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Cooperativismo e a nova agenda do desenvolvimento sustentável
Setor reúne milhões de cooperados, movimenta R$ 750 bilhões e apresenta soluções decisivas para clima, produção de alimentos e energia.

O cooperativismo brasileiro, um movimento robusto que congrega mais de 25,8 milhões de cooperados e opera com 4,3 mil cooperativas ativas em mais de 90% dos municípios do País, é hoje um protagonista na agenda de sustentabilidade global. Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA), cooperativas de diferentes setores participaram de mais de 30 painéis, com temas como bioeconomia, agricultura de baixo carbono, inclusão produtiva, entre outros.
A participação ganha peso especial justamente em 2025 – declarado pela ONU como o ‘Ano Internacional do Cooperativismo’. O modelo é destacado como uma solução global para desafios complexos que vão da segurança alimentar e transição energética ao financiamento climático, que são essenciais para a adaptação e mitigação de riscos climáticos em escala nacional.

Artigo escrito por Mauro Favero, presidente da Divisão de Agricultura Leve no Grupo Husqvarna.
O modelo de organização coletiva do cooperativismo entrega resultados concretos, alinhando eficiência econômica e sustentabilidade, com um papel fundamental em: agricultura de baixo carbono, promovendo a segurança alimentar; financiamento e valorização das comunidades; apoio à transição energética e ao desenvolvimento sustentável; incentivo à bioeconomia e ao uso eficiente dos recursos naturais; e construção de resiliência a riscos climáticos.
No agronegócio, a relevância é indiscutível: pouco mais de um quinto dos produtores rurais brasileiros estão organizados em cooperativas, mas juntos, eles são responsáveis por mais da metade da safra nacional de grãos e fibras, garantindo competitividade global. Essas organizações movimentaram R$ 438 bilhões em receita no último ano, distribuíram R$ 30 bilhões em lucro e mantêm mais de 268 mil empregos diretos.
A força do cooperativismo, no entanto, vai muito além das cifras do agro. De acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro, o setor movimenta financeiramente aproximadamente R$ 750 bilhões ao ano, com uma geração de 570 mil empregos diretos. O impacto é sentido diretamente nos territórios: municípios com cooperativas apresentam, em média, um incremento de R$ 5,1 mil no PIB por habitante, além de um acréscimo médio de 14,8 estabelecimentos comerciais por mil habitantes. Esse modelo de negócios é um indutor de desenvolvimento que contribui para a redução de famílias no Cadastro Único e entre as beneficiárias do Programa Bolsa Família, e ainda estimula o aumento de matrículas no Ensino Superior, bem como o aumento da arrecadação e de empregos formais nas regiões em que está presente.
As cooperativas promovem inclusão social, dinamizam economias locais e levam tecnologia e assistência técnica a produtores que, isoladamente, teriam mais dificuldade em acessar esses recursos. São estruturas que compartilham riscos, multiplicam oportunidades e constroem comunidades mais fortes. Em um tempo de instabilidades geopolíticas e custos crescentes de produção, as cooperativas funcionam como um escudo para seus associados, garantindo acesso a insumos, crédito, orientação técnica e melhores condições de comercialização.
A diversidade do cooperativismo agropecuário brasileiro também merece destaque. Presente em todos os elos da cadeia, ele reúne desde cooperativas voltadas ao fornecimento de insumos até aquelas que atuam na industrialização e comercialização de produtos de origem vegetal e animal. Isso permite agregar valor à produção, abrir novos mercados e reduzir a vulnerabilidade do produtor diante das oscilações de preço.
Além disso, a intercooperação, princípio que orienta a atuação conjunta entre cooperativas de diferentes ramos, potencializa resultados. Em 2024, mais de 60% das cooperativas agropecuárias realizaram negócios com cooperativas de crédito, 23% utilizaram planos de saúde de cooperativas especializadas e outras tantas recorreram a serviços de transporte e trabalho.
Nesse cenário, o mercado e as empresas têm um papel fundamental a cumprir. Ao desenvolver produtos e soluções que facilitem o trabalho no campo, melhorem a produtividade e promovam a sustentabilidade. Essa colaboração é particularmente importante na agricultura familiar, onde o acesso a tecnologias, insumos de qualidade e assistência técnica muitas vezes depende do suporte das cooperativas e da oferta responsável de companhias parceiras.
Quando uma empresa estrutura programas de capacitação, disponibiliza equipamentos mais acessíveis ou estabelece canais de venda em conjunto com as cooperativas, ela não está apenas ampliando sua presença de mercado, mas está ajudando a transformar a realidade de pequenos produtores, que passam a produzir mais e melhor. Essa parceria virtuosa entre inovação empresarial e organização coletiva é parte essencial do caminho para garantir a resiliência do agro brasileiro e sua relevância mundial.
O setor, ao aliar eficiência econômica, compromisso social e responsabilidade ambiental, é a vitrine viva do conceito “Cooperativas constroem um mundo melhor”, tema eleito pela ONU para 2025. O Brasil, por meio do cooperativismo, projeta internacionalmente a capacidade de consolidar um modelo que concilia alta produtividade e a urgência da sustentabilidade. Celebrar o Ano Internacional das Cooperativas é reconhecer que o futuro do agro, da alimentação e da sustentabilidade do planeta passa por esse modelo de organização coletiva. O cooperativismo brasileiro não apenas constrói um mundo melhor: ele já o está transformando, todos os dias.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



