Avicultura Desafios e oportunidades
Conversão alimentar e ganho de peso pioram com retirada de antimicrobianos, mas biossegurança pode ser a solução
Doutora em zootecnia Ines Andretta garante que retirada pode até ser benéfica do ponto de vista econômico, já que muitos animais conseguem o mesmo desempenho (ou até melhor) sem que a indústria avícola gaste com a compra dos medicamentos.

A professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutora em zootecnia Ines Andretta destaca em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural os desafios e oportunidades com a retirada de antimicrobianos promotores de crescimento da avicultura, oportunidade que em cita prejuízos já calculados em alguns estudos, mas garante que essa retirada pode até ser benéfica do ponto de vista econômico, já que muitos animais conseguem o mesmo desempenho (ou até melhor) sem que a indústria avícola gaste com a compra dos medicamentos. Confira.
O Presente Rural – Quais os desafios sanitários que podem ocorrer nas aves com a retirada de antimicrobianos promotores de crescimento (APC)?

Professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, médica-veterinária Ines Andretta: “Existem muitas alternativas disponíveis e é inegável que há produtos capazes de auxiliar muito nesse processo de retirada dos antimicrobianos” – Foto: Arquivo pessoal
Ines Andretta – Os animais expressam apenas 60-70% do seu potencial genético para desempenho, mesmo em sistemas modernos e tecnificados. Diversos fatores colaboram para isso, mas certamente os desafios sanitários são parte importante deste contexto. Os APC reduzem o impacto dos desafios à medida que minimizam a ocorrência de infecções, sobretudo aquelas que chamamos de subclínicas.
Os animais que mantêm uma melhor condição de saúde são mais eficientes no aproveitamento dos nutrientes presentes nos alimentos e na expressão do seu potencial de crescimento, ou seja, desempenham melhor.
O Presente Rural – Quais impactos a retirada dos APCs podem ocorrer na saúde dos animais?
Ines Andretta – Os desafios entéricos são os mais relevantes. Porém, a disbiose intestinal compromete a resposta imune e pode certamente gerar problemas em outros sistemas do animal. Cabe ressaltar que a perda de saúde (e de desempenho) depende sempre do sistema em que o animal está sendo criado.
A retirada dos APC em um sistema que investe em bioseguridade pode não gerar prejuízo. Porém, em uma condição de desafios sanitários frequentes, a retirada dos APC certamente será mais impactante.
O Presente Rural – Que impacto essa retirada pode causar na performance dos animais, como consumo de ração, GPD ou conversão alimentar?
Ines Andretta – Nossa equipe desenvolveu uma série de estudos neste tema e eu vou compartilhar alguns desses resultados no Simpósio Brasil Sul de Avicultura. Em um desses projetos, fizemos uma revisão sistemática da literatura científica disponível na área. Foram revisados 174 estudos publicados em periódicos científicos com o objetivo de encontrar um valor ‘médio’ para esse impacto.
A Dra. Kátia Maria Cardinal foi responsável por essa pesquisa, que foi publicada na revista Poultry Science. A primeira observação que fizemos é que esse impacto varia muito entre os estudos. Há trabalhos que associam a retirada dos APC a prejuízos de 30-40% no GPD (conforme a figura 1), enquanto outros estudos descrevem resultados semelhantes ou até aumento no GPD em tratamentos sem APC.
Quando os dados foram reanalisados (através de meta-análise), observamos que animais alimentados com dietas sem APC apresentaram conversão alimentar em média 3.5% pior que os animais que recebiam dietas com APC. Essa é uma redução bem expressiva e vale ressaltar que só consideramos estudos sem desafio sanitário nesse projeto.

Variações no ganho de peso associadas a retirada dos antibióticos promotores de crescimento nos estudos disponíveis na literatura científica
O Presente Rural – Nesse cenário, quais são os impactos econômicos causados com a retirada de APCs? Se possível, cite números.
Ines Andretta – Nós desenvolvemos um modelo bem simples que prevê o impacto da retirada dos APC no custo da produção das aves. Esse modelo considera que há perdas na eficiência alimentar nas aves que não recebem APC, mas também considera que essas dietas podem ser mais baratas (pois retira-se o custo do APC).
Nos cenários que estudamos, o impacto era em média de 3 centavos de US$ por animal. Mas é importante considerar que esse é um valor que muda muito de cenário para cenário. Cada indústria precisa conhecer seus próprios números.
O Presente Rural – Como a indústria tem encarado essa situação?
Ines Andretta – O uso dos antimicrobianos como promotores de crescimento é um tema muito amplo. Embora o impacto econômico seja extremamente relevante, nós estamos falando de um problema muito sério de saúde pública e não podemos ignorar isso. A avicultura tem um papel super relevante garantindo segurança alimentar (alimento disponível para uma população cada vez maior), mas é nossa responsabilidade entregar também alimento seguro e ambientalmente sustentável.
Claro que a resistência microbiana não é um problema apenas da produção animal. Muito pelo contrário, há muito a ser feito na medicina humana e, principalmente, na conscientização das pessoas para o uso correto e responsável dos antimicrobianos. As substâncias classificadas pela WHO no nível mais crítico para resistência não são usadas na produção animal.
Porém, já há registros de bactérias resistentes a estas moléculas na suinocultura, por exemplo. Acho que essa é uma prova importante de que precisamos desenvolver um trabalho de equipe. A ‘saúde única’ não tem esse nome à toa e nós devemos fazer a nossa parte.
De maneira geral, o uso de fármacos nas rações é muito bem regulado e fiscalizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Muitas empresas têm trabalhado reduções voluntárias como políticas de mercado. Acredito que já avançamos muito, tanto em ‘conscientização’, quanto em ‘ação’.
O Presente Rural – Quais as alternativas aos APCs? Essas alternativas são mais onerosas?
Ines Andretta – Existem muitas alternativas disponíveis e é inegável que há produtos capazes de auxiliar muito nesse processo de retirada dos antimicrobianos. Probióticos, prebióticos, simbióticos, enzimas, fitogênicos, acidificantes e tantos outros. Esses aditivos são ótimas ferramentas para manter a produtividade dos animais e, em algumas situações, podem até melhorar a performance.
Porém, não existe uma receita pronta. Cada cenário de produção é único e tem seus próprios desafios. O desempenho dos animais depende sempre de muitos fatores e, por isso, é fundamental validar as alternativas no cenário real de produção.
O Presente Rural – Como a biossegurança pode auxiliar na retirada desses APCs?
Ines Andretta – A biosseguridade, na minha opinião, é o ponto-chave para a retirada dos APC com o menor impacto produtivo e econômico possível. Sistemas de produção que se preocupam com biosseguridade podem ser beneficiados pela retirada dos APC. Afinal, eliminá-los representa menos custos e pode abrir mercados. Implantar um plano completo de biosseguridade não é uma tarefa fácil, mas é cada vez mais necessário.
O Presente Rural – Como a ambiência e as instalações podem contribuir para reduzir impactos da retirada dos APC?
Ines Andretta – Desempenho é uma condição multifatorial. Os animais expressam seu desempenho como resposta à genética, ambiente, nutrição ou condição sanitária em que são expostos. Cada fator explica uma parcela do desempenho e todos são associados. Se pioramos a condição sanitária dos animais, estamos desafiando esse animal e provavelmente reduzindo a chance de que ele entregue seu potencial genético máximo.
O mesmo acontece com cada um dos fatores envolvidos. Por isso, a retirada dos APC em condições ótimas de produção (boas instalações, boa ambiência, boa saúde, etc.) vai certamente representar um desafio menor em comparação com cenários produtivos em que outros desafios também estão presentes.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura.

Avicultura
AVES reconhece os melhores ovos do Espírito Santo em 2025
Concurso reuniu 39 amostras e avaliou rigorosamente casca, clara e gema em três etapas técnicas, confirmando a evolução da avicultura capixaba e premiando produtores que se destacam em excelência e manejo.

A Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES) realizou em Santa Maria de Jetibá mais uma edição do Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba, iniciativa já tradicional que reconhece o profissionalismo, o cuidado e a evolução técnica da avicultura do Estado. A edição de 2025 registrou uma forte participação, com 27 amostras de ovos brancos e 12 de ovos vermelhos enviadas por produtores de diversas regiões capixabas, reforçando o alcance da atividade e a importância do evento para a cadeia produtiva.
Marcado por rigor técnico, o concurso estruturou sua avaliação em três etapas conduzidas pela Comissão Organizadora e por um grupo de dez jurados convidados, representantes de empresas, instituições e entidades do setor avícola de diferentes estados. O médico-veterinário Leandro Marinho, do Idaf, atuou como auditor externo, garantindo neutralidade e transparência ao processo.
Na primeira fase, as amostras passaram pela análise objetiva da Máquina Digital Egg Tester, que avaliou resistência e espessura da casca e Unidade Haugh, parâmetro de referência internacional para medir a qualidade interna dos ovos. Todas as amostras foram submetidas aos mesmos critérios, e apenas as dez mais bem classificadas de cada categoria avançaram. A segunda etapa consistiu em uma análise visual minuciosa da qualidade externa, em que os jurados avaliaram uniformidade de tamanho, limpeza, textura e formato dos ovos, além da coloração da casca no caso dos ovos vermelhos. As amostras iniciavam com pontuação máxima e perdiam pontos conforme fossem identificadas pequenas imperfeições, o que destacou o cuidado dos produtores com manejo, nutrição e ambiência.
A etapa final abriu quatro ovos de cada amostra finalista para avaliação interna. Os jurados observaram presença de manchas de sangue, resíduos de oviduto, consistência do albúmen, centralização da gema e uniformidade de cor, consolidando a pontuação final. Representando a Avimig, o jurado Gustavo Ribeiro Fonseca elogiou o desempenho dos produtores capixabas: “No contexto geral, os avicultores estão de parabéns. São ovos de muita qualidade”, exaltou.
Já a médica-veterinária Karin Grossman, da Poly Sell, destacou a relevância do concurso para o fortalecimento do setor: “É uma satisfação para mim estar participando desse concurso. É um reconhecimento de um trabalho realizado ao longo dos anos, colaborando para a melhoria da qualidade dos ovos”, salientou.
Para a coordenadora técnica da AVES, Carolina Covre, os resultados reforçam o papel estratégico da iniciativa. Segundo ela, a edição de 2025 ocorreu exatamente como planejado, com forte adesão, avaliações criteriosas e alto nível de desempenho entre os concorrentes. “O concurso cumpre seu papel de estimular qualidade, aprimorar práticas e fortalecer a avicultura do Espírito Santo”, afirmou.
Vencedores
Ao final das três etapas, a AVES anunciou os vencedores. Na categoria ovos brancos, o primeiro lugar ficou com Jerusa Stuhr, da Avícola Mãe e Filhos, seguida por Waldemiro Berger, da Ovos Santa Maria, e por Jesebel Foesch Botelho e Thiago Botelho, da Botelho Alimentos. Na categoria ovos vermelhos, o campeão foi Antônio Venturini, da Ovos da Nonna, enquanto Jesebel e Thiago Botelho ficaram em segundo lugar e Lourival Bold, do Sítio Pai e Filhos, em terceiro.
As empresas vencedoras do primeiro lugar que possuem marca comercial própria terão o direito de usar um selo especial em suas embalagens, identificando os produtos como “Melhor Ovo Branco do Espírito Santo – Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba 2025” e “Melhor Ovo Vermelho do Espírito Santo – Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba 2025”.
Empresas reconhecidas
Também foram divulgadas as empresas de genética e nutrição responsáveis pelo suporte técnico aos produtores vencedores, reforçando o papel fundamental desses parceiros na obtenção de resultados de excelência. Na categoria Ovos Brancos, a campeã Jerusa Stuhr contou com genética Bovans White e nutrição fornecida pela ADM-Nutriminas. O segundo colocado, Waldemiro Berger, utilizou genética Hy-Line W80 e recebeu assistência nutricional da DSM. Já o terceiro lugar, representado por Jesebel Foesch Botelho e Thiago Botelho, trabalhou com genética Bovans White e nutrição da Brasfeed.
Na categoria Ovos Vermelhos, o primeiro colocado, Antônio Venturini, utilizou genética Hy-Line Brown e nutrição da Agroceres Multimix. Em segundo lugar, Jesebel Foesch Botelho e Thiago Botelho competiram com genética Bovans Brown e suporte nutricional da Brasfeed. O terceiro colocado, Lourival Bold, participou com aves de genética Hy-Line Brown e nutrição fornecida pela Auster.
A edição 2025 do Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba reafirma o compromisso da AVES com a promoção de boas práticas, a difusão de conhecimento e o reconhecimento do trabalho dos avicultores. Mais do que premiar os melhores ovos do ano, o evento funciona como ferramenta técnica e educativa, contribuindo diretamente para o avanço da avicultura capixaba.
Avicultura
Primeiro Encontro da Avicultura Capixaba impulsiona diálogo, inovação e qualidade
Evento da AVES reuniu a cadeia produtiva, premiou excelência em ovos e reforçou a importância econômica da atividade para o Espírito Santo.

A Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES) realizou, em 13 de novembro, a primeira edição do Encontro da Avicultura Capixaba, em Santa Maria de Jetibá. O evento reuniu produtores, empresas dos segmentos de corte e postura, pesquisadores, lideranças do setor e representantes do poder público para um dia de debates, capacitação e integração, reforçando a força da avicultura no Estado.
O produtor e presidente da Nater Coop e do Conselho Deliberativo da AVES, Denilson Potratz, destacou o avanço da atividade no Espírito Santo e o compromisso da entidade com o fortalecimento do setor. “Precisamos atuar de forma constante na cadeia para incentivar excelência na produção e garantir alimentos de qualidade ao consumidor”, afirmou.
O diretor executivo da associação, Nélio Hand, reforçou o papel econômico e social da avicultura capixaba, que fornece carne de frango e ovos com segurança e qualidade. “Eventos como este refletem a importância de um setor organizado e voltado à solução de desafios e geração de oportunidades”, salientou.
A abertura contou com autoridades estaduais e municipais, entre elas o secretário de Agricultura, Ênio Bergoli, o deputado estadual Adilson Espindula e o prefeito de Santa Maria de Jetibá, Ronan Zocoloto. Em seus discursos, destacaram a relevância da avicultura para a economia regional, especialmente na região serrana, e o papel da AVES como articuladora do desenvolvimento produtivo.
Santa Maria de Jetibá, conhecida como a “Capital do Ovo”, foi palco para o encontro. O município é o maior produtor de ovos do Brasil, com cerca de 14 milhões de unidades por dia. “Nada mais justo que este evento seja realizado aqui”, afirmou o prefeito.
Concurso valoriza qualidade dos ovos
Um dos destaques da programação foi o Concurso Qualidade de Ovos, que incentiva boas práticas de manejo, nutrição, sanidade e excelência no produto final. A edição recebeu 39 inscrições, 27 de ovos brancos e 12 de vermelhos, e teve avaliação técnica criteriosa. “O número expressivo de participantes mostra o interesse dos produtores em qualificar ainda mais seus produtos”, avaliou a coordenadora técnica da AVES, Carolina Covre.
O concurso foi transmitido ao vivo no YouTube, com grande participação de produtores e empresas.
Espaço Empresarial aproxima produtores e fornecedores
O encontro também contou com o Espaço Empresarial, área destinada à interação entre empresas e produtores, com demonstração de tecnologias, produtos e serviços. O formato interativo foi bastante elogiado pelos visitantes.
Durante o dia, duas palestras de destaque foram ministradas: Bruno Pessamilio apresentou detalhes do Plano de Contingência para Influenza Aviária, enquanto Christian Lohbauer analisou cenários e tendências para o agronegócio no Brasil e no mundo.
O evento terminou com apresentações de grupos de dança pomerana, valorizando a cultura local, seguidas de um jantar de confraternização.
Com a forte participação do público e o sucesso da iniciativa, a AVES anunciou que o Encontro da Avicultura Capixaba passará a ser anual, integrando oficialmente o calendário da entidade. A ação reforça o compromisso da associação em impulsionar o setor e valorizar o trabalho dos produtores.
Avicultura
Excesso de oferta amplia recuo dos ovos e limita reação das cotações
Segunda semana seguida de baixas registra até 8% de desvalorização, com expectativa de manutenção do viés negativo em novembro.

As cotações dos ovos seguem em queda nas regiões acompanhadas pelo Cepea, esse movimento é verificado pela segunda semana consecutiva.
Em parte das praças, as desvalorizações em sete dias chegam a 8%. De acordo com pesquisadores do Cepea, o menor ritmo de vendas vem aumentando gradualmente os estoques nas granjas.
Assim, produtores têm tido dificuldades em manter os valores da proteína e acabam cedendo nas negociações.
Colaboradores do Cepea indicam que, diante da maior oferta, não há espaço para reação positiva nos valores da proteína, e a tendência é de que os preços sigam enfraquecidos até o encerramento deste mês.










