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Cresce a ameaça de javalis para a suinocultura brasileira

Javalis são potencialmente transmissores de doenças para a suinocultura industrial, o que seria um caos para o setor

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 A presença de javalis no Brasil tem tomado grandes proporções e gerado receio na agropecuária. Eles são potencialmente transmissores de doenças para a suinocultura industrial, o que seria um caos para o setor. O jornal O Presente Rural entrevistou a pesquisadora Virgínia Santiago Silva, da Embrapa Suínos e Aves, para saber o atual cenário e o que precisa ser feito para reduzir essa população perigosa de javalis selvagens. Boa leitura!

O Presente Rural – Qual a atual situação da presença de javalis no Brasil?

Virgílias Santiago Silva (VSS) – O javali (Sus scrofa), listado entre as 100 “piores” espécies exóticas invasoras do mundo pela União Internacional de Conservação da Natureza (GISD, 2010), foi introduzido no Brasil desde a década de 1960, principalmente para fins comerciais, e por escape e/ou soltura intencional, retornaram ao ambiente natural. Em vida livre, com a diversidade e abundância de recursos naturais associadas à reprodução descontrolada e à ausência de predadores naturais, essas populações facilmente se estabeleceram, se proliferam e se disseminam pelo território nacional.

De acordo com o relatório do Ibama sobre áreas prioritárias para o manejo do javali, até 2018 a ocorrência de javalis foi registrada em 1.536 municípios em 22 UFs: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

OP Rural – Que tipo de ameaças eles trazem para o agronegócio e para a suinocultura?

VSS – A agricultura e a pecuária estão entre os segmentos mais afetados pela disseminação e crescimento populacional dos javalis. Na agricultura, o impacto deletério mais significativo é por predação de lavouras, resultando em prejuízos econômicos significativos, especialmente em lavouras de milho, cana, soja e muitas outras culturas.

Na pecuária, especialmente a suinocultura, os javalis representam uma ameaça sanitária, pois a condição sanitária desses animais é desconhecida e por serem populações de vida livre compartilham habitat e estabelecem variadas formas de contato com diferentes espécies animais, ficando exposto à transmissão de patógenos. Como os javalis são os “ancestrais” do suíno doméstico, são da mesma espécie, o estímulo reprodutivo ocorre e aumenta da chance de contato entre as populações asselvajadas e suínos domésticos, possibilitando a transmissão de patógenos/doenças entre essas populações.

OP Rural – Quais seriam os possíveis efeitos do contato de javalis com suínos da indústria? Existem estudos de cenários?

VSS – Os cenários e consequências dessa interação entre populações de suídeos comerciais e de vida livre podem variar muito dependendo do patógeno/doença implicado. Se, por exemplo, considerarmos o contato de javalis com criações comerciais de suínos em regiões onde exista circulação do vírus da Peste Suína Clássica (PSC), ao se infectarem os javalis podem se tornar reservatórios do vírus, tornando-se uma ameaça constante à suinocultura e dificultando significativamente o desafio dos programas sanitários de controle e erradicação da doença.

A ameaça sanitária pelo contato entre criações domésticas e comerciais com populações de vida livre tem especial importância quando se trata de doenças transfronteiriças, de notificação oficial internacional e que podem resultar em restrições ao comércio internacional, como PSC, Peste Suína Africana (PSA), dentre outras. O Brasil é livre de PSA, mas a situação da doença na Europa e na Ásia é um alerta para que os países livres invistam em vigilância e em biosseguridade das criações comerciais, bem como em controle populacional, monitoramento e vigilância de javalis de vida livre, para detecção e contenção de doenças.

Quanto às doenças endêmicas da suinocultura, em contato com criações comerciais de suínos, os javalis podem se infectar com patógenos comuns dos sistemas de criação intensiva e se tornarem reservatórios, mantendo a circulação desses patógenos nas populações asselvajadas como uma constante ameaça aos suínos.

Por outro lado, os javalis podem ser carreadores ou reservatórios de patógenos não frequentes na pecuária e o contato direto e/ou indireto que estabelecem com outras espécies animais pode resultar em risco de introdução de novos patógenos, não usuais na pecuária e mesmo em saúde pública. No momento atual, a abordagem do papel do javali no contexto da “Saúde Única” mostra a importância do controle e monitoramento sanitário dessas populações.

OP Rural – Existem medidas no Brasil para conter os javalis? Se sim, estão tendo efeito?

VSS – Sim. O javali (e seus cruzamentos com suínos domésticos) em vida livre foi declarado como espécie nociva no país e o controle populacional foi normatizado pelo Ibama por meio da Instrução Normativa nº 3, 31/01/2013, alterada pela IN Ibama nº 12, de 25 de março de 2019, as quais dispõem sobre as condições para realização do abate para controle populacional da espécie pela sociedade civil.

Importante destacar que antes dessas normativas, mesmo frente aos impactos deletérios da presença e expansão dos javalis, o abate da espécie poderia ser interpretado como infração, já que não havia instrumento legal para regulamentar o controle. Não se trata de caça esportiva e sim de controle de espécie exótica invasora, que tem princípios, diretrizes e objetivos distintos.

Desde 2013, as ações de manejo de javalis se intensificaram em todo o território nacional e, diante da necessidade de aprimorar a articulação dessas ações, foi elaborado o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali (Sus scrofa) no Brasil (Plano Javali), publicado pela Portaria Interministerial MMA/Mapa nº 232, de 28 de junho de 2017.

Com este arcabouço legal o abate para controle populacional dos javalis tem diretrizes claras no país, porém embora tenhamos feito progressos significativos no tema, na prática as ações para controle ainda estão muito aquém do necessário para que sejam efetivas para o objetivo de “conter a expansão territorial e demográfica do javali no Brasil e reduzir seus impactos, especialmente em áreas prioritárias de interesse ambiental, social e econômico”.

Os interesses e motivações relativos à invasão e controle do javali são variados e muitas vezes conflitantes entre os diferentes segmentos da sociedade. Por isso, a informação e comunicação são cruciais para motivar o envolvimento dos diferentes segmentos sociais para efetividade do controle.

OP Rural – As pesquisas em suinocultura da Embrapa Suínos e Aves, em Santa Catarina, correm perigo?

VSS – As ameaças à suinocultura são os desafios de pesquisa da Embrapa Suínos e Aves, que direcionam nossos projetos de PD&I em busca de soluções, razão pela qual a Embrapa se dedica ao tema desde 2012, antes da primeira normativa de controle populacional da espécie.

Nossas instalações estão na região Sul do Brasil, região de alta produtividade da suinocultura industrial e com registros da presença javalis em muitos municípios. Neste sentido, como nossas pesquisas estão diretamente ligadas ao ambiente do setor produtivo, a ameaça à suinocultura decorrente da presença do javali poderá impactar também nas pesquisas.

Por outro lado, a linha de pesquisa em manejo populacional, vigilância e monitoramento sanitário de javalis da Embrapa está presente em várias regiões do território nacional, gerando conhecimentos, informações e ativos de inovação de aplicação direta pelos órgãos oficiais e demais segmentos sociais envolvidos e/ou atingidos pela bioinvasão dos javalis.

Desde 2012 a Embrapa tem atuado junto aos órgãos oficiais, Mapa, MMA, Ibama, ICMBio, órgãos estaduais de Meio Ambiente e de Defesa Sanitária Animal, apoiando e subsidiando com pesquisa e desenvolvimento a elaboração e execução das políticas públicas de monitoramento sanitário e controle populacional dos javalis. Disponibilizamos publicações sobre biosseguridade na suinocultura com foco nas populações de javalis, sobre javalis e doenças de impacto econômico na suinocultura e zoonoses. Em colaboração com o serviço veterinário oficial (SVO), acessamos os primeiros mapas de percepção da distribuição dos javalis (dados incorporados ao relatório do Ibama de áreas prioritárias para manejo), desenvolvemos e disponibilizamos ao Ibama o SIMAF (Sistema de Manejo de fauna) para informatização e gestão do manejo do javali no país, ministramos capacitações para vigilância para SVO e controladores em várias UFs, e em apoio ao MAPA realizamos o monitoramento sanitário dos javalis para doenças de impacto econômico, além do monitoramento de zoonoses. Dessa forma, a contribuição da Embrapa voltada ao controle populacional e monitoramento sanitário dos javalis possibilita o acompanhamento tanto da bioinvasão quanto das ações de controle por meio de registros via SIMAF.

OP Rural – O que deveria ser feito para controlar, de fato, essa população?

VSS – Para que o controle dos javalis ocorra de forma eficiente, a sociedade precisa estar informada e sensibilizada sobre o problema, ciente e engajada nos processos necessários para o controle da espécie. Desinformação, conflito de interesses entre diferentes segmentos da sociedade em relação ao assunto diluem os esforços voltados ao controle dos javalis. É preciso estar claro para toda a sociedade que o javali é uma praga, não um recurso.

O controle da espécie foi normatizado pelos órgãos regulatórios mas, na prática, o manejo para controle deve ser realizado pela sociedade, pois não há órgão público que possa conter essas populações já amplamente disseminadas pelo país.

O controle populacional e ações de vigilância dessas populações em explorações pecuárias e agrícolas requer estreita interlocução, ação coordenada e colaborativa entre veterinários, produtores rurais, controladores de javalis legalizados, gestores ambientais, ecólogos e/ou biólogos especialistas em fauna silvestre, o que ainda é incipiente no país.

Na suinocultura, medidas de prevenção e controle de javali devem ser incorporadas junto às demais medidas de biosseguridade, a exemplo dos programas de controle de roedores e insetos, pois as populações asselvajadas dificilmente serão totalmente eliminadas em regiões altamente populosas. Barreiras físicas apropriadas para evitar o contato entre as populações comerciais e os javalis devem ser adotadas nas instalações.

As normativas oficiais orientam como deve ser feito o controle dos javalis, com uso de armadilhas (gaiolas ou currais de contenção), com cevas para atração ou mesmo por busca ativa para abate e os interessados devem fazer a solicitação de manejo no SIMAF.

Todas as informações e orientações necessárias ao abate do javali encontram-se no site do Ibama (ibama.gov.br/especies-exoticas-invasoras/javali).

Alternativamente, muitos produtores rurais estabelecem parcerias ou solicitam prestação de serviços à controladores de javalis para fazer controle em suas propriedades, desde que estejam em conformidade com os quesitos previstos nas normativas oficiais.

Enfim, o desafio do controle é proporcional à gravidade da invasão biológica dos javalis no país e para que se possa minimizar os riscos e impactos negativos decorrentes da expansão dessas populações é preciso contar com o envolvimento da sociedade, além da atuação efetiva dos órgãos oficias.

Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2020 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade

Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.

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Fotos: Divulgação/Agroceres Multimix

Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix

Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.

Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.

As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.

A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.

Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.

De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.

O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.

Diagnóstico

Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.

A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:

  • Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
  • Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
  • Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
  • Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.

A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.

Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.

A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.

A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.

A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.

Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.

As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Lucas Avelino Rezende
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Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade

Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.

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Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.

Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis ​​esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.

Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.

Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.

O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.

Comunicação e conscientização

Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.

O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.

Compromisso do setor

Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,

Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.

A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos

Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela

Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.

Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.

“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.

Exportações

Foto: Claudio Neves

Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.

Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.

Perspectivas

Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.

Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.

Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.

Segurança do trabalho

Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.

Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.

Fonte: Assessoria Sistema Faep
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