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Desafios sanitários na era da hiperprolificidade: o novo paradigma da suinocultura brasileira

Ao mesmo tempo em que o maior número de leitões nascidos elevou o patamar de produtividades das granjas produtoras de leitões, houve um incremento paralelo de leitões de baixo peso ao nascimento e de menor viabilidade.

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Nas últimas décadas, a suinocultura testemunhou uma grande evolução no tamanho das leitegadas por matriz suína, impulsionada pela seleção genética. Com médias ultrapassando 15 leitões nascidos vivos, a hiperprolificidade trouxe consigo uma realidade que redefine os padrões da indústria. Entretanto, por trás desse avanço, surge uma série de desafios como uma maior heterogeneidade da leitegada, menor viabilidade de leitões, capacidade de amamentação da matriz suína, produção de colostro e, consequentemente, transferência de uma boa imunidade passiva a sua progênie.

Da mesma forma, a hiperprolificidade impacta diretamente nas fases subsequentes de produção, em razão da presença de uma população de leitões com maior coeficiente de variação ao desmame e a formação de subpopulações imunologicamente distintas. Por isso entender dos desafios sanitários oriundos da hiperprolificidade passa a ser um obstáculo da produção moderna de leitões.

Nesse contexto, Paulo Eduardo Bennemann, médico-veterinário com mestrado e doutorado em Ciências Veterinárias em Fisiopatologia da Reprodução em Suínos, traz ao 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui) sua expertise para tratar sobre os novos desafios sanitários associados com a hiperprolificidade. O evento acontece de 23 a 25 de julho, no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-Rio Grande do Sul), em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Saúde reprodutiva das matrizes

Bennemann afirma que o entendimento sobre os impactos da hiperprolificidade vai além do âmbito reprodutivo, uma vez que a hiperprolificidade acarreta não apenas desafios na reprodução, mas também problemas sistêmicos nas matrizes suínas. “A sobrecarga metabólica durante a lactação, devido ao aumento no número de leitões, resulta em um maior catabolismo nas matrizes, levando a uma significativa perda de peso corporal” expõe o especialista.

Muitas informações foram geradas a respeito da importância do manejo e da quantidade de colostro ingerido pelo leitão neonato, no entanto, Bennemann diz que pouco tem sido explorado a respeito da qualidade do colostro ingerido. “Sendo assim, há possibilidade de que fêmeas hiperprolíficas apresentem maior heterogeneidade em relação a transferência de imunidade passiva a seus leitões, ocasionando subpopulações de leitões susceptíveis a doenças ao desmame” menciona.

Um estudo recente, avaliando a qualidade do colostro de matrizes suínas, revelou que 40,37% das matrizes não apresentavam concentração suficiente de imunoglobulinas para conferir uma imunidade passiva adequada aos leitões, levando a maior desafio sanitário na fase subsequente.

Ao mesmo tempo em que o maior número de leitões nascidos elevou o patamar de produtividades das granjas produtoras de leitões, houve um incremento paralelo de leitões de baixo peso ao nascimento e de menor viabilidade. “Tal fato trouxe um impacto direto na capacidade de ingestão de colostro, apresentando um coeficiente de variação entre 15% e 110% dentro da mesma leitegada e de 30% entre diferentes leitegadas, o que naturalmente compromete o desenvolvimento de uma imunidade eficaz. Além disso, esses fatores estão relacionados à intensificação da competição entre os leitões pelos tetos, resultando em atrasos na ingestão de colostro” explica Bennemann.

Uniformização de leitegadas

Segundo o especialista, medidas de manejo como a uniformização de leitegadas foi uma alternativa encontrada para suprir a demanda por tetos viáveis, uma vez que um maior número de leitões surgiu com a hiperprolificidade. No entanto, ao mesmo tempo em que o manejo de uniformização é uma ferramenta que auxilia na redução da variação de peso dos leitões e reduz a mortalidade pré-desmame, existe a possibilidade de uma maior incidência de desafios sanitários decorrentes do estresse social entre os leitões.

Um artigo recente cita que a prática de uniformização foi relacionada à maior utilização de antimicrobianos, maior prevalência de artrite e diarreia, fatores que podem estar atribuídos a maior transmissão de determinados agentes patogênicos devido a movimentação de leitões.

Consequências sanitárias da hiperprolificidade

Médico-veterinário, doutor em Ciências Veterinárias em Fisiopatologia da Reprodução em Suínos, Paulo Eduardo Bennemann: “Somente através da oferta de colostro de qualidade e de um bom manejo inicial do leitão neonato é que vamos poder realmente aproveitar os benefícios proporcionados pela hiperprolificidade” –  Foto: Arquivo pessoal

De acordo com o especialista, a hiperprolificidade acarreta como principal consequência um aumento significativo no desgaste da matriz, resultando em uma maior demanda metabólica. Isso, por sua vez, requer um manejo mais adequado da matriz de acordo com suas necessidades. “Hoje damos total atenção a categoria de leitoas no que tange ao atendimento às necessidades e deixamos em segundo plano as matrizes. Isso pode explicar, em parte, o porquê um grande número das fêmeas de segundo parto (40,52%) e das multíparas (37,88%) apresentaram baixa qualidade do colostro” salienta Bennemann, enfatizando a importância de dedicar mais atenção às matrizes, a fim de identificar a necessidade de intervenção medicamentosa, além de estar atento à condição corporal deficiente, incluindo possíveis casos de obesidade.

A geração de subpopulações de animais suscetíveis inevitavelmente resulta em uma instabilidade sanitária dentro do sistema de produção. Neste contexto, conforme Bennemann, o principal foco deve ser o desenvolvimento de uma imunidade robusta, o que implica em um esforço contínuo e de longo prazo em que deve ser considerado a saúde geral da matriz, protocolo/manejo vacinal e vacinas utilizadas, nutrição e estado nutricional, microbiota e saúde intestinal. “É fundamental compreender que tudo se trata de uma interrelação de causa e consequência. Uma matriz com boa imunidade, colostro de qualidade, com a transferência eficaz dessa imunidade para os leitões e a exposição adequada dos leitões aos antígenos vacinais são fatores-chave na condição de hiperprolificidade” ressalta o médico-veterinário.

Bennemann relembra que a experiência adquirida com a Circovirose ensinou a minimizar a disseminação de agentes patogênicos. “É fundamental recordar e aplicar esses ensinamentos para garantir o sucesso contínuo na produção animal” reforça.

Implicações sanitárias da hiperprolificidade

A hiperprolificidade implica em uma nutrição que atenda às novas necessidades das matrizes e que considere a interação com a sua microbiota intestinal. “A nutrição vai além de fornecer nutrientes específicos para a matriz e o leitão, evoluiu para uma condição complexa onde interrelações microbianas não podem deixar de serem consideradas” salienta Bennemann, frisado que a nutrição animal evoluiu muito com o advento de hiperprolificidade. “O avanço da nutrição animal, impulsionado pela hiperprolificidade, introduziu o conceito de modulação da microbiota por meio de aditivos alimentares, representando uma significativa evolução no campo”.

Desafios de manejo e biosseguridade

A biosseguridade e o manejo geral, especialmente no que diz respeito ao ambiente, são destacados como áreas prioritárias pelo especialista. Ele ressalta que lidar com animais susceptíveis, mistura de diferentes origens e uma alta pressão de infecção são condições fundamentais a serem trabalhadas. “A biosseguridade diz respeito a minimizar o risco de exposição ou disseminação de agentes com potencial patogênico, ou seja, melhorar a condição ambiental evitando situações estressantes que culminam com queda de imunidade, reduzir a subpopulação de leitões susceptíveis através do desenvolvimento de uma imunidade robusta e reduzir a pressão de infecção através de programas de limpeza e desinfecção adequados são pontos que não podem ser desconsiderados nos sistemas de produção onde a hiperprolificidade é uma realidade” evidencia.

Bennemann reforça que a imunidade robusta e os agentes patogênicos têm a capacidade de se adaptar a condições adversas, desenvolvendo estratégias de sobrevivência. Ele destaca que pesquisas voltadas para compreender as interações entre sanidade e microbiota são essenciais para o progresso na área.

Custos

O especialista levanta uma questão fundamental: enquanto o setor busca a hiperprolificidade, focando no aumento do número de leitões desmamados por fêmea por ano, será que estamos no caminho certo? Será que deveríamos direcionar nossa atenção para a qualidade dos leitões desmamados e até mesmo para a qualidade de sua microbiota?

Bennemann diz que embora o objetivo seja maximizar a produção e diluir os custos por meio de um maior número de leitões, muitas vezes são negligenciados o custo sanitário decorrente de instabilidades ou subpopulações de animais susceptíveis. “É fundamental buscar não apenas a eficiência máxima das matrizes, mas também manter a eficiência ao longo de toda a cadeia de produção. O valor máximo do leitão no final da cadeia será o reflexo do equilíbrio sanitário alcançado” menciona.

Segundo Bennemann, assegurar a saúde geral da matriz, incluindo a saúde intestinal, uma nutrição balanceada e a exposição adequada a antígenos vacinais, é fundamental para garantir a qualidade do colostro. “Este é o primeiro passo na formação de leitões mais resistentes aos desafios sanitários” afirma.

Da mesma forma, manter uma condição ambiental adequada e promover o bem-estar animal, evitando situações que possam causar imunossupressão, é essencial para garantir uma resposta mais eficaz dos animais diante desses desafios.

Perspectivas

Quanto às perspectivas para lidar com os desafios sanitários relacionados à hiperprolificidade na suinocultura e à preparação da indústria para enfrentar esses desafios a longo prazo, o especialista cita diversas estratégias que podem ser consideradas, entre as quais minimizar a heterogeneidade das leitegadas ao nascimento, buscando leitões mais uniformes, através do desenvolvimento de conhecimento relacionado à eficiência placentária; reduzir a variação de peso ao desmame, visando alcançar um peso mais uniforme, o que contribui para a redução de perdas por problemas sanitários; equalização imunológica por meio da ingestão de colostro de qualidade e em quantidade adequada, o que implica no desenvolvimento da microbiota do leitão; redução da pressão de infecção por meio de medidas preventivas e de biosseguridade; além da melhoria de ambiência, incluindo o controle da temperatura e a qualidade do ar nas instalações.

A hiperprolificidade representa um avanço significativo no melhoramento genético das matrizes suínas. Contudo, o aumento do número de leitões também traz consigo grandes desafios sanitários. “É essencial implementar um manejo adequado das matrizes durante toda a gestação, garantindo sua saúde geral como parte fundamental na construção da imunidade sólida do leitão. Somente através da oferta de colostro de qualidade e de um bom manejo inicial do leitão neonato é que vamos poder realmente aproveitar os benefícios proporcionados pela hiperprolificidade” aponta Bennemann.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças

Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

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Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.

Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.

No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.

Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.

Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos

Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

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Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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Colunistas

Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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