Suínos
Conceitos de imunonutrição aplicados à suinocultura
Ainda há muito a ser estudado sobre o eixo microbiota-intestino-cérebro, dada a complexidade dos fatores relacionados, porém o uso dos imunonutrientes, isolados ou associados, traz benefícios já comprovados sobre a saúde, bem-estar, crescimento e produtividade.

O termo imunonutrição é originário de estudos em humanos da década de 1950, com a sugestão de que existe uma relação entre a desnutrição e infecções. Nos anos 1980 e 1990, outros estudos utilizando dados de acompanhamento em populações ao longo de décadas corroboraram este conceito.
A partir de então, a imunonutrição em humanos vem sendo explorada em diversos aspectos mais amplos, considerando-a multifatorial, uma vez que a nutrição está relacionada com a digestão e absorção de nutrientes no trato gastrointestinal, microbiota, sistema imune, órgãos relacionados a processos inflamatórios e seus efeitos secundários, sistema nervoso e produção de hormônios. Este conceito é entendido e aplicado à nutrição animal há bastante tempo, já que os conhecimentos nas áreas de nutrição, sanidade, manejo e ambiência são bastante avançados; no entanto, apenas há alguns anos, o termo “imunonutrição” vem sendo aplicado efetivamente.
É importante entender que o trato gastrointestinal, além de ser responsável pela digestão e absorção, também é um órgão responsável pelas respostas imunes. Aproximadamente um quarto da mucosa intestinal é composta por tecido linfoide e mais de 70% deste são células do sistema imune.
O tecido linfoide associado ao intestino (GALT) é uma fonte significativa de células imunes que monitoram e protegem as camadas da mucosa do intestino, e está continuamente exposto a diversos antígenos, microbiota e patógenos. Assim, o desenvolvimento e maturação do sistema imune podem ser impactados por fatores externos (ambiente, manejo, condições sanitárias, dieta, etc.) e inerentes ao próprio animal (genética, idade).
Estes fatores também têm impacto sobre a microbiota e saúde intestinal. A microbiota intestinal desempenha diversas funções no organismo e tem um papel importante na comunicação bidirecional no eixo intestino-cérebro. Ou seja, o sistema nervoso central (SNC), via eixo hipotálamo-hipófise, pode ser ativado em resposta a fatores estressores e liberar cortisol. O cortisol afetará as células imunes, que iniciarão a liberação de citoquinas pró-infamatórias, que por sua vez afetarão a permeabilidade intestinal, o que permitirá uma modificação na microbiota.
O epitélio intestinal, além de ter a função de absorver nutrientes, também atua como uma barreira física. Se a permeabilidade intestinal for afetada, poderá haver a passagem de microrganismos intestinais e lipopolissacarídeos (LPS) para a lâmina própria, ativando as células do sistema imune e liberando citoquinas pró-inflamatórias que impactarão no SNC e sistema entérico. Diversas alterações metabólicas podem resultar destas respostas, como: febre, ineficiências metabólicas, catabolismo do músculo esquelético e síntese proteica de fase aguda. Ou seja, impactarão no desvio de nutrientes e energia que seriam utilizados para o crescimento e desenvolvimento do animal.
Desse modo, uma resposta pró-inflamatória prolongada gerada por qualquer destes fatores citados acima, pode levar ao próprio comprometimento da imunocompetência do animal. É de suma importância que este tenha sua capacidade de resposta e proteção construídas ao longo sua vida, isto é, modulada dia a dia; pois o custo metabólico neste caso versus uma resposta imune induzida é baixo e impactará diretamente na manutenção da homeostase metabólica.
Imunonutrientes
Com o conceito de imunonutrição estabelecido, são classificados como imunonutrientes: aminoácidos (glutamina, arginina, cisteína, taurina), nucleotídeos, lipídios (ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados, além dos ácidos graxos ômega-3), vitaminas e oligoelementos (vitaminas A, C e E, zinco e selênio). Existem também algumas substâncias imunomoduladoras, o que significa que não serão absorvidas como os nutrientes, mas que têm a capacidade de modificar a resposta do sistema imunológico (direta ou indiretamente), como prébióticos, probióticos, fitoterápicos, ácidos orgânicos, e assim por diante.
Um dos imunonutrientes mais estudados na literatura são as β-glucanas originárias da parede celular das leveduras (β- 1,3 e 1,6-glucanas). Seu modo de ação se dá pelo contato e reconhecimento das células fagocíticas ou células apresentadoras de antígenos localizadas na lâmina própria, logo abaixo das células do epitélio intestinal. Estas células possuem em sua superfície receptores do tipo Toll, que reconhecem padrões microbianos e induzem uma resposta imune inata imediata.
Após esta ativação e fagocitose, o fagócito apresenta um fragmento processado do antígeno e inicia-se uma resposta em cadeia. Há a liberação de citoquinas pró-inflamatórias que ativarão a produção, liberação e mobilização de mais células fagocíticas, proliferação de células caliciformes (produção de muco), entre outros. O reconhecimento de patógenos/antígenos pelo sistema imune inato desencadeia defesas inatas imediatas e, posteriormente, a ativação da resposta imune adaptativa.
Imunomodulação
A ativação do sistema imune inato pelas β-glucanas é chamada de imunomodulação, uma vez que estas não estão causando danos ao epitélio intestinal ou invadindo as células epiteliais. Ou seja, apenas modulam as repostas, já que colocam as células do sistema imune inato em “alerta”, preparando melhor o animal para enfrentar os desafios da produção, com um baixo custo metabólico.
Este é um fator chave para leitões recém-nascidos que dependem da imunidade materna passiva e da imunidade congênita adquirida, que irá desenvolver pré e pós-desmame. O desenvolvimento das respostas imunes dos leitões inicia durante a gestação, porém não há transmissão de anticorpos ou imunoglobulinas via placenta. Por isso, estes animais são dependentes da ingestão de anticorpos maternais (MDA – Maternal Derived Antibodies) via colostro e leite. Assim, há vários fatores que podem influenciar na capacidade de transmissão de imunidade passiva das porcas para os leitões, como: genética, idade, nutrição, programa vacinal, ambiente (manejo, pressão de patógenos, fatores estressores, entre outros). Por outro lado, o desenvolvimento da imunidade específica nos leitões, que também será influenciado pelos mesmos fatores, é afetado criticamente pela idade ao desmame.
O desmame é um período desafiador para o leitão e os fatores estressores envolvem, principalmente, novo ambiente com nova interação social e mudança de dieta. O desmame precoce ocorre quando o sistema imunológico do leitão está ainda imaturo e seus anticorpos circulantes atingem os níveis mais baixos (em torno de 28 dias). Este período é chamado de “gap de imunidade” ou “gap pós-desmame”, onde o animal está mais suscetível a desafios intestinais porque seu sistema imunológico adquirido ainda não se desenvolveu completamente.
Benefícios da suplementação de imunonutrientes
Os benefícios da suplementação de imunonutrientes, como as β-glucanas, podem ser mensurados pela quantificação de imunoglobulinas totais circulantes no sangue dos leitões, redução de problemas respiratórios e incidência de diarreia. Com isso, efeitos sobre a manutenção da integridade intestinal também podem ser observados, já que, como citado acima, há uma íntima relação entre microbiota, integridade/permeabilidade intestinal e sistema imune.
Ainda há muito a ser estudado sobre o eixo microbiota-intestino-cérebro, dada a complexidade dos fatores relacionados, porém o uso dos imunonutrientes, isolados ou associados, traz benefícios já comprovados sobre a saúde, bem-estar, crescimento e produtividade. Por isso, conhecer o modo de ação destes é fundamental para o fazer os monitoramentos corretos, mensurar os benefícios esperados e quantificar o retorno sobre o investimento.
As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: juliana@textoassessoria.com.br
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



