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Avicultura

Como a nutrição pode reduzir custo de produção e melhorar performance das aves

Para cada 10% a mais de Índice de Durabilidade do Pellet (PDI) a ave ganha, em média, 18 a 20 calorias de uma energia líquida pelo não gasto de energia por consumo de pó.

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Para colocar o Brasil entre os maiores produtores de carne de frango do mundo, a cadeia produtiva do setor não mede esforços e  investe constantemente para oferecer as melhores condições nutricionais para as aves expressarem todo o seu potencial genético. Mas será que existe uma fórmula nutricional padrão para a alimentação das aves, a fim de garantir uma melhor performance com custo mínimo?

Diretor Global de Contas Estratégicas da Cargill Animal Nutrition, Antônio Mário Penz Junior: “Temos que ter cada vez mais tecnologia na fabricação da ração e precisamos aprimorar a qualidade na peletização” – Foto: Divulgação

De acordo com o diretor Global de Contas Estratégicas da Cargill Animal Nutrition, Antônio Mário Penz Junior, existe uma série de estratégias nutricionais que são planejadas e ajustadas de acordo com as demandas nutritivas de cada lote para que as aves produzam mais e melhor, em menos tempo. Porém, para fazer a formulação ideal da conversão alimentar ao plantel é preciso considerar vários componentes de variabilidade.

Estudos apresentam que quanto mais pesados os animais aos sete dias de vida maior será a diferença de peso deles com 35 dias ou no momento do abate. Mas como a nutrição pode interferir para, em um mesmo lote, ter animais com 140 gramas ou menos e outros que pesem mais de 180 gramas se a nutrição é igual?

Em busca desta resposta, Penz conta que foi feito um estudo em uma determinada empresa para saber as variáveis que afetavam o peso corporal das aves. Para mensurar as informações dos animais foram usados modelos de variáveis, quando percebeu-se que 43,2% da variabilidade no peso corporal não se sabia a origem, ou seja, metade do que acontecia na variabilidade das aves não sofria interferência ou era de origem desconhecida.

De outro lado, as variáveis conhecidas representavam 56,8%, mostrando que o trabalho do produtor, o tipo de galpão e o suporte técnico equivalia a mais da metade da variabilidade conhecida. Por sua vez, de acordo com o estudo, a nutrição só representava 0,8% da variabilidade conhecida. “O que não quer dizer que não seja importante, mas o que quero expressar é que não há uma única saída para algo que tem uma variabilidade tão complexa, com apenas algumas medições”, enfatiza o diretor global.

Para ter informações cada vez mais precisas, Penz ressalta que os inventários das granjas são indispensáveis, pois sem essas informações não há como estudar que tipo de variável está afetando determinado aviário, destacando que esses dados podem ser muito mais efetivos do que a própria medição.

Fatores que afetam os resultados produtivos

O diretor global da Cargill afirma que o primeiro passo para saber o que afeta os resultados produtivos nas granjas é fazer uma análise dos ingredientes que serão usados na formulação, porém, o índice de tabela adotado pelo produtor, muitas vezes, não coincide com os ingredientes usados em sua propriedade, o que causa um descompasso nutricional, afetando a produtividade das aves.

“Nós temos no nosso laboratório poucas análises para que possamos fazer experiências mais precisas. Mas o que eu vejo é que falta muita interpretação dos resultados. Muitas vezes recebemos análises de várias origens e não trabalhamos esses números para fazer com que as tabelas se tornem mais robustas. Falta tempo para corrigir as matrizes nutricionais e fazer a revisão de fórmulas, que geralmente são de um período muito longo – semanais, quinzenais, mensais – e isso tudo tem um custo significativo naquilo que afeta os resultados produtivos”, avalia Penz.

O profissional diz ainda que é muito comum no Brasil fazer pouco armazenamento dos ingredientes para uso do tipo FIP. “Não temos tempo de fazer o armazenamento na maioria das nossas fábricas, o que permitiria fazer uma análise do produto em busca de uma maior precisão desta formulação para torná-la uma realidade nas granjas”, destaca Penz.

Meio desvio padrão da média

O desvio padrão é uma medida que mostra o grau de dispersão de um conjunto de dados, indicando o quanto é uniforme. Quanto mais próximo de 0 for o desvio padrão mais homogêneo são os dados.

Em uma pesquisa citada pelo palestrante, foram feitas 2.593 análises de farelo de soja, cuja média de desvio padrão foi 46,6%, mas de uma maneira geral, Penz cita que os nutricionistas usam uma pequena margem de segurança e em alguns programas, inclusive, isso está definido como meio desvio padrão da média. “Quando formulo este meio desvio padrão da média abaixo da média esperada fico com todas estas fórmulas com valor acima de proteínas do que o esperado e isso certamente tem um custo significativo”, pondera Penz.

No caso da proteína bruta no farelo de soja, o diretor global da Cargil afirma que é possível ter dois grupos de fornecedores, um que tem uma quantidade de fibra em torno de 3,5% e outro com cerca de 7%, ou seja, vamos ter em uma mesma proteína bruta com diferentes teores de fibra e isso, segundo Penz, tem uma consequência bárbara na nutrição das aves. “Essa fibra em excesso, mesmo que a proteína seja igual, compromete o desempenho dos animais, especialmente nos primeiros 21 dias de vida. Então, nós precisamos ter análises mais robustas, interpretá-las e implementá-las de acordo com aquilo que nós estamos gerando”, menciona o profissional.

Como reduzir custos de produção

Em outro caso apresentado por Penz, a empresa ‘A’ eliminou o meio desvio padrão do milho e do farelo de soja, o que permitiu uma redução de custo de produção de quase R$ 7 milhões por ano, o que corresponde a R$ 26,70 por tonelada de frango produzido. Já na empresa ‘B’, embora fosse menor do que a primeira, o ganho foi de R$ 78,60 por tonelada produzida. “O que nós queremos dizer com isso é que ao usar o desvio padrão da média ou colocar um coeficiente de incerteza naquilo que estamos trabalhando torna o processo muito caro”, aponta.

Em outro estudo, Penz conta que foi considerado o modelo de sustentabilidade da Cargill em uma dieta de frango em crescimento com 1% a menos de proteína, ajustando o teor dos aminoácidos – aqueles que eram possíveis serem utilizados na fórmula sintética. O resultado deste estudo garantiu uma redução de produção de CO2 em quase 7%. “Essas análises não são só importantes do ponto de vista de desempenho, mas a cada dia serão consideradas mais essenciais no processo de produção”, frisa.

Tecnologia alinhada à produção de ração

Penz diz que é necessário adotar processos cada vez mais tecnológicos nas fábricas de rações, como o uso de expander para aumentar a conversão alimentar das aves e condicionadores mais sofisticados. “Temos que ter cada vez mais tecnologia na fabricação da ração e precisamos aprimorar a qualidade na peletização. Lamentavelmente temos ainda pouca automoção em nossas fábricas”, admite Penz.

Foto: Divulgação

As fábricas são projetadas para atender uma quantidade determinada de produto, por exemplo, 30 mil toneladas de ração por hora, no entanto, muitas vezes esse limite é superado após seis meses, passando a produzir um número superior ao previsto no projeto. “Na medida que saímos do valor nominal abrimos mão de algumas coisas, como a qualidade da ração produzida. E posso dizer que percebemos isso com alguma frequência”, afirma o diretor global.

Tamanho de partículas com farelo de soja

Em um trabalho conjunto desenvolvido com a Universidade do Alabama  foi demonstrado que quando se tem dois tipos de partículas com farelo de soja – uma com 1.300 micra grossa e outra com 530 fina – aumentando o teor de antitripsina na dieta representadas por unidades antitripsícas, as dietas com partículas mais grossas de farelo de soja proporcionaram valores maiores de ganho de peso e isso foi extremamente importante. “Quanto maior o teor de antitripsina, ter partículas grossas significa um benefício. Partículas grossas com soja cruzada por pellet aumenta o refluxo do intestino delgado e causa a desativação dos inibidores de tripsina, aumenta a entrada de bile na moela e libera inibidores de tripsina mais corretamente, permitindo que as aves se adaptem a estes inibidores de crescimento”, enfatizou o diretor global.

Qualidade do pellet

Conforme Penz relata, para cada 10% a mais de Índice de Durabilidade do Pellet (PDI) a ave ganha, em média, 18 a 20 calorias de uma energia líquida pelo não gasto de energia por consumo de pó.

Por isso, é fundamental controlar a quantidade ideial de ração que chega nos comedouros da granja, sendo possível fazer isso usando instrumentos simples para determinar a quantidade de partículas que estão acima de três milímetros.

Margem conjunta

O profissional explica ainda que quando se tem margem conjunta – milho e soja – dependendo do tamanho da peneira terá mais ou menos proteína, portanto quanto menor o DGM (Diâmetro Geométrico Médio) mais proteína terá na parte mais fina que ficou no pó, o que caracteriza uma dieta com margem conjunta desinforme no comedouro. “Quem come partículas maiores comerá níveis proteicos diferenciados, só que os dominantes comem em lugares diferentes do comedouro e os dominados ficarão com um pó com alta perda de balanceamento entre os nutrientes, por isso que a margem conjunta deve ser extremamente avaliada”, relata Penz.

Outras variáveis

Neste contexto, ainda estão outras variáveis que não são características nutricionais, mas que interferem no resultado e, segundo Penz, se não for dada a devida atenção de nada adianta ter a melhor nutrição. Entre elas estão genética, proposta de produção, sexo, número de fase de produção, idade de abate, intervalo de lotes, densidade de alojamento, tipo de ambiente, estação do ano, qualidade de água e treinamento de pessoal.

Como medir os componentes de variação

O primeiro passo é substituir uma formulação linear por uma não linear, apesar dos poucos modelos disponíveis, o que exigirá da equipe de nutrição mais atenção ao processo de formulação, além de conhecimento de modelagem. “Os modelos são estratégicos e não de rotina de formulação. E, mais do que isso, não existe formulação copy-page, o que o meu concorrente está formulando não interessa, o que precisamos levar em consideração é o que nós estamos formulando para aquilo que nós estamos esperando. Quando nós fizemos com formulação usamos modelos matemáticos mais complexos, não lineares, acrescentamos aos modelos vários indicadores diferentes que permitirão uma determinação de custo de produção com margem da produção. Vários componentes são associados ao componente nutricional para que depois, usando formulações lineares, consigamos chegar na melhor formulação possível”, detalha Penz.

Na sequência, o profissional diz que com o uso das enzimas foi possível diminuir a variabilidade entre certos ingredientes dando maior acessibilidade a vários substratos. “Fomos entendendo que não é uma única enzima e sim que precisamos trabalhar com associações de enzimas e de forma customizada, o que vale para uma empresa não obrigatoriamente vale para outra”, avisa.

Penz também destaca o uso do NIR em linha e de ferramentas que permitam o acompanhamento da produção dos animais em tempo real. “As informações que estamos gerando precisam ser transformadas em análises de dados. No passado não se tinha números, hoje os números estão ocorrendo em tempo real e se não transformarmos essas informações em dados para aplicar no campo também vamos estar perdendo em produtividade e melhores processos de manejo”, comenta.

Robotização

“Cada vez mais estamos caminhando para a robotização, a exemplo de medidores de valores de temperatura, umidade, CO² e utilização de sensores para determinação de consumo em tempo real”. Penz sugere que a inteligência artificial estará cada vez mais presente na atividades do campo, o que poderá diminuir a necessidade de mão de obra.

Por sua vez, o palestrante ressalta que com a alta tecnologia vem a necessidade de pessoas mais capazes e bem treinadas para fazer o manejo das aves. “Hoje temos galpões avícolas em que foram investidos em torno de R$ 2 milhões, que devem ser manejados por pessoas que entendam da tecnologia instalada nestes aviários e não por simples tratadores, que estavam acostumados a galpões convencionais do passado. Temos que treinar as pessoas para essa nova realidade do setor”, salienta.

Evitar comparações

Ainda, o diretor global da Cargil enfatiza a importância da cadeia produtiva usar a inteligência artificial para o setor ser mais previsível, aumentando com isso a eficiência da produção, bem como para evitar a comparação dos resultados entre concorrentes. “Vamos deixar de comparar os resultados quando as variabilidades dentro de casa são maiores que as diferenças médias com os outros, por exemplo, o meu concorrente tem 0,03% de conversão melhor que a minha granja, quando eu tenho uma diferença dentro de casa de 2% para 1,64%, então vamos nos preocupar em analisar nossos números, trabalhar com eles, e sermos muito mais previsíveis. Imprevisibilidade é sinônimo de subjetividade, quando eu tenho previsibilidade eu tenho ideias, opiniões, quando eu sou mais previsível eu sou mais objetivo”, pontua Penz, ampliando: “Sinto muito em desapontar vocês, mas se estavam esperando por uma fórmula mágica não há, porque não existe uma saída única, o que nós temos que fazer é voltar nossa atenção para dentro de casa e analisar nossos números, separar diferenças médias dentro da granja para que possamos ajustar a dieta das aves e obter assim melhor produtividade”.

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Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Especialista aponta desafios e estratégias para o controle de ectoparasitas em granjas de postura

Para o controle eficaz de ectoparasitas em granjas avícolas, uma série de medidas coletivas devem ser adotadas para um controle eficaz em granjas avícolas.

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Com o melhoramento genético, o aprimoramento de técnicas de produção e a melhoria dos sistemas de criação, que estão cada vez mais eficientes, o Brasil alcançou uma produção superior a 52 bilhões de ovos em 2022, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Para atingir esse volume de produção, as linhagens de poedeiras produziram em média 500 ovos ao longo de 100 semanas de vida das aves. No entanto, para otimizar a mão de obra, as instalações e o custo de produção, se fez necessário o incremento na densidade de animais por galpão. Essa mudança, embora tenha proporcionado maior produtividade, também trouxe consigo desafios e preocupações, uma vez que criou um ambiente favorável à proliferação de ectoparasitas.

Médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias e gerente técnico de Monogástricos – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Conforme o médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias e gerente técnico de Monogástricos, William Dick, o aumento de ectoparasitas como piolhos, ácaros e pulgas causa inúmeros problemas para as aves, entre os quais nervosismo e automutilação. “A sua presença provoca estresse, que associado à inflamação causada pela espoliação, leva a uma piora da conversão alimentar, redução da qualidade dos ovos, tanto interna como da casca, queda de produção, imunossupressão e, no caso de parasitos hematófagos, um quadro de anemia”, explicou Dick.

Além dos impactos diretos na saúde e na produtividade das aves, a piora do status sanitário pode resultar em um aumento na mortalidade e uma elevação nas taxas de aves infectadas, assim como os ectoparasitas também trabalham como vetores de muitos agentes, entre eles Salmonella e Escherichia coli. Dick lembra que os mesmos ectoparasitas que acometem as aves também representam uma ameaça para os colaboradores das granjas, podendo provocar lesões de pele e alergias.

De acordo com o mestre em Ciências Veterinárias, os principais ectoparasitas que acometem as poedeiras em granjas comerciais brasileiras são piolhos e ácaros. Ele explica que os piolhos são pertencentes à Ordem Phthiraptera e variam de 0,5 a 8 mm de cumprimento, tendo como seus hospedeiros aves e mamíferos. Dentre as espécies de piolhos que mais acometem aves de postura estão Goniocotes Gallinae piolho hematófago, Menopon gallinae, Lipeurus caponis e Menachantus sp. “A maioria das espécies de piolhos está associada a uma única espécie hospedeira. Eles podem ser exclusivamente hematófagos ou se alimentarem de penas, descamações, secreções, sangue exposto no hospedeiro ou outros artrópodes, como ácaros ou suas próprias exúvias”, expõe.

Já os piolhos mastigadores são pragas que acometem as aves domésticas, causando irritação, inquietação e feridas na pele. “Essas condições levam os animais a se alimentarem mal, o que diminuiu o ganho de peso da ave e sua produção de ovos”, menciona Dick, frisando que o ciclo biológico dos piolhos leva cerca de um mês, passando pelas fases de ovo, ninfa 1, ninfa 2, ninfa 3 até chegar a fase adulta.

Por sua vez, os ácaros pertencem à classe Arachinida e na fase adulta medem entre 0,25 e 0,75 mm de comprimento, embora existam espécies ainda menores. “No caso da avicultura temos duas espécies que são visíveis a olho nu e duas espécies que são praticamente invisíveis a olho nu. Eles podem ser exclusivamente hematófagos ou se alimentarem de descamações, secreções e pele”, afirma o médico-veterinário, acrescentando: “Os ciclos biológicos são muito variáveis de acordo com cada espécie, temperatura e umidade, porém todos são extremamente prolíficos e resistentes, podendo sobreviver sem alimentação por até oito meses nas instalações avícolas”.

Espécies que mais acometem as aves de postura

Dick destaca que entre as espécies de ectoparasitas que mais afetam as aves poedeiras, encontram-se o Allopsoroptoides galli, um ácaro que foi identificado pela primeira vez em 2013. Ele explica que este parasita se alimenta da pele e descamações das aves, causando prurido intenso. “Os sintomas geralmente se manifestam com a presença de exsudato e perda de penas, principalmente nas regiões ventrais das asas e próximas à cloaca. A dificuldade de visualização a olho nu torna o controle desse ácaro desafiador e seus danos podem ser significativos, impactando a produção de ovos das aves infectadas”, pontua.

Outra espécie é a Megninia cubitalis que, assim como anterior, se alimenta de pele e descamações das aves, o que resulta em um prurido intenso e, consequentemente, uma redução na produção de ovos. O ciclo de vida desse inseto varia de cinco a oito dias, o que acelera sua propagação dentro do galpão. “Essas duas espécies têm potencial para causar quedas acentuadas na produção de ovos, podendo chegar até a 50%”, evidencia Dick.

Enquanto os ácaros de coloração negra da família Ornithonyssus sp. se alojam na área da cloaca das aves, depositando seus ovos no canhão das penas. “Eles permanecem no corpo da ave ao longo de toda a sua vida, que varia entre cinco e sete dias. Esses ácaros têm uma alimentação exclusiva de sangue, o que resulta em uma série de problemas, incluindo anemia, prurido, queda na imunidade, redução no consumo, diminuição na qualidade dos ovos e na produtividade”, relata o médico-veterinário.

E os Dermanyssus sp. são ácaros de cor vermelha, que preferem viver nas instalações dos aviários, especialmente em frestas e locais onde podem se esconder de predadores. De hábito noturno, seu ciclo de vida varia de sete a 10 dias. Se alimentam exclusivamente de sangue, podendo causar anemia, prurido, queda na imunidade, redução no consumo, perda na qualidade dos ovos e na produtividade “A queda na produção provocada por esses dois ácaros pode variar de 3 a 4%, com oscilações na curva de produção”, afirma o profissional.

Medidas para controle de ectoparasitas

Para o controle eficaz de ectoparasitas em granjas avícolas, uma série de medidas coletivas devem ser adotadas para um controle eficaz em granjas avícolas, promovendo a saúde e a produtividade das aves de forma mais sustentável e segura. Dentre as estratégias estão a colocação do telamento nas unidades produtoras, o que é uma exigência do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em conformidade com a Instrução Normativa nº 8 de 2017. “Essa medida auxiliar a manter aves silvestres afastadas das instalações, uma vez que elas são hospedeiras naturais de muitos ectoparasitas. Embora o telamento não impeça completamente a entrada desses insetos, vai reduzir consideravelmente a presença deles”, destaca.

Além disso, é obrigatório o controle de roedores nas granjas, de acordo com a Instrução Normativa 56 do Mapa, visto que atuam como vetores de diversos patógenos. Assim como o controle de acesso de pessoas aos galpões, seja de funcionários ou visitantes, deve ser restrito ao mínimo necessário, uma vez que qualquer indivíduo pode servir como vetor para os ectoparasitas. “Chamo atenção para este cuidado pois as infestações por ectoparasitas em unidades produtivas não iniciam na totalidade de galpões e essa medida visa a redução de propagação no interior da granja”, enfatiza.

O profissional diz ainda que é importante controlar rigorosamente o tráfego de equipamentos e insumos para os galpões, pois ferramentas, vassouras, bandejas de colheita de ovos e carrinhos podem transportar ectoparasitas do ambiente externo para o interior dos galpões, bem como de um galpão para outro. “A monitoria regular dos galpões desempenha um papel vital na detecção precoce de focos de ectoparasitas. Isso deve ser feito semanalmente, buscando identificar os locais onde esses insetos habitam”, reforça Dick, frisando: “No caso de ectoparasitas que completam todo seu ciclo de vida nas aves é necessária fazer a apanha para inspecionar abaixo das penas ou raspado de pele, dependendo da espécie de ectoparasita, pois geralmente não é possível a visualização com as aves soltas ou nas gaiolas”.

A dedetização dos galpões é outra medida que deve ser tomada, mas apenas durante o período de vazio sanitário. No entanto, Dick reforça que a aplicação desse procedimento requer cuidados especiais na escolha do princípio ativo a ser utilizado. “É fundamental verificar se o princípio ativo possui indicação para uso em instalações avícolas, respeitando as regulamentações vigentes. Além disso, o período de residualidade do princípio ativo no ambiente deve ser compatível com o período de vazio sanitário, evitando intoxicações nas aves e resíduos nos ovos que possam restringir sua comercialização”, aponta.

Outro fator que deve ser levado em consideração, segundo o mestre em Ciências Veterinárias, é a seletividade do princípio ativo, que precisa preservar a fauna que atua como predadora de ectoparasitas, minimizando impactos ambientais indesejados, bem como sua aplicação deve ser realizada exclusivamente por equipes treinadas, para garantir a segurança dos funcionários da granja.

Devido à toxicidade dos princípios ativos sobre as aves, é necessário ter o cuidado para que as aves dos galpões adjacentes não sejam intoxicadas pelo produto. No que diz respeito a efetividade do princípio ativo, Dick relembra que o uso frequente de um mesmo produto químico pode, com o tempo, selecionar indivíduos resistentes até que o químico deixa de funcionar. “A escolha e a orientação dos princípios ativos são estratégias importantes para manter a eficácia da dedetização ao longo do tempo, visto que o controle de ectoparasitas é essencial para o bem-estar e a produtividade das aves, porém seu controle deve ser feito com responsabilidade, pois, dependendo da estratégia utilizada, podemos gerar quadros de intoxicações nas aves e nos consumidores devido a resíduos, tanto nas instalações como nos ovos”, afirma.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Cadeia avícola ainda conhece pouco de todo potencial e função exercida pela microbiota intestinal, diz palestrante

A microbiota intestinal é um conjunto de microrganismos que vivem no trato digestivo das aves, composto por bactérias, fungos, protozoários e vírus.

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A saúde intestinal desempenha um papel crucial na prevenção de diversas doenças e na promoção do desenvolvimento e bem-estar das aves. Um intestino em perfeito estado é capaz de absorver nutrientes de forma eficiente, resultando em animais mais saudáveis e produtivos. Sua relevância é ainda mais evidenciada com as recentes atualizações nas orientações referentes ao uso de antimicrobianos e as demandas crescentes dos consumidores por produtos seguros e aves cada vez mais eficazes.

A microbiota intestinal é um conjunto de microrganismos que vivem no trato digestivo das aves, composto por bactérias, fungos, protozoários e vírus. Embora as tecnologias modernas baseadas em DNA ofereçam uma visão mais precisa das espécies bacterianas presentes no intestino, o médico-veterinário, doutor em Ciências Veterinárias, Ricardo Hayashi, enfatizou que existe ainda um grande número de bactérias no intestino que permanecem desconhecidas e não classificadas. “Estudos recentes revelam que o trato gastrointestinal de frangos de corte é colonizado por cerca de 600 a 800 espécies de bactérias”, destacou.

Médico-veterinário, doutor em Ciências Veterinárias, Ricardo Hayashi – Foto: Jaqueline Galvão/OPR

Esses microrganismos são essenciais para a saúde e produtividade das aves, desempenhando três grandes funções: 1) proteção, impedindo a colonização por bactérias patogênicas, além de auxiliar na modulação da resposta imune; 2) metabolismo, auxiliando na produção de vitaminas, síntese de aminoácidos e na produção de ácidos graxos de cadeia curta, importantes para o funcionamento dos enterócitos; e 3) integridade estrutural, essencial para o desenvolvimento dos diferentes tecidos do intestino, como o muscular, epitelial, vilos, criptas, vascularização e permeabilidade.

Diversos fatores podem prejudicar a saúde intestinal das aves, como estresse, alimentação inadequada e patógenos. Para combater esses desafios, o setor está buscando novas ferramentas e estratégias para otimizar a saúde intestinal das aves. O médico-veterinário enfatiza que a saúde intestinal das aves depende do equilíbrio entre o hospedeiro, a microbiota intestinal, sua dieta e fatores externos. “O equilíbrio da microbiota no intestino pode ser afetado por fatores como qualidade da água, ingredientes da dieta, fatores estressores, grau de biosseguridade, micotoxinas, coccidiose, clostridioses, vírus, fungos, entre outros”, expôs.

Aditivos alimentares

Atualmente, existem diversas tecnologias à base de aditivos alimentares que podem auxiliar no incremento de produtividade das aves, entre os quais Hayashi cita probióticos, prébióticos, pósbióticos, fitogênicos e ácidos graxos. “Cada um desses aditivos possui determinadas características, vantagens e benefícios. A escolha do aditivo mais adequado deve ser feita de acordo com as necessidades específicas de cada granja”, pontua.

Hayashi afirma que essas tecnologias à base de aditivos alimentares exercem influência positiva sobre os seis principais atributos relacionados à saúde intestinal. Isso inclui o desempenho das aves, como ganho de peso, conversão alimentar, uniformidade e produção de ovos, além dos efeitos nutricionais para melhorar a digestibilidade de proteínas, aminoácidos e minerais. “Esses aditivos são projetados para fortalecer a imunidade das aves, auxiliando na redução da inflamação, modulando o sistema imunológico e proporcionando efeitos antioxidantes. Eles também desempenham um papel fundamental na preservação da integridade do intestino, promovendo seu funcionamento adequado, desenvolvimento saudável e redução da permeabilidade intestinal”, ressalta.

Segundo o doutor em Ciências Veterinárias, essas tecnologias ajudam a aumentar a diversidade, a capacidade de modulação, equilibrando a relação firmicutes/bacteroidota e promovendo a produção de ácidos graxos de cadeia curta, além de desempenhar um papel fundamental no controle de patógenos, atuando contra bactérias Gram-positivas, Gram-negativas, Eimeria e corrigindo disbioses intestinais. “Infelizmente ainda não há um produto que cubra todos os parâmetros de forma efetiva. Por isso, é imprescindível estudar as possibilidades de combinações e sinergias entre as tecnologias, sempre otimizando o custo-benefício”, menciona Hayashi.

Tomada da decisão

Para uma decisão assertiva frente à um determinado desafio, seja preventiva ou tratativa, Hayashi enfatiza que é imprescindível que seja feita a coleta de informações, dados e fatos. “Entender qual o perfil epidemiológico e produtivo da sua realidade é o primeiro passo para a definição da melhor estratégia”, afirma, complementando: “Tudo se inicia com um bom diagnóstico de campo, que inclui histórico, anamnese, análises laboratoriais, necropsia populacional, sempre respeitando regras de amostragem mínima. A correlação do diagnóstico com os dados produtivos, de forma estatística, é imprescindível para entender as possíveis causas. Dessa forma, a tomada de decisão torna-se mais assertiva”.

Oportunidades

Conforme o profissional, a saúde intestinal vem ganhando cada vez mais atenção da cadeia produtiva pelo fato de o setor conhecer apenas 10% de todo o potencial e função exercida pela microbiota intestinal. “Há diversas oportunidades para pesquisa e desenvolvimento no setor, no entanto, não há tecnologias que mitigue processos e procedimentos básicos no dia a dia da avicultura industrial”, relata.

O famoso “feijão com arroz”, segundo ele, ainda é responsável por 80% do sucesso em termos de saúde e produtividade. “Cuidar da ambiência, realizar um bom intervalo/vazio entre lotes, manejar a cama, se atentar para a qualidade da água e fornecimento de uma dieta com qualidade garante bons resultados e abre oportunidades para que os aditivos possam auxiliar na entrega de todo o potencial genético das aves”, salienta Hayashi.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Como evitar trincas e deformações nos ovos incubados para garantir pintinhos saudáveis

As condenações podem ocorrer em qualquer etapa da cadeia produtiva, sendo que no campo as principais causas são doenças, que podem ser transmitidas por bactérias, fungos, vírus, protozoários ou problemas fisiológicos; nutrição inadequada e manejo incorreto

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O manejo integrado da cadeia avícola representa uma abordagem estratégica que desempenha um papel fundamental na redução das condenações de frangos de corte, beneficiando tanto a qualidade do produto quanto a eficiência da produção. Esse método holístico leva em consideração uma série de fatores interconectados que influenciam diretamente o bem-estar das aves e a qualidade da carne. Essa temática foi tratada pelo médico-veterinário e gerente regional de Serviço Técnico da Cobb-Vantress, Eduardo Löewen.

De acordo com ele, as condenações podem ocorrer em qualquer etapa da cadeia produtiva, sendo que no campo as principais causas são doenças, que podem ser transmitidas por bactérias, fungos, vírus, protozoários ou problemas fisiológicos; nutrição inadequada e manejo incorreto, enquanto que na planta de abate as condenações podem ocorrer por problemas de saúde ocasionados durante o alojamento, qualidade da carne ou contaminação. “Garantir um programa de saúde bem estruturado, que inclui medidas preventivas e de controle de enfermidades desempenha um papel essencial na prevenção de condenações na planta de abate. A identificação precoce e o tratamento adequado de doenças são práticas-chave para assegurar um produto final de qualidade”, enfatizou Löewen.

Médico-veterinário Eduardo Löewen – Foto: Jaqueline Galvão/OPR

O médico-veterinário explica que a nutrição adequada é o segundo ponto de atenção para assegurar o desenvolvimento saudável das aves, uma vez que reduz o risco de doenças e aumenta a produtividade. “Os níveis nutricionais devem ser ajustados de acordo com a fase de produção das aves. O percentual de gorduras também é importante, pois contribui para a qualidade da carne. Os aditivos, como vitaminas e minerais, ajudam a complementar a dieta das aves. A qualidade da matéria-prima influencia na digestibilidade dos nutrientes, por isso é muito importante tomar cuidado para não oferecer um ambiente propício para a proliferação de micotoxinas, que podem contaminar os alimentos e são causa frequente de hemorragias nas aves, o que leva a sua condenação”, afirmou.

O terceiro ponto é o manejo, que envolve ambiência, equipamento de granja, qualidade de cama, densidade, apanha, carregamento, transporte e descarregamento das aves no frigorífico. “Não há como ter um lote com boa qualidade, contaminação reduzida ou com contaminação zerada se não tivermos a saúde, a nutrição e o manejo sob controle”, salientou Löewen, destacando a importância de um diagnóstico preciso das causas das condenações para que as medidas corretivas sejam eficazes. “É preciso olhar para o todo dentro de uma granja, não apenas para um ponto isolado”, frisou.

Manejo de matrizes x qualidade de ovos

O manejo de matrizes está intimamente ligado à qualidade dos ovos, uma vez que o principal objetivo do setor é obter um elevado percentual de fêmeas vendáveis ou de primeira linha. Esse é o cerne do processo de produção de matrizes no fim da cadeia. “Para atingir esse objetivo é fundamental minimizar o percentual de ovos que precisam ser descartados, reduzindo assim o refluxo, que afeta na mortalidade dos animais e nas condenações no abatedouro. Não é possível obter frangos de qualidade se começarmos com ovos de baixa qualidade. Este é um dos maiores desafios enfrentados pelo setor de matrizes, uma vez que ainda não inventaram nada que seja capaz de transformar um ovo ruim em um pintinho de qualidade”, enalteceu.

De acordo com o profissional, para assegurar uma produção saudável é primordial produzir ovos de qualidade, realizar um planejamento minucioso que leve em consideração o volume desejado e as demandas do mercado. “O mercado da avicultura é uma verdadeira sanfona. Em um ano, o setor pode enfrentar uma crise, e no seguinte, desfrutar de lucratividade. Durante os períodos de crise, os produtores frequentemente reduzem a quantidade de aves alojadas, resultando em escassez de produtos no mercado. Por outro lado, nos anos de bonança, a produção é ampliada, gerando produto excedente. Quando se opta por diminuir os alojamentos e a consequente oferta de pintinhos e ovos, tende a impactar fortemente o setor de matrizes, que para recuperar a normalidade entre oferta e demanda vai levar um tempo, prática essa que não permite que o setor alcance seu potencial máximo. Para que isso não aconteça é preciso saber o potencial de produção da linhagem com a qual está se trabalhando”, expressa.

Outro ponto apontado por Löewen é a falta de mão de obra. “O departamento de granjas de matrizes é um setor que tem que ter mão de obra. Por mais que esse setor esteja se tecnificando, tem que ter gente para apertar muito botão ainda dentro da granja. Mas, infelizmente, não temos mais quantidade e nem qualidade de mão de obra para trabalhar nas granjas de matrizes. Nesse setor, a partir do momento que passamos a tecnificar vamos ter perda de processo e de índice zootécnico, contudo o setor terá que se adaptar a isso”, apontou.

Ovos incubados com qualidade

A qualidade do ovo incubado é a base para se obter pintinhos saudáveis e, consequentemente, produtos finais de excelência nas prateleiras dos supermercados. Segundo o médico-veterinário, a linha que conecta a produção ao consumidor é direta e reta e para atingir o padrão desejado é necessário que haja alto padrão sanitário. “A primeira característica essencial de um ovo incubado de qualidade é a integridade e limpeza da casca, aliadas à ausência de contaminação. Esses pontos são cruciais para garantir o desenvolvimento saudável do embrião e a obtenção de pintinhos robustos”, avaliou Löewen.

Dentro desse contexto, o médico-veterinário destaca a importância da qualidade do ninho, da cama utilizada, das práticas de coleta e dos procedimentos de desinfecção, elementos esses que desempenham papéis interdependentes no processo de produção e características de ovos incubados. “A qualidade do ninho influencia diretamente na condição do ovo antes mesmo de ser coletado. Independente da linhagem, cada empresa tem que ter um padrão definido do que quer e não quer aproveitar, esse é o primeiro ponto. Além disso, é preciso saber que ovos sujos de sangue não devem ser aproveitados. Sabemos que quando faltam ovos no mercado muitas empresas optam por aproveitar esse produto, no entanto, é importante que saibam que estão entrando em uma área de risco”, frisou o profissional.

A escolha e a manutenção adequada da cama são igualmente importantes para garantir uma casca íntegra, limpa e livre de contaminação. “Uma cama de qualidade contribui para a limpeza do ovo, evitando a adesão de sujidades que poderiam comprometer sua integridade. Além disso, uma cama bem manejada ajuda a controlar a umidade, criando um ambiente menos propício para a proteção de microrganismos indesejados”, comenta Löewen.

O profissional elenca ainda que as práticas de coleta desempenham um papel vital na preservação da integridade dos ovos incubados. “Manejo cuidadoso durante a coleta minimiza os riscos de danos à casca, mantendo a integridade até o momento da incubação. E os processos de desinfecção representam a barreira final contra possíveis contaminações. A implementação de protocolos específicos contribui para garantir a sanidade dos ovos incubados, estabelecendo um ambiente seguro para o desenvolvimento embrionário”, evidencia.

Características do ovo incubado

Löewen cita que diversas características podem influenciar de forma expressiva a qualidade no processo de incubação dos ovos. Segundo ele, ovos sujos representam grande risco de onfalite, uma infecção polimicrobiana associada principalmente à Salmonella. Já as trincas nos ovos podem levar a uma menor taxa de eclosão ou até mesmo impedir a eclodibilidade, assim como deformações nos ovos resultam em embriões malformados, por consequência não eclodem e geram refugo na produção comercial.

E a presença de gemas duplas em um ovo indica a formação de dois embriões, aumentando a complexidade do processo de incubação, sendo geralmente descartados. Por fim, os ovos invertidos quando incubados apresentam baixa eclosão e pico de refluxo. “Aqui entra a questão de mão de obra e da qualidade e quantidade da coleta. É fundamental, é básico, mas tem que ser feito. Seja ninho mecânico ou manual, nós precisamos tirar esse ovo rápido da cama ou do ninho e colocar ele em condições aceitáveis para que vire um bom pintinho. Determinadas linhagens têm mais tendência de ter ovo na cama por exemplo e cabe a cadeia adaptar o manejo e às condições de cada granja”, salientou.

O profissional explica que a galinha deposita o ovo no ninho/cama a uma temperatura de 40ºC. À medida que esfriam e chegam a temperatura ambiente ocorre a formação de aspirador no interior do ovo. Esse aspecto é de especial importância quando consideramos a possibilidade de contaminação. “Se o ovo estiver sujo, seja por resíduos do ninho ou da cama, a probabilidade de contaminação aumenta consideravelmente. Além disso, à medida que os lotes de ovos envelhecem, observa-se um aumento na porosidade das cascas. Lotes mais antigos apresentam uma casca mais porosa, o que, por sua vez, amplia a propensão à contaminação. Por isso é essencial que seja realizado uma seleção criteriosa para descartar ovos inadequados, a fim de garantir um processo de incubação bem-sucedido e uma produção saudável de aves”, elenca Löewen.

Coleta de qualidade

A coleta de ovos desempenha um papel muito importante na prevenção e redução da contaminação. Trincas, microtrincas ou trincas aranhas podem resultar em um ovo de baixa qualidade, especialmente se possuírem cascas mais finas, aumentando desta forma o risco de contaminação.

Embora a automação da coleta de ovos seja uma tendência, Löewen diz que o desafio do ovo de cama persiste, pois, a falta de mão de obra para sua remoção é um problema recorrente. Estratégias como o uso de comedouros suspensos estão sendo adotadas para minimizar a escassez de profissionais deste setor no campo. “Ao abaixar o comedouro durante a alimentação e elevá-lo posteriormente, evita-se que as galinhas continuem procurando alimento, o que, por sua vez, proporciona um maior percentual de ovo de cama, contribuindo para uma coleta mais eficiente e de maior qualidade”, menciona.

De acordo com uma pesquisa apresentada pelo palestrante, no ano 2000 havia apenas 3% de ovos em ninhos automáticos. Vinte anos após esse número já alcançava 67%. “Ao que tudo indica essa automatização deve ocorrer por completo no setor e o grande desafio vai ser colocar essa galinha dentro do ninho para pôr seu ovo”, acredita.

Bactérias na casca do ovo

Foto: Shutterstock

Uma pesquisa sobre a população de bactérias na casca do ovo revelou que ovos limpos de ninho apresentam em média de três a quatro mil bactérias por centímetro quadrado, enquanto ovos sujos de ninho possuem uma concentração mais elevada, variando entre 25 e 28 mil bactérias. Já os ovos provenientes do chão ou do piso mostram presença entre 390 a 450 mil bactérias por centímetro quadrado.

Segundo o profissional, essa disparidade na carga bacteriana mostra que um lote de matrizes com 30% de ovos de cama possui cerca de 30% de ovos mais contaminados. “Essa condição resulta na geração de pintinhos de qualidade inferior que vai chegar ao fim do ciclo para o abate”, aponta Löewen, ampliando: “Muitas das vezes o ovo de ninho é mais contaminado que o ovo de chão, porque quando fica por muito tempo dentro do ninho a galinha pode defecar em cima do ovo”.

Manejo de cama

Lidar com o manejo de cama em uma granja de matrizes, especialmente na região Sul do Brasil, apresenta desafios consideráveis, devido às condições climáticas. “Para garantir a qualidade da cama é essencial que ela seja trabalhada todos os dias. A umidade na cama é particularmente preocupante, pois um ovo que cai em uma cama molhada corre o risco de contaminação por Salmonela e outras bactérias”, alerta, enfatizando: “A incubação de ovos contaminados pode resultar em surpresas indesejadas, conhecida no setor como ‘kinder ovo’, que é uma surpresinha dentro do ovo que não sabemos bem o que é, mas uma hora vai aparecer. Evitar a ocorrência desse problema é crucial, pois um único ovo contaminado no incubatório pode desencadear uma contaminação em cascata, afetando todos os ovos”.

Causas de qualidade ruim do ovo

A qualidade da casca do ovo pode ser influenciada por uma variedade de fatores. Um dos aspectos a considerar é a idade do lote de ovos, pois à medida que envelhecem, é comum observar um aumento no tamanho dos ovos. No entanto, esse crescimento não é proporcional à quantidade de casca, resultando em ovos maiores com cascas mais finas. Além disso, doenças virais, como bronquite e pneumovírus, também podem impactar os níveis de qualidade da casca do ovo, expõe o médico-veterinário. “Nós precisamos investir e focar melhor em diagnóstico. Quem trabalha no campo tem que ter o diagnóstico que confirme ou que pelo menos direcione o que está acontecendo no lote”, pontua Löewen.

Situações de estresse térmico e distúrbios fisiológicos também podem levar as poedeiras a se alimentarem pouco, além de apresentarem ofegação e abertura do bico e das asas para facilitar a troca de calor. “Esse esforço excessivo para dissipar calor pode levar à alcalose metabólica, afetando a formação da casca, resultando em ovos com cascas mais finas e frágeis. A compreensão desses elementos é crucial para melhorar a produção de ovos com cascas mais resistentes e garantir um produto final de alta qualidade”, evidencia.

Idade da matriz x produção de ovos

Löewen aponta que questões nutricionais desempenham um papel vital na qualidade dos ovos e é essencial manter um equilíbrio adequado de cálcio, fósforo e vitamina D na dieta das galinhas. Problemas como a má qualidade da gordura e o excesso de magnésio também podem impactar os resultados na formação da casca do ovo. Além disso, a presença de micotoxinas, a ambiência da unidade de produção e até mesmo o peso da matriz influencia diretamente na qualidade dos ovos. “Galinhas com excesso de peso têm maior probabilidade de desconforto térmico, resultando em ofegação e, consequentemente, piora na qualidade da casca do ovo”, comenta.

Outro fator importante a considerar é com relação a idade da ave/lote e os componentes do ovo. “Quanto maior a idade da ave/lote menor é o percentual de postura, afetando tanto a produção de gema quanto da casca. Isso contribui para o aumento no tamanho do ovo, mas, ao mesmo tempo, diminui a qualidade da casca, gerando ovos com características menos desejáveis”, ilustra.

Desinfecção de ovos

A desinfecção dos ovos é um processo fundamental para garantir a sua qualidade, e o método mais comum e amplamente utilizado é a fumigação. No entanto, existem também outras abordagens, como o uso de ozônio e lâmpada infravermelha, entre outras alternativas. O profissional salienta que é preciso realizar a desinfecção no máximo duas horas após a coleta dos ovos para garantir sua eficácia. “O procedimento envolve 15 minutos de queima e 15 minutos de exaustão. Existem variações na fumigação, como simples ou dupla, e é essencial compreender o grau de contaminação e considerar a qualidade do produto que está sendo incubado, trabalhando de maneira estratégica para atender aos padrões exigidos pelo mercado”, evidencia Löewen.

Uniformidade

A busca pela uniformidade dos pintinhos no frango de corte começa com a garantia da uniformidade das galinhas e dos ovos. É um processo interligado que destaca a importância de cuidados específicos em relação ao manejo e à seleção das aves para alcançar os resultados desejados na produção avícola. “Não tem como ter uniformidade de pinto se não tiver uniformidade da galinha e do ovo. Porém, a partir do momento em que as genéticas focam em ter um frango de corte com melhor desempenho, ou seja, menor conversão alimentar e maior ganho de peso, essa característica acaba sendo antagônica às características de produção das matrizes”, avalia o médico-veterinário.

Löewen enfatiza que garantir a uniformização dos frangos é uma tarefa difícil para o setor, uma vez que os animais estão cada vez mais vorazes. “Talvez os incubatórios acabam se tornando um meio entre as granjas de matrizes poedeiras e de frango de corte, não que a unidade produtora de frango não dê atenção, mas talvez o incubatório seja o local mais estratégico ou mais delicado para identificar essa questão da qualidade dos pintinhos”, constata.

Qualidade do ovo

Garantir a qualidade do ovo é um processo que envolve diversas etapas, cada uma desempenhando um papel específico no resultado final. Dentre os principais fatores a serem considerados, destacam-se a qualidade do ovo incubado, a temperatura da casca, a perda de umidade, a janela de nascimento, e, por fim, o transporte dos pintinhos para a granja de corte. “Essa atenção é necessária independentemente da linhagem, visto que cada uma possui características específicas, como seu tempo de incubação e produção de calor específico. É imperativo respeitar as particularidades de cada linhagem, evitando a mistura indiscriminada de ovos dentro de uma mesma máquina de incubação. A decisão de trabalhar com uma temperatura única durante a incubação pode comprometer a qualidade do processo”, aponta.
Outro ponto é o percentual de refugos, que influenciados por diferentes temperaturas, pode variar entre 98,5%, 100% e 102%. “Essas variações não impactam apenas o percentual de eclosão, mas também afetam a pressão cardíaca e a saúde do fígado”, conclui.

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Fonte: O Presente Rural
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