Suínos Suinocultura
Cresce a ameaça de javalis para a suinocultura brasileira
Javalis são potencialmente transmissores de doenças para a suinocultura industrial, o que seria um caos para o setor

A presença de javalis no Brasil tem tomado grandes proporções e gerado receio na agropecuária. Eles são potencialmente transmissores de doenças para a suinocultura industrial, o que seria um caos para o setor. O jornal O Presente Rural entrevistou a pesquisadora Virgínia Santiago Silva, da Embrapa Suínos e Aves, para saber o atual cenário e o que precisa ser feito para reduzir essa população perigosa de javalis selvagens. Boa leitura!
O Presente Rural – Qual a atual situação da presença de javalis no Brasil?
Virgílias Santiago Silva (VSS) – O javali (Sus scrofa), listado entre as 100 “piores” espécies exóticas invasoras do mundo pela União Internacional de Conservação da Natureza (GISD, 2010), foi introduzido no Brasil desde a década de 1960, principalmente para fins comerciais, e por escape e/ou soltura intencional, retornaram ao ambiente natural. Em vida livre, com a diversidade e abundância de recursos naturais associadas à reprodução descontrolada e à ausência de predadores naturais, essas populações facilmente se estabeleceram, se proliferam e se disseminam pelo território nacional.
De acordo com o relatório do Ibama sobre áreas prioritárias para o manejo do javali, até 2018 a ocorrência de javalis foi registrada em 1.536 municípios em 22 UFs: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
OP Rural – Que tipo de ameaças eles trazem para o agronegócio e para a suinocultura?
VSS – A agricultura e a pecuária estão entre os segmentos mais afetados pela disseminação e crescimento populacional dos javalis. Na agricultura, o impacto deletério mais significativo é por predação de lavouras, resultando em prejuízos econômicos significativos, especialmente em lavouras de milho, cana, soja e muitas outras culturas.
Na pecuária, especialmente a suinocultura, os javalis representam uma ameaça sanitária, pois a condição sanitária desses animais é desconhecida e por serem populações de vida livre compartilham habitat e estabelecem variadas formas de contato com diferentes espécies animais, ficando exposto à transmissão de patógenos. Como os javalis são os “ancestrais” do suíno doméstico, são da mesma espécie, o estímulo reprodutivo ocorre e aumenta da chance de contato entre as populações asselvajadas e suínos domésticos, possibilitando a transmissão de patógenos/doenças entre essas populações.
OP Rural – Quais seriam os possíveis efeitos do contato de javalis com suínos da indústria? Existem estudos de cenários?
VSS – Os cenários e consequências dessa interação entre populações de suídeos comerciais e de vida livre podem variar muito dependendo do patógeno/doença implicado. Se, por exemplo, considerarmos o contato de javalis com criações comerciais de suínos em regiões onde exista circulação do vírus da Peste Suína Clássica (PSC), ao se infectarem os javalis podem se tornar reservatórios do vírus, tornando-se uma ameaça constante à suinocultura e dificultando significativamente o desafio dos programas sanitários de controle e erradicação da doença.
A ameaça sanitária pelo contato entre criações domésticas e comerciais com populações de vida livre tem especial importância quando se trata de doenças transfronteiriças, de notificação oficial internacional e que podem resultar em restrições ao comércio internacional, como PSC, Peste Suína Africana (PSA), dentre outras. O Brasil é livre de PSA, mas a situação da doença na Europa e na Ásia é um alerta para que os países livres invistam em vigilância e em biosseguridade das criações comerciais, bem como em controle populacional, monitoramento e vigilância de javalis de vida livre, para detecção e contenção de doenças.
Quanto às doenças endêmicas da suinocultura, em contato com criações comerciais de suínos, os javalis podem se infectar com patógenos comuns dos sistemas de criação intensiva e se tornarem reservatórios, mantendo a circulação desses patógenos nas populações asselvajadas como uma constante ameaça aos suínos.
Por outro lado, os javalis podem ser carreadores ou reservatórios de patógenos não frequentes na pecuária e o contato direto e/ou indireto que estabelecem com outras espécies animais pode resultar em risco de introdução de novos patógenos, não usuais na pecuária e mesmo em saúde pública. No momento atual, a abordagem do papel do javali no contexto da “Saúde Única” mostra a importância do controle e monitoramento sanitário dessas populações.
OP Rural – Existem medidas no Brasil para conter os javalis? Se sim, estão tendo efeito?
VSS – Sim. O javali (e seus cruzamentos com suínos domésticos) em vida livre foi declarado como espécie nociva no país e o controle populacional foi normatizado pelo Ibama por meio da Instrução Normativa nº 3, 31/01/2013, alterada pela IN Ibama nº 12, de 25 de março de 2019, as quais dispõem sobre as condições para realização do abate para controle populacional da espécie pela sociedade civil.
Importante destacar que antes dessas normativas, mesmo frente aos impactos deletérios da presença e expansão dos javalis, o abate da espécie poderia ser interpretado como infração, já que não havia instrumento legal para regulamentar o controle. Não se trata de caça esportiva e sim de controle de espécie exótica invasora, que tem princípios, diretrizes e objetivos distintos.
Desde 2013, as ações de manejo de javalis se intensificaram em todo o território nacional e, diante da necessidade de aprimorar a articulação dessas ações, foi elaborado o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali (Sus scrofa) no Brasil (Plano Javali), publicado pela Portaria Interministerial MMA/Mapa nº 232, de 28 de junho de 2017.
Com este arcabouço legal o abate para controle populacional dos javalis tem diretrizes claras no país, porém embora tenhamos feito progressos significativos no tema, na prática as ações para controle ainda estão muito aquém do necessário para que sejam efetivas para o objetivo de “conter a expansão territorial e demográfica do javali no Brasil e reduzir seus impactos, especialmente em áreas prioritárias de interesse ambiental, social e econômico”.
Os interesses e motivações relativos à invasão e controle do javali são variados e muitas vezes conflitantes entre os diferentes segmentos da sociedade. Por isso, a informação e comunicação são cruciais para motivar o envolvimento dos diferentes segmentos sociais para efetividade do controle.
OP Rural – As pesquisas em suinocultura da Embrapa Suínos e Aves, em Santa Catarina, correm perigo?
VSS – As ameaças à suinocultura são os desafios de pesquisa da Embrapa Suínos e Aves, que direcionam nossos projetos de PD&I em busca de soluções, razão pela qual a Embrapa se dedica ao tema desde 2012, antes da primeira normativa de controle populacional da espécie.
Nossas instalações estão na região Sul do Brasil, região de alta produtividade da suinocultura industrial e com registros da presença javalis em muitos municípios. Neste sentido, como nossas pesquisas estão diretamente ligadas ao ambiente do setor produtivo, a ameaça à suinocultura decorrente da presença do javali poderá impactar também nas pesquisas.
Por outro lado, a linha de pesquisa em manejo populacional, vigilância e monitoramento sanitário de javalis da Embrapa está presente em várias regiões do território nacional, gerando conhecimentos, informações e ativos de inovação de aplicação direta pelos órgãos oficiais e demais segmentos sociais envolvidos e/ou atingidos pela bioinvasão dos javalis.
Desde 2012 a Embrapa tem atuado junto aos órgãos oficiais, Mapa, MMA, Ibama, ICMBio, órgãos estaduais de Meio Ambiente e de Defesa Sanitária Animal, apoiando e subsidiando com pesquisa e desenvolvimento a elaboração e execução das políticas públicas de monitoramento sanitário e controle populacional dos javalis. Disponibilizamos publicações sobre biosseguridade na suinocultura com foco nas populações de javalis, sobre javalis e doenças de impacto econômico na suinocultura e zoonoses. Em colaboração com o serviço veterinário oficial (SVO), acessamos os primeiros mapas de percepção da distribuição dos javalis (dados incorporados ao relatório do Ibama de áreas prioritárias para manejo), desenvolvemos e disponibilizamos ao Ibama o SIMAF (Sistema de Manejo de fauna) para informatização e gestão do manejo do javali no país, ministramos capacitações para vigilância para SVO e controladores em várias UFs, e em apoio ao MAPA realizamos o monitoramento sanitário dos javalis para doenças de impacto econômico, além do monitoramento de zoonoses. Dessa forma, a contribuição da Embrapa voltada ao controle populacional e monitoramento sanitário dos javalis possibilita o acompanhamento tanto da bioinvasão quanto das ações de controle por meio de registros via SIMAF.
OP Rural – O que deveria ser feito para controlar, de fato, essa população?
VSS – Para que o controle dos javalis ocorra de forma eficiente, a sociedade precisa estar informada e sensibilizada sobre o problema, ciente e engajada nos processos necessários para o controle da espécie. Desinformação, conflito de interesses entre diferentes segmentos da sociedade em relação ao assunto diluem os esforços voltados ao controle dos javalis. É preciso estar claro para toda a sociedade que o javali é uma praga, não um recurso.
O controle da espécie foi normatizado pelos órgãos regulatórios mas, na prática, o manejo para controle deve ser realizado pela sociedade, pois não há órgão público que possa conter essas populações já amplamente disseminadas pelo país.
O controle populacional e ações de vigilância dessas populações em explorações pecuárias e agrícolas requer estreita interlocução, ação coordenada e colaborativa entre veterinários, produtores rurais, controladores de javalis legalizados, gestores ambientais, ecólogos e/ou biólogos especialistas em fauna silvestre, o que ainda é incipiente no país.
Na suinocultura, medidas de prevenção e controle de javali devem ser incorporadas junto às demais medidas de biosseguridade, a exemplo dos programas de controle de roedores e insetos, pois as populações asselvajadas dificilmente serão totalmente eliminadas em regiões altamente populosas. Barreiras físicas apropriadas para evitar o contato entre as populações comerciais e os javalis devem ser adotadas nas instalações.
As normativas oficiais orientam como deve ser feito o controle dos javalis, com uso de armadilhas (gaiolas ou currais de contenção), com cevas para atração ou mesmo por busca ativa para abate e os interessados devem fazer a solicitação de manejo no SIMAF.
Todas as informações e orientações necessárias ao abate do javali encontram-se no site do Ibama (ibama.gov.br/especies-exoticas-invasoras/javali).
Alternativamente, muitos produtores rurais estabelecem parcerias ou solicitam prestação de serviços à controladores de javalis para fazer controle em suas propriedades, desde que estejam em conformidade com os quesitos previstos nas normativas oficiais.
Enfim, o desafio do controle é proporcional à gravidade da invasão biológica dos javalis no país e para que se possa minimizar os riscos e impactos negativos decorrentes da expansão dessas populações é preciso contar com o envolvimento da sociedade, além da atuação efetiva dos órgãos oficias.
Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2020 ou online.

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



