Notícias No 1º semestre
Desafios fitossanitários aumentam e área tratada com defensivos agrícolas cresce 1,6 milhão de hectares
Agravamento do ataque de insetos, dificuldade para controle de doenças e aumento das infestações de plantas daninhas obrigou os agricultores brasileiros a investirem mais em tecnologias de defesa vegetal, com isso, a área tratada com defensivos agrícolas cresceu 0,2% no período, chegando a 741,278 milhões de hectares.

O agravamento do ataque de insetos, dificuldade para controle de doenças e aumento das infestações de plantas daninhas obrigou os agricultores brasileiros a investirem mais em tecnologias de defesa vegetal no primeiro semestre de 2022. Com isso, a área tratada com defensivos agrícolas cresceu 0,2% no período, chegando a 741,278 milhões de hectares – ante 739,615 milhões de hectares entre janeiro e junho do ano passado (1,663 milhão de hectares a mais). A informação é do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
“As estatísticas do primeiro semestre do ano apontam para aumento no uso de herbicidas e de inseticidas. Insetos sugadores na soja, milho e cana – como mosca-branca, cigarrinhas e percevejos – e o bicudo do algodão destacam-se cada vez mais como os principais inimigos da produtividade na agricultora. A área aplicada de inseticidas aumentou 1%, chegando a 241,778 milhões de hectares, e a aplicação de herbicidas contra plantas daninhas aumentou 3%, atingindo 124,914 milhões de hectares”, comenta o presidente do Sindiveg, Júlio Borges Garcia.
O dirigente informa, que por outro lado, houve uma queda de 12,3% no uso de fungicidas, cuja área tratada caiu de 145,325 milhões de hectares para 127,440 milhões de hectares. “Isso ocorreu, principalmente, devido à antecipação do plantio de soja no último trimestre de 2021 e a dura estiagem que atingiu a região Sul e parte do Centro-Oeste do Brasil no início deste ano, o que teve como consequência a redução da produtividade nessas regiões. Como os fungos dependem do tempo úmido para se desenvolver, os produtores rurais reduziram a aplicação de fungicidas, devido as condições desfavoráveis da lavoura e a menor incidência de doenças”, complementa o presidente do Sindiveg.
Devido às adversidades climáticas enfrentadas pela soja, área tratada desse importante cultivo caiu 23% no semestre (chegando a 196.233.286 hectares). O algodão teve aumento de 24% (134.957.957 ha), o milho saltou 15% (284.457.506 ha) e a cana-de-açúcar avançou 6% (34.424.528 ha). O café também apresentou redução (-10%), com 10.182.785 de hectares tratados entre janeiro e junho de 2022.
O conceito de área tratada, utilizado pela entidade, é o resultado da multiplicação da área cultivada em hectares pelo número de aplicações de defensivos e, ainda, pelo número de produtos formulados em cada uma das aplicações. O Sindiveg, com apoio das 26 empresas associadas, aplica esse conceito desde 2020, utilizando dados encomendados à Spark Consultoria Estratégica, que faz coleta exclusiva de dados de mercado, tomando por base entrevistas com mais de 18 mil agricultores em todo o país.
“O conceito de área tratada é um importante indicador para mensurar a contribuição da indústria de defesa vegetal à proteção dos cultivos. Além disso, é importante destacar que os agricultores estão cada vez mais atentos aos desafios fitossanitários, que são recorrentes e crescentes, mas também às oportunidades, investindo cada vez mais em tecnologia e prevenção contra as pragas, doenças e plantas daninhas. O resultado é o aumento continuo da produção de grãos, cuja previsão de colheita da safra de 2022 é de 272,5 milhões de toneladas (6,7% a mais que em 2021), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). É o agronegócio brasileiro atendendo à crescente demanda por alimentos produzidos de forma responsável e sustentável. O setor de defensivos agrícolas faz a sua parte, com o respaldo da ciência e da pesquisa”, saliente o presidente do Sindiveg.
O valor do mercado de defensivos aplicados cresceu 20% no primeiro semestre, saltando de US$ 5,468 bilhões para US$ 6,560 bilhões. Esse crescimento deve-se, em grande parte, ao impacto do câmbio, mas também devido ao cenário econômico global, como guerra entre Rússia e Ucrânia e os efeitos prolongados da pandemia de Covid-19, que causaram grande impacto no custo logístico e de matérias-primas. Em moeda nacional, o mercado de defensivos aplicados cresceu 17,6%, chegando a R$ 34,264 bilhões.
Considerando os segmentos de produtos, os inseticidas representaram 37% do valor de produtos aplicados no primeiro semestre. Os herbicidas participaram com 26%, os fungicidas com 25% e o tratamento de sementes com 6%. Em relação às culturas, o milho representou 33% do valor de mercado; a soja, 23%; o algodão, 18%; e a cana-de-açúcar, 12%. Em volume, houve aumento de 1,4% e o total passou de 468.760 toneladas para 475.366 toneladas.

Notícias
Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.
Notícias
Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
Notícias
Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.




