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Suínos Expedição Suinocultura - episódio 4

Do campo à mesa: a engrenagem meticulosa da suinocultura entre granjas, fábricas de ração e frigoríficos

Carne suína, quando chega à mesa do brasileiro, já percorreu um longo e meticuloso caminho.

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Fotos: Reprodução/Expedição Suinocultura

A carne suína, quando chega à mesa do brasileiro, já percorreu um longo e meticuloso caminho. Diferente do frango ou do boi, ela se transforma antes de ser consumida: mais de 70% da carne suína no país é processada em produtos como presunto, calabresa, linguiças e bacon. Esse processo começa na granja, passa pelas fábricas de ração, pelos centros de genética, pelas mãos humanas e pelos robôs, até chegar ao consumidor com valor agregado, identidade e padrão.

No quarto episódio da Expedição Suinocultura: Rotas do Brasil, mostramos o elo que conecta granja e agroindústria. Uma cadeia complexa e altamente sincronizada, que exige biossegurança, sanidade, tecnologia, rastreabilidade e, acima de tudo, gente comprometida.

Industrialização: uma marca da suinocultura gaúcha

José Roberto Goulart, CEO da Alibem e presidente do SIPS, o Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS: “No Brasil, dá para dizer que 70% a 75% dos produtos consumidos são industrializados”

A cultura dos embutidos tem raízes profundas no Rio Grande do Sul. Trazida por imigrantes europeus, ela moldou hábitos e impulsionou o desenvolvimento de pequenas e grandes indústrias. “No Brasil, dá para dizer que 70% a 75% dos produtos consumidos são industrializados”, explica José Roberto Goulart, CEO da Alibem e presidente do SIPS, o Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS.

Essa lógica muda toda a operação: não se fala apenas em carne in natura, mas em transformação. “As pessoas não lembram da carne suína como lembram do frango ou da carne bovina. Pensam em presunto, bacon, calabresa”, afirma.

O gargalo da mão de obra

Por trás das toneladas de carne, há um desafio: a escassez de pessoas dispostas a trabalhar na suinocultura. “Granja, fábrica de ração e frigorífico são três negócios distintos, com exigências específicas, e falta gente em todos eles”, sintetiza o presidente do Sips.

Presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), Rogério Kerber: “Em 12 horas, qualquer notificação de suspeita sanitária é atendida. Em 48 horas, temos o resultado laboratorial”

Na granja, a dificuldade é convencer alguém a morar em local afastado, lidar com o isolamento e assumir a responsabilidade pelo bem-estar animal. “Você tem que oferecer casa, internet, escola próxima. E ainda achar alguém que goste desse tipo de trabalho”, explicou.

O frigorífico, por sua vez, enfrenta concorrência com outros setores e um ambiente muitas vezes hostil: calor, frio, esforço físico. “Estamos ficando como os Estados Unidos: dependendo de imigrantes. Hoje são haitianos, venezuelanos, argentinos… Sem eles, a indústria para”, frisa Goulart.

A resposta: automação e reorganização da cadeia

A solução está no avanço da tecnologia. “Cada setor tem buscado automatizar o máximo possível. É uma necessidade sem volta”, afirmou.

Alguns frigoríficos já consideram exportar carne menos trabalhada, enviando produtos mais inteiros para que a desossa seja feita no destino, como ocorre nos Estados Unidos com o México. “Pode ser que, no futuro, a gente perca parte do valor agregado. Mas hoje, o nosso diferencial ainda é entregar cortes bem trabalhados.”

Biosseguridade como prioridade absoluta

Se o porco não pode esperar, a sanidade tampouco admite falhas. No Rio Grande do Sul, há um sistema rigoroso de controle sanitário, com destaque para o Fundesa (Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal). “É um modelo que dá agilidade, coisa que a máquina pública não tem. Em 12 horas, qualquer notificação de suspeita sanitária é atendida. Em 48 horas, temos o resultado laboratorial”, destaca o presidente do Fundesa, Rogério Kerber.

Além disso, o estado adotou regras rígidas de segregação de veículos e manejo. “Caminhão de leitão só leva leitão. Caminhão de ração, só ração”, amplia Kerber.

Um compromisso assinado com o governo do Rio Grande do Sul prevê que, até março de 2026, todas as granjas estejam cercadas e com barreiras sanitárias. “Estamos correndo contra o tempo. Tem muita granja antiga que precisa se modernizar”, destaca o suinocultor Mauro Antonio Gobbi.

O padrão não espera: precisão é regra

Suinocultor e empresário Mauro Antonio Gobbi: “Estamos correndo contra o tempo. Tem muita granja antiga que precisa se modernizar”

Na suinocultura moderna, os padrões são inegociáveis. “O frigorífico não espera porco. Cada um tem seu limite: 105 kg em São Paulo, 125 kg em outro, 150 kg. O animal tem que estar dentro do padrão. Se errar, perde mercado”, crava o suinocultor Sadi Acadrolli.

Esse nível de precisão exige não apenas manejo adequado, mas também nutrição de altíssima qualidade. “Temos nossa própria fábrica de ração e controlamos até a variedade do milho. A qualidade do grão impacta diretamente na produtividade”, destaca o suinocultor Jean Marcelo Fontana.

Além do milho, o uso de cereais de inverno, como o triticale, tem ajudado a reduzir custos. E a estratégia de estocagem tem se mostrado crucial. “A gente tenta fazer colchão de milho para cinco a seis meses. Senão, precisa trazer do Mato Grosso, o que encarece tudo com ICMS e frete”, frisa Gobbi.

A rastreabilidade

Todo suíno enviado ao frigorífico precisa de um boletim sanitário assinado. “É nossa responsabilidade técnica. Se errar, a penalização vem. A inspeção evoluiu muito. Hoje, tudo é controlado”, cita Gobbi.

E isso começa cedo: desde a separação de leitões com sintomas, passando por vacinação preventiva, até a fabricação de rações medicadas sob autorização do Ministério da Agricultura. “Nossa taxa de mortalidade na creche está abaixo de 1%. Isso mostra que o manejo está funcionando”, amplia.

Gente que faz a diferença

Suinocultor Jean Marcelo Fontana: “Temos nossa própria fábrica de ração e controlamos até a variedade do milho. A qualidade do grão impacta diretamente na produtividade”

A suinocultura é feita por máquinas, mas depende de gente. E algumas empresas encontraram formas criativas de valorizar seus colaboradores. “Mais de 20 funcionários da nossa empresa hoje também são suinocultores parceiros. A gente abre espaço, eles vestem a camisa”, conta Acadrolli.

Além disso, benefícios como moradia, alimentação e apoio à saúde criam vínculos duradouros. “O que manda menos aqui sou eu. E obedeço feliz. Porque sei que a coisa anda”, brinca o suinocultor.

Sincronia

Suinocultor e empresário Sadi Acadrolli: “O frigorífico não espera porco. Cada um tem seu limite: 105 kg em São Paulo, 125 kg em outro, 150 kg. O animal tem que estar dentro do padrão”

A engrenagem entre granja e agroindústria é precisa, exigente e veloz. Tudo precisa estar em sincronia. E, como aprendemos nesta etapa da Expedição no Rio Grande do Sul, o sucesso da cadeia suinícola depende de uma verdade simples: o porco não espera e o mercado não perdoa. Mas quando há planejamento, tecnologia, rastreabilidade e compromisso, há também espaço para crescer. E para respirar fundo, com a certeza de que o dever de casa está sendo bem feito.

Clique aqui para assistir ao quarto episódio completo da série documental Expedição Suinocultura: Rotas do Brasil.

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Suinocultura de Santa Catarina lidera exportações e responde por 25% do PIB estadual em 2025

Estado manteve a liderança nacional na produção e nas vendas externas de carne suína, com crescimento da receita, ampliação do consumo interno e projeções positivas para 2026, apesar dos desafios de custos e infraestrutura.

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Foto: Ari Dias/AEN

A suinocultura industrial de Santa Catarina manteve, em 2025, a posição de maior produtor e exportador de carne suína do Brasil, com decisiva contribuição ao desenvolvimento econômico do Estado. Consolidou-se como segmento essencial do agronegócio catarinense, representando  cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual.

Ao fazer a avaliação do ano, o presidente do Sindicado das Indústrias da Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne), José Antônio Ribas Júnior, destacou o desempenho da cadeia produtiva barriga-verde. A liderança catarinense está expressa no fato de representar 51,2% de todo o volume exportado pelo Brasil e 51,9% da receita de exportações, tendo como principais mercados Japão, Filipinas, China, México e Chile. Para obter esses resultados, ampliou o volume da produção em 5,9% em relação a 2024. Dessa forma, a receita foi a melhor da série histórica: teve alta de 12,5%. Os custos de produção, porém, também cresceram (6,1%).

Presidente do Sindicado das Indústrias da Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne), José Antônio Ribas Júnior: “Nosso maior mérito é garantir o pleno abastecimento do mercado interno e exportar o excedente” – Foto: Divulgação

A dimensão da cadeia de suínos de Santa Catarina ganha expressão frente ao cenário nacional. A produção brasileira está estimada em até 5,550 milhões de toneladas em 2025, crescimento de 4,6% em relação ao volume registrado em 2024, que foi de 5,305 milhões de toneladas. Para 2026, espera-se nova elevação, com produção estimada em até 5,700 milhões de toneladas, incremento de 2,7% sobre o ano anterior.

Citando dados da ABPA, Ribas mostra que o Brasil acompanha a trajetória catarinense e projeta até 1,490 milhão de toneladas exportadas em 2025, volume 10% superior ao total de 1,353 milhão de toneladas embarcadas em 2024. Para 2026, o número pode chegar a 1,550 milhão de toneladas, com nova alta de 4%.

“Nosso maior mérito é garantir o pleno abastecimento do mercado interno e exportar o excedente”, assinalou o presidente do Sindicarne. A disponibilidade interna da proteína deverá crescer até 2,7% neste ano, com cerca de 4,060 milhões de toneladas projetadas para 2025. Para 2026, a expectativa de crescimento é de 2,2%, com 4,150 milhões de toneladas. O consumo per capita deve subir 2,3% em 2025 para 19 quilos. Em 2026, o consumo per capita crescerá mais 2,5%, passando a 19,5 kg/habitante/ano.

Desafios

As previsões para 2026 são moderadamente otimistas porque, na prospecção do Sindicarne, o próximo ano deverá transcorrer em meio a um cenário de custos adequados e demanda sustentada pelos produtos, tanto no mercado interno quanto internacional.

Apesar disso, o setor continuará enfrentando um ambiente de negócios hostil em razão do “custo Brasil”  na forma da elevada carga tributária, das deficiências logísticas, da burocracia e do excesso de normas que regulam a extensa cadeia produtiva da suinocultura industrial brasileira em todas as etapas do processo – produção a campo,  industrialização e comercialização.

“Um dos pontos de atenção para 2026 é a preservação do status sanitário porque estão surgindo muitos casos de peste suína africana (PSA) na Europa e isso pode representar a abertura de novos mercados para o Brasil”, observou o dirigente.

José Ribas lembrou que o Sindicarne, historicamente, reivindica a recuperação das rodovias federais com duplicação ou construção de terceiras faixas, a ampliação dos portos marítimos, a conclusão dos projetos de ferrovias para a construção e pelo menos duas vias férreas essenciais.

A situação mais crítica localiza-se no oeste catarinense, principal região produtora, que necessita da duplicação da BR-282, da recuperação da BR-163 e de toda a malha rodoviária estadual (destaque para a crítica situação da SC-283), da construção de novos sistemas de suprimento de água, de novas subestações de energia elétrica e novas redes de distribuição. Além disso, precisa de gasoduto para gás de uso industrial, da qualificação dos aeroportos, do novo centro de pesquisa da Embrapa (para área de pastagens) e das ferrovias Norte-Sul (Chapecó-Cascavel, braço da Ferroeste) e Leste-Oeste (São Miguel do Oeste-Itajaí).

Fonte: Assessoria Sindicarne
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Suínos

Demanda sazonal eleva preços dos principais cortes suínos

Com a proximidade das festas de fim de ano, maior procura por pernil e lombo impulsiona as cotações no mercado atacadista.

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Foto: Divulgação

A demanda por alguns cortes suínos tipicamente consumidos nas festas de final de ano tem se aquecido no mercado atacadista, elevando as cotações, conforme levantamentos do Cepea.

Segundo o Centro de Pesquisas, a média do pernil negociado no atacado do estado de São Paulo na parcial de dezembro (até o dia 16) está em R$ 14,11/kg, 2,3% acima da registrada em novembro.

Entre os outros cortes tradicionalmente mais demandados neste período, o lombo também vem se destacando, conforme pesquisas do Cepea.

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos

Consumo de carne suína no Brasil cresce e deve atingir 20,2 kg por habitante em 2025

Projeção da ABCS aponta alta de 35% em dez anos, sustentada por produção robusta, maior oferta ao mercado interno e mudança no comportamento do consumidor brasileiro.

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Foto: Shutterstock

O consumo de carne suína no Brasil mantém trajetória de crescimento e deve alcançar 20,2 kg por habitante em 2025, segundo projeção da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). O número representa um avanço de 35% nos últimos dez anos, consolidando a proteína como uma das que mais ganham espaço na alimentação do brasileiro.

O crescimento é sustentado por uma produção nacional robusta e cada vez mais eficiente. Para 2025, a produção brasileira é estimada em 5,64 milhões de toneladas de carcaças, volume suficiente para atender às exportações e, principalmente, à crescente demanda do mercado interno, que hoje absorve parcela cada vez maior da carne suína produzida no país.

Foto: Freepik

Mesmo com exportações em alta, a maior disponibilidade interna tem impulsionado o consumo doméstico. Fatores como preço competitivo, diversificação de cortes e ações contínuas de promoção do consumo realizadas pela ABCS ajudam a explicar essa mudança no comportamento do consumidor brasileiro.

Segundo o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, o avanço reflete o trabalho conjunto de toda a cadeia produtiva. “O crescimento do consumo acompanha uma produção estruturada, eficiente e comprometida com o mercado interno, reforçando a carne suína como proteína presente no dia a dia do brasileiro”, afirma.

Como a ABCS calcula o consumo per capita

Diante de divergências entre diferentes fontes do setor, a ABCS reforça que o consumo per capita divulgado pela entidade segue metodologia própria, transparente e baseada exclusivamente em dados oficiais.

O cálculo considera:

  • a produção anual de carne suína em carcaças (dados do IBGE),
  • menos a exportação de carne suína in natura,
  • dividida pela população brasileira (dados do IBGE).

A metodologia não inclui estoques, parte do princípio de que a carne disponível no mercado interno é consumida e desconsidera importações, consideradas estatisticamente irrelevantes. Em 2024, por exemplo, as importações representaram menos de 15 gramas por habitante ao ano.

Outro ponto importante é que a ABCS considera apenas a exportação de carne in natura, que responde por mais de 88% do total exportado, excluindo itens que não fazem parte da carcaça, como vísceras e produtos processados.

Perspectiva positiva para 2026

Embora os dados de 2025 ainda sejam projeções, o cenário indica continuidade do crescimento. Mantido o ritmo atual, a ABCS projeta que o consumo de carne suína no Brasil deve chegar a 21 kg por habitante em 2026, consolidando a proteína como uma das que mais crescem no país.

Fonte: Assessoria ABCS
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