, jornalista e editor-chefe do O Presente Rural

É com grande expectativa que acompanhamos o início de um estudo fundamental para a suinocultura brasileira, que promete lançar luz sobre um dos maiores desafios enfrentados pelo setor: a mensuração real e padronizada da sustentabilidade. Liderado pela Embrapa Suínos e Aves, o “Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil” busca criar métricas adaptadas à realidade brasileira, oferecendo ao setor um caminho claro para comprovar seus esforços sustentáveis. Contudo, uma pergunta inevitável paira no ar: por que esse projeto, tão crucial, demorou tanto a sair do papel?

Há muito tempo, a suinocultura brasileira vem adotando práticas sustentáveis, seja na redução do uso de antibióticos, no manejo eficiente de água e ração, ou na utilização de biodigestores para gerar energia limpa. No entanto, sem dados concretos e específicos para o Brasil, a sustentabilidade dessas iniciativas permanece invisível aos olhos dos mercados internacionais – e, pior ainda, o setor acaba sendo avaliado por métricas globais genéricas que não refletem nossa realidade. Isso prejudica a competitividade de nossos produtos no cenário global, uma vez que, sem indicadores precisos, os avanços feitos pelos produtores brasileiros ficam no plano do discurso, o famoso “gogó”.

Esse estudo, que está apenas começando, deveria ter sido uma prioridade há anos. Não é segredo que os mercados internacionais são cada vez mais exigentes quando o assunto é sustentabilidade. E não há dúvida de que a criação de um protocolo nacional de indicadores, adaptados ao nosso contexto, será um divisor de águas. Não apenas para a suinocultura, mas para todas as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro.

O agronegócio brasileiro é diversificado e poderoso, e a suinocultura está longe de ser a única cadeia que sofre por não ter métricas precisas de sustentabilidade. Setores como a avicultura, bovinocultura, agricultura de grãos e tantos outros enfrentam os mesmos desafios. O que estamos assistindo com este projeto pioneiro pode – e deve – servir de exemplo para todas as cadeias produtivas do agro. Precisamos de indicadores próprios que nos permitam medir com precisão o impacto ambiental de nossa produção, além de mostrar ao mundo que o Brasil é, de fato, sustentável.

É o momento de deixar para trás a “sustentabilidade de gogó” e abraçar a mensuração real dos nossos progressos. Mais do que uma ferramenta de comunicação, esses dados serão um pilar estratégico para garantir nossa competitividade e, consequentemente, nossa presença em mercados internacionais cada vez mais criteriosos.

O Projeto Suinocultura Sustentável do Brasil é uma peça-chave nesse processo, mas é apenas o começo de um movimento maior. Este estudo precisa abrir caminho para que todos os setores do agronegócio adotem a mesma postura: mensurar, aprimorar e, finalmente, mostrar ao mundo que o Brasil não só fala de sustentabilidade – o Brasil a pratica.

Se quisermos continuar a ser líderes globais em produção agropecuária, precisamos garantir que nossas ações estejam respaldadas por dados concretos. O caminho da sustentabilidade passa, antes de tudo, pela transparência e pela responsabilidade. E este estudo é o primeiro passo para que todas as cadeias produtivas do Brasil sigam essa jornada essencial.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Giuliano De Luca
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Suínos

Eficiência no uso de fontes alternativas ao Óxido de Zinco

Prática comum em dietas de leitões recém desmamados, sendo considerado um importante agente antimicrobiano no controle da incidência de diarreias por E.coli.

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Por Andréia Vilas Boas, Zootecnista, mestre em Produção Animal Sustentável e Coordenadora Técnico Comercial na Vidara do Brasil

A promoção da saúde intestinal de leitões na fase pós-desmame é fundamental para um melhor aproveitamento dos nutrientes, manutenção de saúde, melhor desempenho e redução de perdas na fase de creche.

O zinco é um micronutriente essencial que influencia de maneira significativa o crescimento e produtividade de leitões, atuando como cofator para diversas enzimas, na função imune, digestão, defesa antioxidante, expressão de citocinas inflamatórias, entre diversas outras reações metabólicas.

A utilização do zinco na forma de Óxido de Zinco é uma prática comum em dietas de leitões recém desmamados, sendo considerado um importante agente antimicrobiano no controle da incidência de diarreias por E.coli.

Doses farmacológicas de Óxido de Zinco (entre 2.400 e 3.000ppm), aliadas a mecanismos multifatoriais de ação, atuam de forma benéfica no controle de diarréia por E.coli, inibindo e/ou reduzindo a atividade desta no trato gastrointestinal dos animais.

Interferências negativas

Apesar do Óxido de Zinco ser conhecido como uma importante ferramenta para controle de diarreia, seu uso em elevada concentração e tempo prolongado pode interferir negativamente no metabolismo por diferentes vias, como no acúmulo excessivo nos tecidos, redução de consumo, resistência antimicrobiana, além dos riscos significativos ao meio ambiente, com destaque para seu potencial poluidor e de acúmulo de metais pesados em solo e lâmina d’água.

Estudos recentes apontam que altos níveis de óxido de zinco nas dietas não são eficientemente regulados nos diferentes órgãos, alterando o metabolismo de minerais traço como cobre e ferro. Sua absorção é inversamente proporcional ao seu consumo, e seu excesso prejudica a absorção de cobre e o metabolismo de ferro, podendo inclusive induzir os animais à anemia e gerar perdas significativas.

Alternativas

Dessa forma, fontes alternativas comumente utilizadas na Europa, como o Óxido de Zinco Ativado, vêm sendo empregadas em diferentes regiões do Brasil, permitindo uma substituição significativa da fonte padrão por fonte ativada em doses reduzidas,  devido sua tecnologia patenteada que ativa suas moléculas, reduzindo o tamanho de partículas e aumentando significativamente sua superfície de ação, promovendo assim maior biodisponibilidade com impacto significativo na função intestinal e melhoria de desempenho zootécnico em leitões e bezerros.

No mercado brasileiro existe fonte ativada de oxido de zinco com excelente biodisponibilidade, que auxilia efetivamente no controle de diarreia pós-desmame, permitindo uma substituição segura e econômica, além de reduções significativas do potencial poluidor desse mineral.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Andréia Vilas Boas
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