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Contaminação ambiental de Streptococcus uberis e implicações para a saúde do úbere
Essa é uma bactéria adaptada ao trato gastrointestinal de vacas leiteiras e que atua como oportunista na glândula mamária, especialmente pela presença na forma assintomática em diferentes locais das vacas ou pela capacidade de sobreviver no ambiente por longos períodos.
Autores: MARCOS VEIGA SANTOS E GUSTAVO FREU
Streptococcus uberis é uma das principais causas de mastite em muitos países e que afeta negativamente a produção de leite e o bem-estar de vacas leiteiras. Apesar dos esforços concentrados para conhecer e entender este agente, atualmente, o controle é baseado no tratamento das vacas infectadas e na higiene do ambiente.
Strep. uberis é uma bactéria adaptada ao trato gastrointestinal de vacas leiteiras e que atua como oportunista na glândula mamária, especialmente pela presença na forma assintomática em diferentes locais das vacas (e.g., pele) ou pela capacidade de sobreviver no ambiente por longos períodos.
Considerando que a transmissão é predominantemente ambiental, as infecções intramamárias causadas por Strep. uberis resultam do contato das vacas leiteiras com ambientes contaminados. Neste cenário, as vacas leiteiras podem propagar o ciclo de infeção, uma vez que podem eliminar Strep. uberis via fezes.
Estudos anteriores demonstraram que a prevalência de Strep. uberis nas fezes de vacas varia de 5 a 23%. Portanto, compreender como as mudanças de ambiente, de manejo ou de fatores da própria vaca aumentam a prevalência de Strep. uberis nas fezes pode auxiliar no controle da contaminação ambiental e os riscos de infecções intramamárias.
Recentemente, pesquisadores do Reino Unido realizaram dois estudos com objetivo de avaliar a prevalência de Strep. uberis nas fezes de vacas leiteiras e os fatores que podem afetar o transporte gastrointestinal deste microrganismo. O primeiro estudo avaliou os padrões de eliminação em todas as vacas adultas de um rebanho (aproximadamente 216 vacas) ao longo de 9 meses, em intervalos de 8 semanas. Já o estudo 2, avaliou os padrões de eliminação em 46 vacas do mesmo rebanho, três vezes por semana, durante 4 semanas. Para isso, amostras de fezes das vacas selecionadas foram coletadas e submetidas a detecção de Strep. uberis usando método baseado em PCR. Durante os estudos, as vacas foram confinadas no período de inverno (novembro a março) e mantidas a pasto no restante do ano.
Os resultados do primeiro estudo mostraram que a prevalência geral de Strep. uberis nas fezes foi de 18% (195/1.080), variando de 10,2% durante a estação de pastejo (outubro) para 33,2% durante a temporada de confinamento (fevereiro). Apesar disso, as mesmas vacas não foram identificadas como positivas em todos os momentos de avaliação (vacas persistentes).
Já no segundo estudo, a prevalência média de detecção de Strep. uberis foi de 30%, o que foi semelhante ao descrito para o período de confinamento no primeiro estudo. Estes resultados sugerem que a presença de Strep. uberis no ambiente ocorreu devido a uma alta proporção de vacas eliminando o microrganismo nas fezes e não devido a um baixo número de vacas com “super eliminação” no rebanho. Por isso, os estes estudos sugerem que a colonização gastrointestinal por Strep. uberis é temporária e requer a ingestão contínua do microrganismo para repovoamento da flora gastrointestinal.
A sazonalidade influenciou as taxas de detecção de Strep. uberis em amostras de fezes. Houve 2,82 vezes mais chances de detecção o patógeno nos meses de inverno quando as vacas estavam confinadas em comparação com o período de pastejo.
Além disso, o aumento sazonal na detecção de Strep. uberis correspondeu ao aumento na incidência de mastite clínica durante o período de confinamento. Mudanças no manejo (e.g., diferenças na dieta), comportamento e no ambiente das vacas podem afetar a transmissão fecal-oral do Strep. uberis. É importante destacar que, enquanto pastam, as vacas não defecam em áreas restritas, mas quando confinadas há grande acúmulo em pequenas áreas. Esta característica pode resultar em concentrações mais altas de Strep. uberis em ambientes confinados e, consequentemente, aumentar o risco de transmissão fecal-oral e de contaminação da glândula mamária por Strep. uberis.
A dieta das vacas variou entre as estações, com a inclusão de pastagens no verão. Este fator externo influenciou a presença e detecção de Strep. uberis nas fezes, pois a capacidade de Strep. uberis utilizar diferentes carboidratos como fonte de energia, pode favorecer a sobrevivência e proliferação deste patógeno em certos ambientes. Além disso, alterações na dieta podem alterar a consistência fezes e levar a um efeito de diluição resultando em menores chances de detecção do patógeno.
O número de lactações, escore de condição corporal (ECC) e alojamento também afetaram a detecção de Strep. uberis nas amostras de fezes. Houve aumento das chances de detecção de Strep. uberis nas vacas com ECC ≥ 3,5 em comparação com < 3,5. Além disso, as chances de detecção de Strep. uberis foram maiores em vacas primíparas em comparação com multíparas, ainda que sem uma explicação clara sobre as razões desta diferença.
Em termos gerais, as vacas mantidas em cama sem palha apresentaram 1,77 vezes mais chance detecção de Strep. uberis nas amostras de fezes do que àquelas alojadas em camas com palha, o que impacta as características da cama (e.g., umidade, pH, temperatura).
Como conclusão, o estudo aponta que as condições do ambiente, o tipo de cama e a limpeza geral das instalações alteram a carga de Strep. uberis no ambiente.
Portanto, rebanhos com problemas de mastite causada por Strep. uberis têm um desafio constante de para reduzir a contaminação ambiental desta agente e, assim, reduzir o risco de transmissão fecal-oral e de novos casos de mastite.
Referencias com o autor, via: gisele@assiscomunicacoes.com.br
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Touro da raça Devon é avaliado em R$ 1 milhão
Cotas do touro Bello foram adquiridas em formato inédito de comercialização.
Um touro da raça Devon bateu recorde de valorização da raça no Brasil durante live inédita, de venda de cotas, realizada na última terça-feira (29), no Rio Grande do Sul. Foram vendidas 22 cotas de 1% no animal, cada uma a R$ 10 mil, alavancando a avaliação do reprodutor Bello (Saudade IL 6444) para cerca de R$ 1 milhão.
Tradicionalmente, as comercializações na pecuária de corte são via leilão ou pela venda direta entre criadores, o modelo de venda de cotas foi inspirado em uma prática que já ocorre nas vendas de cotas do Cavalo Crioulo. Os compradores são criadores de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Os proprietários do Touro Bello, Everton Boeck, da Cabanha Boeck, de Encruzilhada do Sul (RS), e Ana Cecília Teixeira Senna Ribas, da Cabanha Saudade, de São Gabriel (RS), garantem aos compradores 200 doses de sêmen do exemplar, que foi Grande Campeão da raça na Expointer 2023 e Reservado Grande Campeão da Expointer 2022, também Campeão Mundial Interbreed para raças de corte pelo concurso internacional ORB Breeder 2023, realizado no Texas (EUA).
Bello, que completou quatro anos de idade no dia do leilão, chama a atenção pela pureza racial e uma combinação perfeita de fenótipo e genótipo. Todos os índices produtivos são altamente superiores, como Top 3% em GND (ganho de peso do nascimento à desmama) eTop 4% no INDF (índice final), o que o torna um touro de exceção.
A comercialização foi uma grande conquista para a raça Devon, conforme avalia o diretor técnico da Cabanha Saudade, Henrique Ribas. “Um touro que atinge o quilate do Bello se torna grande demais para pertencer somente a uma ou duas cabanhas, por isso decidimos democratizar essa genética, tornando o touro acessível a todos os criadores que quisessem fazer uso dele nos seus programas de melhoramento. Tivemos uma adesão fantástica, 22 produtores das mais diferentes regiões se tornaram nossos sócios e parceiros nesse projeto que vai fazer diferença na nossa pecuária.”
Leilão de embriões
Também foram ofertados, em leilão, dez lotes de pacotes de embriões e um lote de produtos de embriões. O faturamento total, de cotas e embriões, alcançou R$ 330 mil, com a comercialização de todos os lotes.
O leiloeiro Gonçalo Silva acredita que a nova forma de comercialização pode virar tendência na pecuária de corte. “Tivemos pista ágil e limpa. Além das cotas do Bello, que valorizaram espetacularmente o animal, todos os embriões foram vendidos e também os embriões nascidos em 2024, estamos falando de uma terneira nascida que chegou a R$ 20 mil. Foi um remate, de quebra de paradigmas para o Devon, vai ficar na história”.
Simone Bianchini, vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Devon e de Bravon (ABCDB) credita o sucesso das comercializações às características do touro Bello. “Um animal excepcional, seja para a produção de terneiros ou de gado comercial. Como foi dito no leilão, a raça Devon provavelmente passará a ser antes e depois do Bello.”
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Nova ferramenta digital vai apoiar pecuaristas no planejamento forrageiro
Ferramentas inovadoras, como o EstriboSim podem se tornar essenciais para proporcionar mais segurança e previsibilidade dos retornos produtivos e financeiros nas fazendas.
A Embrapa Pecuária Sul desenvolveu o EstriboSim, ferramenta digital destinada a auxiliar pecuaristas e técnicos no uso da cultivar BRS Estribo de capim-sudão, gerando laudos financeiros a partir de indicadores fornecidos pelos produtores. Elaborado em parceria com a Lotus Web Systems, esse software web fornece o lucro mais provável, valores de risco e uma análise tríplice de cenários bioeconômicos da utilização dessa variedade, amplamente cultivada há mais de dez anos na Região Sul.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Vinícius Lampert, o EstriboSim oferece mais agilidade na tomada de decisão durante o planejamento forrageiro, pois faz os cálculos a partir dos valores fornecidos pelos produtores. “A pecuária enfrenta desafios complexos, uma vez que suas margens são muito dependentes do custo, preço e produtividade, sendo influenciadas principalmente pelo mercado, fertilidade do solo, manejo eficiente das pastagens e desempenho animal. Por isso, ferramentas inovadoras, como o EstriboSim podem se tornar essenciais para proporcionar mais segurança e previsibilidade dos retornos produtivos e financeiros nas fazendas. Os cenários de lucro da cultivar são efetuados de forma prática e simplificada, sem papel e caneta, mas com uma ferramenta digital na palma da mão”, ressalta.
O EstriboSim calcula cenários de lucro operacional efetivo potencial por hectare, considerando três variáveis principais: custo da pastagem por hectare (R$/hectare), preço de comercialização do animal (R$/kg peso vivo) e produtividade (kg peso vivo/hectare). A partir dessas informações, o software web faz uma análise, apresentando os possíveis resultados bioeconômicos da implantação dessa pastagem em diferentes sistemas de produção.
A ferramenta também faz uma análise tríplice de cenários bioeconômicos que simula três situações diferentes para cada parâmetro inserido, ajudando a identificar as combinações de preço, custo e produtividade que resultam em lucro ou prejuízo. Lampert destaca a importância dessa funcionalidade: “A simulação permite que os produtores visualizem de forma clara e objetiva como diferentes cenários podem impactar seus resultados financeiros. Com isso, eles podem tomar decisões mais assertivas, reduzindo riscos ao prever o lucro em função das variáveis informadas”.
Desenvolvido para ser acessível, o EstriboSim possui uma interface amigável, facilitando o uso por produtores com pouca familiaridade tecnológica. Ele apresenta resultados em uma matriz colorida intuitiva. Desempenhos lucrativos são destacados em verde, situações de equilíbrio em amarelo, e prejuízos em vermelho. Essa abordagem visual permite identificar diferentes estratégias e pontos que requerem ajustes, facilitando significativamente o processo de tomada de decisão pelo produtor. Outra funcionalidade da ferramenta é a indicação de fatores para a obtenção de lucro utilizando essa forrageira, como a produtividade mínima, o custo máximo de implantação e o preço mínimo da comercialização.
Segundo o pesquisador, o EstriboSim permite uma análise rápida dos cenários bioeconômicos e acurácia nos cálculos, utilizando variáveis críticas para fornecer uma estimativa do lucro operacional. Para isso, é essencial que o produtor insira informações de referência sobre produtividade, custos e preços esperados. Com base nesses dados, o EstriboSim gera laudos personalizados que auxiliam na implementação das melhores práticas de manejo. Mais informações sobre o impacto bioeconômico do BRS Estribo estão disponíveis aqui.
Embora atualmente o software web seja específico para a cultivar BRS Estribo, Lampert vê como próximo passo a adaptação da ferramenta para outras cultivares e tecnologias. “Nosso objetivo é expandir a aplicabilidade do EstriboSim, tornando-o um sistema ainda mais versátil e útil no setor agropecuário, abrangendo uma gama mais ampla de cultivares e tecnologias”, finaliza.
Lançamento oficial
O EstriboSim será lançado oficialmente no evento Universo Pecuária, em Lavras do Sul (RS), entre os dias 29 de outubro e 3 de novembro.
Em breve, a tecnologia estará disponível no site da Embrapa Pecuária Sul, facilitando o acesso dos produtores e técnicos a essa ferramenta inovadora e amigável.
Cultivo da BRS Estribo abrange mais de 3,3 milhões de hectares
A cultivar de capim-sudão BRS Estribo vem se consolidando como uma alternativa eficiente de forrageira para a pecuária de corte e de leite na Região Sul do Brasil. Segundo levantamento feito pela equipe da Embrapa, em 2022, a cultivar foi utilizada em aproximadamente 440 mil hectares. Se forem somadas as áreas anuais de cultivo ao longo de mais de 10 anos desde seu lançamento, estima-se que o plantio ultrapasse 3,3 milhões de hectares. De acordo com dados da Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), a BRS Estribo é a segunda cultivar de espécie forrageira mais produzida e comercializada no estado do Rio Grande do Sul.
Trata-se de uma forrageira anual de verão que tem apresentado excelente desempenho técnico e produtivo desde que foi lançada. De acordo com o também pesquisador da Embrapa e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da BRS Estribo, Daniel Montardo, uma das principais vantagens da cultivar é o ciclo longo e a alta produção de forragem. “Outro aspecto positivo apontado pelos produtores é a grande flexibilidade de manejo, podendo ser utilizada tanto em pastejo contínuo como rotativo, com alta resposta ao condicionamento da estrutura da pastagem”, complementa.
Produtores indicam ainda outras características importantes da cultivar, como a alta capacidade de perfilhamento, rebrote e produtividade. Segundo Montardo, ela tem se mostrado eficaz em consorciação com outras forrageiras, propiciando seu uso em conjunto com uma ampla gama de espécies e cultivares, inclusive de ciclo hibernal. “Toda essa flexibilidade tem levado a novas inserções, como, por exemplo, a semeadura mais tardia na Região Sul do Brasil (entre fevereiro e abril), tanto para atuar como mitigadora de vazios forrageiros outonais, como para produzir palhada após a colheita da soja e antes do plantio do trigo. Além disso, destaca-se a sua indicação para composição de consórcios, mesclas e cadeias forrageiras, como a tecnologia Pasto sobre Pasto, também desenvolvida pela Embrapa”, destaca o pesquisador.
A avaliação dos impactos dessa tecnologia, realizada anualmente pela Embrapa, atesta os bons resultados produtivos e a satisfação dos produtores entrevistados. Segundo a metodologia utilizada nesse trabalho, apenas no ano de 2022, o impacto econômico da utilização da cultivar BRS Estribo foi superior a R$ 98 milhões.
Parceria possibilitou lançamento de cultivares de forrageiras para clima temperado
O capim-sudão BRS Estribo é um dos frutos da parceria formada entre a Embrapa, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Associação Sul-Brasileira para o Fomento e a Pesquisa de Forrageiras (Sulpasto), instituição que integra empresas produtoras de sementes dos três estados da Região Sul. A parceria foi firmada com o objetivo de desenvolver e lançar cultivares de espécies forrageiras para essa Região. Constituída no final de 2011, a iniciativa já disponibilizou cultivares de espécies como azevém, trevo-branco, trevo-vermelho, trevo-vesiculoso, cornichão, aveias forrageiras, entre outras.
Montardo observa que a cultivar também integra o Programa de Melhoramento Genético e de Produção de Sementes de Espécies de Forrageiras para a Região Sul, desenvolvido por diferentes unidades da Embrapa. Além do desenvolvimento de cultivares, o programa atua ainda em pesquisas para melhorar a qualidade de sementes, a partir de sistemas de produção, técnicas de colheita e de beneficiamento, controle de plantas invasoras, entre outras.
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Pela primeira vez, ferramenta genômica vai reunir três raças de bovinos leiteiros
Expectativa é que o produtor identifique quais são os melhores touros Gir Leiteiro para o cruzamento com vacas Holandesas, e vice-versa, visando obter o melhor Girolando.
Inédita no mundo, uma ferramenta genômica de avaliação multirracial envolvendo duas raças bovinas (Holandesa e Gir) e a raça sintética Girolando começa a ser desenvolvida. O trabalho é conduzido por meio de parceria entre a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando (Girolando) e a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) e a Embrapa Gado de Leite (MG). As instituições acabam de lançar edital público para atrair empresas privadas, que atuem no mercado de genética, visando esse objetivo (leia aqui o edital).
A ideia inicial é avaliar as características de produção de leite em até 305 dias e a idade ao primeiro parto. O grande desafio, segundo o pesquisador da Embrapa João Cláudio Panetto, tem sido conectar a imensa base de dados dos programas de melhoramento. A raça Holandesa por exemplo, a mais difundida no mundo, possui no Brasil acima de dois milhões de bovinos registrados. Já o programa de melhoramento do Gir Leiteiro tem cerca de quatro décadas de registros de dados. O cruzamento das duas raças deu origem à raça sintética Girolando, cujo programa de melhoramento foi iniciado em 1997 e, da mesma forma, produziu centenas de milhares de dados.
O pesquisador da Embrapa Claudio Napolis Costa destaca que, na atual etapa de desenvolvimento, o trabalho buscará identificar a melhor estratégia para incorporar os dados com os programas de melhoramento em curso. Ainda assim, a expectativa é de uma entrega rápida. Estima-se concluir os trabalhos em apenas dois anos, com a ferramenta de análise genômica disponível comercialmente aos produtores em 2026.
A expectativa é que o produtor identifique quais são os melhores touros Gir Leiteiro para o cruzamento com vacas Holandesas, e vice-versa, visando obter o melhor Girolando. Em outras palavras, esse tipo de melhoramento genético multirracial irá oferecer ao produtor informações mais precisas para a composição de um rebanho com alto potencial de ganho econômico.
Melhoramento genético tem aumentado a produção de leite
Os programas de melhoramento genético, distintos para cada raça, existem há quase quatro décadas e têm permitido identificar animais de elevado potencial para diversas características de importância zootécnica e econômica. Os resultados estão cada vez mais incorporados aos sistemas de produção, impactando, por exemplo, no volume de leite. Na raça Girolando, por exemplo, nas últimas duas décadas, somente o fator genético foi responsável por um incremento de 28% na produção. Ou seja, a cada 15 litros de leite, mais de quatro têm relação direta com a elevação do mérito genético das vacas. Já no Gir Leiteiro, no mesmo período, o incremento de produção devido ao melhoramento genético foi de 31%.
O chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Denis Teixeira da Rocha, festeja o trabalho conjunto com as associações. “As parcerias entre instituições públicas e privadas, a exemplo de associações de criadores, centrais de inseminação, produtores de leite e Embrapa, têm colaborado muito com os avanços do setor, tornando o Brasil um dos maiores produtores de leite no mundo”, afirma. Em 2023, o País produziu 35,4 bilhões de litros de leite com um rebanho de 15,7 milhões de vacas ordenhadas, número semelhante ao existente no início da década de 1980, quando o Brasil produzia apenas 11,2 bilhões de litros, menos de um terço do volume atual.
A percepção dos ganhos promovidos pelas parcerias é atestada pelas associações de criadores. Para Evandro Guimarães, presidente da ABCGIL, “o Gir Leiteiro evoluiu muito nas últimas décadas, em parte graças ao melhoramento genético impulsionado pelo Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL). A média de produção leiteira da raça mais que dobrou em quase 40 anos de PNMGL”.
Domício Arruda, presidente da Girolando, destaca que “somente na última década, as vacas Girolando aumentaram a produção de leite em torno de 35%, mostrando na prática o resultado de um programa de melhoramento genético bem executado”. Armando Rabbers, presidente da ABCBRH, conta que os bons resultados estão relacionados à aplicação das ferramentas mais modernas para seleção de touros e vacas. “O emprego de tecnologias e programas avançados, como análise genômica, sistemas de acasalamento e inteligência artificial, tem sido uma prática comum, contribuindo para o aprimoramento contínuo dos processos de produção”, relata Rabbers.
Desenvolvimento não interfere nos programas de cada raça
Os pesquisadores frisam que esse trabalho não implica qualquer interferência no programa de melhoramento genético de cada raça. O que se pretende é gerar novas informações a partir de uma análise única de dados dos três programas, contemplando aspectos genômicos (do DNA dos animais), características que são expressas (chamadas de fenótipos), como produção leiteira, e pedigree, para obter a classificação dos touros de acordo com a composição racial das progênies que se quer obter. “A avaliação genômica multirracial é um avanço possibilitado pelo conhecimento e pela experiência acumulados nos programas de seleção dessas raças leiteiras,” declara Claudio Napolis.
A nova abordagem permitirá a ampliação da base genética dos rebanhos, ajudando a mitigar a endogamia e o risco de defeitos genéticos. “Ao reunir dados de múltiplas raças, as avaliações genômicas podem melhorar a precisão dos valores genéticos estimados (EBVs, na sigla em inglês) para várias características. Isto é particularmente benéfico para características com baixa herdabilidade ou dados limitados em raças individuais, conforme já demonstrado por resultados preliminares obtidos pela nossa equipe”, explica o pesquisador da Embrapa Marcos Vinícius da Silva.
De acordo com Panetto, a questão que poderá ser respondida a partir da pesquisa em relação ao cruzamento das raças é se os animais utilizados para se obter um produto de raça pura são também os melhores para se obter um animal cruzado. Ele explica que, entre outras vantagens, as avaliações genômicas multirraciais apoiarão o desenvolvimento e a implementação de programas estratégicos de cruzamento. “As combinações de raças podem ser adaptadas para otimizar o vigor híbrido, a produção de leite, a fertilidade e outras características economicamente importantes, levando ao melhor desempenho geral do rebanho”, detalha Panetto.
Foco na demanda do produtor
Na visão de Rocha, a avaliação multirracial traz benefícios para as três raças. “Boa parte do mercado de sêmen da raça Holandesa e quase a totalidade da raça Gir Leiteiro são voltadas para a produção do Girolando e, com a avaliação multirracial, esse mercado será impactado positivamente com novos produtos”, considera o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite.
Espera-se que o mercado de venda de tourinhos com perfil de reprodutor também seria impactado com a oferta de um produto com maior valor agregado. “Muitas fazendas de gado da raça Holandesa vendem touros a um preço baixo, porque não têm avaliação do indivíduo para produzir uma progênie cruzada”, expõe Marcos Silva.
Entre os diferentes integrantes dessa cadeia, a expectativa dos presidentes das associações de criadores é que o produtor de leite seja o principal beneficiado. O acesso a informações que identificam linhagens genéticas capazes de proporcionar maior lucratividade nas condições específicas de uma propriedade deverá otimizar o tempo e os recursos financeiros investidos na produção de um Girolando de qualidade. Sintetizando a visão do grupo, o presidente da ABCGIL, Evandro Guimarães, relata: “Acreditamos que os produtores terão ferramentas mais robustas e precisas na hora de escolher o reprodutor e a raça que melhor atende as necessidades de seu rebanho”.
Impacto no mercado global
Os ganhos sentidos nos sistemas de produção nacionais também deverão reverberar em outros mercados, já que o sêmen de touros da raça Holandesa comercializado pelas centrais no País é praticamente todo importado. O material genético dos mesmos indivíduos é vendido a outros países de clima tropical para a produção de animais Girolando, representando, portanto, uma oportunidade ao Brasil de exportar tecnologia. “As avaliações multirraciais fornecerão informações valiosas para programas de criação de gado leiteiro em todo o mundo. Isso facilita a colaboração internacional e o intercâmbio de recursos genéticos, promovendo o progresso genético em escala global”, prevê Silva.
“É fundamental estabelecer parcerias com diferentes raças na busca por melhorias na cadeia de produção. Essa colaboração traz ganhos significativos, promovendo aprimoramentos contínuos na qualidade do produto, tanto para a indústria quanto para o consumidor”, afirma o presidente da ABCBRH, Armando Habbers.