Bovinos / Grãos / Máquinas
Conheças as estratégias do Paraná para a evolução da cadeira leiteira
Estado tem boas perspectivas para crescimento na produção de leite com vacas produzindo 40 litros de leite e 4% de gordura.

A produção leiteira no Brasil vem crescendo anualmente e é uma importante fonte de renda para centenas de produtores em todo o país. No Paraná, que é o segundo maior produtor nacional, o pecuarista tem aproveitado as oportunidades de mercado e se destacado na atividade. “Isso se deve principalmente por conta de três fatores: a genética dos animais, o sistema cooperativista e a pesquisa”, afirma o superintendente da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), Timotheo Silveira.
De acordo com ele, a genética é um diferencial importante. “Os produtores paranaenses têm investido em melhoramento genético, selecionando animais com características produtivas e adaptadas às condições locais. Historicamente, a cultura europeia registra os animais e controla o pedigree de raças puras. Isso resulta em animais mais selecionados para a produção de leite e com maior eficiência em produção, principalmente na produção por hectare, quando pensamos em animais fechados em free-stall”, comenta.

Superintendente da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, Timotheo Silveira – Foto: Arquivo Pessoal
Silveira explica que o segundo ponto citado, o sistema cooperativista, desempenha um papel fundamental na atividade paranaense. “No Paraná, existem diversas cooperativas que promovem a união e a colaboração entre os produtores. Elas oferecem suporte técnico, infraestrutura e assistência na comercialização do leite, possibilitando uma produção mais organizada e competitiva”.
Já quando o assunto é pesquisa, o superintendente afirma que este tem sido um elemento chave para o sucesso dos produtores. “O Estado conta com instituições de pesquisa que desenvolvem estudos e tecnologias voltadas para o setor. Essas pesquisas auxiliam os produtores na adoção de práticas mais eficientes, no manejo nutricional, no controle sanitário e na implementação de novas técnicas de produção. Estudos na área de produção vegetal impactam diretamente a produção de leite. A divulgação e disseminação de tecnologias atraem os produtores a buscar por novas tecnologias”, explica.
Para o superintendente da associação, a combinação da genética dos animais, do sistema cooperativista e da pesquisa fortalece a atividade leiteira, permitindo que os produtores enfrentem os desafios e prosperem nesse setor tão exigente. “Existem diversos fatores que contribuem para os bons retornos na pecuária leiteira. Primeiramente, a demanda por produtos lácteos tem se mantido estável e, em muitos casos, tem apresentado crescimento. Isso garante um mercado consumidor consistente e oportunidades de comercialização para os produtores”, afirma.
Outro ponto apresentado é que a produção de leite tem um ciclo mais curto em comparação com a agricultura, permitindo uma geração de renda mais rápida. “Enquanto a agricultura depende do ciclo de plantio, crescimento e colheita das culturas, a produção de leite ocorre diariamente, possibilitando uma receita constante ao longo do ano. O que para muitos produtores em sistema de produção é interessante para a diversificação da renda a partir da produção. Podemos inclusive pensar que a proteína produzida no vegetal, ao transformar em animal, agrega valor. De forma indireta, a cultura do produtor do Paraná é o de diversificar com a criação de animais, principalmente aqueles de cultura europeia, que gostam do trabalho com animais”, diz.
Silveira comenta ainda que outro detalhe importante é a diversificação de produtos. Segundo ele, os produtores de leite têm a possibilidade de diversificar sua produção, explorando a fabricação de queijos, iogurtes, leite condensado e outros derivados lácteos. “Isso agrega valor ao leite e proporciona oportunidades adicionais de negócio”.
Além disso, a adoção de tecnologias e boas práticas de manejo tem contribuído para aumentar a eficiência e a produtividade na pecuária leiteira. “A utilização de sistemas de ordenha automatizados, controle de qualidade do leite, manejo nutricional adequado e aprimoramento genético são exemplos de práticas que ajudam os produtores a obter melhores resultados econômicos”, comenta.
Produzindo mais

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O superintendente afirma que o Paraná ainda tem boas possibilidades de crescimento na atividade leiteira. “Apesar de já ser o segundo maior produtor de leite do país, o Paraná ainda tem potencial para crescer e os produtores podem aumentar sua produtividade. Existem algumas oportunidades e desafios que podem impulsionar o setor lácteo no Estado”, afirma. Ele explica que em relação às oportunidades, o Paraná possui uma base genética sólida de animais leiteiros, o que permite melhorar a produtividade do rebanho. Através da seleção e do melhoramento genético, os produtores podem buscar animais mais produtivos e resistentes a doenças, resultando em maior eficiência na produção. “A produção de leite em rebanhos com 40 litros e 4% de gordura já é uma realidade. Falamos de qualidade altíssima e a possibilidade de rebanhos cada vez maiores”.
Ele comenta que investimentos em pesquisas voltadas para nutrição animal, manejo eficiente, melhoramento genético e tecnologias aplicadas à produção de leite podem trazer avanços significativos para os produtores paranaenses. No entanto, também há desafios a serem enfrentados. “Um deles é a infraestrutura rural, como estradas de qualidade para facilitar o escoamento da produção e o acesso aos insumos. Além disso, é importante o apoio governamental na forma de políticas públicas e incentivos para a modernização das propriedades e para a capacitação dos produtores”, argumenta.
Outro ponto levantado por Silveira é sobre a proteção do setor, que vem sendo discutida muito. “A localização geográfica do Estado possibilita a exportação para outros países da América Latina. O que nesse momento é um ponto crucial, tendo em vista a entrada (no Brasil) de muito leite em pó.
Temos que pensar no Brasil como exportador e não como importador. Primeiro precisamos tornar a competição interna melhor em preços ao produtor, para que então possamos ter mais desenvolvimento e aí sim poder ser competitivo lá fora”.
O especialista afirma ainda que a pecuária leiteira segue o caminho de produzir mais com menos, assim como outras atividades do agronegócio nacional. “A busca pela eficiência produtiva e sustentabilidade é uma realidade no setor. Margens sempre apertadas pela alta dos insumos, ao mesmo tempo em que se busca minimizar o impacto ambiental e otimizar os recursos disponíveis pela pressão ambiental dos grandes centros e países europeus”, conta.
Ele explica que uma das principais estratégias adotadas na pecuária leiteira é o uso de tecnologias avançadas de manejo e genética. “Por meio da seleção criteriosa de animais e programas de melhoramento genético é possível obter animais mais produtivos, com melhor conversão alimentar e maior produção. Falamos aqui de melhorias em reprodução e saúde animal ligados ao bem-estar. Isso resulta em uma produção de leite mais eficiente, com um maior rendimento por animal”, explica.
Além disso, a adoção de práticas de manejo adequadas também é essencial. Segundo Silveira, isso inclui boas práticas de ordenha, controle sanitário eficiente, manejo adequado do pasto, bem-estar animal e cuidados com a reprodução. “Essas práticas visam maximizar a produtividade do rebanho, garantindo o bem-estar dos animais, que são temas diretos voltados aos mercados consumidores”, diz. Ele comenta ainda que a combinação de avanços genéticos, nutrição animal adequada, práticas de manejo eficientes e uso de tecnologias de automação contribui para produzir mais leite com menor impacto ambiental, garantindo a sustentabilidade e a competitividade do setor no agronegócio.
Desafios e oportunidades
De acordo com o superintendente, atualmente os produtores paranaenses enfrentam alguns desafios significativos em relação a atividade leiteira. Alguns dos principais são: custo de produção, rentabilidade, competitividade sustentabilidade ambiental. “O aumento dos custos de insumos, como alimentação, energia, mão de obra e insumos veterinários, representa um desafio para os produtores. É essencial buscar estratégias para reduzir custos sem comprometer a qualidade e a produtividade do rebanho”, avalia.
Ele comenta ainda que os produtores precisam encontrar maneiras de aumentar a eficiência produtiva, melhorar a gestão financeira e encontrar nichos de mercado que valorizem o produto e proporcionem margens de lucro mais atraentes.
Sobre sustentabilidade ambiental, Silveira defende que a preocupação é cada vez mais importante. “Os produtores enfrentam desafios relacionados à gestão de resíduos, conservação do solo e da água, redução das emissões de gases de efeito estufa e preservação da biodiversidade. É fundamental adotar práticas sustentáveis que garantam a viabilidade do setor a longo prazo, principalmente atendendo a pressões dos mercados externos”, afirma.
E quando se fala em perspectivas, o especialista afirma que a atividade leiteira no Paraná também apresenta oportunidades para os produtores, como mercado interno em expansão, exportações, valorização da genética e o cooperativismo. Quanto ao primeiro ponto, ele diz que o mercado consumidor de produtos lácteos no Brasil continua em crescimento, oferecendo oportunidades para os produtores paranaenses atenderem à demanda crescente por leite e seus derivados. “Os recentes aumentos na importação de lácteos demonstram que espaço para crescimento existe”, comenta.
Ele acrescenta ainda que o mercado internacional também representa uma oportunidade para os produtores paranaenses. “A diversificação de produtos, como leite em pó, queijos e leites especiais, pode ser uma estratégia para aproveitar essas oportunidades, principalmente devido ao posicionamento geográfico do Estado na América do Sul”, avalia. Além disso, ele reforça que a genética dos animais é um diferencial. “A valorização da genética é uma oportunidade que a cada dia está mais próxima. Entre os 10 melhores touros genéticos do mundo está um animal do Paraná, demonstrando a qualidade genética do Brasil e do Estado alinhado a animais do mundo”, afirma.
Silveira reitera que o sistema cooperativista tem desempenhado um papel fundamental na organização dos produtores e no fortalecimento da cadeia produtiva do leite. “A união e cooperação entre os produtores é uma oportunidade para superar desafios e obter resultados melhores na coordenação da cadeia, principalmente na defesa do produtor sobre as oportunidades de negócio e mercado”. Ele afirma ainda que com planejamento estratégico, inovação e compromisso com a qualidade, os produtores paranaenses podem prosperar na atividade, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do agronegócio e suprindo a demanda por lácteos, tanto no mercado interno quanto no externo.

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Mudanças no ciclo pecuário exigem nova abordagem da indústria de suplementação, aponta Asbram
Especialistas destacam mercado aquecido, avanço da intensificação, menor venda de suplementos e projeção de forte recuperação a partir de 2026.

Compreender a intensidade de movimentos que vêm marcando o atual ciclo pecuário no Brasil. Para realizar os negócios de investimentos em tecnologias modernas de nutrição ao lado dos produtores de carne e leite do país. O desafio foi assumido em outubro passado, em Campo Grande (MS), durante nova reunião da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram). O encontro contou com três palestras, um balanço do Simpósio realizado pela entidade em setembro passado, com presença de quase 500 participantes e avaliação positiva de 98%, e a atualização dos números do painel de comercialização de suplementos minerais nos nove meses de 2025.

Foto: Divulgação
A carne bovina brasileira segue resoluta. Mercado firme, frigoríficos com estratégia mais definida, exportações recordes mesmo com queda nas vendas aos Estados Unidos, mercado interno bom, com oferta da proteína. “Está saindo mais carne do sistema para o mercado. O futuro não vai ser diferente. Deve ter preço de boi subindo e bezerro também. Com tempo de alta na arroba também, e abates em alta’, analisou o médico-veterinário e consultor Hyberville Neto, ao tratar sobre as pextactativas para o fim deste ano e ao longo de 2026.
Ele também destacou o panorama do confinamento, que pode fechar cerca de 8 milhões de cabeças. Com estratégias bem aplicadas e arroba engordada interessante pelo preço atraente do milho. “O grão merece atenção. O mercado doméstico está ganhando espaço principalmente por causa do etanol, que já abocanha 23% do que é colhido. Porém, as vendas externas não param de ajudar. O Vietnã abriu o mercado para a gente. A população de lá só come 4,4 kg por habitante ao ano e é nada menos do que 100 milhões. E o Japão pode começar a comprar ainda neste ano”, salientou.
Como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica que o mercado interno vai usar 68% da produção no ano que vem, Neto

Foto: Juliana Sessai
projeta pico de preços em 2027 e 2028. “Até R$ 420 a arroba. Não é um absurdo se olharmos o histórico. Agora, as precauções devem permanecer as mesmas para a fazenda. A baixa e a alta não duram para sempre. Não esqueça do caixa. Quem tem decide se está na compra ou na venda. Olho na economia brasileira, no consumo doméstico, milho e câmbio. Para garantir preço mínimo”, sintetizou.
“A proteína animal vive realmente um bom momento, com abates maiores de vacas e novilhas, uma reação no abate de machos, mas com carcaças mais leves. O que exige uma reflexão detalhada sobre o que vem ocorrendo com as dietas dos animais. Agora, tenho uma visão mais conservadora sobre os preços futuros”, opinou o engenheiro agrônomo e Coordenador do Rally da Pecuária, Maurício Palma Nogueira.
Ele enfatizou que mais variáveis estão sendo incluídas no ciclo pecuário e é necessário compreender níveis tecnológicos mais altos na atividade. Para ele, todos os indicadores são de alta no ciclo, exceto o abate de fêmeas. Aceleração da atividade, área de pastagens caindo, pecuária crescendo de forma sólida, frigoríficos trabalhando bem em segurar preço, e vendas externas sem precedentes, que podem passar de quatro milhões de toneladas neste ano, 22% das exportações globais. “Temos todos os modelos. O conservacionista, 9 milhões de cabeças confinadas, terminação intensiva no pasto, semiconfinamento e pasto com mineralização. São 19,3 milhões de cabeças comendo mais de 1% de peso vivo em concentrados. É uma pecuária nova, estimulante, entretanto também traz pontos de atenção. A nossa cabeça fica confusa, mesmo. Aumentou o número do envio de animais para confinamentos terceirizados. Por isso os fornecedores precisam estar conectados ao longo do ano inteiro. Muitos criadores vendem rápido para entendendo oportunidades de maximizar resultados financeiros, assim como novilha indo ao abate é menos suplemento mineral vendido”, alertou.

Foto: Divulgação
Alinhamento de estratégias do setor
A avaliação percorreu imediatamente todo o público presente à reunião. “Temos que analisar bem nossa estratégia no mercado, o profundo entendimento das necessidades do pecuarista em cada modelo de produção, para que eles tenham resultados melhores e nossas empresas cresçam e ajudem a pecuária brasileira. Melhorar o nível tecnológico é mandatório em qualquer modelo! O que muda é o que se apresenta como tecnologia em cada um. Sistemas mais ou menos intensivos em termos de dieta e de tempo, geram necessidades e análises diferentes que o atual fornecedor de nutrição deve entender se quiser ser reconhecido como relevante para o produtor”, indicou o vice-presidente da Asbram, Rodrigo Miguel.
“A Associação precisa ficar antenada com essas várias mudanças. Vivi isso na Agricultura nos últimos quarenta anos. A gente conhece o final dessa história. Um trabalho bem realizado dá resultado. Tanto que, hoje, comemos carne bovina igual a qualquer outra do mundo”, concordou a vice-presidente executiva da entidade, Elizabeth Chagas.
A nova abordagem ganhou corpo por causa dos números mais recentes das vendas de suplementos minerais. 230 mil toneladas em

Foto: Gisele Rosso
setembro, 10,29% abaixo na comparação com o mesmo mês de 2024. O retrato de 2025 é de 1,871 milhão de toneladas, 3,9% a menos do que o mesmo período do ano passado. “O volume está sendo menor no segundo semestre até porque a base de comparação, segundo semestre de 2024, está desfavorável. A perspectiva para o ano todo é alcançar 2,4 milhões de toneladas. O que vai sinalizar uma contração de 6,9%. Com 68,1 milhões de cabeças suplementadas na média. 4,2% abaixo do ano passado”, sintetizou Felippe Serigati, professor da Fundação Getúlio Vargas e coordenador do Painel de Comercialização da Asbram.
Outros pontos podem estar interferindo nessa questão. O efeito DDG (co-produto da produção de etanol de milho), mudanças na nutrição de vacas e novilhas, rebanho menor e mais leve. “O cliente está capitalizado, mas pode estar suplementando menos animais. Ou aumentou o abate de todas as categorias. E sem bezerro para vender. Não vamos esquecer que os juros altos podem estar mantendo o dinheiro do produtor mais no banco. Mas posso garantir que vai haver recuperação, e forte, em 2026 e 2027. Um rebanho menor e mais leve. Passamos por um vale, mas a recuperação pode ser forte e as empresas de suplementação viverem um novo aumento expressivo. Preparem-se para vender”, tranquilizou Nogueira.
“A ASBRAM vai seguir com nossas estatísticas e nossos debates para que ajudemos a cadeia produtiva de carne e leite a avançar cada vez mais. O painel é referência nacional do mercado de ruminantes do Brasil. É mais do que mineralização. É a fotografia da alimentação de ruminantes no Brasil. Tecnologia exige processos modernos. Para pequenos ou grandes produtores. Capturamos isso no painel”, emendou Elizabeth. “Exatamente. Vamos continuar contribuindo com as informações do painel para vendermos mais ração e aditivos. Pode ser um novo momento da nutrição animal no Brasil. Suplementos, ração, proteicos. Com uma nova visão sobre as fábricas próprias dos confinamentos, novos números. A Associação se posiciona nesse universo”, acrescentou Rodrigo Miguel.

Foto: Divulgação
E a economia vai interferir nesse processo. “Estamos desacelerando, mas seguimos crescendo. Emprego aquecido, serviços e consumo das famílias à toda, média salarial em alta. O Produto Interno Bruto tem avançado em todas as projeções. Mesmo com os juros nas alturas e a inadimplência crescendo. Sendo que a inflação não se mexe. Certamente, por causa dos gastos do governo federal crescendo sem parar. Mas todo esse caldeirão sustenta a venda de carne bovina no supermercado nos próximos meses”, opinou Felippe.
“Pensando nos próximos meses, o ajuste de rebanho, tecnologia e como vamos melhorar. Vamos escalar na nutrição dos negócios. É o trabalho básico da Asbram. Discutir o mercado, a economia brasileira e mundial, lançar materiais de apoio às indústrias e aos pecuaristas, como o Guia Prático de Gado de Corte e Leite, seguir com as campanhas mensais, falando da riqueza da suplementação de qualidade, as publicações na internet, entender o nosso negócio e alimentar de informação o exército de mais de 14 mil profissionais que possuímos para disseminar a boa nutrição dos rebanhos do Brasil”, enfatizou Fernando Penteado Cardoso.
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Crise no leite escancara desigualdade tecnológica no campo
Audiência na Câmara destacou que a democratização da genética avançada pode elevar a produtividade, reduzir custos e fortalecer a renda das famílias rurais.

A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara dos Deputados realizou, na última semana, audiência pública para discutir a importância do melhoramento genético do gado leiteiro voltado aos pequenos produtores. O debate foi solicitado pelo deputado Rafael Simões (União-MG), que defende a ampliação do acesso a tecnologias avançadas de reprodução no campo.
Segundo o parlamentar, o melhoramento genético é um dos principais instrumentos para elevar a eficiência e a competitividade da produção de leite no país, especialmente entre agricultores familiares. “Animais com maior potencial genético produzem mais leite, garantem melhor qualidade do produto e apresentam maior resistência a doenças, além de melhor adaptação às condições de manejo. Esses fatores impactam diretamente na redução de custos e no aumento da renda das famílias rurais”, afirmou.

Deputado Rafael Simões: Com apoio técnico, linhas de crédito direcionadas e subsídios, é possível democratizar o uso da transferência de embriões, aproximando os agricultores familiares das mesmas ferramentas utilizadas por grandes propriedades”
Rafael Simões defendeu a criação de um programa específico voltado ao melhoramento genético para pequenos produtores. “Com apoio técnico, linhas de crédito direcionadas e subsídios, é possível democratizar o uso da transferência de embriões, aproximando os agricultores familiares das mesmas ferramentas utilizadas por grandes propriedades. Isso fortalece a cadeia produtiva do leite, valoriza a agricultura familiar e contribui para a sustentabilidade da atividade”, destacou.
O secretário de Agricultura Familiar e Abastecimento do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Vanderley Ziger, informou que o governo estruturou um programa nacional de melhoramento genético, instituído pela Portaria nº 28, de junho de 2025, e trabalha agora para sua efetiva implementação. “Temos a necessidade de fazer com que o programa lançado se torne concreto, e isso passa por uma grande campanha nacional que estimule, fortaleça e esclareça essa agenda. Se houver mobilização, acredito que o produtor compreenderá melhor o potencial e os benefícios da transferência de embriões”, explicou.
O diretor de Pecuária Leiteira da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Rodrigo Simões, reforçou a importância de ampliar o acesso à genética avançada. “A atividade leiteira enfrenta desafios naturais: climáticos, de preço de insumos e pela entrada de leite importado. Se conseguirmos garantir que os pequenos produtores tenham acesso à genética de ponta, esse desafio se torna muito menor, pois uma vaca ruim come o mesmo que uma vaca boa”, afirmou.

Deputado José Medeiros: “Há tempos tocamos nesse problema, que é recorrente. Precisamos agir, ou o nosso produtor de leite não vai resistir”
O deputado José Medeiros (PL-MT) também demonstrou preocupação com a crise no setor leiteiro e defendeu ações urgentes do Congresso. “Há tempos tocamos nesse problema, que é recorrente. Precisamos agir, ou o nosso produtor de leite não vai resistir. Acredito que o secretário Vanderley sai desta audiência com ideias importantes para fortalecer o programa. Estamos, inclusive, coletando assinaturas para instalar a CPI do Leite”, frisou.
Rafael Simões concluiu afirmando que continuará acompanhando o tema de perto e que pretende se reunir com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, para tratar do assunto.
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Congresso Internacional de Girolando premia trabalhos científicos e atrai público de sete países
Evento em Uberlândia (MG) reuniu 650 participantes e abordou inteligência artificial, genética avançada e sustentabilidade na produção leiteira.

Com a participação de 650 pessoas de sete países, o 3º Congresso Internacional de Girolando apresentou as inovações da pecuária leiteira mundial e as tendências de mercado para o próximo ano. O evento, realizado de 12 a 14 de novembro, em Uberlândia (MG), contou com participantes do Brasil, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, Honduras, Panamá e de Sudão.

Fotos: Divulgação/Girolando
A inteligência artificial foi um dos temas apresentados. Segundo o pesquisador da Universidade de Wisconsin, Guilherme Rosa, estudos feitos na instituição norte-americana estão permitindo utilizar a IA para melhorar a eficiência produtiva das fazendas leiteiras, utilizando, por exemplo, imagens para identificar animais com problemas ou para selecionar aqueles de maior desempenho. Já o uso da robótica está contribuindo para otimizar a ordenha das vacas, além de solucionar problemas com mão de obra.
O Congresso ainda destacou a evolução genética dos rebanhos da raça Girolando, que nos últimos 20 anos aumentou em 100% sua produção de leite enquanto as emissões de metano caíram 40%. “Hoje, não precisa esperar o animal nascer para iniciar a seleção. É possível fazer isso ainda na fase de embriões”, diz o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Marcos Vinicius Barbosa da Silva, que abordou o impacto da genômica na raça Girolando.
As inovações incorporadas por fazendas selecionadoras da raça foram apresentadas no evento. Uma delas é a Santa Luzia, em Passos/MG, uma das maiores produtoras de leite do Brasil, primeira fazenda a ser certificada para biosseguridade no país e que tem um trabalho pioneiro em bem-estar animal. O gestor da Santa Luzia e criador de Girolando Maurício Silveira Coelho ministrou palestra sobre boas práticas de manejo para garantir a sustentabilidade. “O bem-estar animal é um conceito indissociável do futuro da produção leiteira”, assegura o criador.

O evento, que também abordou o mercado global do leite, sucessão familiar, eficiência alimentar, gestão das propriedades, premiou os melhores trabalhos científicos sobre a raça Girolando. Concorreram mais de 40 pesquisas. O primeiro lugar ficou com Vitor Augusto Nunes, que avaliou efeitos da intensidade do ciclo reprodutivo em protocolos de IATF. O segundo colocado foi Fabrício Pilonetto, que pesquisou sobre a relação do genoma e o sistema mamário das vacas Girolando. Já o terceiro colocado foi Joseph Kaled Grajales-Cedeño, com trabalho sobre reatividade e seus efeitos na produção e qualidade do leite em vacas primíparas Girolando. As premiações foram nos valores de R$5 mil, R$3 mil e R$2mil, respectivamente.
O 3º Congresso Internacional de Girolando foi organizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, em parceria com o Sebrae, Fundo de Investimento do Programa de Melhoramento Genético de Girolando e Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite).



