Suínos
Condenas de suínos por problemas respiratórios preocupa e aponta para a necessidade de gestão sanitária integrada
Profissional destaca que para uma gestão eficiente é necessário interagir todas as variáveis, trabalhando o ambiente como um todo.
As condenações de carcaças de suínos são um serviço executado durante a inspeção sanitária, promovida pelos fiscais do Serviço de Inspeção Federal (SIF) nos frigoríficos. De acordo com relatórios do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as principais causas de condenação de carcaças de suínos são doenças infecciosas, parasitárias e problemas relacionados ao manejo dos animais, como lesões e fraturas. O problema é verificado em todo o território nacional e atestado pelos órgãos que trabalham com a produção de carne. Durante o Encontro Regional da Abraves – PR, organizado pela Associação Brasileira de Veterinários Especialistas em Suínos Regional do Paraná, promovido em meados de março, este tema foi amplamente trabalhado por intermédio da palestra “Condenações no abate por problemas respiratórios: quando vamos resolver este problema?”, ministrada pelo médico veterinário João Xavier de Oliveira Filho.
O palestrante iniciou a sua fala enaltecendo que a palestra não iria responder de uma só forma o questionamento inicial. “O nosso foco não é responder esta pergunta com uma única resposta. Nosso propósito é trazer pontos de reflexão para saber no que podemos trabalhar e porque nós precisamos diminuir os impactos das condenações”. João Xavier apresentou dados do SIF contendo informações sobre os anos de 2012 a 2017. Foi em 2012 que foi registrado o menor número de condenações, com 8,7%. Nos anos seguintes este índice aumentou, para 10,5% em 2013, 10,2% em 2014 e 2015, caiu para 9,8% em 2016 e voltou a subir, para 11% em 2017.
O profissional também apresentou estudos que mostram as principais causas da condenação, destacando-se a aderência, contaminação, contusão, pleurite, abcesso, lesão traumática, linfadenite, pneumonia, criptorquidismo e lesão supurada. “São muitas as oportunidades de contaminação. O que eu gostaria muito de chamar a atenção é para que os produtores não percam o grande propósito de produzir carne de qualidade. Quando pensamos em carcaças que são parcial ou totalmente condenadas, é necessário lembrar que são produtos que estão indo embora, na maioria dos casos, por falhas de processo”, reforçou.
O médico-veterinário também informou sobre o grande número de animais que são abatidos sob inspeção municipal e estadual, informando que nestas esferas os números de condena também permanecem altos. De acordo com ele, dados da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) mostram que entre os anos de 2020, 2021 e 2022, o plantel produzido no estado catarinense teve uma condenação parcial de 6,56% e uma condenação total de 0,57%, sendo que 41% foram registrados como causas respiratórias. “Nós realizamos muitas visitas às granjas e temos observado que as doenças respiratórias trazem muita dor de cabeça. Neste ponto que eu chamo a atenção perguntando o que estamos fazendo para reduzir este número? Qual seria um número aceitável de condenas?”, questiona.
Conforme João, a resposta para esta pergunta é bastante complexa, mas o que mostra-se evidente é a possibilidade de promover estudos investigativos e diagnósticos que mostrem caminhos para amenizar este problema tão sério e que causa muito prejuízo financeiro às granjas. “O que está claro é que precisamos reduzir estes dígitos traçando metas para reduzir o problema. Estudos investigativos realizados em diversas granjas mostram o grande número e o desvio por aderência. Um estudo econômico mostrou que o impacto financeiro gira em torno de R$ 9,85 por suíno abatido, o que é um valor considerável. Desta forma, diminuir o número de condenas é uma grande oportunidade para tornar a produção suína mais rentável”, recomenda.
Gestão sanitária integrada
Quando um problema é detectado fica mais fácil pensar em uma solução, deste modo, é preciso observar as possibilidades de interação com as causas. “Gosto de falar que a suinocultura é multifatorial e nós temos que saber que são vários os fatores que devem ser trabalhados. Todos eles precisam ser relacionados com os animais. É obvio que quando tudo está correto, quando não existem falhas no manejo, os animais não irão desenvolver doenças. A sanidade envolve imunidade do plantel, boas práticas de manejo, fluxo de produção correto, ambiência, status mínimo de doenças, atingir potencial dos animais, uso prudente de antimicrobianos, biosseguridade e bem-estar animal. Todas estas variáveis precisam interagir, ou seja, precisam ser trabalhadas de forma conjunta e não isoladas”, afirma.
O palestrante enalteceu também a necessidade de trabalhar numa gestão sanitária eficiente. “Precisamos interagir todas as variáveis, trabalhando o ambiente como um todo. É imprescindível entender tudo o que diz respeito aos animais. Muitas empresas levam em conta apenas as tomadas de decisões no âmbito administrativo e financeiro, no entanto, com relação à gestão sanitária também é necessário ponderar sobre como estas decisões estão sendo realizadas. Um exemplo clássico diz respeito à imunidade do plantel, isso porque a tendência é focar no produto, numa determinada solução, entretanto, a imunização de rebanho não é simplesmente aplicar a vacina, mas sim garantir que aquele animal consiga produzir imunidade. Ou seja, é um trabalho muito mais minucioso e que requer cuidados especiais”, sustenta.
Atualmente o termo Tríade Epidemiológica, o qual diz respeito ao animal, ao ambiente e aos microrganismos está numa constante evolução, sendo que eles compõem os inúmeros desafios que a suinocultura enfrenta. “Precisamos que as informações corretas cheguem às pessoas que trabalham no dia a dia com o plantel, para que seja possível ser feito um planejamento eficiente, pois isso vai possibilitar um ambiente mais calmo e propício para a produção da carne suína com melhores índices produtivos”, orienta.
Entre os muitos desafios que a suinocultura enfrente, como a pressão de doenças, falhas humanas e tecnológicas, decisões equivocadas, o palestrante destacou que é necessário observar que esses desafios interagem. “Ou seja, um ajuda o outro, sendo que é a união deles que causa os grandes problemas. Em contrapartida, nós temos também a sanidade e precisamos trabalhar nela cada vez mais forte, porque a sanidade busca atingir o potencial dos animais, fomentando ações que visam saúde e alta produção com maior qualidade”, reforça.
Todos estes fatores, sugere o médico veterinário, são muito importantes para serem discutidos e fomentados. “Fazer a gestão sanitária do plantel será muito benéfico, bem como entender todos os fatores que podem vir a ocasionar doenças. Para que eu possa trabalhar de forma integrada, com todas as gestões que envolvem a granja, pois a sanidade dialoga com todos estes pontos e é imprescindível tomar decisões assertivas, levando em consideração todos os aspectos que envolvem a granja”, recomenda.
Olhos e ouvidos sempre atentos
O trabalho racional numa granja de suínos envolve cuidados com cada animal. “Nós precisamos ter consciência do que está acontecendo na nossa produção. Se estamos verificando doenças não devemos esconder o problema, mas, reforço, reconhecer a dificuldade e trabalhar em soluções. Estudos mostram que, muitas vezes, pequenas doenças podem se transformar em grandes problemas. É o caso da rinite atrófica que pode induzir o surgimento de novas doenças, como Micoplasma, PCV2, Influenza, Glaesserella. É a associação de todas estas enfermidades que pode resultar em condenações. E é isso que precisamos evitar”, expõe.
Uma forma de entrada de doenças nas granjas está relacionada com a manutenção da limpeza. “Embora os animais tenham um sistema de defesa bastante robusto e completo, como aparelho mucociliar, defesas alveolares, fagocitose, resposta imune mediada por células, imunoglobulinas, em muitos casos temos muita poeira nos barracões, como os animais tem o hábito de fuçar, eles ficam super expostos com partículas de poeira que podem conter agentes patógenos e que vão causar doenças. Esses patógenos podem ocasionar lesões nos pulmões, pois são microrganismos que possuem a capacidade de danificar o sistema de defesa dos animais. Desta maneira, uma granja que busque boa qualidade do ar, com temperatura adequada aos animais, vai dificultar a entrada de agentes patógenos no pulmão dos animais”, explica.
Influenza
O palestrante trouxe ainda dados de um estudo realizado em Santa Catarina que mostra a alta prevalência da Influenza nas granjas catarinenses. Segundo o estudo quase 100% das granjas eram afetadas por este vírus, sendo que a prevalência ficou em torno de 70,2%. Entre os fatores protetores, o veterinário destacou a presença de tela contra aves, unidade de aclimatação de leitoas e vacinação. “São medidas simples e que podem trazer grandes benefícios, entretanto, muitos produtores ainda não conseguem enxergar estes benefícios e desta forma não investem em unidades de aclimatação e vacinas”, pondera.
O profissional relacionou estes fatores de risco com a reposição externa de leitoas. “Quando a reposição das leitoas não é bem administrada isso pode deixar a boa imunidade do plantel bem descoberta, correndo riscos. Isso porque a associação desses muitos fatores pode trazer sérios problemas. Quando as doenças respiratórias, como influenza, PCV2, etc., são associadas com fatores de estresse, como aglomeração, mistura, desmame inapropriado, restrição alimentar, transporte inadequado, ruído excessivo, bem como os fatores ambientais: temperatura, umidade dor ar, excesso de poeiras, poluentes, desidratação, densidade, excesso de gases, os animais podem desenvolver lesões que irão comprometer a qualidade do produto final que é o alimento”, argumenta.
O médico-veterinário enalteceu a importância de discutir a erradicação dos agentes patógenos. “Algumas pessoas dizem que precisamos aprender a conviver com os patógenos, entretanto, por que não podemos erradicar e buscar alternativas para acabar com doenças que atrapalham a nossa produção? Os custos financeiros dos protocolos mostram que é viável fazer isso, sim, mas cabe a cada unidade produtora organizar um padrão para o tratamento e ações que visam erradicar esses males”, recomenda.
Biosseguridade
Neste ponto que entra uma ferramenta que pode ser muito eficaz nas granjas: a biosseguridade. “São programas que identificam, definem, controlam, monitoram, auditam e corrigem riscos para entrada e propagação de doenças nas granjas. Desta maneira, o responsável pela biosseguridade precisa ser uma pessoa bastante rígida e que é capaz de tomar as decisões pertinentes para evitar a entrada de agentes patógenos na produção. Fazer uma boa gestão de biosseguridade vai facilitar muito a diminuição das condenas”, afirma.
O palestrante enalteceu também a importância do cuidado com a saúde intestinal dos suínos. “Existem muitos estudos que mostram a relação da saúde intestinal, da microbiota intestinal com a qualidade da carne. Desta forma, será muito prudente trabalhar com planos de ação que abranjam todos os fatores. Com toda certeza uma UPL bem planejada e que ofereça um controle e bom status sanitário irá produzir uma carne de bastante qualidade”, pondera.
O médico-veterinário também ressaltou outros pontos básicos e que fazem toda a diferença na produção de carne suína. “A qualidade inicia já com uma unidade de aclimatação para as leitoas eficiente, pois é neste momento que a leitoa chega na granja e precisa sentir-se confortável e acolhida. A precisão na vacinação, os protocolos adequados são pontos básicos e que fazem parte da rotina das granjas. Entretanto, muitas vezes eles não estão sendo bem executados, o que pode propiciar o surgimento de muitos problemas. Muitas doenças respiratórias que podem ser evitadas e superadas com pequenas atitudes, lembrando sempre que a boa higiene é fator determinante para um plantel de mais qualidade”, reforça.
A monitoria sanitária eficiente engloba as partes: clínico patológica (que envolve a parte laboratorial e o abate); a monitoria clínica diz respeito à idade, desenvolvimento, mortalidade e prevalência. Já os fatores de risco são relacionados com o ambiente, nutrição, manejo, enfermidade, os índices produtivos dizem respeito às metas, categorias, sazonalidade e eventos associados e o programa de biosseguridade precisa trabalhar de forma interna e externa. “A gestão sanitária necessita levar em consideração todos estes pontos. E isso inicia no primeiro contato que o suíno tem com a granja, pois na hora do abate o importante é conquistar o selo do SIF, ou seja, ter sucesso com o objetivo final. Quanto menor foi o índice de condena, melhores serão os índices de produção. É claro que isso é obvio, mas as vezes precisamos relembrar para que o produtor e seus funcionários tenham o máximo de eficiência e compromisso com a produção da granjas”, destaca.
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Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.