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Distorções no manejo amplificam uso de antibióticos

Doutora em Medicina Veterinária, consultora do agronegócio e palestrante Djane Dallanora fala a O Presente Rural sobre os desafios que a suinocultura tem para reduzir o uso de antimicrobianos na suinocultura

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“Em alguns momentos dos últimos dez anos, o foco real da produção de suínos foi distorcido, onde os manejos são discutidos no sentido de facilitar o trabalho das pessoas, muitas vezes em detrimento ao que é sabidamente melhor para o suíno”, revela a doutora em Medicina Veterinária, consultora do agronegócio e palestrante Djane Dallanora. Em entrevista exclusiva para O Presente Rural, a especialista defende um novo modelo de produção para reduzir o uso de antibióticos, com maturidade nos debates e uma mudança de ótica dentro da granja.

Dallanora diz que vários atores interferem no equilíbrio entre saúde e doença e que impactam em uso maior ou menor de antimicrobianos, mas que alguns conceitos básicos precisam ser respeitados antes de debater sobre sua redução. “A discussão a respeito do uso de antimicrobianos em suínos deve considerar inicialmente quatro aspectos: antimicrobianos são prerrogativas de bem estar animal, pois curam doenças evitando o sofrimento animal; os profissionais envolvidos na assistência técnica e no processo de indicação dos antimicrobianos são peças-chave para o uso adequado destas substâncias, por isso deve ser iniciada uma discussão imediata de como o tema vem sendo tratado nas faculdades; as condições de criação impostas aos suínos (instalações, ambiência, manejos, qualidade da matéria-prima nutricional, segurança sanitária, entre outros) são determinantes para a necessidade de uso maior ou menor; quando consideramos um abate anual de mais de 40 milhões de suínos, a criação de animais livres de patógenos neste volume é uma utopia, ou seja, antimicrobianos são necessários.

Diante destas premissas, na opinião da profissional, quando o tema é tratado de forma séria, baseando-se em argumentos científicos, técnicos e em uma esfera realista (não considerando fanatismo e modismos), fica evidente que não é possível abolir completamente o uso destas substâncias no processo de criação de suínos. No entanto, ela cita espaço para melhorar. “Porém, quando avaliada a sua utilização ao longo da cadeia produtora, também é evidente que há lacunas importantes a serem trabalhadas”.

Djane lembra que os antimicrobianos são potenciais ferramentas de preservação da vida, tanto humana como animal, e que “o assunto tornou-se polêmico principalmente quando o uso veterinário passou a ser apontado como origem de casos de resistência bacteriana em humanos, muitas vezes sem bases científicas que confirmem este fato”.

A consultora diz que o Brasil já tem exemplos concretos de redução do uso de antibióticos sem predas na saúde animal e produtividade, usando apenas manejo adequado. “A discussão que o meio veterinário vem promovendo há alguns anos é a respeito do uso racional de antimicrobianos em animais. Neste sentido, há exemplos nacionais já bastante consistentes, em granjas de todos os tamanhos, onde a adequação de manejos e procedimentos permitiu minimizar o uso de forma significativa, sem prejuízos ao desempenho zootécnico”, assinala.

Na produção de suínos, explica Dallanora, os antimicrobianos podem ser utilizados de forma curativa ou preventiva, direcionados para doenças bacterianas de todos os sistemas orgânicos, principalmente geniturinário, respiratório, entérico, locomotor e nervoso. Além disso, emenda, o uso em doses baixas, como promotor de crescimento, acontece há décadas, desde que foi descoberta a melhoria de desempenho que ocorre mesmo em animais aparentemente saudáveis, principalmente em conversão alimentar e ganho de peso.

Conforme a especialista, “a necessidade de uso de antimicrobianos poderá ser reduzida em situações de alta saúde, onde as granjas sejam livres de determinados patógenos, o ambiente de criação dos suínos respeite as necessidades biológicas dos animais e a nutrição seja adequada, permitindo o devido equilíbrio entre fatores promotores de saúde e fatores promotores de doenças”.

Biossegurança

Para a profissional, medidas de biossegurança devem ser rígidas e permanentes para iniciar uma retirada de antimicrobianos da suinocultura sem perdas. “A ocorrência de doenças é causa conhecida de perda de desempenho, de condenações no frigorífico e de mortalidade, além de um indicador de bem estar animal pobre. “Por isso, reduzir o uso de antimicrobianos passa obrigatoriamente por um trabalho de redução de riscos de entrada de novas doenças nos rebanhos – biossegurança externa – e de redução da manifestação clínica das que estejam presentes no rebanho – biossegurança interna”.

A profissional explica que, em sua maioria, são medidas de baixa complexidade, “que podem ser aplicadas em todos os sistemas de produção com níveis de maior ou menor ajuste, porém, sempre possíveis e aplicáveis”. “De forma geral, a definição pelo trabalho em unidades com níveis mínimos de biossegurança depende apenas da atitude das pessoas envolvidas em todas as esferas do processo”, observa.

Dellanora comenta que entre os principais requisitos de biosseguridade interna, o estabelecimento de uma imunidade robusta de rebanho é crucial para uma menor ocorrência de doenças, com atenção especial às matrizes. “Ao mesmo tempo em que as mães são as provedoras de imunidade passiva, células de defesa e probióticos via colostro, também serão a principal fonte de agentes que colonizarão os leitões lactentes. O plantel de matrizes é um ponto de intervenção visceral do sistema de produção com baixo uso de antimicrobianos e todos os procedimentos de vacinação e mamada de colostro são tratados como prioritários nestas granjas”, destaca.

“Além dos aspectos de biossegurança interna e externa, a implantação de sistemas de produção que considerem as exigências de conforto térmico, qualidade de ar, densidade animal e redução do contato fecal-oral são importantes estratégias de promoção de saúde”, considera. Para a especialista, que fez palestra para mais de 300 profissionais do setor durante o 13º Encontro Regional da Abraves-PR, em 16 de março, em Toledo, PR, nos últimos anos o manejo voltou os olhos mais para o trabalhador do que para o suíno, causando vícios que desvirtuaram o sistema produtivo. “O desafio que o confinamento impõe aos animais deve ser compensado com condições que permitam baixo nível de estresse físico e imunológico. Muitos estudos dos últimos 30 anos dão as diretrizes a respeito da situação ideal de alojamento e manejo de suínos. Não é mais admissível que sistemas de produção novos ou reformas em granjas já existentes tenham seus projetos concebidos sem levá-las em consideração. Em alguns momentos dos últimos dez anos, o foco real da produção de suínos foi distorcido, onde os manejos são discutidos no sentido de facilitar o trabalho das pessoas, muitas vezes em detrimento ao que é sabidamente melhor para o suíno”, garante Dallanora.

Instalações

Conforme a consultora, outro viés importante é a discussão da forma como tem sido definidos os modelos de instalações e equipamentos. “É comum que se faça a opção pelo menor custo ao invés de uma avaliação adequada de retorno sobre o investimento.

Exemplos frequentes são identificados no momento de definir pela compra de equipamentos para lavagem e desinfeção das granjas, a implantação de sistemas de nebulização, a definição pelo uso de pisos ripados e os equipamentos de climatização. Todos estes estão relacionados para minimizar o aparecimento de doenças, consequentemente, possibilidade de redução da necessidade de medicamentos, porém são avaliados pelo seu custo de implantação e não pelo custo de oportunidade que carregam consigo”, pontua. “Há infindáveis exemplos de “barato que custa caro” e também de “caro que não dá resultado” em nossos sistemas de produção e precisamos aprender com isso”, emenda.

Novo Olhar

Para Dallanora, “a adequação do uso de antimicrobianos na produção de suínos é uma necessidade e passará sem dúvida por uma mudança de posicionamento de toda a cadeia produtora, porém, iniciará na sua base”. “Um modelo de pensamento preventivo deve ser cultivado. O ângulo sob o qual avaliamos a ocorrência de doenças dentro das granjas deve mudar: ao invés de procurar exclusivamente tratamentos, procuremos formas de evitar que as mesmas doenças aconteçam nos próximos lotes e se cronifiquem”, orienta.

De acordo com ela, há dezenas de ferramentas baseadas em conhecimento técnico, entre elas medidas de biossegurança, manejos sanitários de limpeza, desinfecção, vazio sanitário, protocolos de vacinação, organização da ingestão de colostro, produtos alternativos, como probióticos e acidificantes, manejo de ambiência, entre outros, que ajudam nesse processo.

Notadamente uma apaixonada pela profissão, a doutora Djane Dallanora defende uma suinocultura segura e viável, que gera resultados na produção de alimentos e na vida dos profissionais. “O caminho a ser percorrido é longo, porém só depende de atitude. A parte mais prazerosa é a sensação do dever cumprido com responsabilidade”.

Mais informações você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2017.

Fonte: O Presente Rural

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Poder de compra do suinocultor cai e relação de troca com farelo atinge pior nível do semestre

Após pico histórico em setembro, alta nos preços do farelo de soja reduz competitividade e encarece a alimentação dos plantéis em novembro.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A relação de troca de suíno vivo por farelo de soja atingiu em setembro o momento mais favorável ao suinocultor paulista em 20 anos.

No entanto, desde outubro, o derivado de soja passou a registrar pequenos aumentos nos preços, contexto que tem desfavorecido o poder de compra do suinocultor.

Assim, neste mês de novembro, a relação de troca de animal vivo por farelo já é a pior deste segundo semestre.

Cálculos do Cepea mostram que, com a venda de um quilo de suíno vivo na região de Campinas, o produtor pode adquirir, nesta parcial de novembro (até o dia 18), R$ 5,13 quilos de farelo, contra R$ 5,37 quilos em outubro e R$ 5,57 quilos em setembro.

Trata-se do menor poder de compra desde junho deste ano, quando era possível adquirir R$ 5,02 quilos.

Fonte: Assessoria Cepea
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Aurora Coop lança primeiro Relatório de Sustentabilidade e consolida compromisso com o futuro

Documento reúne práticas ambientais, sociais e de governança, reforçando o compromisso da Aurora Coop com transparência, inovação e desenvolvimento sustentável.

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Fotos: Aurora Coop

A Aurora Coop acaba de publicar o seu primeiro Relatório de Sustentabilidade, referente ao exercício de 2024, documento que inaugura uma nova etapa na trajetória da cooperativa. O lançamento reafirma o compromisso da instituição em integrar a sustentabilidade à estratégia corporativa e aos processos de gestão de um dos maiores conglomerados agroindustriais do país.

Segundo o presidente Neivor Canton, o relatório é fruto de um trabalho que alia governança, responsabilidade social e visão de futuro. “A sustentabilidade, para nós, não é apenas um conceito, mas uma prática incorporada em todas as nossas cadeias produtivas. Este relatório demonstra a maturidade da Aurora Coop e nossa disposição em ampliar a transparência com a sociedade”, destacou.

Em 2024, a Aurora Coop registrou receita operacional bruta de R$ 24,9 bilhões, crescimento de 14,2% em relação ao ano anterior. Presente em mais de 80 países distribuídos em 13 regiões comerciais, incluindo África, América do Norte, Ásia e Europa, a cooperativa consolidou a posição de destaque internacional ao responder por 21,6% das exportações brasileiras de carne suína e 8,4% das exportações de carne de frango.

Vice-presidente da Aurora Coop Marcos Antonio Zordan e o presidente Neivor Canton

De acordo com o vice-presidente de agronegócios, Marcos Antonio Zordan, os números atestam a força do cooperativismo e a capacidade de geração de riqueza regional. “O modelo cooperativista mostra sua eficiência ao unir produção, competitividade e compromisso social. Esses resultados são compartilhados entre os cooperados e as comunidades, e reforçam a relevância do setor no desenvolvimento do país”, afirmou.

A jornada de sustentabilidade da Aurora Coop foi desenhada em consonância com padrões internacionais e com base na escuta ativa dos públicos estratégicos. Entre os temas prioritários figuram: uso racional da água, gestão de efluentes, transição energética, práticas empregatícias, saúde e bem-estar animal, segurança do consumidor e desenvolvimento local. “O documento reflete uma organização que reconhece a responsabilidade de atuar em cadeias longas e complexas, como a avicultura, a suinocultura e a produção de lácteos”, sublinha Canton.

Impacto social e ambiental

Em 2024, a cooperativa gerou 2.510 novos empregos, alcançando o marco de 46,8 mil colaboradores, dos quais 31% em cargos de liderança são ocupados por mulheres. Foram distribuídos R$ 3,3 bilhões em salários e benefícios, além de R$ 580 milhões em investimentos sociais e de infraestrutura, com destaque para a ampliação de unidades industriais e melhorias estruturais que fortaleceram as economias locais.

A Fundação Aury Luiz Bodanese (FALB), braço social da Aurora Coop, realizou mais de 930 ações em oito estados, beneficiando diretamente mais de 54 mil pessoas. Em resposta à emergência climática no Rio Grande do Sul, a instituição doou 100 toneladas de alimentos, antecipou o 13º salário dos colaboradores da região, disponibilizou logística para doações, distribuiu EPIs a voluntários e destinou recursos à aquisição de medicamentos.

O relatório evidencia práticas voltadas ao uso eficiente de recursos naturais e à gestão de resíduos com foco na circularidade. Em 2024, a cooperativa intensificou a autogeração de energia a partir de fontes renováveis e devolveu ao meio ambiente mais de 90% da água utilizada, devidamente tratada.

Outras iniciativas incluem reflorestamento próprio, rotas logísticas otimizadas e embalagens sustentáveis: 79% dos materiais vieram de fontes renováveis, 60% do papelão utilizado eram reciclados e 86% dos resíduos foram reaproveitados, especialmente por meio de compostagem, biodigestão e reciclagem. Em parceria com o Instituto Recicleiros, a Aurora Coop atuou na Logística Reversa de Embalagens em nível nacional. “O cuidado ambiental é parte de nossa responsabilidade como produtores de alimentos e como cidadãos cooperativistas”, enfatiza Zordan.

O bem-estar animal e a segurança do consumidor estão no cerne da atuação da cooperativa. Práticas rigorosas asseguram o respeito aos animais e a inocuidade dos alimentos, garantindo a confiança dos mercados internos e externos.

Futuro sustentável

Para Neivor Canton, a publicação do primeiro relatório é um marco institucional que projeta a Aurora Coop para novos patamares de governança. “Este documento não é um ponto de chegada, mas de partida. Ao comunicar com transparência nossas ações e resultados, reforçamos nossa identidade cooperativista e reiteramos o compromisso de gerar prosperidade compartilhada e preservar os recursos para as futuras gerações.”

Já Marcos Antonio Zordan ressalta que a iniciativa insere a Aurora Coop no rol das empresas globais que aliam competitividade e responsabilidade. “A sustentabilidade é o caminho para garantir longevidade empresarial, fortalecer o vínculo com a sociedade e assegurar alimentos produzidos de forma ética e responsável.”

O Relatório de Sustentabilidade 2024 da Aurora Coop confirma o papel de liderança da cooperativa como referência nacional e internacional na integração entre desempenho econômico, responsabilidade social e cuidado ambiental. Trata-se de uma publicação que fortalece a identidade cooperativista e projeta a instituição como protagonista na construção de um futuro sustentável.

Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.

Fonte: O Presente Rural
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Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura

Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

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Foto: Divulgação/Swine Day

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.

O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.

As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.

Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.

Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.

Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.

Fonte: O Presente Rural
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