Notícias
Complexo de doenças respiratórias em suínos: diagnóstico e seu impacto na produção de suínos
Os fatores de risco associados a ambiência e manejo, impactam de forma negativa na ocorrência de doenças respiratórias em suínos.
O complexo de doenças respiratórias em suínos (CDRS) compreende patologias de origem multifatoriais, as quais impactam na redução do ganho de peso, piora na conversão alimentar, aumento nos custos com tratamento e mortalidade de suínos nas diferentes fases de produção.
A classificação frente aos agentes etiológicos do CDRS divide-se em agentes infecciosos primários, os quais induzem lesões nos mecanismos imunes não-específicos e específicos do sistema respiratório (células epiteliais e aparelho mucociliar). No Brasil, destaca-se as infecções pelo vírus da Influenza suína A, Mycoplasma hyopneumoniae, circovírus suíno tipo 2 (PCV2) e Actinobacillus pleuropneumoniae; e agentes infecciosos secundários Glaesserella parasuis, Pasteurella multocida e Bordetella bronquiceptica.
Os índices de morbidade variam de 10 a 40% com taxas de mortalidade que podem chegar a 20%. Em um estudo na Itália, o diagnóstico associado ao CDRS apresentou um maior impacto nas fases de creche comparado às fases de crescimento/terminação com uma variação entre 53 – 58% e 42 – 47%, respectivamente, como causas de morte nestas fases. Nas fases de crescimento/terminação, o CDRS representou 30,1% e Influenza suína A com 15,1% dos casos diagnosticados como agente etiológico primário.
Os fatores de risco associados a ambiência e manejo, impactam de forma negativa na ocorrência de doenças respiratórias em suínos. Diferenças no status imune dos rebanhos, alta densidade de lotação, mistura de diferentes origens de suínos, deficiência na ventilação e qualidade do ar (níveis elevados de amônia e dióxido de carbono) nas fases de creche e terminação são os principais “gatilhos” na dinâmica de infecção para a ocorrência de patologias respiratórias.
As lesões macroscópicas e microscópicas variam de acordo com o patógeno envolvido nos quadros clínicos do CDRS. As lesões macroscópicas associadas a Influenza suína A são caracterizadas por áreas de consolidação pulmonar crânio-ventrais distribuídas de forma multifocal a coalescentes, por vezes com aspecto de “tabuleiro de xadrez” (Quadro 1). O vírus da Influenza suína A possui tropismo pelo sistema respiratório e replica-se em células epiteliais induzindo perda de cílios, exsudação de neutrófilos e macrófagos, necrose e metaplasia de epitelial de brônquios e bronquíolos.
Para o diagnóstico definitivo, os testes laboratoriais comumente usados são: testes moleculares para a detec¬ção de material genético viral (PCR) associado a avaliação histopatológica e/ou Imuno-histoquímica (IHQ) para a identificação de lesões microscópicas e detecção do antígeno viral, respectivamen-te são empregados.
SMDS
A síndrome respiratória associada a PCV2 é um pouco distinta da Síndrome Multissistêmica do Definhamento Suíno (SMDS). Clinicamente, os suínos apresentam redução no ganho de peso e na eficiência alimentar, anorexia, febre, tosse que evolui para dispneia em suínos nas fases de terminação com idade entre 16 e 22 semanas.
As lesões macroscópicas caracterizam-se por pulmões não colabados, brilhantes com acentuado edema interlobular. Histologicamente, observa-se pneumonia intersticial granulomatosa ou bronco-intersticial, fibroplasia peribronquiolar discreta a severa e pneumonia necrótica proliferativa na ausência de lesões linfoides sugestivas de SMDS (Quadro 2). O diagnóstico é baseado nas avaliações clínico-patológicas e confirmados através da detecção de antígenos de PCV2 (PCR ou IHQ) no citoplasma de macrófagos alveolares, células epiteliais de bronquíolos e células endoteliais, o que influencia para uma maior severidade e duração do CDRS.
Mhyo
Mycoplasma hyopneumoniae (Mhyo), compreende um dos agentes etiológicos mais importantes no CDRS. A patogenia de Mhyo ocorre a partir da adesão às células epiteliais do sistema respiratório através das adesinas específicas que resultam em danos e perdas dos cílios do aparelho mucociliar. Estes fatores contribuem para uma redução da eficiência mucociliar e imunossupressão, predispondo os suínos às infecções secundárias por patógenos secundários e/ou oportunistas.
As lesões microscópicas estão associadas a broncopneumonia catarral caracterizada por grande infiltração de neutrófilos, linfócitos e macrófagos no lúmen e hiperplasia de BALTs. A hiperplasia de BALT é classicamente associada a infecção por Mhyo, pelo fato de que o agente possui ação mitogênica em alguns tipos de linfócitos de suíno, resultando na hiperplasia.
A detecção de Mhyo nos pulmões por IHQ consiste em um método utilizado na rotina de laboratórios de diagnóstico, por ser rápido e barato, entretanto pode gerar ambiguidade de resultados, uma vez que o Mhyo compartilha determinantes antigênicos com outros micoplasmas como o Mycoplasma hyorhinis e Mycoplasma flocculare. Dessa forma, o emprego de técnicas moleculares (PCR) propiciou um método mais sensível e específico para a confirmação da presença de Mhyo, sendo cada vez mais utilizado no diagnóstico.
App
A pleuropneumonia suína por Actinobacillus pleuropneumoniae (App) pode induzir tanto lesões primárias quanto impactar como agente infeccioso secundário no CDRS. Esta patologia caracteriza-se por pneumonia necrosante hemorrágica e pleurite fibrinosa; e acomete suínos principalmente nas fases de crescimento/terminação.
Os fatores de virulência incluem a ApxI que é fortemente hemolítica e citotóxica, ApxII é fracamente hemolítica e moderadamente citotóxica e ApxIII não é hemolítica, mas citotóxica. O mecanismo de ação da ApxIV não é conhecido e é utilizada para fins diagnósticos. A secreção de toxinas Apx resulta em lise de células epiteliais alveolares, endoteliais, eritrócitos, neutrófilos e macrófagos. O diagnóstico conclusivo de App é baseado nos achados de necropsia, histopatológicos e confirmados pelo isolamento bacteriano e tipificação de App com um total de 16 sorotipos entre cepas patogênicas.
CONCLUSÃO
Glaesserella parasuis, Streptococcus suis, Actinobacillus suis, Trueperella pyogenes e Salmonella enterica sorovar Choleraesuis e Typhimurium podem induzir lesões respiratórias associado a quadros de septicemia e interação com agentes infecciosos primários. Dessa forma, o monitoramento diagnóstico destes agentes endêmicos deve ser realizado constantemente nas diferentes fases de produção de suínos.
Portanto, a realização de um diagnóstico conclusivo dos patógenos associados a CDRS, redução dos cofatores não-infecciosos associados a ambiência e manejo; implantação de medidas de biosseguridade; medicação estratégica e criteriosa quanto a utilização de antimicrobianos em diferentes fases de produção juntamente com a adequação dos programas de imunização, compreendem medidas específicas no controle do Complexo de Doenças Respiratórias em Suínos.
As referências bibliográficas estão com o autor.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes.
Notícias
Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
Notícias
Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
Notícias
Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.