Suínos Da oportunidade à sobreoferta
Crescimento desordenado tem culpa na atual crise da suinocultura, avalia dono de frigorífico
A produção autônoma de suínos enfrenta uma situação extremamente delicada em virtude de uma série de fatores. Entre eles, Marcos Antonio Spricigo destaca o período de euforia vivido em 2019 pelo setor com a grande demanda de carne suína exportada para a China.

“Jamais vi uma crise com as dimensões como a que estamos vivendo”. Assim define o atual momento da suinocultura independente no Brasil o suinocultor catarinense e proprietário do Primaz Frigorífico, no Paraná, Marcos Antonio Spricigo. O produtor é de uma tradicional família de suinocultores que atua há mais 60 anos na atividade em Santa Catarina. Atualmente, as granjas da família somam cerca de cinco mil matrizes, com sistema de ciclo completo, produzindo, inclusive, a própria ração.

Marcos Spricigo acredita que o preço do suíno chegou ao valor mais baixo que poderia chegar. “Acreditamos que após o primeiro trimestre desses anos a suinocultura tenha uma pequena retomada e consigamos trabalhar com menos prejuízos” – Fotos: Arquivo pessoal
Para Spricigo, a produção autônoma de suínos enfrenta uma situação extremamente delicada em virtude de uma série de fatores. Entre eles, o produtor destaca o período de euforia vivido em 2019 pelo setor com a grande demanda de carne suína exportada para a China. Na época, os chineses sofriam sérias dificuldades em razão da peste suína africana que reduziu o plantel no país asiático.
Segundo ele, as exportações volumosas fizeram as grandes empresas e cooperativas envolvidas no processo de produção investir massivamente na construção de novas plantas e infraestrutura para atender o mercado externo. Entretanto, para Spricigo, o crescimento foi desordenado e não considerou o restabelecimento da produção chinesa. “Muito se comentou na época que a suinocultura deveria crescer, mas com segurança de mercado, porém, não foi isso que aconteceu”, aponta.
Spricigo explica que a China continua importando a proteína do Brasil, no entanto, em menor quantidade e com preços bem abaixo dos praticados em 2019 e 2020. “Hoje os preços de exportação que temos conhecimento são menores que os do mercado interno”, relata.
O resultado disso tudo, segundo Spricigo, é o excesso de oferta, o que se agravou em janeiro, período que geralmente diminui a demanda interna por carne. “Nos encontramos numa situação muito desafiadora e acreditamos que no ritmo que está nenhum sistema produtivo de suínos conseguirá absorver aos prejuízos”, destaca.
Segundo Spricigo, outro ponto negativo gerado pela diminuição do volume nas exportações por parte dos grandes sistemas de produção, é o redirecionado dos estoques para o mercado interno. “Estamos vendo nos encartes de supermercados o preço da carne suína sendo vendida abaixo da carne de frango. Isso é algo que nunca havia acontecido antes”, menciona.
Estoque de grãos
Em relação ao desabastecimento de grãos, o produtor destaca os problemas que se agravam desde 2020 em consequência do clima desfavorável e do ataque de pragas que atingiram as lavouras, especialmente na região Sul do país.
Os efeitos disso começaram a surgir em 2021, em razão do alto custo do milho, e os prejuízos para os produtores independentes continuaram a crescer. “E esse ano que os produtores contavam com uma boa safra de verão, mais uma vez a seca prejudicou muito na nossa região (Sul)”, menciona.
De acordo com Spricigo, o elevado custo para aquisição do milho no ano passado inviabilizou a estocagem do cereal para 2022. Ele menciona que está trabalhando com estoques internos suficientes para uma semana. De acordo com o produtor catarinense, os suinocultores não têm condições financeiras de arcar com volumes tão altos. “Precisamos vender os suínos mesmo a preço baixo para comprar milho para alimentar esses animais”, ressalta.
Custo de produção
O encarecimento do custo produtivo registrado nos últimos anos chegou a um patamar que torna inviável para os produtores independentes, que amargam prejuízos ainda incalculáveis.
Segundo Spricigo, em Santa Catarina, o preço para produzir o ciclo completo de um suíno é de R$ 7,30. Enquanto que preço de venda aos frigoríficos é de R$ 4,50. “Infelizmente isso sempre acaba refletindo no suinocultor independente, que é a ponta mais fraca”, menciona. “O prejuízo para os suinocultores catarinenses gira em torno de R$ 120 a R$ 150 por animal. A situação se tornou insuportável para nós”, lamenta o suinocultor.
O suinocultor conta que costuma trabalhar com pesos que variam de 120 a 130 quilos para venda dos lotes, e uma das alternativas seria vender os animais antes de atingir essa margem de peso, mas segundo ele, isso não é interessante porque injetaria ainda mais oferta no mercado.
Alternativas
De acordo com, Spricigo, que também é proprietário do Primaz Frigorífico no município de Rio Negro, no Paraná, várias ações estão sendo tomadas pelas associações de suinocultores para tentar minimizar os efeitos da crise na suinocultura. “Estamos tentando envolver todos os elos da cadeia produtiva, inclusive os frigoríficos”, menciona Spricigo.
Para o produtor não há soluções a curto prazo para amenizar a grave situação em que se encontra o setor. “O que se vê são medidas paliativas para tentar sobreviver”, afirma.
Uma das práticas adotadas para diminuir os prejuízos, de acordo com Spricigo, é baixar o peso dos plantéis, oferecendo aos animais rações com menor valor nutricional. “Estamos procurando tratar os animais da melhor forma possível, mas retirando os incrementos que costumávamos dar para aumentar a velocidade de engorda”, relata.

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



