Conectado com
VOZ DO COOP

Suínos / Peixes

Desafios sanitários na era da hiperprolificidade: o novo paradigma da suinocultura brasileira

Ao mesmo tempo em que o maior número de leitões nascidos elevou o patamar de produtividades das granjas produtoras de leitões, houve um incremento paralelo de leitões de baixo peso ao nascimento e de menor viabilidade.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

Nas últimas décadas, a suinocultura testemunhou uma grande evolução no tamanho das leitegadas por matriz suína, impulsionada pela seleção genética. Com médias ultrapassando 15 leitões nascidos vivos, a hiperprolificidade trouxe consigo uma realidade que redefine os padrões da indústria. Entretanto, por trás desse avanço, surge uma série de desafios como uma maior heterogeneidade da leitegada, menor viabilidade de leitões, capacidade de amamentação da matriz suína, produção de colostro e, consequentemente, transferência de uma boa imunidade passiva a sua progênie.

Da mesma forma, a hiperprolificidade impacta diretamente nas fases subsequentes de produção, em razão da presença de uma população de leitões com maior coeficiente de variação ao desmame e a formação de subpopulações imunologicamente distintas. Por isso entender dos desafios sanitários oriundos da hiperprolificidade passa a ser um obstáculo da produção moderna de leitões.

Nesse contexto, Paulo Eduardo Bennemann, médico-veterinário com mestrado e doutorado em Ciências Veterinárias em Fisiopatologia da Reprodução em Suínos, traz ao 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui) sua expertise para tratar sobre os novos desafios sanitários associados com a hiperprolificidade. O evento acontece de 23 a 25 de julho, no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-Rio Grande do Sul), em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Saúde reprodutiva das matrizes

Bennemann afirma que o entendimento sobre os impactos da hiperprolificidade vai além do âmbito reprodutivo, uma vez que a hiperprolificidade acarreta não apenas desafios na reprodução, mas também problemas sistêmicos nas matrizes suínas. “A sobrecarga metabólica durante a lactação, devido ao aumento no número de leitões, resulta em um maior catabolismo nas matrizes, levando a uma significativa perda de peso corporal” expõe o especialista.

Muitas informações foram geradas a respeito da importância do manejo e da quantidade de colostro ingerido pelo leitão neonato, no entanto, Bennemann diz que pouco tem sido explorado a respeito da qualidade do colostro ingerido. “Sendo assim, há possibilidade de que fêmeas hiperprolíficas apresentem maior heterogeneidade em relação a transferência de imunidade passiva a seus leitões, ocasionando subpopulações de leitões susceptíveis a doenças ao desmame” menciona.

Um estudo recente, avaliando a qualidade do colostro de matrizes suínas, revelou que 40,37% das matrizes não apresentavam concentração suficiente de imunoglobulinas para conferir uma imunidade passiva adequada aos leitões, levando a maior desafio sanitário na fase subsequente.

Ao mesmo tempo em que o maior número de leitões nascidos elevou o patamar de produtividades das granjas produtoras de leitões, houve um incremento paralelo de leitões de baixo peso ao nascimento e de menor viabilidade. “Tal fato trouxe um impacto direto na capacidade de ingestão de colostro, apresentando um coeficiente de variação entre 15% e 110% dentro da mesma leitegada e de 30% entre diferentes leitegadas, o que naturalmente compromete o desenvolvimento de uma imunidade eficaz. Além disso, esses fatores estão relacionados à intensificação da competição entre os leitões pelos tetos, resultando em atrasos na ingestão de colostro” explica Bennemann.

Uniformização de leitegadas

Segundo o especialista, medidas de manejo como a uniformização de leitegadas foi uma alternativa encontrada para suprir a demanda por tetos viáveis, uma vez que um maior número de leitões surgiu com a hiperprolificidade. No entanto, ao mesmo tempo em que o manejo de uniformização é uma ferramenta que auxilia na redução da variação de peso dos leitões e reduz a mortalidade pré-desmame, existe a possibilidade de uma maior incidência de desafios sanitários decorrentes do estresse social entre os leitões.

Um artigo recente cita que a prática de uniformização foi relacionada à maior utilização de antimicrobianos, maior prevalência de artrite e diarreia, fatores que podem estar atribuídos a maior transmissão de determinados agentes patogênicos devido a movimentação de leitões.

Consequências sanitárias da hiperprolificidade

Médico-veterinário, doutor em Ciências Veterinárias em Fisiopatologia da Reprodução em Suínos, Paulo Eduardo Bennemann: “Somente através da oferta de colostro de qualidade e de um bom manejo inicial do leitão neonato é que vamos poder realmente aproveitar os benefícios proporcionados pela hiperprolificidade” –  Foto: Arquivo pessoal

De acordo com o especialista, a hiperprolificidade acarreta como principal consequência um aumento significativo no desgaste da matriz, resultando em uma maior demanda metabólica. Isso, por sua vez, requer um manejo mais adequado da matriz de acordo com suas necessidades. “Hoje damos total atenção a categoria de leitoas no que tange ao atendimento às necessidades e deixamos em segundo plano as matrizes. Isso pode explicar, em parte, o porquê um grande número das fêmeas de segundo parto (40,52%) e das multíparas (37,88%) apresentaram baixa qualidade do colostro” salienta Bennemann, enfatizando a importância de dedicar mais atenção às matrizes, a fim de identificar a necessidade de intervenção medicamentosa, além de estar atento à condição corporal deficiente, incluindo possíveis casos de obesidade.

A geração de subpopulações de animais suscetíveis inevitavelmente resulta em uma instabilidade sanitária dentro do sistema de produção. Neste contexto, conforme Bennemann, o principal foco deve ser o desenvolvimento de uma imunidade robusta, o que implica em um esforço contínuo e de longo prazo em que deve ser considerado a saúde geral da matriz, protocolo/manejo vacinal e vacinas utilizadas, nutrição e estado nutricional, microbiota e saúde intestinal. “É fundamental compreender que tudo se trata de uma interrelação de causa e consequência. Uma matriz com boa imunidade, colostro de qualidade, com a transferência eficaz dessa imunidade para os leitões e a exposição adequada dos leitões aos antígenos vacinais são fatores-chave na condição de hiperprolificidade” ressalta o médico-veterinário.

Bennemann relembra que a experiência adquirida com a Circovirose ensinou a minimizar a disseminação de agentes patogênicos. “É fundamental recordar e aplicar esses ensinamentos para garantir o sucesso contínuo na produção animal” reforça.

Implicações sanitárias da hiperprolificidade

A hiperprolificidade implica em uma nutrição que atenda às novas necessidades das matrizes e que considere a interação com a sua microbiota intestinal. “A nutrição vai além de fornecer nutrientes específicos para a matriz e o leitão, evoluiu para uma condição complexa onde interrelações microbianas não podem deixar de serem consideradas” salienta Bennemann, frisado que a nutrição animal evoluiu muito com o advento de hiperprolificidade. “O avanço da nutrição animal, impulsionado pela hiperprolificidade, introduziu o conceito de modulação da microbiota por meio de aditivos alimentares, representando uma significativa evolução no campo”.

Desafios de manejo e biosseguridade

A biosseguridade e o manejo geral, especialmente no que diz respeito ao ambiente, são destacados como áreas prioritárias pelo especialista. Ele ressalta que lidar com animais susceptíveis, mistura de diferentes origens e uma alta pressão de infecção são condições fundamentais a serem trabalhadas. “A biosseguridade diz respeito a minimizar o risco de exposição ou disseminação de agentes com potencial patogênico, ou seja, melhorar a condição ambiental evitando situações estressantes que culminam com queda de imunidade, reduzir a subpopulação de leitões susceptíveis através do desenvolvimento de uma imunidade robusta e reduzir a pressão de infecção através de programas de limpeza e desinfecção adequados são pontos que não podem ser desconsiderados nos sistemas de produção onde a hiperprolificidade é uma realidade” evidencia.

Bennemann reforça que a imunidade robusta e os agentes patogênicos têm a capacidade de se adaptar a condições adversas, desenvolvendo estratégias de sobrevivência. Ele destaca que pesquisas voltadas para compreender as interações entre sanidade e microbiota são essenciais para o progresso na área.

Custos

O especialista levanta uma questão fundamental: enquanto o setor busca a hiperprolificidade, focando no aumento do número de leitões desmamados por fêmea por ano, será que estamos no caminho certo? Será que deveríamos direcionar nossa atenção para a qualidade dos leitões desmamados e até mesmo para a qualidade de sua microbiota?

Bennemann diz que embora o objetivo seja maximizar a produção e diluir os custos por meio de um maior número de leitões, muitas vezes são negligenciados o custo sanitário decorrente de instabilidades ou subpopulações de animais susceptíveis. “É fundamental buscar não apenas a eficiência máxima das matrizes, mas também manter a eficiência ao longo de toda a cadeia de produção. O valor máximo do leitão no final da cadeia será o reflexo do equilíbrio sanitário alcançado” menciona.

Segundo Bennemann, assegurar a saúde geral da matriz, incluindo a saúde intestinal, uma nutrição balanceada e a exposição adequada a antígenos vacinais, é fundamental para garantir a qualidade do colostro. “Este é o primeiro passo na formação de leitões mais resistentes aos desafios sanitários” afirma.

Da mesma forma, manter uma condição ambiental adequada e promover o bem-estar animal, evitando situações que possam causar imunossupressão, é essencial para garantir uma resposta mais eficaz dos animais diante desses desafios.

Perspectivas

Quanto às perspectivas para lidar com os desafios sanitários relacionados à hiperprolificidade na suinocultura e à preparação da indústria para enfrentar esses desafios a longo prazo, o especialista cita diversas estratégias que podem ser consideradas, entre as quais minimizar a heterogeneidade das leitegadas ao nascimento, buscando leitões mais uniformes, através do desenvolvimento de conhecimento relacionado à eficiência placentária; reduzir a variação de peso ao desmame, visando alcançar um peso mais uniforme, o que contribui para a redução de perdas por problemas sanitários; equalização imunológica por meio da ingestão de colostro de qualidade e em quantidade adequada, o que implica no desenvolvimento da microbiota do leitão; redução da pressão de infecção por meio de medidas preventivas e de biosseguridade; além da melhoria de ambiência, incluindo o controle da temperatura e a qualidade do ar nas instalações.

A hiperprolificidade representa um avanço significativo no melhoramento genético das matrizes suínas. Contudo, o aumento do número de leitões também traz consigo grandes desafios sanitários. “É essencial implementar um manejo adequado das matrizes durante toda a gestação, garantindo sua saúde geral como parte fundamental na construção da imunidade sólida do leitão. Somente através da oferta de colostro de qualidade e de um bom manejo inicial do leitão neonato é que vamos poder realmente aproveitar os benefícios proporcionados pela hiperprolificidade” aponta Bennemann.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Apesar dos custos de produção em queda, desafios persistem na suinocultura

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária Nicolle Andreassa Wilsek reforça que a gestão financeira e de dados é
essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor.

Publicado em

em

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

A suinocultura, um dos pilares da agroindústria nacional, enfrenta desafios constantes, entre os quais o custo de produção se destaca como um dos mais significativos. O setor, altamente dependente de fatores como preços de insumos, produtividade e condições de mercado, é fortemente influenciado pelas variações desses elementos. Nesse contexto, o custo de produção afeta a rentabilidade dos produtores e a competitividade do setor no mercado global.

Médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek: “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

O último ano encerrou com os custos de produção na atividade atingindo a marca de R$ 6,20 por quilo vivo, queda de 23,16% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves.

Santa Catarina, líder nacional na produção de suínos e referência para os cálculos do CIAS, registrou em março uma queda de 1,42% em relação a fevereiro, com o custo de produção por quilo de suíno vivo chegando a R$ 5,61 em sistema de ciclo completo. No acumulado do ano, houve uma redução de -9,52%, fazendo com que o ICPSuíno atingisse 321,12 pontos. Essa diminuição foi impulsionada pelo custo da alimentação dos suínos, que caiu para R$ 4,09, representando 73,33% do custo total.

Composição dos custos de produção

A médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek, explica que os custos de produção na suinocultura são compostos por quatro categorias principais: os custos variáveis, que flutuam de acordo com o nível de produção, englobam despesas diretas do produtor e têm o maior impacto nos custos, incluindo genética, produtos veterinários, mão-de-obra, alimentação, transporte, energia e combustíveis, manutenção e conservação, EPIs, seguros, equipamentos, despesas financeiras, administrativas e ambientais; os custos fixos, por outro lado, ocorrem independentemente da produção e incluem depreciação de máquinas, equipamentos e edificações, além de pagamentos de capital investido na atividade; já os custos operacionais são a soma dos custos variáveis e depreciação; enquanto o custo total é a soma dos custos variáveis e fixos, excluindo o custo operacional.

Impacto direto

O preço dos insumos tem um impacto direto no custo de produção, especialmente porque a alimentação representa uma parcela significativa dos custos no setor, variando de 60 a 70%. “O aumento dos preços do milho e da soja tem um impacto imediato no aumento do custo de produção. Esse efeito também se estende a outros tipos de insumos, como energia elétrica, produtos veterinários, EPIs, entre outros”, expõe Nicolle, que tratou sobre o tema no início de abril durante o Inovameat Toledo, que se destaca como um dos principais encontros dedicados à proteína animal no Paraná.

Gestão financeira

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária reforça que a gestão financeira e de dados é essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor. “É muito importante para obter um retorno maior, para atenuar os gastos desnecessários e para conservar o patrimônio, preconizando a eficiência econômica e financeira da granja”, enfatizou.

Quanto às estratégias para diminuir os custos de produção na suinocultura, a profissional destaca a importância de identificar os gargalos dentro da granja, isso inclui evitar desperdícios, como de ração, vazamentos de água e a presença de fêmeas improdutivas, entre vários outros fatores que devem estar no radar do produtor.

E da porteira para fora da granja, Nicolle cita a necessidade de pensar na organização industrial, que envolve adequação do peso de abate, adequação de formulações nutricionais e logística de transportes.  “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas, o que é alcançado por meio de bons índices zootécnicos, práticas eficientes de gestão e considerações ambientais equilibradas”, evidencia.

A profissional menciona que a suinocultura se beneficia de diversas tecnologias que podem contribuir para diminuir os custos da atividade. “Nas granjas a automação ajuda a reduzir a necessidade de mão de obra, enquanto o uso de energias renováveis, como solar e biodigestor, auxilia na diminuição dos custos com energia elétrica e combustíveis”, relata, acrescentando: “E a escala de produção influência de forma direta os custos na suinocultura, por isso que quanto mais animais produzindo, mais eficiência terá a propriedade e, consequentemente, maior rentabilidade. Além de otimizar logística de transporte, alimentação e demais suprimentos”, aponta.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

Suínos / Peixes No Paraná

Vizinhos compartilham biodigestor para produzir energia limpa da suinocultura

Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, dois produtores de Itaipulândia, no Oeste, decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, ambos conseguem baratear contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

Publicado em

em

A cerca que divide as propriedades de José Valdir Genaro e Ari Facioni, em Itaipulândia, no Oeste do Paraná, é uma mera formalidade quando o assunto é sustentabilidade na suinocultura. Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, os produtores decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, os dois conseguem baratear suas contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

Usina de BioGás – produção de energia gerada a partir, neste caso, dos dejetos de suínos -, em Itaipulândia, região Oeste do Paraná.- Fotos: Roberto Dziura Jr./AEN

O compartilhamento do sistema também permite que o investimento feito pelos produtores se pague mais rápido, com uma produção diária de energia ainda maior. O modelo também serve de exemplo para pequenos produtores, que individualmente não teriam fôlego financeiro ou volume de dejetos para manter um sistema sozinho.

A história dos produtores é tema da série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo”, que mostra exemplos de adesão ao programa RenovaPR e ao Banco do Agricultor Paranaense para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades.

“Para o meu vizinho montar o gerador, a quantidade de suínos que ele tinha não seria suficiente para a finalidade que ele tinha imaginado, então ele me convidou para fazer uma parceria, cedendo o esterco dos meus animais para aumentar a capacidade de geração de energia”, explica Ari Facioni.

Com a soma dos dejetos dos 3 mil suínos da propriedade de Genaro e de 1,8 mil da propriedade de Facioni, o gerador instalado por eles produz cerca de 75 kilowatts por hora, funcionando mais de 12 horas por dia. O volume é suficiente para dar independência energética para as duas propriedades de maneira limpa e renovável. “É algo que dá conforto para nós. É uma despesa a menos que nós temos, com perspectiva, inclusive, de render uma renda extra com a venda da energia excedente para a rede”, conta Genaro.

Sistema

A geração de energia a partir dos dejetos e resíduos orgânicos acontece em duas etapas. Na primeira, os restos de ração, fezes, urina e carcaças são depositados em um poço cavado no chão e coberto por uma lona especial, chamado de biodigestor, onde passar por reações químicas que produzem o biogás. Depois, os gases passam por um gerador que os transforma em energia.

Além da energia, o sistema garante o manejo adequado dos dejetos dos animais, um dos maiores passivos da suinocultura atualmente. Com os biodigestores, todos os resíduos têm uma destinação ambientalmente correta, dentro da propriedade. “Dar destino para os dejetos e as carcaças era um serviço complicado, quase insalubre, com muita mosca e mau cheiro. Hoje o material é depositado no biodigestor e o manejo é muito mais limpo e fácil”, explica Genaro.

Os processos químicos do sistema também produzem um composto que pode ser devolvido à lavoura ou ao pasto da propriedade como um fertilizante rico em nutrientes. “Os resíduos voltam como um adubo tratado, de boa qualidade, que não queima a terra”, afirma o produtor Ari Facioni.

Sem este processo, o depósito destes dejetos é altamente prejudicial ao meio ambiente. Por causa disso, muitos suinocultores só conseguem aumentar suas produções ao construírem biodigestores nas suas propriedades. “Muitos agricultores não produzem mais porque isso significa dar destinação a mais dejetos. Sem este processo, os dejetos produzem muitos agentes contaminantes. Por outro lado, quando ele passa pelo biodigestor, ele se transforma em um fertilizante natural que deixa de ser agressivo ao meio ambiente”, explica o diretor ambiental da Prefeitura de Itaipulândia, Altair Ruschel.

Apoio

O investimento feito para a instalação de todo o sistema, que também conta com um triturador de carcaças, foi de cerca de R$ 800 mil e contou com o incentivo do Programa Paraná Energia Renovável (RenovaPR), do Governo do Estado.

O empréstimo para a construção do sistema foi feito a juro zero, por meio do Banco do Agricultor Paranaense, como forma de estimular a transformação energética no campo. O programa é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, e conta com recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), administrado pela Fomento Paraná.

Ao todo, a subvenção de juros por meio do Governo do Estado para projetos deste tipo já passou de R$ 231 milhões desde 2021. Com este estímulo, já foram investidos mais de R$ 4,2 bilhões em 34 mil projetos de energia renovável em todo o Estado.

Em Itaipulândia, um programa da prefeitura da cidade em parceria com a Itaipu Binacional também oferece subsídio para a instalação dos biodigestores e fornece os geradores em consignação aos suinocultores. “Era uma vontade antiga instalar um sistema destes para gerar energia e dar a destinação para os resíduos da produção. Só assim a gente vai conseguir aumentar a nossa produção. Graças ao subsídio do RenovaPR a gente conseguiu concluir um projeto como este”, diz José Valdir Genaro.

Economia

A produção de suínos para corte é a quinta cultura agropecuária com maior Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná, com R$ 8,45 bilhões movimentados em 2023, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral). Este valor representa 4,27% de toda a economia do campo paranaense.

A região Oeste do Paraná, onde fica Itaipulândia, concentra a maior parte desta produção. A cidade é a sétima maior produtora de suínos do Estado, com R$ 246 milhões em VBP a partir da suinocultura. Toledo (R$ 1,25 bilhão), Santa Helena (R$ 560 milhões), Missal (R$ 482 milhões) e Marechal Cândido Rondon (R$ 450 milhões) são as maiores produtoras do Paraná.

Na comparação com outros estados, o Paraná é o segundo maior produtor do Brasil, com 3,1 milhões de suínos abatidos no primeiro trimestre de 2024, segundo dados da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Santa Catarina lidera a produção nacional, com 4,1 milhões de animais abatidos. Rio Grande do Sul (2,3 milhões) e Minas Gerais (1,4 milhão) e São Paulo (735 mil) completam a lista de cinco maiores produtores do Brasil.

Série de reportagens

A série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas aqui.

Confira o vídeo

Fonte: AEN-PR
Continue Lendo

Suínos / Peixes

Codigestão de dejetos e plantas: a nova era na produção de biogás

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos.

Publicado em

em

Foto: Geraldo Bubniak

Em busca de explorar o potencial de culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante combinados com resíduos da produção animal para a produção de biogás, pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Embrapa Milho e Sorgo e da Embrapa Gado de Leite apresentaram os primeiros resultados do estudo realizado na Bioköhler Biodigestores durante o Dia de Campo sobre codigestão de culturas energéticas e resíduos da produção animal para produção de biogás, que integrou a programação do Inovameat Toledo, um dos principais eventos dedicados à proteína animal no Paraná, realizado em meados de abril na região Oeste do estado.

Doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz: “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Liderada pelo doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz, a iniciativa visa avaliar a viabilidade de culturas energéticas na produção sustentável de biogás para validar essa nova abordagem. “A codigestão de resíduos da produção animal com as culturas energéticas representa uma alternativa promissora para melhorar a eficiência da produção de biogás. Essa nova abordagem envolve a mistura de vários resíduos para otimizar a produção de biogás. Ao combinar dejetos suínos, aves ou de bovinos, por exemplo, com culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante, podemos alcançar resultados significativos em termos de produção sustentável de energia”, explicou Kunz.

Em comparação com outras formas de produção de biogás, o pesquisador ressalta os benefícios ambientais associados à codigestão de dejetos e culturas energéticas, destacando sua capacidade de conferir maior estabilidade aos processos de geração de biogás. “Isso é fundamental para a implementação bem-sucedida de novos arranjos de produção e utilização do biogás”, afirma.

Desafios técnicos e operacionais

Em relação aos desafios técnicos e operacionais associados ao uso de culturas energéticas na codigestão com dejetos, Kunz destaca a importância de compreender os arranjos produtivos específicos dessas culturas. Ele ressalta a necessidade de considerar as peculiaridades de cada cultura, incluindo seus ciclos de cultivo e colheita, assim como os processos de silagem, para garantir um suprimento consistente desse substrato para a geração de biogás.

Com o uso das culturas energéticas, o pesquisador diz que se busca não apenas melhorar a estabilidade da composição do biogás, mas também dos volumes produzidos em comparação aos processos de monodigestão, que se restringem apenas aos dejetos. “Essa abordagem objetiva aprimorar tanto a qualidade quanto a consistência do biogás gerado. Ao introduzir culturas energéticas na codigestão, espera-se minimizar as variações na composição do biogás e otimizar os volumes produzidos, proporcionando uma fonte de energia mais confiável e previsível”, expõe Kunz.

Impactos sociais e econômicos

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos. De acordo com Kunz, esse processo impulsiona o desenvolvimento e a criação de empregos, especialmente nas regiões onde as cadeias de produção de proteína animal, como no Sul do Brasil, estão consolidadas, com modelos de integração bem estabelecidos que geram oportunidades de trabalho. “A integração de culturas energéticas e outros resíduos nesse contexto não só diversifica as atividades econômicas, mas também contribui para a geração e agregação de renda”, salienta, frisando: “Essa abordagem não apenas fortalece os elos existentes na cadeia produtiva, mas também abre novas perspectivas para a comunidade rural, promovendo um desenvolvimento mais sustentável e equilibrado”.

Abordagem em evidência

Foto: Monalisa Pereira/Embrapa Suínos e Aves

A adoção da codigestão de dejetos e culturas energéticas para a produção de biogás está ganhando destaque em diversas partes do mundo, com a Europa liderando o caminho. Países como a Alemanha se sobressai, contando com aproximadamente 10 mil plantas de geração de biogás, muitas das quais fundamentadas no uso de culturas energéticas como substrato.

No entanto, o Brasil se diferencia ao adotar uma abordagem adaptada às suas condições tropicais. Aqui, explica o pesquisador, cultivares específicas são desenvolvidas com genética local, dedicadas à geração de biogás. “Esse foco em cultivares adaptadas garante uma eficiência ainda maior no processo de codigestão”, evidencia.

Os pesquisadores brasileiros estão empenhados no desenvolvimento de tecnologias que garantam a eficiência operacional da codigestão, dimensionando cuidadosamente os parâmetros técnicos envolvidos. Isso inclui a determinação precisa da produção de biogás por hectare, a relação ideal entre os materiais dentro dos biodigestores e a quantidade de biogás produzida. “Essa abordagem orientada para a eficiência técnica não apenas impulsiona a inovação no campo da produção de biogás, mas também facilita a adoção dessas tecnologias pelo setor produtivo. A equipe da Embrapa trabalha focada no aprimoramento contínuo desse processo, para posicionar o Brasil como um líder na produção sustentável de biogás, contribuindo desta forma para um futuro energético mais limpo e resiliente”, salienta Kunz.

Na vanguarda

O pesquisador ressalta que a equipe da Embrapa está empenhada em estabelecer arranjos completos para a codigestão de dejetos com culturas energéticas, considerando todos os parâmetros técnicos e as nuances de toda a cadeia produtiva. “Entendemos que este é um processo dinâmico, com espaço para inovação contínua. Uma das áreas-chave de foco da pesquisa é o desenvolvimento de processos de tratamento para aumentar a capacidade de geração de biogás a partir dessas culturas energéticas”, expõe.

Além disso, a Embrapa está conduzindo trabalhos de melhoramento genético de cultivares especificamente voltadas para a produção de biogás. “Este investimento em pesquisa visa otimizar ainda mais o desempenho dessas culturas em termos de produção de biogás”, constata Kunz.

O doutor em Química Ambiental reforça que uma das razões fundamentais para adotar a codigestão de culturas energéticas junto aos dejetos é a complementaridade entre esses materiais. “Enquanto os dejetos líquidos, como dos suínos, têm uma alta concentração de água, em torno de 98%, as culturas energéticas possuem uma porcentagem entre 20 a 27% de matéria seca. Ao combinar esses dois materiais, aumentamos a concentração de sólidos no biodigestor, resultando em processos mais otimizados e maior rendimento na produção de biogás”, sustenta, acrescentando: “Essa abordagem é fundamental para garantir um fornecimento estável de substrato, permitindo o estabelecimento de arranjos para diversos fins, desde a geração de energia elétrica até a produção de biometano, que nada mais é que o biogás purificado, e que está ganhando destaque como uma solução de mobilidade sustentável”.

Para o setor agropecuário, a sustentabilidade dessa operação é especialmente relevante, uam vez que contribui para a redução da dependência de combustíveis fósseis, fortalecendo a competitividade das commodities tanto no mercado nacional como internacional, ao mesmo tempo que o país avança na descarbonização das cadeias de produção animal. “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos”, exalta Kunz.

A pesquisa da Embrapa representa um importante avanço no setor de energia renovável, oferecendo uma alternativa econômica e ambientalmente sustentável para a produção de biogás. Com a continuidade dos estudos e o apoio de instituições parceiras, espera-se que essa tecnologia contribua significativamente para a transição para um futuro energético mais limpo e eficiente.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo
IFC

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.