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Bovinos / Grãos / Máquinas Nova DEP para facilidade de parto

Conheça tecnologia inédita para combater aumento dos partos distócicos em novilhas de raças zebuínas

A ênfase no crescimento foi justificada pelo retorno produtivo e econômico, mas os desafios relacionados a essa abordagem começaram a surgir, trazendo à tona a necessidade de um equilíbrio entre crescimento e bem-estar animal.

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Nos últimos anos, o foco da seleção genética nas raças zebuínas, tradicionalmente voltado para características de crescimento, tem passado por uma grande transformação. A preocupação com os impactos a longo prazo dessa estratégia, especialmente no que se refere ao crescimento em idades jovens e seus reflexos no tamanho adulto, composição da carcaça, fertilidade e produtividade dos rebanhos, está em alta. Historicamente, a ênfase no crescimento foi justificada pelo retorno produtivo e econômico, mas os desafios relacionados a essa abordagem começaram a surgir, trazendo à tona a necessidade de um equilíbrio entre crescimento e bem-estar animal.

À medida que a pecuária de corte avança, a precocidade sexual e a fertilidade têm ganhado posição de destaque no melhoramento genético das raças zebuínas. A antecipação da prenhez, por exemplo, é uma característica que se mostra promissora, devido à alta variabilidade genética aditiva que apresenta, justificando sua adoção como critério de seleção. No entanto, a seleção para maiores taxas de crescimento e precocidade sexual não é isenta de desafios.

Pesquisadores e pecuaristas observaram ao longo dos últimos anos um aumento na incidência de distocia (dificuldade de parto) em novilhas precoces, associada ao maior peso ao nascer do bezerro e à menor idade ao primeiro parto, fatores que impactam negativamente a fertilidade e aumentam a mortalidade dos bezerros.

Atualmente, o peso ao nascer (PN) é a principal característica utilizada como indicativo de dificuldade de parto nas raças zebuínas. As estratégias de acasalamento baseadas em DEPs (Diferença Esperada na Progênie) moderadas a baixas para PN são comuns, com o objetivo de reduzir a incidência de distocia. No entanto, há indícios de que a seleção para baixo PN pode prejudicar o desenvolvimento animal, impactando negativamente o ganho de peso e o peso vivo em idades mais avançadas, o que levanta a necessidade de explorar alternativas genéticas.

Enquanto a facilidade de parto (FP) é uma característica bem estabelecida nas raças taurinas, nas zebuínas os estudos ainda são poucos. Contudo, a seleção direta para FP, associada à seleção para PN, pode ser uma estratégia promissora, com potencial para proporcionar ganhos genéticos a longo prazo, sem comprometer o desempenho dos rebanhos zebuínos. “Este novo enfoque reflete um equilíbrio necessário entre crescimento, fertilidade e bem-estar animal, buscando soluções que sustentem a eficiência reprodutiva e produtiva dos zebuínos no futuro”, enaltece o  PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), Fernando Sebastián Baldi Rey.

Presidente do Conselho Deliberativo da ANCP, João Carlos Guimarães Giffoni Filho: “Tecnologia veio para ficar e com certeza se tornará o foco dos principais criatórios de seleção” – Foto: Fernando Samura

DEP para Facilidade de Parto de Primíparas

A Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), em parceria com a USP, Unesp e Embrapa Cerrados, realizou um estudo para analisar a importância da adoção da FP como critério de seleção, resultando na criação da nova DEP para Facilidade de Parto de Primíparas. Essa ferramenta foi lançada durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, realizado em agosto dentro da ExpoGenética 2024, em Uberaba (MG).

O presidente do Conselho Deliberativo da ANCP, João Carlos Guimarães Giffoni Filho expressou seu orgulho em liderar uma gestão que deu um grande passo no melhoramento genético com o lançamento da nova ferramenta. Ele destacou que, com os avanços obtidos em desempenho, qualidade de carcaça e redução da idade ao primeiro parto, era necessário ir além da tradicional DEP para peso ao nascimento. “A tecnologia veio para ficar, para auxiliar os criadores, e com certeza se tornará o foco dos principais criatórios de seleção, integrando o objetivo de seleção dos melhores rebanhos”, frisou.

À frente das pesquisas desde 2018, o PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da ANCP, Fernando Sebastián Baldi Rey, destacou os benefícios dessa nova DEP. “Utilizando dados fenotípicos fornecidos pelo programa de melhoramento genético Nelore Brasil da ANCP, o estudo classificou partos de primíparas quanto à necessidade de assistência, constatando que 88% dos partos ocorreram sem assistência, enquanto 12% necessitaram de auxílio”, afirmou.

Os resultados do estudo, segundo o pesquisador, indicam que a correlação genética entre FP e características indicadoras de precocidade sexual das fêmeas é moderada, sugerindo que a seleção para antecipação do parto em novilhas pode aumentar a incidência de distocia, trazendo consequências negativas para a fertilidade.

Por sua vez, Baldi explica que entre peso ao nascer e FP, as estimativas de correlação genética foram moderadas, indicando que a seleção para menor peso ao nascer poderia reduzir a incidência de distocias. “Apesar da correlação genética moderada com FP, a estimativa não é alta o suficiente para afirmar que a característica PN possa servir como indicador direto de FP. Além disso, a seleção para baixo PN pode potencialmente retardar o crescimento animal, dada a sólida e favorável correlação genética entre PN com peso ao desmame e sobreano. Assim, é possível concluir que a FP é um componente que deve ser considerado em primíparas da raça Nelore”, analisa o PhD em Melhoramento Animal.

Neste contexto, a nova DEP para Facilidade de Parto de Primíparas surge como uma ferramenta inovadora para auxiliar os criadores na redução da frequência de partos assistidos, especialmente em novilhas precoces. “Essa nova DEP disponibiliza ao mercado uma ferramenta expressada em probabilidade de parto com sucesso, ou seja, parto com sucesso é parto não assistido”, ressalta, dizendo que embora o peso ao nascimento tenha sido tradicionalmente utilizado como uma ferramenta para controlar problemas no parto, especialmente em relação à duração da gestação, as pesquisas demonstram que ele explica apenas 40% da variabilidade genética associada à facilidade de parto. “Em outras palavras, 60% dos fatores que influenciam a facilidade de parto não estão relacionados ao peso ao nascimento. É nesse contexto que a nova ferramenta desenvolvida será decisiva para auxiliar os criadores a reduzir a incidência desses problemas”, enfatizou.

Durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, a ANCP também lançou a DEP Maternal para Facilidade de Parto, que considera fatores como a largura da anca e cistos ovarianos, que influenciam na facilidade de parto. “Associada à genômica que, assim como as outras características, tem uma contribuição muito importante para o melhoramento destas DEPs. Através da genômica podemos identificar e selecionar reprodutores ou selecionar fêmeas com menor incidência de partos distócicos e, desta forma, em um animal jovem conseguir saber de antemão se como reprodutor vai trazer ou não problemas ao parto”, salienta Baldi.

O que motivou o estudo

O pesquisador explica que, apesar da melhoria genética da precocidade sexual de fêmeas em rebanhos zebuínos, a incidência de problemas de parto aumentou nos últimos anos, provavelmente devido ao maior peso ao nascimento das progênies e à menor idade ao primeiro parto das novilhas sexualmente precoces, como consequência da seleção para maiores taxas de crescimento e precocidade sexual.

Segundo Baldi, a maioria das raças zebuínas são reconhecidas por uma baixa frequência de problemas de parto (distocia), mas sua incidência aumentou na raça Nelore, podendo chegar a 20% de partos assistidos em alguns rebanhos. “Geralmente, uma menor facilidade de parto está associada a maiores pesos ao nascer, pois os bezerros com alto peso ao nascer são mais suscetíveis à distocia que os bezerros com peso ao nascer baixo ou moderado”, evidencia o PhD em Melhoramento Animal.

“O uso do peso ao nascer do bezerro para indicar dificuldade no parto em novilhas sexualmente precoces compreende até hoje estratégias de seleção e acasalamento que adotam DEPs moderadas a baixas para o peso ao nascer”, complementa o pesquisador, ressaltando que os estudos têm demonstrado uma associação genética de moderada a alta entre o peso ao nascer e os problemas ao parto.

Para o desenvolvimento da nova DEP para Facilidade de Parto em novilhas precoces da raça Nelore foram coletadas desde 2018, com a colaboração de criadores associados, dados fenotípicos de FP de rebanhos zebuínos, totalizando 40 mil registros de FP e mais de 300 mil animais genotipados, dos quais aproximadamente 5% envolvem partos com assistência. “Esses dados incluem tantas vacas precoces, que conseguem parir antes dos 30 meses, quanto vacas não precoces. Entre as fêmeas jovens desafiadas precocemente, entre 12 e 15 meses, a incidência de partos distócicos chega a cerca de 7%, o que acende um alerta para os criadores. E nas vacas primíparas tradicionais, que parem com mais de 30 meses, a incidência de partos anormais é menor”, ressalta.

Estudos preliminares mostram que a nova ferramenta será particularmente útil em situações de animais com DEP para peso ao nascer maior que 1 kg. “A DEP Direta para Facilidade de Parto de Primíparas e a DEP Maternal deverão ser utilizadas de forma complementar junto com a DEP para peso ao nascer na hora de realizar a seleção e o acasalamento dos animais, utilizando os filtros genéticos que oferece o programa de acasalamentos MaxPag da ANCP”, aponta Baldi.

Seleção de touros

O pesquisador afirma que a nova DEP será também uma ferramenta para a seleção de touros destinados a novilhas precoces, especialmente quando utilizada em conjunto com outras DEPs, como Probabilidade de Permanência no Rebanho (Stayability – STAY %), Probabilidade de Parto Precoce (3P – %), Habilidade Maternal, precocidade no acabamento de carcaça e peso, características que contribuem para reduzir a incidência de distocia em novilhas precoces. “Além disso, a DEP Maternal para Facilidade de Parto também está sendo introduzida, uma vez que o parto distócico é influenciado não apenas pelo tamanho e peso do bezerro, condicionados tanto pelo pai quanto pela mãe, mas também por fatores maternos”, expõe.

PhD em Melhoramento Animal e pesquisador sênior da ANCP, Fernando Sebastián Baldi Rey: “A DEP Direta para Facilidade de Parto de Primíparas e a DEP Maternal deverão ser utilizadas de forma complementar junto com a DEP para peso ao nascer na hora de realizar a seleção e o acasalamento dos animais” – Foto: Fernando Samura

Riscos que aumentam incidência de parto distócico

A incidência de parto distócico, ou dificuldade no parto, pode ser influenciada por diversos fatores. Entre os principais riscos estão os fatores genéticos, como o peso elevado ao nascimento do bezerro e a seleção para características de crescimento rápido e precocidade sexual, que podem predispor as fêmeas a partos difíceis.

Fatores fisiológicos também desempenham um papel importante, como a idade das novilhas no primeiro parto, especialmente quando muito jovens, e a condição corporal das fêmeas, com excesso de gordura na pelve dificultando o parto.

O pesquisador frisa que a utilização de touros com alta capacidade de crescimento, comum em programas de engorda, também aumenta o risco de distocia. “A nova DEP para Facilidade de Parto, uma ferramenta inédita para raças zebuínas, foi desenvolvida em resposta ao aumento dos partos distócicos em novilhas, intensificado pelo progresso genético em precocidade sexual e pelo aumento do peso ao nascimento”, menciona Baldi.

Além disso, Baldi diz que o manejo e a nutrição inadequados durante a gestação, como dietas excessivamente energéticas ou deficientes, aumentam os riscos, assim como condições ambientais estressantes e a falta de monitoramento adequado.

Embora a nutrição, especialmente no último terço da gestação, possa ajudar a reduzir a incidência de distocia, estratégias como a redução da alimentação das novilhas nesse período podem comprometer a reconcepção. “É muito importante adotar estratégias nutricionais e de manejo que evitem o aumento excessivo do peso ao nascimento, além de selecionar touros e novilhas com alta facilidade de parto. Isso é fundamental para mitigar esse problema crescente nos rebanhos bovinos brasileiros, especialmente aqueles que utilizam seleção genética avançada e tecnologias de ponta”, enfatiza.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Bovinos / Grãos / Máquinas

Com ações localizadas, Adapar trabalha para monitorar e mitigar casos de raiva no Paraná

Vigilância ativa busca identificar novos casos suspeitos, com a coleta de material do sistema nervoso central de animais mortos para diagnóstico. Além disso, os técnicos orientam os produtores sobre a vacinação de animais suscetíveis e o uso de pasta vampiricida em casos de ataques por morcegos.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) trabalha para conter os casos de raiva no Paraná. Segundo dados da divisão de Prevenção e Controle da Raiva e EET do departamento de Saúde Animal (Desa), em 2024, já são 232 casos positivos em 203 focos. O valor superou aos 148 focos registrados em 2023.

A raiva é uma doença viral que afeta o sistema nervoso central e não tem cura. É uma zoonose de grande importância em saúde pública devido à sua alta a letalidade de 100% com alto impacto socioeconômico.

No enfrentamento à raiva no Paraná, a Adapar trabalha com ações de vigilância e mitigação da doença em áreas com registros de focos. Segundo a divisão de Prevenção e Controle da Raiva da Adapar, em cada caso positivo, um raio de 10 quilômetros é estabelecido ao redor da propriedade afetada para definir o perifoco. Esse mapeamento é realizado com auxílio do Sistema de Geoprocessamento, que identifica todas as propriedades com animais suscetíveis e localiza abrigos de morcegos hematófagos cadastrados.

Dentro dessa área delimitada, uma série de ações é colocada em prática. A vigilância ativa busca identificar novos casos suspeitos, com a coleta de material do sistema nervoso central de animais mortos para diagnóstico. Além disso, os técnicos orientam os produtores sobre a vacinação de animais suscetíveis e o uso de pasta vampiricida em casos de ataques por morcegos.

A Adapar também realiza revisões nos abrigos de morcegos cadastrados, implementando medidas de controle populacional por meio de capturas estratégicas. Paralelamente, atividades de educação sanitária são promovidas junto à comunidade, utilizando diversos meios de comunicação para conscientizar sobre os riscos da doença e as formas de prevenção. Em situações em que pessoas tiveram contato com animais positivos, a agência notifica e encaminha os casos para o sistema de saúde, garantindo a proteção da população.

Em 2024, dois treinamentos com atividades teóricas e práticas foram realizados para 53 fiscais e assistentes de fiscalização em Guarapuava. Os treinamentos reforçaram os preparos para pronto atendimentos desses servidores aos casos de suspeita da zoonose. “Com essa abordagem integrada, o Estado busca reduzir o impacto da raiva no setor agropecuário e proteger a saúde da população, reforçando o compromisso com a vigilância e a prevenção dessa zoonose”, afirma o diretor-presidente da Adapar, Otamir Cesar Martins.

Casos

De acordo com a divisão de prevenção e controle da Raiva, a região de Cascavel lidera os registros de casos da doença no Estado, com 105 ocorrências de janeiro até o início de novembro. Em seguida, a região de Laranjeiras do Sul ocupa a segunda posição, com 27 casos. Ponta Grossa, com 19 registros, e União da Vitória, com 17, completam as quatro regiões com maior número de casos.

Além disso, foram registrados casos em outras regiões: Dois Vizinhos, com 16; Curitiba, com 14; Guarapuava, com 10; Cornélio Procópio, com 9; Paranavaí, com 6; Umuarama, com 5; e Francisco Beltrão e Jacarezinho, com 2 registros cada.

Entre os casos diagnosticados, foram identificados 199 bovinos, 18 equinos, 1 muar, 1 ovino, 6 suínos, 3 morcegos hematófagos e 4 morcegos não hematófagos, distribuídos em 45 municípios dessas regiões.

De acordo com a chefe da divisão que realiza o monitoramento e o controle da doença no Estado, a médica- veterinária Elzira Pierre, a motivação do aumento desses casos no Paraná decorre da falta de vacinação preventiva nos animais. “Muitos produtores não estão usando a vacina para prevenir a doença, mas sim somente depois que acontece algum caso em sua propriedade. Então, nosso alerta aqui é que façam o uso preventivo da vacina, não esperem chegar a doença na propriedade para vacinar seus animais” explicou Pierre.

Prevenção

O Departamento de Saúde Animal da Adapar alerta para a necessidade da vacinação preventiva por parte dos produtores de seus animais. A doença pode afetar todos os mamíferos, incluindo seres humanos, e é transmitida principalmente pelo contato com a saliva de animais contaminados, sendo o morcego hematófago (vampiro) o principal transmissor para os herbívoros.

Os sinais mais comuns nos herbívoros incluem isolamento, salivação, incoordenação motora, paralisia dos membros traseiros e movimentos de pedalagem. Os animais infectados geralmente morrem de 3 a 7 dias após o início dos sintomas.

A detecção de sinais nervosos em herbívoros deve ser notificada imediatamente à Adapar no Escritório Local da agência mais próxima ou pelo link.

Apoio

A Adapar disponibilizou uma cartilha educativa sobre a raiva dos herbívoros no Instagram, através do Adapar Educa. Acesse o material aqui.

Fonte: AEN-PR
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Bovinos / Grãos / Máquinas

Qualidade da forragem é discutida no último painel do 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite

Processo de suplementação deve partir de conceitos básicos e do entendimento completo do sistema de produção, considerando três pontos fundamentais: o animal, a pastagem e o suplemento.

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Fotos: Caroline Lorenzetti

Médico veterinário Eduardo Bohrer de Azevedo: “Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens”

O terceiro e último dia do 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), em Chapecó (SC), trouxe como tema principal o Painel Qualidade da Forragem. O médico veterinário Eduardo Bohrer de Azevedo, doutor em Zootecnia e professor do departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentou a palestra “Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens”. Em sua fala, o coordenador do Grupo de Estudos em Nutrição de Ruminantes e Equinos (GENUR) destacou a importância da suplementação em sistemas de pastejo para garantir produtividade e rentabilidade na produção de leite.

Segundo Azevedo, o processo de suplementação deve partir de conceitos básicos e do entendimento completo do sistema de produção, considerando três pontos fundamentais: o animal, a pastagem e o suplemento. Ele ressaltou que conhecer as características e as necessidades do rebanho é essencial para ajustar a dieta conforme o estágio de lactação e o potencial produtivo de cada vaca.

Para Azevedo, para melhorar o sistema de pastejo, é fundamental entender a qualidade nutricional que ele oferece. Ele frisou a importância de ajustar o pasto para uma oferta forrageira de alta qualidade, com proporções maiores de folhas e nutrientes essenciais, como proteínas e menor teor de fibras, fatores que garantem maior digestibilidade e aproveitamento pelo animal. “Um pasto bem manejado proporciona a ingestão de nutrientes de melhor qualidade e torna a suplementação mais eficaz”, afirmou.

No manejo de pastagens, Azevedo destacou a necessidade de oferecer ao animal uma quantidade suficiente de forragem para que ele possa exercer seletividade e, assim, consumir os nutrientes mais concentrados. Ele ressaltou que as plantas apresentam uma variação nutricional ao longo da folha, sendo mais nutritivas nas pontas. Esse detalhamento permite ajustes mais precisos na suplementação, visando atender à demanda nutricional sem comprometer o crescimento da forragem.

“O que acontece com o consumo de pasto quando utiliza-se um suplemento? A resposta é: efeito associativos. A definição dos objetivos de suplementação varia de acordo com as condições de cada propriedade e com o tipo de animal. Em sistemas de alta produção, os suplementos podem incluir aditivos que melhorem a fermentação ruminal e aumentem a eficiência no uso do volumoso”, apontou o professor, explicando que o efeito da suplementação pode variar de acordo com a qualidade do pasto e o nível de exigência nutricional do rebanho. “Quanto maior a diferença entre o potencial produtivo do animal e o que o pasto oferece, maior será a resposta à suplementação”, observou.

Forragem, desempenho e comportamento alimentar

Zootecnista e doutor em Nutrição de Vacas Leiteiras, Luiz Ferraretto: “Uma dieta baseada em alta forragem influencia o comportamento alimentar e o ‘time budget’ das vacas – isto é, o tempo que elas passam comendo versus descansando”

Em sua primeira viagem a Santa Catarina, o zootecnista e doutor em Nutrição de Vacas Leiteiras, Luiz Ferraretto, professor e extensionista em Nutrição de Ruminantes da

Universidade de Wisconsin, Madison (EUA), compartilhou conhecimentos valiosos sobre qualidade de forragem e otimização do amido em duas falas realizadas durante o Painel Qualidade da Forragem.

Foram duas palestras complementares, nas quais o professor apresentou um panorama detalhado, destacando a importância de fatores nutricionais na produtividade e no comportamento alimentar das vacas, focando especialmente na digestibilidade da fibra e do amido em diferentes tipos de silagem.

Ferraretto abriu sua primeira palestra com o tema “Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?”, e reforçou a importância da digestibilidade das fibras, apresentando indicadores que facilitam a avaliação da qualidade da silagem. Segundo o especialista, o consumo de forragem pode ser limitado pelo enchimento do rúmen, impactando diretamente na produção de leite e na formulação de dietas ricas em fibras. Citando pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Ferraretto apontou que um aumento de 1% na digestibilidade da fibra, eleva em cerca de 250 gramas por dia a produção de leite, corrigido para 4% de gordura. Em outro estudo, uma dieta com mais de 40% de silagem de milho resultou em 141 gramas diários adicionais de leite com 3,5% de gordura.

O professor também apresentou um experimento realizado na Universidade de Wisconsin com 64 vacas holandesas, onde investigou-se os efeitos da substituição de fibras de forragem por fibras não forrageiras.

Os resultados evidenciaram que dietas de alta forragem prolongam o tempo de alimentação, o que pode reduzir a produção de leite, pois as vacas passam menos tempo descansando. “Uma dieta baseada em alta forragem influencia o comportamento alimentar e o ‘time budget’ das vacas – isto é, o tempo que elas passam comendo versus descansando. O melhor indicador, que nem sempre é fácil de avaliar, é o tempo em que as vacas passam ruminando deitadas”.

Amido na silagem de milho e grão úmido

Na segunda palestra, Ferraretto explorou “Práticas para maximizar o uso do amido na silagem de milho e no grão úmido”, destacando que fatores como o tamanho das partículas, a maturidade dos grãos e a fermentação são cruciais para a digestibilidade do amido. “O processamento do milho, bem como a duração da fermentação, têm efeitos diretos na densidade energética e na eficiência alimentar. A fermentação adequada da silagem pode aumentar a disponibilidade de amido, essencial para a energia das vacas e para otimizar a produção de leite”, afirmou. Ferraretto demonstrou que grãos mais maduros, com endospermas mais duros, apresentam digestibilidade reduzida, enquanto o uso de inoculantes microbianos pode melhorar a fermentação e a estabilidade aeróbica da silagem.

Ferraretto também apontou a importância de grãos quebrados na silagem, pois isso facilita a fermentação e melhora a digestibilidade. “Atrasos na colheita podem aumentar a dureza do grão, dificultando a fermentação e reduzindo a eficiência de digestão do amido. Nesse contexto, o uso de inoculantes microbianos foi recomendado para melhorar o perfil de fermentação e garantir a estabilidade aeróbia da silagem, permitindo uma maior disponibilidade energética sem comprometer a produção. A combinação desses elementos impacta não apenas a produtividade do leite, mas também o comportamento e o bem-estar dos animais”, enfatizou.

Com seu olhar clínico e experiência internacional, o especialista contribuiu significativamente para os debates do simpósio, oferecendo soluções práticas para produtores brasileiros que buscam maximizar a eficiência e sustentabilidade na nutrição de ruminantes.

Fonte: Assessoria Nucleovet
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Bovinos / Grãos / Máquinas 13º SBSBL

A saúde emocional e o comportamento dos bovinos com o projeto “Traduzindo Vacas”

Método de análise comportamental do rebanho é tema de palestra no 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite.

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Fotos: Caroline Lorenzetti

Durante o 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, profissionais especialistas renomados tomaram o palco do Centro de Cultura e Eventos Plinio Arlindo De Nes, em Chapecó, para discutir a realidade mundial e inovações envolvendo toda a cadeia leiteira.

Médico veterinário, mestre em Produção Animal com ênfase em Etologia e PhD em Endocrinologia, Marcelo Cecim: “A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas precisamos também de pessoas capacitadas nas fazendas para interpretar esses sinais de comportamento”

O médico veterinário, mestre em Produção Animal com ênfase em Etologia e PhD em Endocrinologia, Marcelo Cecim, veio ao evento apresentar o seu  projeto “Traduzindo Vacas”, um método de análise comportamental que permite interpretar sinais emitidos pelos bovinos, com o objetivo de melhorar o entendimento do bem-estar desses animais e suas necessidades específicas. A abordagem inovadora é hoje utilizada no treinamento de auditores de bem-estar em diferentes programas.

Marcelo Cecim relatou que a ideia para o projeto surgiu quando trabalhava com inteligência artificial e sensores para monitoramento remoto do comportamento bovino. Ele desenvolveu um sistema que permite identificar alterações sutis no comportamento das vacas, muitas vezes, precursores de doenças. “Esse monitoramento preventivo busca detectar os ‘sinais’ que as vacas emitem antes de adoecerem. Muitas vezes, percebemos que o animal parece ‘diferente’, mas não sabemos o que isso significa”, explicou Cecim. “A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas precisamos também de pessoas capacitadas nas fazendas para interpretar esses sinais de comportamento”, opinou.

Da inteligência artificial ao olhar sensível: o método traduzindo vacas

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

O método é baseado em uma série de escores comportamentais, incluindo medo, rotina, interação, dor, conforto térmico, digestão, entre outros. Cada um desses parâmetros é analisado e pontuado, permitindo uma avaliação detalhada do estado emocional e físico dos animais. Segundo Cecim, a metodologia é simples e acessível, o que facilita o treinamento de auditores de bem-estar. “Já treinei pessoas de 8 a 80 anos para utilizá-lo, com base apenas na capacidade de contar de 1 a 5”, comentou.

Cecim ressaltou que o bem-estar emocional, assim como acontece nos seres humanos, também impacta diretamente a saúde física dos bovinos, contribuindo para a prevenção de problemas como mastite, deslocamento de abomaso e pneumonia. Ele destacou a importância de entender que o animal pode não estar doente, mas isso não significa que está bem. “Alterações de comportamento são o parâmetro mais sensível para reconhecer quando uma vaca – ou mesmo uma pessoa – não está bem. É fácil identificar uma doença, mas reconhecer um mal-estar é difícil, especialmente para um animal, que tende a esconder dor e fraqueza para evitar predadores”.

O impacto da saúde emocional no ciclo de produção foi outro ponto central da palestra, explanando sobre a relação entre saúde emocional e expectativa de vida dos animais. De acordo com Cecim, práticas de manejo inadequadas podem gerar estresse e afetar a saúde das vacas a longo prazo. “Hoje, reconhecemos a relação entre depressão e inflamação. Vacas deixam as fazendas por problemas de casco, infertilidade e mastite, todas condições inflamatórias”, exemplificou. O veterinário comparou o impacto do cuidado materno e dos efeitos epigenéticos com o desenvolvimento humano, explicando que o bem-estar dos bovinos, especialmente das vacas leiteiras, pode afetar até três gerações: a mãe, a cria e a próxima. “Em ambientes desfavoráveis, como calor excessivo, vacas secas no campo terão menor desempenho na próxima lactação, e isso reflete diretamente na sua descendência”, explicou.

O bem-estar animal, inicialmente baseado nas “cinco liberdades” (ausência de fome, sede, desconforto, dor e medo), evoluiu para um modelo mais abrangente que inclui saúde, nutrição, ambiente, produção e estado emocional. “Esses princípios, estabelecidos em 1965, garantem ausência de mal-estar, embora não assegurem bem-estar em si. Em 1994, esses conceitos evoluíram para os cinco estados, que refletem como a vaca se sente no ambiente em que vive. Em toda fazenda, há vacas que demonstram felicidade, enquanto outras não, e essa saúde emocional impacta diretamente sua saúde física, refletindo na expectativa de vida”, informou.

Este último ponto é central para Cecim, que acredita ser fundamental garantir que o ambiente onde os bovinos vivem promova não apenas o desempenho produtivo, mas o conforto psicológico do animal. “A proposta é entender um pouco do que as vacas vêm tentando nos comunicar há cerca de 10 mil anos, desde a domesticação. Elas emitem muitos sinais, mas raramente lhes damos a devida atenção. A medicina de ruminantes vem evoluindo com o tempo, acrescentando as habilidades que necessitamos nos profissionais atualmente. Para entender o que a vaca expressa, precisamos de pessoas capacitadas nas fazendas, aptas a identificar se a alteração é causada por dor, medo ou outro fator”.

O projeto “Traduzindo Vacas” promete trazer avanços para a bovinocultura de leite ao oferecer um novo olhar sobre o comportamento animal, sensibilizando profissionais da área para a importância do bem-estar emocional e físico dos bovinos. Marcelo Cecim mostrou que a empatia, aliada à tecnologia, pode transformar o manejo de rebanhos e gerar melhores resultados na produção leiteira, promovendo um ambiente mais saudável e respeitoso para os animais.

Fonte: Assessoria Nucleovet
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