Suínos
Diretora da ABCS expõe riscos reais para introdução de PSA e expansão da PSC no Brasil
Charli Lutke falou sobre a situação durante o 1º Dia do Suinocultor O Presente Rural/Frimesa.

A iminente ameaça representada pela Peste Suína Africana (PSA) e pela Peste Suína Clássica (PSC) para a cadeia produtiva de carne suína é sem dúvida a principal preocupação dos órgãos de fiscalização, controle e de entidades ligadas ao setor suinícola. Ambas são doenças virais altamente contagiosas, que acometem suínos domésticos e asselvajados e podem causar grandes perdas econômicas quando atingem produções em escala comercial.
As patologias não representam risco a saúde humana, mesmo assim, há um grande esforço para evitar a disseminação dessas doenças em território nacional, pois isso significaria o fechamento de mercados internacionais para a carne suína brasileira e uma catástrofe para o setor.

Diretora técnica da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Charli Ludtke: “Estamos unindo esforços para vacinar nessas regiões porque seria um impacto muito grande para a suinocultura brasileira a introdução dessa doença na zona livre”
Em virtude da importância e da necessidade de se evitar a proliferação dessas patologias na produção brasileira, o tema “Peste Suína Clássica e Africana e os desafios quanto ao uso dos antimicrobianos” foi exposto pela diretora técnica da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Charli Ludtke, no 1º Dia do Suinocultor, evento promovido pelo Jornal O Presente Rural e parceria com a Frimesa Cooperativa Central, ocorrido em julho em Marechal Cândido Rondon, PR.
Do ponto de vista clínico, as duas doenças são semelhantes, portanto, é necessário realizar diagnóstico laboratorial diferencial. O Brasil tem um programa nacional para controle da PSC e atualmente grande parte do território é reconhecido internacionalmente como livre de PSC. A PSA já ocorreu no Brasil no final da década de 1970, foi erradicada com o uso de vacinas e atualmente a doença é considerada exótica no país.
PSC
Os sinais clínicos da PSC podem se apresentar de forma hiperaguda e aguda. Na forma aguda o animal apresenta quadro de hemorragias generalizadas caracterizada por alta morbidade e elevada mortalidade.
É comum a ocorrência de febre em todas as faixas etárias. Ocorre também amontoamento, anorexia, apatia, fraqueza, conjuntivite, alterações nervosas, constipação seguida de diarreia e andar cambaleante. Vários dias após o início dos sinais clínicos, as orelhas, abdômen e membros internos podem estar roxos. Os animais com a doença aguda morrem em 1-2 semanas. Os casos graves da doença são muito semelhantes aos da Peste Suína Africana e causam ainda sérios danos aos órgãos internos do animais.
Hiperaguda
Nessa fase a evolução é rápida, em 2 a 3 dias ocorrem mortes súbitas em animais que se apresentavam aparentemente sadios, muitas vezes sem diagnóstico. Ocasionalmente, ao exame clínico, poderão ser observadas hipertermia (41-42º C), prostração, taquipneia, amontoamento, anorexia e conjuntivite.
Zona livre
O Brasil possui 16 Estados considerado livres de PSC pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), e cerca de 95% da produção industrial de suínos concentra-se nessas regiões.
Durante a palestra, Ludtke ressaltou o trabalho de biosseguridade desenvolvido nas regiões Sul e Sudeste para se tornar livre de PSC e o risco da patologia ser trazida das regiões norte e nordeste onde há registro de PSC. Segundo ela, nessas áreas fora da zona livre, muitas vezes não há nenhum procedimento de biosseguridade. “O risco de chegar um caminhão contaminado que não foi devidamente desinfetado é real”, alerta Charli.
Atualmente, 11 Estados brasileiros não integram a Zona Livre de PSC, o que corresponde a 50% do território 18% do rebanho brasileiro. Essas regiões possuem quase 310 mil propriedades rurais e um rebanho de 5,6 milhões de suínos.
Em sua palestra, Ludtke destacou o trabalho de vacinação realizado em Alagoas, pela ABCS, ABPA, órgão públicos e iniciativa privadas, para erradicar a doença do Estado. “Estamos unindo esforços para vacinar nessas regiões porque seria um impacto muito grande para a suinocultura brasileira a introdução dessa doença na zona livre”, pontua.
Alagoas possui 4.379 imóveis rurais e um plantel de 72.845 animais.
Segundo Charli, na maioria dessas propriedades é praticada a suinocultura de subsistência, os suínos são criados soltos ou aos arredores da residência e de maneira precária. “Contratamos vacinadores que aplicaram 400 mil doses gratuitas para incentivar esses produtores a continuar vacinando”, explica.
Importância econômica
Em sua explanação, Charli apresentou uma estimativa de agosto de 2019 realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a qual analisa o risco da PSC na área livre da doença.
De acordo com Charli, na hipótese de surgir um caso de PSC nos principais Estados produtores de suínos (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), e o consequente fechamento do mercado de exportação, o impacto pode chagar a R$ 5 bilhões. “A separação de zona livre e não livre é muito complexa. O que precisamos fazer é trabalhar políticas públicas para tornar todo o território nacional livre da doença”, afirma.
A imunização por meio da vacina é, segundo Charli, a maneira mais eficaz de tornar todos Estados brasileiros libres da PSC. “Dessa forma nos quebraríamos o ciclo da doença, como fizemos aqui no Sul e Sudeste e Centro-Oeste”, afirma Ludtke.
É obrigatória a notificação da patologia junto aos órgão competentes caso haja suspeita em função de sintomas como hematomas ou hemorragias pelo corpo.
Charli ressalta a obrigatoriedade dos suinocultores em acionar a agência de defesa agropecuária de seu Estado. “A notificação é importante porque aquela situação pode ser o foco inicial da doença”, salienta.
PSA
Surgida na África, como o próprio nome sugere, a Peste Suína Africana (PSA), é uma doença endêmica em muitos países africanos. O vírus se estabeleceu há muito tempo em um ciclo silvestre no leste e no sul da África, envolvendo transmissão entre os suídeos selvagens africanos e uma espécie de carrapato.
A PSA está presente atualmente em cinco continentes e o Brasil é considerado país livre da doença pela OIE. Ainda não há tratamento ou vacina com eficácia comprovada disponível, e a prevenção é a melhor forma de controlar a expansão do vírus e evitar novos casos.
Transmissão
O ciclo, sintomas e transmissão da PSC e da PSA ocorre de maneira semelhante. O contágio acontece por meio do contato entre os animais e pela eliminação do patógeno para ambiente através do sangue, urina, fezes, saliva, lágrima e sêmen.
Segundo Charli, a disseminação também pode acontecer de forma indireta, através de vetores, roupas, calçados, pneus de caminhões e outros equipamentos. “O transporte é um ponto muito crítico em termos de risco de disseminação da PSC”, aponta.
Conforme Charli, uma das diferenças entre as duas doenças é que o vírus da PSC não se mantém no ambiente. “Tanto a PSC quanto a PSA são muito importantes para a suinocultura brasileira e precisamos ficar atentos para mantê-las controladas”, finaliza.
A principal via de transmissão da PSA é pelo contato direto entre suínos infectados e suscetíveis (domésticos ou asselvajados) ou através da ingestão de produtos de origem suína contaminados com o vírus, via pela qual o vírus se dissemina por longas distâncias.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes.

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



