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Consumo mundial da soja deve ser maior que produção, com diminuição dos estoques finais

Mesmo com essa produção nos Estados Unidos, que não caiu muito, o mercado está em uma situação de balanço bem mais equilibrada e mais apertada

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Divulgação/MAPA

A soja é o principal produto das exportações brasileiras. E não somente exportador, hoje o Brasil é também o maior produtor da oleaginosa do mundo. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), somente na safra 2019/2020 o país obteve um novo recorde com a produção estimada em 124,8 milhões de toneladas de soja e ganho de 4,3% em relação à safra 2018/19. As estimativas mostram ainda que a safra 2020/2021 não será diferente, sendo que está prevista para 133,7 milhões de toneladas.

E com toda essa produção é importante que o produtor entenda como o mercado vem se comportando e quais são as projeções para os próximos meses. Segundo a analista de Inteligência de Mercado da Stonex, Ana Luiza Lodi, se olhar para o mercado da soja, o assunto que tem dominado o mercado internacional está muita relacionado a China e aos Estados Unidos. “A guerra comercial entre os dois países afetou fortemente o quanto a China comprou de soja dos Estados Unidos nos últimos anos”, explica. Porém, este cenário tem mudado após a assinatura da Fase 01 de um acordo em janeiro deste ano. “Apesar da dúvida se a China vai conseguir cumprir esse acordo, o país asiático vem comprando bastante soja dos norte-americanos”, diz.

Mas, apesar da demanda chinesa estar fortalecida, um ponto que merece a atenção neste cenário é o clima, afirma Ana Luiza. “Desde agosto as cotações internacionais da soja em Chicago estão em forte tendência de alta, ultrapassando a casa dos US$ 10 por bushel, além das vendas de exportação aceleradas nos Estados Unidos, com destaque para a China, temos que ver o que aconteceu em agosto com o clima no país. Tivemos um mês de agosto mais seco em importantes regiões produtoras, com destaque para o Estado de Iowa, que é um dos maiores produtores de grãos dos Estados Unidos, tanto de soja quanto de milho, e o clima foi seco. E no caso da soja a gente ainda tinha parte das plantas na fase de enchimento de grão, que é uma fase chave para o resultado final da produção das lavouras da oleaginosa. A estimativa do USDA é na casa do 116 milhões de toneladas, ela é acima do que vinha sendo trazido no começo da divulgação dos números da safra 20/21 e a produtividade, por mais que tenha havido perdas, é uma produtividade ainda bem elevada”, avalia.

A analista comenta que mesmo com essa produção nos Estados Unidos, que não caiu muito, o mercado está em uma situação de balanço bem mais equilibrada e mais apertada. “Conforme comentei, as vendas de exportação de 20/21 dos EUA está mais acelerada que nos últimos anos, já ultrapassando 43 milhões de toneladas. E destaque para a China, por mais que as vendas estejam adiantadas no geral, é a China que é a responsável pela maior parte desse adiantamento. Já foi negociado mais de 23 milhões de toneladas com a China”, diz.

Ela informa ainda que é preciso considerar que de tudo que já foi negociado dos EUA, tem mais de 10 milhões de toneladas onde não houve a indicação do destino. “Não se sabe com quem se negociou esses 10 milhões de toneladas. Dessa forma, o mercado trabalha com a hipótese de que uma parte dessas 10 milhões de toneladas também teria sido negociada com a China. Assim, realmente em comparação com os anos anteriores, nem se fala, não tem nem comparação o quanto as compras chinesas estão mais fortes. Mesmo em comparação com anos anteriores a guerra comercial, iniciada em 2018, as compras chinesas também estão muito fortes”, conta. Diante desse cenário, explica Ana Luiza, o USDA elevou a estimativa de exportação para os EUA na safra 20/21 para quase 60 milhões de toneladas.

Outro fator importante que merece atenção, comenta a analista, é que houve algumas perdas na produção da safra norte-americana porque havia o clima seco e teve uma queda considerável no percentual excedente, que passou da casa dos 74% das lavouras dos Estados Unidos consideradas boas ou excelente no começo de agosto para em outubro estar na casa dos 63%. “É um nível perto da média de cinco anos, muito acima do nível do ano passado, que em 2019 a safra americana realmente teve problemas sérios com clima, principalmente no começo da safra, com atrasos significativos no plantio. Mas foi o mês de agosto que mudou um pouco a chave da safra americana, apesar de ainda ser uma safra com um nível de produção bom”, avalia.

Olhando para o balaço completo 20/21 dos Estados Unidos, Ana Luiza diz que houve ajustes do USDA no relatório de outubro com relação ao de setembro. “Primeiro tivemos estoques iniciais menores, houve um ajuste após a posição trimestral dos estoques ter trazido um resultado um pouco aquém, indicando que o consumo da safra 19/20 foi um pouco maior. A área colhida recuou um pouco também. Assim, esse ajuste negativo que vemos na produção foi decorrente de área. Enquanto isso, a produtividade não mudou, sendo de 3,49 toneladas por hectare de média, igual a mais alta registrada há alguns anos. Então é uma produtividade muito boa, que poderia ser maior ainda caso não tivessem tido um mês de agosto com um clima aquém do ideal”, analisa.

Já quanto as exportações, a analista explica que o USDA elevou a estimativa dos EUA em pouco mais de dois milhões de toneladas. “Tudo isso combinado com a queda de produção e estoque inicial menor, resultou em um balanço bem mais restrito, com 7,9 milhões de toneladas de estoque nos Estados Unidos no final da safra 20/21 e uma relação de estoque/uso na casa dos 6%. Então é uma relação baixa que tende a coincidir com uma volatilidade maior no mercado”, informa. Ana Luiza diz que o mercado passou de um balaço dos Estados Unidos visto nos anos anteriores muito prejudicado e muito folgado, pela guerra comercial, pela falta da China comprar soja dos EUA em volume maiores, para um balaço que já está trazendo alguma preocupação com restrição de oferta.

Não é somente a questão de perda na safra americana que influenciou neste balanço, afirma a analista. “As fortes exportações são um fator centra. As estimativas apontam para uma importação chinesa na casa das 100 milhões de toneladas. O país está se recuperando da PSA, doença que dizimou em cerca de 48% o rebanho suíno chinês. E eles estão em uma recuperação acelerada. A estimativa é que já em 2021 eles possam atingir o número de matrizes a um nível pré-crise e a produção de carnes ode voltar a níveis antes da PSA já entre 2022 e 2023. Isso reforça que a demanda chinesa está acelerada, mostrando que as vendas brasileiras estão adiantadas e agora a dos Estados Unidos também”, afirma.

Dessa forma, comenta Ana Luiza, é possível observar que o mercado mundial passou de uma situação de estimativas que apontavam uma produção maior do que o consumo, mas com ajustes recentes e a perda da safra dos Estados Unidos e o consumo chinês aquecido, essa situação está se invertendo. “Atualmente a USDA estima que o consumo de soja fique acima da produção, contribuindo para a variação negativa nos estoques finais”, diz.

Perspectivas para a América Latina

Já a perspectiva para a safra brasileira é bastante positiva. “Mas o clima não tem ajudado nesse início de safra. Com o fim do vazio sanitário não houve chuvas e o clima estava quente e tudo isso está levando a um ritmo de plantio bem mais lento do que o esperado para essa época do ano”, comenta. A Conab indica uma safra de 132,6 milhões de toneladas para a safra 20/21 e uma área plantada de 38 milhões de hectares.

Já na Argentina, a Bolsa de Buenos Aires não se mostra tão otimista, explica Ana Luiza. “As estimativas estão na casa de 46,5 milhões de toneladas. Mas o USDA acredita em números mais fortes, uma vez que ano passado o país produziu mais que isso. Mesmo assim, eles estão com estimativas de uma produção menor, mesmo com um leve crescimento da área plantada. Isso também em decorrência do clima”, conta.

Dessa forma, explica a analista, mesmo com perspectivas de produção recorde no Brasil, o país enfrenta preços domésticos sustentáveis. “Vários fatores garantiram esse cenário. Se olharmos a evolução do preço doméstico em Paranaguá nos últimos dois anos, a tendência de alta permanece. Exportamos muita soja, estamos com exportação acumulada acima de 80 milhões de toneladas da safra 20/21. A comercialização está muito acelerada. Já comercializamos 53% da safra 20/21. Essa safra está sendo plantada agora, então quando a gente começar a colher no ano que vem a gente pode ter uma comercialização entre 60 e 70%”, explica.

Isto, informa Ana Luiza, vai depender do comportamento e do receio do produtor, se ele está com risco de quebra de safra, por exemplo. “Mas estamos com exportação forte, vendas aceleradas, tudo isso favorecido por um câmbio que continua elevado, com Real desvalorizado e dólar favorecido que deve continuar em patamares elevados. Então, tudo isso tem mantido os preços da soja muito fortalecidos no mercado doméstico, com uma oferta extremamente restrita atualmente e vai ter um estoque de passagem extremamente reduzido no momento onde não somente as exportações estão fortes, mas o consumo doméstico se recuperou do impacto inicial da pandemia do coronavírus, o auxilio emergencial ajudou, o mercado de biodiesel se recuperou mais forte que o esperado. Temos combinação de oferta restrita com demanda fortalecida tanto para exportação quanto pelo mercado doméstico”, diz.

Outras notícias você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de 2020 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Probióticos e a promoção da saúde intestinal: potencial ferramenta em rebanhos leiteiros

Os mecanismos de ação dos probióticos são frequentemente baseados em três modalidades, incluindo o antagonismo sobre microrganismos residentes da microbiota intestinal, tanto comensais quanto patógenos; modulação da imunidade inata e adquirida; inibição de toxinas produzidas por microrganismos patógenos, oriundos da alimentação ou água contaminada.

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Foto: Shutterstock

Os probióticos compreendem aditivos alimentares compostos por microrganismos vivos que beneficiam o hospedeiro através da melhora da microbiota intestinal. Quando o animal recebe uma dosagem oral efetiva, esses microrganismos são capazes de se estabelecer no trato gastrointestinal e efetivar a microbiota natural, prevenindo a proliferação de microrganismos patogênicos e melhorando o aproveitamento de nutrientes. Dentre as espécies que possuem propriedades probióticas, ressalta-se as bactérias láticas, grupo de espécies já existentes na microbiota do trato gastrointestinal e urogenital dos animais, onde o gênero Lactobacillus é um dos mais importantes na produção de produtos probióticos. Além deste, destacam-se as bactérias dos gêneros Bifidobacterium, Lactococcus, Propionibacterium e Bacillus, assim como as leveduras Saccharomyces, Pichya e Kluyveromices.

Os mecanismos de ação dos probióticos são frequentemente baseados em três modalidades, incluindo o antagonismo sobre microrganismos residentes da microbiota intestinal, tanto comensais quanto patógenos; modulação da imunidade inata e adquirida; inibição de toxinas produzidas por microrganismos patógenos, oriundos da alimentação ou água contaminada.

O antagonismo também é conhecido por exclusão competitiva, onde há competição dos sítios de ligação na mucosa intestinal, dos fatores de crescimento e nutrientes para os microrganismos, e também competição pela atividade metabólica (Figura 1). Ou seja, os microrganismos “bons” que constituem o probiótico impedem o desenvolvimento de outros microrganismos indesejáveis. Desse processo são originados produtos como o ácido lático, acético e fórmico, que ajudam a inibir o crescimento de bactérias maléficas e participam da produção de vitamina B e ácido fólico, compostos fundamentais para a vaca.

Figura 1- Mecanismos de ação das espécies probióticas que resultam na melhora da saúde intestinal.

Além disso, muitas espécies probióticas produzem bacteriocinas, substâncias compostas por peptídeos ou complexos proteicos que agem contra bactérias geneticamente semelhantes, como é o caso da nisina, bacteriocina que inibe o crescimento de bactérias patogênicas de alto risco, como Staphylococcus aureus, além de atuar na modulação ruminal. Trabalhos também mostram que o uso de probióticos melhora a digestão e absorção de nutrientes da dieta através da produção de enzimas como amilase, protease, lipase, maltase, sacarase e lactase.

Por exemplo, a amilase produz ácidos graxos de cadeia curta que são transformados em butirato, lactato e acetato, fontes de energia para a mucosa do intestino. Em um estudo, Nocek et al. (2003), observou que vacas que possuíam fonte de probiótico na dieta, entre 20 dias pré-parto até 70 dias pós-parto, aumentaram o consumo de matéria seca, a produção de leite e teor de proteína do leite, em relação ao grupo não suplementado. Estudando rebanhos da Virgínia, Estados Unidos, foi contabilizado que, de 45 rebanhos onde foi introduzido o probiótico, 31 apresentaram aumento na produção de leite. Frente a isso, fica evidente o efeito benéfico da suplementação com probióticos em dietas de vacas leiteiras. A pesquisa mostra que é possível observar, além do melhor aproveitamento da dieta e consequentemente aumento na produção leiteira, a melhora do estado geral de saúde do animal que recebe uma fonte de probiótico diariamente.

Probióticos e imunidade animal

Todo o processo descrito anteriormente auxilia na melhora da saúde do animal, uma vez que limita o desenvolvimento e proliferação de microrganismos maléficos ao hospedeiro, evitando o aparecimento de enfermidades, e também atua na digestão, oferecendo melhores condições para seu desenvolvimento.  Esses mecanismos de ação fazem parte das reações inespecíficas de defesa, ou seja, imunidade inata. Mas os probióticos também são capazes de influenciar a imunidade específica do animal.

As espécies probióticas realizam a modulação do sistema imune do hospedeiro, auxiliando no controle de infecções e inflamações. O processo de imunomodulação ocorre através da interação entre os microrganismos do probiótico e as células epiteliais e imunes do intestino do animal. Quando esses microrganismos se aderem às células intestinais, há a estimulação da produção de células de defesa, como macrófagos, monucleócitos, células dendríticas e citocinas pró-inflamatórias. Isso acontece porque componentes das paredes celulares dos microrganismos probióticos, como peptidoglicanas, ácido teicóico e lipoteicóico (LTA), reagem com as placas de Peyer presente no intestino e induzem os fatores pró-inflamatórios nas células intestinais do animal.

Em 2017 foi realizado um estudo onde dois grupos de animais foram vacinados, sendo que um deles recebeu, além da vacina, suplementação com probiótico a base de Lactobacillus. Posteriormente o autor observou que o grupo dos animais tratados com o probiótico apresentou níveis superiores de anticorpos específicos e de forma mais duradoura, auxiliando no controle de infestações por carrapatos atrelados a imunização. Adicionalmente, estudiosos mostraram que o tratamento com probióticos apresentou melhores benefícios quando comparados aos tratamentos convencionais da mastite bovina, evidenciando a influência desse aditivo na resposta imunológica das vacas.

Probióticos em uma abordagem preventiva e sua implicação em bezerreiros

Cerca de 75% das mortes de bovinos leiteiros ocorre em seu primeiro mês de vida. Em função disso, muitas pesquisas são realizadas a fim de elucidar os cuidados necessários no bezerreiro, assim como controlar as enfermidades mais comuns na rotina das fazendas leiteiras. A principal enfermidade relacionada a morte de bezerras leiteiras é a diarreia, que leva o animal a óbito em razão ao severo desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base. A diarreia corresponde a uma enfermidade multifatorial, porém, frequentemente é resultante da combinação de agentes infecciosos como o rotavírus, coronavírus, Escheria Coli, Salmonella spp., Clostridium perfringens e Eimeria spp., além de ser comum se deparar com infecções causadas por mais de um agente concomitantemente. Esses agentes possuem tendência em afetar os animais em determinada faixa etária (Figura 2), justamente quando esses apresentam suscetibilidade a infecção, por isso a importância da utilização de técnicas nutricionais e de manejo que proporcionem melhores condições para que as bezerras leiteiras não tenham seu desenvolvimento afetado.

Figura 2- Incidência de agentes etiológicos causadores de diarreias em bezerros de acordo com sua idade em dias.

Os probióticos contribuem para o desempenho zootécnico de bezerras leiteiras devido sua influência na permeabilidade intestinal, oferecendo maior eficiência de digestão e evitando o desenvolvimento de microrganismos patógenos. As principais bactérias probióticas associadas a prevenção de diarreia em bezerros são a Lactobacillus acidophillus e a Lactobacillus casei. Ambas são produtoras de ácido lático, ou seja, atuam diminuindo o pH intestinal e tornando o ambiente inadequado para o crescimento de algumas bactérias patogênicas, além de produzirem peptídeos que agem especificamente contra Salmonella typhimurium e acidofilina que inibe o crescimento de Escherichia coli e Salmonella panamá.

Outro microrganismo probiótico que recebe destaque quando o assunto é bezerros é a Saccharomyces boulardii, levedura que além do efeito diarreico, auxilia no desenvolvimento da flora intestinal fisiológica, na síntese de vitaminas complexo B e principalmente, realiza uma complementação enzimática, assim, aumenta a capacidade digestiva do animal jovem, impactando diretamente o seu desempenho.  Autores que utilizaram probióticos em bezerros observaram melhora do ganho de peso corporal total, sendo que os bezerros suplementados apresentaram ganho de 31,4kg, comparado a 25,4kg do grupo controle. Corroborando com esses dados, outro pesquisador mostrou que bezerros suplementados com probióticos, do nascimento aos 30 dias de idade, foram capazes de ganhar de 10 a 40% a mais de peso em relação aos animais não tratados.

Os probióticos apresentam grande potencial de uso nas fazendas leiteiras, sendo uma alternativa para restabelecer ou efetivar a saúde intestinal das vacas, aumentando o aproveitamento da dieta e potencializando sua imunidade. Além disso, é uma ótima opção para ser introduzida nos bezerreiros, uma vez que oferece melhores condições para o animal conseguir superar os desafios existentes nessa fase, influenciando seu ganho de peso e gerando bezerras maiores e mais produtivas futuramente.

As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: luiza.carneiro@laboratorioprado.com.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Luiza de Souza Carneiro, médica-veterinária, mestra em Produção de Ruminantes e consultora Técnica Comercial no Laboratório Prado.
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Entidades querem restringir a importação de leite

Em razão dos transtornos que a cadeia produtiva do leite tem enfrentado, com estiagens, enchentes e excesso de importação, as federações estaduais recomendam a formulação de uma nova política pública para o desenvolvimento do setor, priorizando a matéria-prima local e o trabalho dos produtores brasileiros.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Mobilização contra o aumento do volume de importação de leite subsidiado, principalmente da Argentina, está sendo estimulada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com apoio da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc).

Presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo: “Não podemos deixar nenhum produtor desamparado, por isso a mobilização das  federações estaduais de agricultura e união de todo o setor são fundamentais para mudar o cenário de baixos preços pagos pelo litro de leite e altos custos de produção” – Foto: Divulgação/MB Comunicação

O presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, diz que os transtornos que a cadeia produtiva do leite tem enfrentado – estiagens, enchentes e excesso de importação – recomendam a formulação de uma nova política pública para o desenvolvimento do setor, priorizando a matéria-prima local e o trabalho dos produtores brasileiros.

Nesse sentido, “é muito importante que cada Estado tome uma iniciativa para reduzir a compra do leite de outros países em uma atuação coordenada do setor em todo País”. Alguns Estados elevaram a alíquota de 0% para 12% aos importadores de leite em pó e de 2% para 18% na venda de produto fracionado. Em  outros, os lácteos importados foram excluídos da cesta básica, com aumento de ICMS sobre o leite importado.

Pedrozo informa que a CNA está elaborando um estudo para a aplicação de direitos antidumping à Argentina, com o objetivo de proteger o setor lácteo nacional. O dirigente lembra  que a excessiva importação de leite iniciada no primeiro semestre do ano passado achatou a remuneração do produtor nacional, impactando negativamente a competividade do pequeno e médio produtor de leite. As importações brasileiras de lácteos da Argentina e do Uruguai, em 2023, praticamente dobraram.

O presidente observa que grande parte dos produtores rurais atua na área de lácteos e que a crise no setor derruba a renda das famílias rurais. A forte presença de leite importado no mercado brasileiro provocou queda geral de preços, anulando a rentabilidade dos criadores de gado leiteiro.

Pedrozo defende um debate do setor produtivo com o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar para a definição de medidas de fortalecimento da pecuária leiteira no País com foco no aumento da produção e no fortalecimento do pequeno e do médio produtor de leite. Dessa forma será possível estimular, simultaneamente, a produção e o consumo, abrangendo a redução da tributação, combate às fraudes, criação de mercado futuro para as principais commodities lácteas, manutenção de medidas antidumping e consolidação da tarifa externa comum em 35% para leite em pó e queijo, além da utilização de leite e derivados de origem nacional em programas sociais. “Não podemos deixar nenhum produtor desamparado, por isso a mobilização das  federações estaduais de agricultura e união de todo o setor são fundamentais para mudar o cenário de baixos preços pagos pelo litro de leite e altos custos de produção”, defende.

Pedrozo alerta que a crise na cadeia do leite afeta diretamente a agricultura familiar, levando milhares de produtores a abandonar a atividade, que já registra forte concentração da produção em Santa Catarina. “Talvez uma das soluções seja regular a importação, criando gatilhos e barreiras para que seu exagero não destrua as cadeias produtivas organizadas existentes”, sugere.

Fonte: Assessoria
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Paraná tem 55 premiados no Mundial do Queijo; melhor queijeiro também é do estado

Entre os paranaenses premiados, são 12 medalhas Super Ouro, 14 Ouro, 14 Prata e 15 Bronze. Além do Brasil, participaram do concurso Itália, Espanha, México, Argélia, Polônia, Irlanda, Colômbia, Argentina, Inglaterra, Suíça, França e Uruguai.

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Foto: Guilherme White/Foosstudiobrasil

O Paraná teve 55 queijos e produtos lácteos de 23 municípios premiados na 3ª edição do Mundial do Queijo do Brasil, que aconteceu entre os dias 11 e 14 de abril, no Teatro B32, em São Paulo. No total, 1.900 produtos de 13 países foram avaliados por 300 jurados, e 598 queijos e produtos lácteos receberam medalhas. O júri foi presidido pelo queijista Laurent Dubois, um dos melhores artesãos da França na categoria queijo.

Foto: Divulgação/Mundial do Queijo

Entre os paranaenses premiados, são 12 medalhas Super Ouro, 14 Ouro, 14 Prata e 15 Bronze. A competição, organizada pela associação SerTãoBras, avaliou de forma anônima queijos, iogurtes, doces de leite e coalhadas, pela sua aparência exterior e interior, textura, aromas e sabores. Além do Brasil, participaram do concurso Itália, Espanha, México, Argélia, Polônia, Irlanda, Colômbia, Argentina, Inglaterra, Suíça, França e Uruguai.

Os produtos premiados são de Cantagalo (2), Carambeí (1), Cascavel (2), Chopinzinho (1), Curitiba (3), Diamante D’Oeste (1), Guarapuava (1), Jaguapitã (2), Jandaia do Sul (1), Lapa (1), Londrina (6), Manfrinópolis (1), Marechal Cândido Rondon (4), Maringá (1), Nova Laranjeiras (1), Palmeira (6), Palotina (2), Paranavaí (2), Ponta Grossa (2), Ribeirão Claro (3), Santana do Itararé (3), São Jorge D’Oeste (2) e Toledo (7). Confira a lista completa de premiados neste link .

A Cooperativa Witmarsum, de Palmeira, na região dos Campos Gerais, conquistou quatro medalhas. Ganhador do Ouro, o queijo Witmarsum Colonial Natural possui o selo de Indicação Geográfica (IG) – que indica a procedência do produto, respeitando os saberes e fazeres dos produtores locais.

“Conquistar uma premiação como a do Mundial é bem mais do que um reconhecimento da qualidade dos nossos produtos, é reconhecer a força dos nossos cooperados que se empenham de sol a sol na produção leiteira, fortalecer o cooperativismo e também uma prova de que somos capazes de produzir queijos tão bons quanto os Europeus”, diz o diretor de Operações da empresa, Rafael Wollmann.

O Paraná é o segundo maior produtor de leite do Brasil, com cerca de 3,6 bilhões de litros ao ano. O leite é o quarto produto em importância no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) do Paraná, com R$ 11,4 bilhões em 2022, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral). Os queijos paranaenses têm tradição de destaque em concursos nacionais e internacionais

O sistema digital de apuração no 3ª Mundial do Queijo, que soma as notas dos jurados em tempo real, foi desenvolvido pelo Sistema Faep/Senar-PR.

Assistência

Foto: Divulgação/Cooperativa Witmarsum

Entre as queijarias premiadas, algumas recebem assistência técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater (IDR-Paraná). Um exemplo é o Rancho Seleção, de Londrina, no Norte do Paraná, que conquistou uma medalha Super Ouro, três Ouro, uma Prata e uma Bronze.

Outro caso é da Estância Baobá, de Jaguapitã, também no Norte, de Lívia Trevisan e Samuel Cambefort, que recebeu prêmios pelo requeijão de corte (Super Ouro) e pelo baommental (Bronze), um queijo inspirado no emmental, mas com menos maturação e com sabor adocicado.

Na edição passada do Mundial, a queijaria já havia levado sete medalhas. Os prêmios deste ano vieram após um período de muitas dificuldades. Em 2023, a propriedade teve metade de seu rebanho roubado. “Essas medalhas foram uma superação para a gente depois de tanto sufoco”, diz a proprietária. Além do diferencial da produção agroecológica, adotado ainda por poucas propriedades na região, as receitas da Estância Baobá têm valor sentimental. “O requeijão foi o primeiro queijo que fizemos. É uma receita da minha bisavó que foi passada para a minha mãe”.

A Estância Baobá também faz parte da Rota do Queijo Paranaense, iniciativa do IDR-Paraná, e está organizando sua adesão ao Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf-PR), para ampliar a comercialização. Atualmente a pequena propriedade recebe apoio de extensionistas do IDR-Paraná no sistema reprodutivo. “É um acompanhamento incrível”, diz Trevisan.

Melhor queijeiro

Além dos produtos, o Paraná também se destacou no prêmio de Melhor Queijeiro do Brasil, cujo grande campeão foi o engenheiro de alimentos Henrique Herbert, mestre Queijeiro da Queijaria Flor da Terra, de Toledo, no Oeste do Estado. Natural de Poço das Antas (RS), ele vive no Paraná há 10 anos.

Essa modalidade do concurso avaliou os concorrentes quanto ao saber-fazer profissional, à capacidade de produzir queijos em condições que os tiraram de sua zona de conforto e a habilidade em maturar um queijo em condições especiais. “Com esses resultados, cada vez mais deixamos de ser apenas um importante estado produtor de leite, mas também passamos a ser reconhecidos pelos queijos de excelência que são produzidos aqui”, comemora.

Em sua equipe, Herbert contou o apoio do engenheiro de alimentos Kennidy de Bortoli, natural de Foz do Iguaçu, para desbancar os demais candidatos. Ambos atuam no Parque Científico e Tecnológico de Biociências (Biopark), em Toledo, onde conduzem um projeto de pesquisa em queijos finos. O projeto levou oito medalhas, três de Ouro e cinco de Prata.

“Tanto as medalhas conquistadas pelos nossos queijos quanto a medalha conquistada por nós vêm de encontro com o que o Biopark almeja, que é justamente o desenvolvimento da região Oeste do Paraná, com o fator do ensino e a pesquisa”, diz Herbert.

Fonte: AEN-PR
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