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Avicultura Biossegurança pode ser a solução

Conversão alimentar e ganho de peso pioram com retirada de antimicrobianos

Em entrevista exclusiva ao jornal O Presente Rural, médica-veterinária Ines Andretta cita prejuízos já calculados em alguns estudos, mas garante que essa retirada pode até ser benéfica do ponto de vista econômico, já que muitos animais conseguem o mesmo desempenho (ou até melhor) sem que a indústria avícola gaste com a compra dos medicamentos.

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Wenderson Araújo

A professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, médica-veterinária Ines Andretta, falou sobre os desafios e oportunidades com a retirada de antimicrobianos promotores de crescimento da avicultura durante o Simpósio Brasil Sul de Avicultura, realizado no mês de abril em Chapecó (SC).

Em entrevista exclusiva ao jornal O Presente Rural, Ines cita prejuízos já calculados em alguns estudos, mas garante que essa retirada pode até ser benéfica do ponto de vista econômico, já que muitos animais conseguem o mesmo desempenho (ou até melhor) sem que a indústria avícola gaste com a compra dos medicamentos. Confira.

Professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, médica veterinária Ines Andretta, falou sobre os desafios e oportunidades com a retirada de antimicrobianos promotores de crescimento da avicultura durante o Simpósio Brasil Sul de Avicultura, realizado em abril na cidade de Chapecó (SC) – Foto: Arquivo pessoal

O Presente Rural – Quais os desafios sanitários que podem ocorrer nas aves com a retirada de antimicrobianos promotores de crescimento (APC)?

Ines Andretta – Os animais expressam apenas 60-70% do seu potencial genético para desempenho, mesmo em sistemas modernos e tecnificados. Diversos fatores colaboram para isso, mas certamente os desafios sanitários são parte importante deste contexto. Os APC reduzem o impacto dos desafios à medida que minimizam a ocorrência de infecções, sobretudo aquelas que chamamos de subclínicas. Os animais que mantêm uma melhor condição de saúde são mais eficientes no aproveitamento dos nutrientes presentes nos alimentos e na expressão do seu potencial de crescimento, ou seja, desempenham melhor.

O Presente Rural – Quais impactos a retirada dos APCs podem ocorrer na saúde dos animais?

Ines Andretta – Os desafios entéricos são os mais relevantes. Porém, a disbiose intestinal compromete a resposta imune e pode certamente gerar problemas em outros sistemas do animal. Cabe ressaltar que a perda de saúde (e de desempenho) depende sempre do sistema em que o animal está sendo criado. A retirada dos APC em um sistema que investe em bioseguridade pode não gerar prejuízo. Porém, em uma condição de desafios sanitários frequentes, a retirada dos APC certamente será mais impactante.

O Presente Rural – Que impacto essa retirada pode causar na performance dos animais, como consumo de ração, GPD ou conversão alimentar?

Ines Andretta – Nossa equipe desenvolveu uma série de estudos neste tema e eu vou compartilhar alguns desses resultados no Simpósio Brasil Sul de Avicultura. Em um desses projetos, fizemos uma revisão sistemática da literatura científica disponível na área. Foram revisados 174 estudos publicados em periódicos científicos com o objetivo de encontrar um valor ‘médio’ para esse impacto. A Dra. Kátia Maria Cardinal foi responsável por essa pesquisa, que foi publicada na revista Poultry Science. A primeira observação que fizemos é que esse impacto varia muito entre os estudos. Há trabalhos que associam a retirada dos APC a prejuízos de 30-40% no GPD (conforme a figura 1), enquanto outros estudos descrevem resultados semelhantes ou até aumento no GPD em tratamentos sem APC. Quando os dados foram reanalisados (através de meta-análise), observamos que animais alimentados com dietas sem APC apresentaram conversão alimentar em média 3.5% pior que os animais que recebiam dietas com APC. Essa é uma redução bem expressiva e vale ressaltar que só consideramos estudos sem desafio sanitário nesse projeto.

Variações no ganho de peso associadas a retirada dos antibióticos promotores de crescimento nos estudos disponíveis na literatura científica

O Presente Rural – Nesse cenário, quais são os impactos econômicos causados com a retirada de APCs? Se possível, cite números.

Ines Andretta – Nós desenvolvemos um modelo bem simples que prevê o impacto da retirada dos APC no custo da produção das aves. Esse modelo considera que há perdas na eficiência alimentar nas aves que não recebem APC, mas também considera que essas dietas podem ser mais baratas (pois retira-se o custo do APC). Nos cenários que estudamos, o impacto era em média de 3 centavos de US$ por animal. Mas é importante considerar que esse é um valor que muda muito de cenário para cenário. Cada indústria precisa conhecer seus próprios números.

O Presente Rural – Como a indústria tem encarado essa situação?

Ines Andretta – O uso dos antimicrobianos como promotores de crescimento é um tema muito amplo. Embora o impacto econômico seja extremamente relevante, nós estamos falando de um problema muito sério de saúde pública e não podemos ignorar isso. A avicultura tem um papel super relevante garantindo segurança alimentar (alimento disponível para uma população cada vez maior), mas é nossa responsabilidade entregar também alimento seguro e ambientalmente sustentável. Claro que a resistência microbiana não é um problema apenas da produção animal. Muito pelo contrário, há muito a ser feito na medicina humana e, principalmente, na conscientização das pessoas para o uso correto e responsável dos antimicrobianos. As substâncias classificadas pela WHO no nível mais crítico para resistência não são usadas na produção animal. Porém, já há registros de bactérias resistentes a estas moléculas na suinocultura, por exemplo. Acho que essa é uma prova importante de que precisamos desenvolver um trabalho de equipe. A ‘saúde única’ não tem esse nome à toa e nós devemos fazer a nossa parte. De maneira geral, o uso de fármacos nas rações é muito bem regulado e fiscalizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Muitas empresas têm trabalhado reduções voluntárias como políticas de mercado. Acredito que já avançamos muito, tanto em ‘conscientização’, quanto em ‘ação’.

O Presente Rural – Quais as alternativas aos APCs? Essas alternativas são mais onerosas?

Ines Andretta – Existem muitas alternativas disponíveis e é inegável que há produtos capazes de auxiliar muito nesse processo de retirada dos antimicrobianos. Probióticos, prebióticos, simbióticos, enzimas, fitogênicos, acidificantes e tantos outros. Esses aditivos são ótimas ferramentas para manter a produtividade dos animais e, em algumas situações, podem até melhorar a performance. Porém, não existe uma receita pronta. Cada cenário de produção é único e tem seus próprios desafios. O desempenho dos animais depende sempre de muitos fatores e, por isso, é fundamental validar as alternativas no cenário real de produção.

O Presente Rural – Como a biossegurança pode auxiliar na retirada desses APCs?

Ines Andretta – A biosseguridade, na minha opinião, é o ponto-chave para a retirada dos APC com o menor impacto produtivo e econômico possível. Sistemas de produção que se preocupam com biosseguridade podem ser beneficiados pela retirada dos APC. Afinal, eliminá-los representa menos custos e pode abrir mercados. Implantar um plano completo de biosseguridade não é uma tarefa fácil, mas é cada vez mais necessário.

O Presente Rural – Como a ambiência e as instalações podem contribuir para reduzir impactos da retirada dos APC?

Ines Andretta – Desempenho é uma condição multifatorial. Os animais expressam seu desempenho como resposta à genética, ambiente, nutrição ou condição sanitária em que são expostos. Cada fator explica uma parcela do desempenho e todos são associados. Se pioramos a condição sanitária dos animais, estamos desafiando esse animal e provavelmente reduzindo a chance de que ele entregue seu potencial genético máximo. O mesmo acontece com cada um dos fatores envolvidos. Por isso, a retirada dos APC em condições ótimas de produção (boas instalações, boa ambiência, boa saúde, etc.) vai certamente representar um desafio menor em comparação com cenários produtivos em que outros desafios também estão presentes.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura.

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Aves não sentem sabor: MITO!

Evidências comportamentais e genéticas já demonstraram que as aves têm uma capacidade precisa para detectar diferentes modalidades gustativas, desafiando o amplo consenso de que as aves têm menor acuidade gustativa do que os mamíferos.

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Foto: Divulgação

A revisão cronológica da anatomia relacionada ao paladar e comportamento alimentar das aves mostra um atraso de 50 anos na descoberta do sistema gustativo (papilas gustativas), em comparação com mamíferos. Este fato está relacionado ao entendimento de que as aves não possuem papilas gustativas na língua e uma secreção limitada de saliva.

No entanto, hoje sabe-se que o sistema gustativo é o sentido que evoluiu do sistema quimio-sensorial presente na cavidade oral de aves, a fim de avaliar o valor nutricional dos alimentos, detectando compostos relevantes, como aminoácidos, ácidos, peptídeos, carboidratos, lipídios, cálcio, sais e compostos tóxicos ou antinutricionais.

O que dizem as pesquisas recentes?

Nos últimos anos surgiram novos estudos, principalmente devido ao advento da metagenômica, os quais evidenciaram que o sistema gustativo é tão crucial para as aves quanto para os mamíferos. Apesar de muitas semelhanças, também existem diferenças fundamentais entre os sistemas gustativos de aves e mamíferos em termos de anatomia, distribuição das papilas gustativas, natureza e estrutura molecular dos receptores gustativos. Geralmente, as aves têm cavidades orais menores, menor número de papilas gustativas e sua distribuição na cavidade oral segue o padrão de deglutição dos alimentos. Além disso, as diferenças entre as espécies de aves no tamanho, estrutura e distribuição das papilas gustativas estão associadas ao tipo de dieta e outras adaptações ecológicas.

Como ocorre a percepção de sabores pelas aves?

As aves têm mais diversidade em termos de estruturas anatômicas das papilas gustativas, com pelo menos três tipos identificados. Além disso, os padrões de distribuição das papilas gustativas são mais diversos e estão localizados principalmente no palato, e não na língua. As aves possuem capacidade de perceber sabores doces, umami, azedos, amargos, ácidos, salgados, cálcicos e de gorduras.

E o uso de palatabilizantes nas dietas?

O uso de palatabilizantes pode melhorar o sabor de uma ração para torná-la mais atraente para o animal ou até mesmo mascarar sabores desagradáveis. Consequentemente, há aumento da ingestão, resultando maior desempenho zootécnico e maior produtividade. Além disso, há uma ligação direta entre a palatabilidade do alimento e o bem-estar animal, uma vez que uma dieta palatável estimula os sentidos e traz emoções positivas à ave.

As aves podem restringir o consumo quando percebem sabores muito intensos?

Sobre o acesso a uma água ou alimento com características muito ácida/azeda/amarga/alcalina, há uma restrição de consumo por mecanismos de defesa do próprio animal. Por exemplo, estudos em aves mostraram que, em geral, existe uma tolerância ao meio ácido ou soluções alcalinas, mas evitando soluções ácidas ou alcalinas extremas.

Qual é a importância do entendimento da percepção sensorial em aves?

O paladar das aves desempenha um papel fundamental na escolha da ração e no seu nível de consumo. Por exemplo, é comum que frangos de corte e poedeiras tenham uma preferência por ingredientes que contenham cálcio na sua composição, como grãos, ossos e cascas. Estes sinais gustativos podem desempenhar um papel fundamental no reconhecimento de dietas deficientes ou suplementadas com cálcio.

As aves são mais sensíveis aos sabores da água do que aos sabores da ração, consumindo quase o dobro da água em relação à ração. É conhecido que as aves preferem água levemente ácida ou água suplementada com tiamina e açúcares, rejeitando sabores como xilose e sacarina. É comum observarmos no campo que quando as aves possuem acesso a uma água de pH natural alcalino que passa a ser acidificada, há um aumento expressivo no consumo de água. Por outro lado, quando este processo de acidificação ocorre de forma muito intensa, baixando-se muito o pH, verifica-se uma redução do consumo.

Uma grande diversidade de vitaminas, minerais ou ácidos orgânicos são comumente adicionados a dieta dos animais, seja via água ou ração. No entanto, o efeito da palatabilidade destes aditivos sobre o consumo dos animais é amplamente conhecido na suinocultura e pouco explorado para as aves. Alguns estudos já demonstraram que produtos à base de ácido acético, fórmico e propiônico, por exemplo, não são tão palatáveis quanto produtos à base de ácido fosfórico, cítrico e ascórbico. Considerando que as aves possuem uma percepção gustativa bem desenvolvida, a composição destes aditivos é fator determinante para estímulo ou restrição ao consumo de uma água ou ração tratada com estes produtos.

Conclusões

Evidências comportamentais e genéticas já demonstraram que as aves têm uma capacidade precisa para detectar diferentes modalidades gustativas, desafiando o amplo consenso de que as aves têm menor acuidade gustativa do que os mamíferos. Desta forma, trabalhar com a nutrição de modo a promover a palatabilidade das dietas e estimular o consumo de água e ração é uma prática fundamental para garantir o sucesso da produção.

As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: marketing@americannutrients.com.br.

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Fonte: Por Daiane Carvalho, Médica Veterinária, doutora em Sanidade Avícola; Michele Fangmeier, Química Industrial, mestre em Biotecnologia e Luana Specht, Bióloga, mestre em Biotecnologia
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Avicultura

Reovírus: o inimigo que abala a agroindústria avícola

Classificado como um vírus entérico de infecções persistentes, é altamente resistente no ambiente.

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Fotos: Shutterstock

O Reovírus tem se destacado como uma preocupação central para a agroindústria, especialmente no que diz respeito às condenações parciais que afetam a cadeia produtiva. Este tema foi amplamente debatido durante o 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado no dia 10 de setembro em Cascavel, no Oeste do Paraná. O médico-veterinário Jônatas Wolf, especialista em Avicultura e mestre em Zootecnia, destacou a relevância do Reovírus no cenário atual, apontando suas implicações na saúde das aves e os desafios para o setor.

Médico-veterinário, especialista em Avicultura e mestre em Zootecnia, Jônatas Wolf: “Dados indicam que apenas 3% da transmissão ocorre de forma vertical, o que reforça a importância de focar os esforços na redução da contaminação horizontal” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Entre os principais problemas enfrentados pela agroindústria estão as bolhas hemorrágicas, lesões visíveis na articulação tíbio-tarsal das aves. Essas alterações, que variam de cor vermelha-rubro a arroxeada ou esverdeada, são resultados de derrames sanguíneos causados ​​por alterações vasculares, sem lesões ou comprometimento estrutural. Embora a integridade dos ossos, os tendões e a fisiologia sejam preservados, o dano impacta visualmente o produto, sendo um fator de condenação parcial ou total. “Embora a lesão seja asséptica e não comprometa a estrutura articular ou óssea da ave, a alteração morfológica da perna resulta em condenações parciais que, no acumulado de 2023, variaram entre os estados brasileiros”, frisou. “Condenações parciais por artrite superaram 3% em dezembro do ano passado, com destaque para Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo. Bahia e Rio Grande do Sul, por sua vez, registraram condenações totais superiores à média nacional de 0,07%”, expôs o profissional.

O Reovírus, classificado como um vírus entérico de infecções persistentes, é altamente resistente no ambiente. Sua capacidade de permanência por até 10 dias em penas, ração e ovos, além de resistir até 10 semanas na água, o torna um desafio contínuo. Sua transmissão se dá tanto de forma vertical, das matrizes para os pintinhos, quanto horizontal, através do contato ave a ave, com a via fecal-oral sendo determinante nesse processo.

Wolf enfatizou que um dos principais esforços da agroindústria tem sido a implementação de soluções sanitárias mais rigorosas, a fim de reduzir a pressão de infecção nas unidades de produção.

Patogenia e virulência

Outro ponto destacado pelo médico-veterinário foi a patogenia e virulência do Reovírus, abordando sua influência sobre a saúde das aves.

De acordo com dados apresentados por Wolf, entre 85% e 90% dos Reovírus não são patogênicos, ou seja, não causam doenças clinicamente relevantes nas aves. No entanto, uma pequena parcela de Reovírus patogênicos está diretamente relacionada a uma série de manifestações clínicas e lesões que afetam diretamente a produção avícola.

As formas clássicas da doença causada pelo Reovírus incluem artrite, tenossinovite, síndrome de nanismo e raquitismo, hepatite, miocardite com hidropericárdio, osteoporose, síndrome de má absorção, imunossupressão, além de doenças respiratórias e entéricas. “Nas formas clínicas típicas, as lesões mais comuns envolvem a articulação tarsometatarsal, aumento dos tendões flexores e focos necróticos no coração, baço e fígado, o que compromete a saúde das aves e pode levar a condenações parciais ou totais no abate”, menciona.

Wolf explicou detalhadamente a fisiopatologia do Reovírus nas aves, apontando o impacto da artrite causada por esse agente. “O Reovírus, na sua patogênese, provoca lesões que afetam a locomoção das aves. O aumento do edema nas pernas, somado ao cisalhamento das fibras tendinosas, causa o extravasamento de conteúdo, com infiltração de células neurositárias e linfocitárias, fazendo a ave perder a capacidade de locomoção”, detalhou Wolf.

O especialista também destacou que as lesões clássicas de uma ave com as pernas abertas ou com os dedos enrijecidos não são a causa mais comum de condenações. “As lesões que frequentemente levam à notificação no abate são de natureza vesicular, inclusive, a identificação dessas lesões no campo é muitas vezes difícil, devido à sua progressão limitada à morfologia externa, sem comprometimento articular mais profundo”, expõe.

O desafio para a agroindústria reside na detecção precoce e não controlar essas lesões, minimizando os prejuízos econômicos decorrentes das condenações. Ao mesmo tempo, a importância de compreender a fisiopatologia e os mecanismos de ação do Reovírus abre oportunidades para o desenvolvimento de novas estratégias de controle e manejo sanitário, além da implementação de medidas preventivas mais eficazes.

O cenário atual reforça a necessidade de uma abordagem integrada, com foco na redução da pressão de infecção através de intervalos sanitários mais rigorosos e controle de transmissão vertical e horizontal. A busca por soluções mais eficientes, aliadas à conscientização sobre a complexidade do Reovírus, é um passo crucial para mitigar os impactos econômicos e sanitários que essa doença impõe ao setor avícola.

Vacinas autógenas

O diagnóstico do Reovírus em aves é determinante para identificar e controlar surtos que causam prejuízos expressivos à indústria avícola. Em casos suspeitos, a avaliação clínica é seguida pela realização do RT-qPCR, que identifica o vírus. Wolf explica que se o valor de Cq obtido for superior a 30 é realizado uma passagem do vírus em ovo embrionado para aumentar sua propagação. “Esse isolado é, então, utilizado na produção de vacinas autógenas e contribui para a construção da árvore filogenética dos vírus identificados”, ressaltou.

Impacto do Reovírus

A artrite, uma das manifestações clínicas mais comuns associadas ao Reovírus, está entre as três principais causas de condenações nas agroindústrias. Entre 2008 e 2015, houve um aumento de 95% na incidência do vírus nos EUA, com predominância dos clusters II e V. No Brasil, os clusters I, II e V foram identificados, com ou sem associação à doença. Embora a confirmação entre o genótipo e a doença seja ainda inconclusiva, a presença desses clusters é um indicativo importante para o monitoramento.

Fatores predisponentes

A presença do Reovírus em regiões com alta densidade de aviários, como o Oeste do Paraná – uma das maiores regiões produtoras do Brasil – eleva os riscos de infecção. Outros fatores incluem uso excessivo de cama, falhas de biossegurança regionais, desinfecção deficiente e falhas no controle de temperatura (frio ou abafamento). “A qualidade dos pintos também influencia a gravidade do quadro, especialmente quando as matrizes são muito jovens ou velhas, ou quando há falhas na incubação. Além disso, dietas com alta densidade de nutrientes, deficiência marginal de vitaminas, presença de micotoxinas e infecções subclínicas por outros agentes agravam o problema”, salienta Wolf.

O Reovírus é envelopado, persistente no ambiente e resistente a desinfetantes. A Universidade da Califórnia realizou um estudo que demonstrou que a transmissão vertical/transovariana pode responder por cerca de 2 a 5% dos casos em frangos de corte, ou seja, o vírus representa entre 95 a 97% da pressão na cadeia produtiva. Por sua vez, a gestão da cama é um fator relevante para transmissão horizontal (via fecal/oral), visto que o vírus é capaz de sobreviver por longos períodos no ambiente. “Embora as perdas econômicas sejam expressivas, a performance zootécnica não é afetada, o grande impacto se dá no Brasil pelas condenas”, afirma Wolf.

Prevenção

A prevenção ao Reovírus requer um programa de biosseguridade abrangente, que inclua vacinação com vacinas comerciais e autógenas, formação de lotes de origem única, alojamento em microrregiões e uma série de medidas de manejo que visem a redução da pressão de infecção. Procedimentos como a correta gestão da cama, intervalos sanitários prolongados e programas diferenciados de infecção e higienização dos galpões são essenciais para controlar o vírus, considerado um agente primário neste processo.

Vacinação como ferramenta no controle do Reovírus

A vacinação contra o Reovírus em aves tem sido uma ferramenta fundamental na prevenção e controle da doença, especialmente para reduzir a transmissão vertical das matrizes para os frangos de corte. A imunização dessas matrizes não só diminui o risco de transmissão transovariana, mas também transfere anticorpos protetores para a progênie.

No Brasil, as vacinas disponíveis incluem as inativadas, que contêm diversas cepas e oferecem uma proteção ampla, além de vacinas vivas e modificadas. No entanto, o controle eficaz por meio de vacinas autógenas enfrenta ainda obstáculos. “A alta variabilidade gênica e a capacidade de mutação do Reovírus, associada à diversidade antigênica dos clusters, comprometem a eficácia das vacinas, dificultando uma proteção completa contra todas as cepas circulantes”, afirma o médico-veterinário, acrescentando: “A principal dificuldade é a resposta imune das aves jovens, que ainda não está completamente desenvolvida, o que pode limitar a eficácia das vacinas. A proteção a curto prazo é difícil de alcançar, e isso gera dúvidas sobre as soluções reais dessa prática”.

Outro ponto elencado pelo especialista é a produção de vacinas autônomas no Brasil, que ainda enfrenta barreiras regulatórias e

operacionais. A regulamentação atual recomenda que a revisão e a regulação das cepas utilizadas nas vacinas autógenas ocorram a cada 15 meses. No entanto, devido à dinâmica do vírus, esta revisão tem sido feita a cada seis meses. “Isolar o agente patogênico de forma correta por região é determinante para o sucesso do programa de vacinação. Porém, os números mostram que ainda não somos competentes nessa identificação”, explicou Wolf.

Experiências práticas e lições aprendidas

Até cinco anos atrás, o isolamento do Reovírus em aves era um grande desafio, mas os avanços nas práticas de isolamento reduziram de forma significativa essa dificuldade. Hoje, segundo Wolf, os melhores órgãos-alvo para identificar e isolar o vírus são o líquido articular e o tendão, permitindo diagnósticos mais precisos e rápidos.

Entretanto, o Reovírus apresenta uma grande complexidade em sua imunogenicidade, principalmente devido à sua variabilidade genética e à dificuldade de se customizar uma resposta imunológica adequada. O profissional expõe que enquanto outros programas de imunização em aves oferecem até 95% de proteção, estudos mostram que a imunidade contra o Reovírus alcança em média 38%, refletindo a natureza resistente do vírus, que é desprovida de envelope e se espalha principalmente via transmissão horizontal. “Dados indicam que apenas 3% da transmissão ocorre de forma vertical, o que reforça a importância de focar os esforços na redução da contaminação horizontal”, reforça Wolf.

Nesse sentido, práticas de manejo, como o trabalho adequado com a cama dos aviários, o prolongamento dos intervalos entre lotes e a diminuição da pressão nos aviários têm se mostrado fundamentais para reduzir a contaminação fecal-oral, uma das principais vias de transmissão do Reovírus.

Avanços e desafios na cadeia produtiva

Conforme Wolf, as discussões com as casas de genética também se intensificaram, abordando temas como a idade da matriz reprodutora e a possibilidade de ajustes nas configurações de incubação e hipóxia, com o objetivo de melhorar os resultados e reduzir as condenações. Além disso, aspectos relacionados ao ganho de peso diário (GPD), peso ao abate, resistência óssea, fragilidade vascular e condições de cama são apontados como possíveis fatores agravantes para o desenvolvimento do Reovírus.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de avicultura acesse a versão digital de avicultura de corte e postura, clique aqui. Boa leitura!Wolf enfatiza que é essencial continuar melhorando o manejo dentro dos aviários, com foco em evitar o abafamento e garantir a ventilação mínima adequada. “É necessário corrigir intervalos sanitários mais longos, sendo que 12 dias são considerados insuficientes. A recomendação é fermentar a cama por no mínimo oito dias ou trocá-la completamente, especialmente na fase inicial da criação (pinteiro). A desinfecção das instalações deve ser completa, com higienização úmida ao invés de seca, especialmente nos aviários positivos para o Reovírus. Além disso, a separação e o manejo deve ser feito por microrregiões, o transporte adequado das rações e a logística de carregamento entre regiões positivas e negativas para o vírus são passos importantes para evitar a propagação do vírus”, evidencia o profissional.

O emprego adequado da vacinação, em conjunto com esses cuidados de manejo e biosseguridade, é imprescindível para minimizar o impacto do Reovírus na avicultura e garantir uma produção mais segura e eficiente.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de avicultura acesse a versão digital de avicultura de corte e postura, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Nova edição de Avicultura Corte e Postura evidencia os desafios do reovírus para a indústria avícola brasileira

A publicação também traz uma matéria especial sobre o Rei do Ovo, o mais novo bilionário brasileiro a integrar a lista da Forbes, a cobertura histórica de O Presente Rural no Siavs 2024 e ainda especialistas discutem os principais desafios sanitários enfrentados pelo setor avícola e as medidas de controle que estão sendo implementadas para proteger as granjas.

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Já está disponível a nova edição digital de Avicultura Corte e Postura de O Presente Rural. A publicação traz em sua capa uma reportagem exclusiva sobre o reovírus aviário (ARV), um patógeno que vem desafiando a indústria avícola com novas variantes mutantes, particularmente virulentas em frangos de corte. Esse vírus, que já é conhecido há décadas, está ganhando novas proporções e afetando significativamente a produtividade das granjas, causando doenças como artrite viral e tenossinovite, além de impactos econômicos relevantes.

O reovírus é um inimigo invisível, mas poderoso, que prejudica a performance das aves, aumenta a mortalidade, e resulta em condenações em frigoríficos, elevando os custos de produção. Para mitigar esses danos, é essencial uma combinação de esforços entre pesquisa científica, biotecnologia avançada e boas práticas de manejo, além da troca constante de informações entre produtores, veterinários e empresas de saúde animal. A rápida identificação de novas variantes e a adaptação das estratégias de controle são elementos essencias para reduzir o impacto do reovírus.

Além da reportagem sobre o ARV, esta edição também traz uma matéria especial sobre Ricardo Faria, mais conhecido como o “Rei do Ovo”, o mais novo bilionário brasileiro a integrar a lista da Forbes. Faria construiu um império na produção de ovos e é referência no agronegócio, sendo um exemplo de sucesso e inovação no setor.

Outro destaque é a cobertura histórica de O Presente Rural no Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura (Siavs 2024), o maior evento do setor no Brasil. A edição traz uma cobertura completa dos painéis, palestras e entrevistas realizadas durante o evento, além de vídeos exclusivos que capturam os principais momentos do encontro que reuniu líderes da avicultura e suinocultura.

Ainda nesta edição, especialistas discutem os principais desafios sanitários enfrentados pelo setor avícola e as medidas de controle que estão sendo implementadas para proteger as granjas. Em outra reportagem, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) traça um panorama da avicultura para a próxima década, destacando as tendências e os avanços tecnológicos que moldarão o futuro da produção avícola.

A edição também traz uma homenagem a Ricardo Santin, uma figura de destaque no setor, pela sua contribuição à avicultura do Paraná, que segue sendo um exemplo de excelência em nível nacional.

Há ainda artigos técnicos escritos por profissionais de renome do setor falando sobre manejo, inovação, produtos, bem-estar e as novas tecnologias existentes no mercado. A publicação conta ainda com matérias que trazem novidades das principais e mais importantes empresas do agronegócio nacional e internacional.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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