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Depois de ciclo de alta, preço do suíno recua; margens ainda são negativas
Após meses de crise profunda, a tão esperada redução da oferta de carne suína no mercado doméstico, decorrente de presumidos ajustes no plantel não se concretizou. Dados extraoficiais do abate de julho e agosto demonstram crescimento da produção e da disponibilidade interna em relação ao mesmo período do ano passado.

Após meses de crise profunda, a tão esperada redução da oferta de carne suína no mercado doméstico, decorrente de presumidos ajustes no plantel não se concretizou. Números publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes ao primeiro trimestre e dados extraoficiais do abate de julho e agosto demonstram crescimento da produção e da disponibilidade interna em relação ao mesmo período do ano passado (Gráfico 1).
No acumulado de janeiro a agosto houve um acréscimo de oferta de carne suína no mercado doméstico brasileiro da ordem de 228 mil toneladas (8,8%) em relação ao mesmo período do ano passado.

Gráfico 1 – Disponibilidade interna mensal de carne suína de janeiro a agosto (2021 e 2022), em 1.000 toneladas e diferença percentual de cada mês de 2022 em relação a 2021. Disponibilidade interna eixo da esquerda e diferença percentual eixo da direita. Elaborado por Iuri P. Machado a partir de dados de exportação da Secex e dados de produção do IBGE até junho/2022; dados de julho e agosto/2022 publicados pelo MBAgro a partir de números preliminares do SIF.
Em relação às exportações que vinham “patinando” ao longo de 2022, em agosto houve um salto que levou a fechar o mês com o volume recorde embarcado de 106,3 mil toneladas de carne suína in natura(Tabela 1); com 23 dias úteis, a média diária de agosto foi de pouco mais de 4,6 mil toneladas.

Tabela 1 – Volumes exportados totais e para a China de carne suína brasileira in natura de janeiro a agosto de 2020, 2021 e 2022 (em toneladas) e comparativo da diferença percentual entre 2022 e 2021. Elaborado por Iuri P. Machado com dados da Secex
Também em agosto a China adquiriu mais carne suína brasileira pela primeira vez no ano. O número é 15% maior que a quantidade embarcada para o país no mesmo mês em 2021, mas ainda assim é evidente a redução significativa ao longo do ano para o gigante asiático (-32%).
Com um total acumulado de 652,3 mil toneladas exportadas de janeiro a agosto de 2022, o que representa uma redução de somente 3,3% em relação ao ano passado, fica evidente uma maior pulverização das vendas externas, reduzindo a participação da China e aumentando de outros países.
Esta exportação recorde no mês de agosto colaborou para manter o preço da carcaça suína especial no mercado de São Paulo crescente (Gráfico 2). Porém, o mercado de suínos vivos e carcaças em setembro frustrou as expectativas dos produtores, mostrando que o descompasso entre oferta e demanda fez com que os preços pagos ao produtor recuassem nas últimas semanas.

Gráfico 2 – Preço da carcaça suína especial (R$/kg) em São Paulo (SP) de outubro/21 a setembro de 2022 (até dia 16/09/22). Fonte: Cepea
As exportações do mês de setembro, com dados publicados até a última sexta-feira (16) (11 dias úteis), já acumulam 57,5 mil toneladas, com média diária de 5.223 toneladas, 13,5% a mais que a média diária de agosto e 7,7% a mais que a média diária de setembro do ano passado que fechou com um total de 101,8 mil toneladas. Mantida esta média de embarques, fecharemos este mês novamente com volumes superiores a 100 mil toneladas.
Encerrada a colheita da segunda safra de milho, os preços continuam estáveis, mesmo com as exportações crescentes. Há um pequeno viés de alta, que pode ser observado nas últimas semanas (Gráfico 3) muito mais relacionado às especulações quanto à colheita da safra norte-americana e a expectativa do início do plantio da safra brasileira 2022/23 do que propriamente movimentos de compradores e vendedores do grão.

Gráfico 3. Preço da saca (R$/ saca de 60kg) de milho em Campinas (SP) nos últimos 60 dias úteis (até 19/08/22). Fonte: Cepea
O fato é que os custos continuam em patamar muito elevado e a queda que vinha sendo observada mês a mês no primeiro semestre não se manteve no último mês, pelo contrário, em agosto identificou-se pequena alta, determinando a persistência de margens negativas para o suinocultor (Tabela 2).

Tabela 2. Custos totais (ciclo completo), preço de venda e lucro/prejuízo estimados nos três estados do Sul (R$/kg suíno vivo vendido), em 2021 e em 2022 até agosto. Elaborado por Iuri P. Machado com dados: Embrapa (custos) e Cepea (preço).
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, explica que mesmo com colheita de safra recorde de milho, com um ciclo de seis meses de recuperação de preços da carcaça suína (interrompido no final de agosto), e exportação sem precedentes para um único mês em agosto, o suinocultor continua contabilizando prejuízos e só enxerga algum alento com a aproximação do fim do ano, esperando que o tradicional aquecimento de demanda seja suficiente para finalmente determinar margens positivas na atividade que, apesar de acumular prejuízos desde o segundo trimestre do ano passado, não reduziu a oferta de carne, principal causa desta crise. “As atenções agora recaem para a colheita da safra norte-americana, os embarques de milho brasileiro e o início efetivo do plantio da safra 2022/23 na região Centro-Sul”, afirma.

Notícias
Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.
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Oferta robusta pressiona preços do trigo no mercado brasileiro
Levantamento do Cepea aponta desvalorização influenciada pela ampla oferta interna, expectativas de safra recorde no mundo e competitividade do produto importado.

Levantamento do Cepea mostra que os preços do trigo seguem enfraquecidos. A pressão sobre os valores vem sobretudo da oferta nacional, mas também das boas expectativas quanto à produtividade desta temporada.
Além disso, pesquisadores do Cepea indicam que o dólar em desvalorização aumenta a competitividade do trigo importado, o que leva o comprador a tentar negociar o trigo nacional a valores ainda menores.

Foto: Shutterstock
Em termos globais, a produção mundial de trigo deve crescer 3,5% e atingir volume recorde de 828,89 milhões de toneladas na safra 2025/26, segundo apontam dados divulgados pelo USDA neste mês.
Na Argentina, a Bolsa de Cereales reajustou sua projeção de produção para 24 milhões de toneladas, também um recorde.
Pesquisadores do Cepea ressaltam que esse cenário evidencia a ampla oferta externa e a possibilidade de o Brasil importar maiores volumes da Argentina, fatores que devem pesar sobre os preços mundiais e, consequentemente, nacionais.




