Avicultura
Dietas pré-iniciais com plasma ajudam na retirada de promotores
Essa retirada também está sendo realizada voluntariamente por empresas avícolas integradoras
Artigo escrito por Luís Rangel, Joy Campbell, Joe Crenshaw, Carmen Rodríguez e Javier Polo – APC Europa, APC Inc., APC, Inc – Brasil
Tradicionalmente, os antibióticos (ATB) vêm sendo utilizados na alimentação de frangos de corte como promotores de crescimento (promotores) para reduzir os efeitos nocivos de bactérias entéricas patogênicas. Mesmo assim, os promotores foram proibidos na União Europeia em 2006 devido à preocupação de que seu fornecimento na alimentação animal pudesse contribuir para o desenvolvimento de resistência microbiana a ATB utilizados tanto em animais como na medicina humana. Cada vez mais países ao redor do mundo estão revisando suas legislações com respeito aos promotores e, dessa forma, o Brasil e outros países latino-americanos proibiram ou restringiram diversas moléculas ou associações nos últimos tempos. Espera-se que nos próximos anos outros países desenvolvam iniciativas nesse sentido. Além disso, os maiores varejistas estão impondo atualmente graus variáveis de redução de utilização de promotores. Essa retirada também está sendo realizada voluntariamente por empresas avícolas integradoras.
O papel dos promotores de crescimento somente ficou claro quando estes foram retirados das dietas de frangos de corte na Europa. Foi percebido então que sua principal ação era o controle de desafios bacterianos subclínicos no trato digestório. Um aumento significativo na incidência de enterite necrótica (EN) na Europa e em outras áreas ocorreu após a remoção dos antibióticos promotores de crescimento e anticoccidianos ionóforos. Portanto, as alternativas à utilização de promotores são cada vez mais necessárias para a nutrição animal.
A fisiologia dos pintinhos recém-eclodidos
A eclosão do pintinho e a transição de uma dieta composta por albumina e gema para uma dieta constituída basicamente por milho, soja, minerais e vitaminas, caracteriza-se por ser um período estressante para as aves. O pintinho de corte nos primeiros 7 a 10 dias de vida não tem um complexo de enzimas digestivas “maduro” e, por isso, a digestão dos alimentos é limitada na primeira semana de vida. Essa situação é ainda mais complicada pela mudança no substrato nutricional, passando da gema e do albúmen do ovo, para carboidratos complexos, proteínas e lipídios das dietas iniciais convencionais do frango de corte. Ainda que os pintos cresçam rapidamente nos primeiros dias de vida, muitas vezes alcançando mais de 180 g aos 7 dias de idade, o crescimento e desenvolvimento iniciais podem ser intensificados pelo uso de dietas pré-iniciais especializadas e com uma seleção criteriosa dos ingredientes. Essas dietas podem ajudar a dar suporte à saúde intestinal. Também podem proporcionar um pré-condicionamento ao pintinho, de tal forma que possa digerir substratos complexos mais facilmente e assim proporcionar substratos mais digestíveis até que a produção de enzimas da ave tenha “amadurecido”.
Dietas pré-iniciais especiais
A seleção de ingredientes altamente digestíveis (proteínas de origem animal), isentos de toxinas, é importante para o rápido desenvolvimento inicial do intestino. Ainda que as dietas à base de milho e farelo de soja sejam a referência padrão para os frangos de corte, há evidências de que sua digestibilidade fica abaixo do ótimo no pintinho jovem. Há uma redução de até 10% na EMAn e na digestão de aminoácidos nos pintos com menos do que 7-10 dias de idade em comparação com a expectativa dos manuais de nutrição. No período crítico, de 2 a 5 dias de idade, a digestão pode de fato ser 15% menor do que o esperado. Estes nutrientes não digeridos podem potencialmente alimentar o crescimento microbiano excessivo indesejável.
Na formulação de dietas pré-iniciais especializadas, a ideia é corrigir qualquer deficiência na digestão, limitar o suprimento de nutrientes, particularmente proteína/aminoácidos que escapam da digestão/absorção, e assim aumentar a taxa de crescimento inicial e/ou melhorar a uniformidade deste crescimento inicial. Uma abordagem alternativa é usar ingredientes mais digestíveis, com pouca alteração no nível de nutrientes. Ingredientes como o plasma sanguíneo spray dried (sigla do inglês SDP) são usados nestas formulações. A característica mais crítica das dietas pré-iniciais especializadas é substituir proteínas vegetais menos digestíveis por proteínas animais mais digestíveis. O SDP é rotineiramente utilizado em dietas para leitões desmamados precocemente e pode ser uma alternativa interessante ao farelo de soja nos primeiros dias de vida do frango de corte.
Plasma Spray Dried como Ferramenta Alternativa
Numerosos trabalhos científicos demonstraram os benefícios do uso do SDP como alternativa aos promotores na alimentação de leitões. Nesses trabalhos foi demonstrado que a inclusão de plasma resulta em melhoras no peso vivo, no ganho de peso diário, no consumo médio diário, na conversão, no epitélio intestinal e também redução de citosinas pró-inflamatórias em comparação com os grupos sem promotores e em geral não observou-se diferenças nos parâmetros produtivos quando comparou-se os grupos com plasma com os grupos tratados com promotores. Por outro lado, quando o SDP é associado aos promotores ocorre um efeito aditivo.
Como em leitões desmamados, trabalhos recentes demonstraram que a nutrição fornecida pela adição do SDP em dietas pré-iniciais de frangos melhora o ganho de peso, o consumo de alimento e a conversão, assim como contribui para que os produtores de frangos maximizem o potencial genético inicial de seus rebanhos.
Modo de Ação
Ainda não são conhecidos integralmente os mecanismos através dos quais os animais alimentados com SDP têm seu bem-estar melhorado, mas os estudos realizados sugerem que os anticorpos de origem natural presentes no SDP poderiam prover proteção local no intestino contra patógenos típicos de granjas. Além disso, trabalhos indicam que a inclusão SDP nas dietas auxiliam na manutenção da função de barreira intestinal durante uma inflamação intestinal induzida através da administração intraperitoneal de uma toxina bacteriana. Autores concluíram que o efeito preventivo do SDP na inflamação intestinal se deu devido a modulação da ativação do sistema imune. Posteriormente, outros trabalhos demonstraram que a inclusão do SDP na dieta também produziu uma modulação similar nos pulmões, quando induziu-se uma inflamação pulmonar aguda através de inalação de lipopolissacarídeos bacterianos. Estes resultados, de forma conjunta, sugerem que a inclusão do SDP na dieta tem um efeito sistêmico e não somente na mucosa intestinal.
Outros trabalhos também sugerem que as dietas suplementadas com SDP são provavelmente uma das melhores alternativas para prevenir transtornos intestinais que ocorrem após a desmama e que o SDP pode ser utilizado de forma segura como alternativa aos promotores sem risco de ocorrer algum tipo de desenvolvimento de bactérias resistentes a ATB. No Brasil, recentemente plasma suíno spray dried foi adicionado a dietas para suínos criados sem antibióticos promotores de crescimento.
Menos desafios entéricos e respiratórios
Benefícios mais dramáticos com o uso de SDP em dietas de frangos de corte foram observados quando as aves eram infectadas natural ou artificialmente com diversos patógenos. Autores avaliaram o PSD funcional em frangos de corte que tiveram a ocorrência natural de enterite necrótica grave. As aves foram alimentadas de forma contínua com 1% de SDP de 1-14 dias, 0,5% de 15-28 dias e 0,25% de 29-35dias, ou de forma não contínua, com apenas 1% de SDP na dieta inicial de 1-14 dias. A administração de SDP teve um efeito dramático sobre a mortalidade causada pela enterite necrótica. É interessante observar que as aves no grupo de administração não contínua estavam protegidas depois de 14 dias, ainda que tivessem consumido dieta de crescimento não suplementada neste período.
O SDP teve um impacto não só sobre a viabilidade, uma vez que as aves consumiram significativamente mais ração. O efeito do SDP pode ter ocorrido por contribuir para uma melhor estrutura na vilosidade intestinal, juntamente com a capacidade do SDP de combater patógenos, como descrito anteriormente.
A ação das proteínas plasmáticas, além dos desafios entéricos, foi observada por Campbell et. al, (2004b). No referido estudo, perus com 5 semanas de idade foram desafiados com 3,0 x 108 UFC de pasteurella multocida tipo III através de suabe nas tonsilas. Duas semanas (14 dias) após o desafio, a administração de soro sanguíneo solúvel em água (SDP sem fibrinogênio) resultou em redução da mortalidade associada ao desafio respiratório. A sobrevivência do grupo controle foi de 65%, enquanto a sobrevivência do grupo consumindo soro sanguíneo solúvel, na diluição de 1,3% em água, foi de 95%.
Avaliação em Frangos de Corte
Um sumário de 13 trabalhos conduzidos ao redor do mundo em várias instalações de pesquisa, incluindo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Universidade Federal de Viçosa, a Universidade Federal de Uberlândia e a Universidade Federal da Paraíba, demonstraram que a inclusão do SDP em dietas de frangos melhorou o peso final (média de 75 g) e melhorou a conversão alimentar (em 5 pontos) quando comparado com as dietas controle.
Experimentos em condições comerciais conduzidos recentemente corroboram com os resultados de trabalhos científicos demonstrando os efeitos benéficos do SDP em dietas pré-iniciais.
Um experimento de campo conduzido em granja com manejo regular para os padrões do Norte da Europa demonstrou melhora no peso final de 60 g e melhora na conversão de mais de 7 pontos. Ocorreu melhora de produtividade de 1,7 kg/ m2, o que representou uma melhor lucratividade de 7 centavos de euro por ave. Outra avaliação em uma granja comercial nos Estados Unidos observou melhoras no peso final de 64 g e uma melhor conversão alimentar (3 pontos) a favor dos programas pré-iniciais contendo SDP. Na Ásia, um experimento de campo foi conduzido com frangos de corte, no qual as aves foram alimentadas com 1% de SDP durante 1 a 9 dias de idade. O peso final médio aos 35 dias foi de 1.933 g para as aves alimentadas com SDP versus 1.878 g para os aviários com dietas controle, a melhora a favor do SDP foi de 55 g no peso final para as aves com SDP na pré-inicial.
No Brasil, diversos estudos foram desenvolvidos em granjas comerciais e instituições de pesquisa. Na maioria dos estudos foram observados benefícios favoráveis, comparáveis aos resultados apresentados nas Tabelas 1 e 2, com respeito a desempenho e lucratividade para as aves alimentadas com o SDP. Além disso, nesses experimentos de campo, é comum observarmos melhoras significativas na viabilidade, o que valoriza ainda mais o uso dessa tecnologia.
Conclusão
Em sistemas de produção avícola que optem por atuar com restrições ao uso de promotores e suas associações é muito interessante considerar a adoção de dietas pré-iniciais altamente digestíveis. Também podemos indicar a utilização do SDP como ingrediente para essas dietas, uma vez que os resultados de estudos em condições experimentais e comercias demonstram que a nutrição fornecida através da inclusão do SDP promove melhoras no peso final, na conversão e na viabilidade de frangos de corte, tanto em sistemas tradicionais de produção quanto em sistemas de produção com restrição de uso de promotores.
As referências estão disponíveis com os autores. Contato com Luís Rangel – luis.rangel@functionalproteins.com
Mais informações você encontra na edição de Aves de junho/julho de 2016 ou online.
Fonte: O Presente Rural

Avicultura
Brasil abre mercado em Moçambique para exportação de material genético avícola
Acordo sanitário autoriza envio de ovos férteis e pintos de um dia, fortalece a presença do agronegócio brasileiro na África e amplia para 521 as oportunidades comerciais desde 2023.

O governo brasileiro concluiu negociação sanitária com Moçambique, que resultou na autorização de exportações brasileiras de material genético avícola (ovos férteis e pintos de um dia) àquele país.
Além de contribuir para a melhoria de qualidade do plantel moçambicano, esta abertura de mercado promove a diversificação das parcerias do Brasil e a expansão do agronegócio brasileiro na África, ao oferecer oportunidades futuras para os produtores nacionais, em vista do grande potencial do continente africano em termos de crescimento econômico e demográfico.
Com cerca de 33 milhões de habitantes, Moçambique importou mais de US$ 24 milhões em produtos agropecuários do Brasil entre janeiro e novembro de 2025, com destaque para proteína animal.
Com este anúncio, o agronegócio brasileiro alcança 521 novas oportunidades de comércio, em 81 destinos, desde o início de 2023.
Tais resultados são fruto do trabalho conjunto entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Avicultura
Indústria avícola amplia presença na diretoria da Associação Brasileira de Reciclagem
Nova composição da ABRA reforça a integração entre cadeias produtivas e destaca o papel estratégico da reciclagem animal na sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

A Associação Brasileira de Reciclagem (ABRA) definiu, na última sexta-feira (12), a nova composição de seu Conselho Diretivo e Fiscal, com mandato até 2028. A assembleia geral marcou a renovação parcial da liderança da entidade e sinalizou uma maior aproximação entre a indústria de reciclagem animal e setores estratégicos do agronegócio, como a avicultura.
Entre os nomes eleitos para as vice-presidências está Hugo Bongiorno, cuja chegada à diretoria amplia a participação do segmento avícola nas decisões da associação. O movimento ocorre em um momento em que a reciclagem animal ganha relevância dentro das discussões sobre economia circular, destinação adequada de subprodutos e redução de impactos ambientais ao longo das cadeias produtivas.
Dados do Anuário da ABRA de 2024 mostram a dimensão econômica do setor. O Brasil ocupa atualmente a terceira posição entre os maiores exportadores mundiais de gorduras de animais terrestres e a quarta colocação no ranking de exportações de farinhas de origem animal. Os números reforçam a importância da atividade não apenas do ponto de vista ambiental, mas também como geradora de valor, renda e divisas para o país.
A presença de representantes de diferentes cadeias produtivas na diretoria da entidade reflete a complexidade do setor e a necessidade de articulação entre indústrias de proteína animal, recicladores e órgãos reguladores. “Como único representante da avicultura brasileira e paranaense na diretoria, a proposta é levar para a ABRA a força do nosso setor. Por isso, fico feliz por contribuir para este trabalho”, afirmou Bongiorno, que atua como diretor da Unifrango e da Avenorte Guibon Foods.
A nova gestão será liderada por Pedro Daniel Bittar, reconduzido à presidência da ABRA. Também integram o Conselho Diretivo os vice-presidentes José Carlos Silva de Carvalho Júnior, Dimas Ribeiro Martins Júnior, Murilo Santana, Fabio Garcia Spironelli e Hugo Bongiorno. Já o Conselho Fiscal será composto por Rodrigo Hermes de Araújo, Wagner Fernandes Coura e Alisson Barros Navarro, com Vicenzo Fuga, Rodrigo Francisco e Roger Matias Pires como suplentes.
Com a nova configuração, a ABRA busca fortalecer o diálogo institucional, aprimorar práticas de reciclagem animal e ampliar a contribuição do setor para uma agropecuária mais eficiente e ambientalmente responsável.
Avicultura
Avicultura supera ano crítico e pode entrar em 2026 com bases sólidas para crescer
Após enfrentar pressões sanitárias, custos elevados e restrições comerciais em 2025, o setor mostra resiliência, retoma exportações e reforça a confiança do mercado global.

O ano de 2025 entra para a história recente da avicultura brasileira como um dos anos mais desafiadores. O setor enfrentou pressão sanitária global, instabilidade geopolítica, custos de produção elevados e restrições comerciais temporárias em mercados-chave. Mesmo assim, a cadeia mostrou capacidade de adaptação, coordenação institucional e resiliência produtiva.
A ação conjunta do Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e de entidades estaduais foi decisiva para conter danos e recuperar a confiança externa. Missões técnicas, diplomacia sanitária ativa e transparência nos controles sustentaram a reabertura gradual de importantes destinos ao longo do segundo semestre, reposicionando o Brasil como fornecedor confiável de proteína animal.
Os sinais de retomada já aparecem nos números do comércio exterior. Dados preliminares indicam que as exportações de carne de frango em dezembro devem superar 500 mil toneladas, o que levará o acumulado do ano a mais de 5 milhões de toneladas. Esse avanço ocorre em paralelo a uma gestão mais cautelosa da oferta: o alojamento de 559 milhões de pintos em novembro ficou abaixo das projeções iniciais, próximas de 600 milhões. O ajuste ajudou a equilibrar oferta e demanda e a dar previsibilidade ao mercado.
Para 2026, o cenário é positivo. A agenda econômica global tende a impulsionar o consumo de proteínas, com a retomada de mercados emergentes e regiões em recuperação. Nesse contexto, o Brasil – e, em especial, o Paraná, líder nacional – está bem-posicionado para atender ao mercado interno e aos principais compradores internacionais.
Investimentos contínuos para promover o bem-estar animal, biosseguridade e sustentabilidade reforçam essa perspectiva. A modernização de sistemas produtivos, o fortalecimento de protocolos sanitários e a adoção de práticas alinhadas às exigências ESG elevam o padrão da produção e ampliam a competitividade. Mais do que reagir, a avicultura brasileira se prepara para liderar, oferecendo proteína de alta qualidade, segura e produzida de forma responsável.
Depois de um ano de provas e aprendizados, o setor está ainda mais robusto e inicia 2026 com fundamentos sólidos, confiança renovada e expectativa de crescimento sustentável, reafirmando seu papel estratégico na segurança alimentar global.
