Conectado com

Avicultura

Como a nutrição pode reduzir custo de produção e melhorar performance das aves

Para cada 10% a mais de Índice de Durabilidade do Pellet (PDI) a ave ganha, em média, 18 a 20 calorias de uma energia líquida pelo não gasto de energia por consumo de pó.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

Para colocar o Brasil entre os maiores produtores de carne de frango do mundo, a cadeia produtiva do setor não mede esforços e  investe constantemente para oferecer as melhores condições nutricionais para as aves expressarem todo o seu potencial genético. Mas será que existe uma fórmula nutricional padrão para a alimentação das aves, a fim de garantir uma melhor performance com custo mínimo?

Diretor Global de Contas Estratégicas da Cargill Animal Nutrition, Antônio Mário Penz Junior: “Temos que ter cada vez mais tecnologia na fabricação da ração e precisamos aprimorar a qualidade na peletização” – Foto: Divulgação

De acordo com o diretor Global de Contas Estratégicas da Cargill Animal Nutrition, Antônio Mário Penz Junior, existe uma série de estratégias nutricionais que são planejadas e ajustadas de acordo com as demandas nutritivas de cada lote para que as aves produzam mais e melhor, em menos tempo. Porém, para fazer a formulação ideal da conversão alimentar ao plantel é preciso considerar vários componentes de variabilidade.

Estudos apresentam que quanto mais pesados os animais aos sete dias de vida maior será a diferença de peso deles com 35 dias ou no momento do abate. Mas como a nutrição pode interferir para, em um mesmo lote, ter animais com 140 gramas ou menos e outros que pesem mais de 180 gramas se a nutrição é igual?

Em busca desta resposta, Penz conta que foi feito um estudo em uma determinada empresa para saber as variáveis que afetavam o peso corporal das aves. Para mensurar as informações dos animais foram usados modelos de variáveis, quando percebeu-se que 43,2% da variabilidade no peso corporal não se sabia a origem, ou seja, metade do que acontecia na variabilidade das aves não sofria interferência ou era de origem desconhecida.

De outro lado, as variáveis conhecidas representavam 56,8%, mostrando que o trabalho do produtor, o tipo de galpão e o suporte técnico equivalia a mais da metade da variabilidade conhecida. Por sua vez, de acordo com o estudo, a nutrição só representava 0,8% da variabilidade conhecida. “O que não quer dizer que não seja importante, mas o que quero expressar é que não há uma única saída para algo que tem uma variabilidade tão complexa, com apenas algumas medições”, enfatiza o diretor global.

Para ter informações cada vez mais precisas, Penz ressalta que os inventários das granjas são indispensáveis, pois sem essas informações não há como estudar que tipo de variável está afetando determinado aviário, destacando que esses dados podem ser muito mais efetivos do que a própria medição.

Fatores que afetam os resultados produtivos

O diretor global da Cargill afirma que o primeiro passo para saber o que afeta os resultados produtivos nas granjas é fazer uma análise dos ingredientes que serão usados na formulação, porém, o índice de tabela adotado pelo produtor, muitas vezes, não coincide com os ingredientes usados em sua propriedade, o que causa um descompasso nutricional, afetando a produtividade das aves.

“Nós temos no nosso laboratório poucas análises para que possamos fazer experiências mais precisas. Mas o que eu vejo é que falta muita interpretação dos resultados. Muitas vezes recebemos análises de várias origens e não trabalhamos esses números para fazer com que as tabelas se tornem mais robustas. Falta tempo para corrigir as matrizes nutricionais e fazer a revisão de fórmulas, que geralmente são de um período muito longo – semanais, quinzenais, mensais – e isso tudo tem um custo significativo naquilo que afeta os resultados produtivos”, avalia Penz.

O profissional diz ainda que é muito comum no Brasil fazer pouco armazenamento dos ingredientes para uso do tipo FIP. “Não temos tempo de fazer o armazenamento na maioria das nossas fábricas, o que permitiria fazer uma análise do produto em busca de uma maior precisão desta formulação para torná-la uma realidade nas granjas”, destaca Penz.

Meio desvio padrão da média

O desvio padrão é uma medida que mostra o grau de dispersão de um conjunto de dados, indicando o quanto é uniforme. Quanto mais próximo de 0 for o desvio padrão mais homogêneo são os dados.

Em uma pesquisa citada pelo palestrante, foram feitas 2.593 análises de farelo de soja, cuja média de desvio padrão foi 46,6%, mas de uma maneira geral, Penz cita que os nutricionistas usam uma pequena margem de segurança e em alguns programas, inclusive, isso está definido como meio desvio padrão da média. “Quando formulo este meio desvio padrão da média abaixo da média esperada fico com todas estas fórmulas com valor acima de proteínas do que o esperado e isso certamente tem um custo significativo”, pondera Penz.

No caso da proteína bruta no farelo de soja, o diretor global da Cargil afirma que é possível ter dois grupos de fornecedores, um que tem uma quantidade de fibra em torno de 3,5% e outro com cerca de 7%, ou seja, vamos ter em uma mesma proteína bruta com diferentes teores de fibra e isso, segundo Penz, tem uma consequência bárbara na nutrição das aves. “Essa fibra em excesso, mesmo que a proteína seja igual, compromete o desempenho dos animais, especialmente nos primeiros 21 dias de vida. Então, nós precisamos ter análises mais robustas, interpretá-las e implementá-las de acordo com aquilo que nós estamos gerando”, menciona o profissional.

Como reduzir custos de produção

Em outro caso apresentado por Penz, a empresa ‘A’ eliminou o meio desvio padrão do milho e do farelo de soja, o que permitiu uma redução de custo de produção de quase R$ 7 milhões por ano, o que corresponde a R$ 26,70 por tonelada de frango produzido. Já na empresa ‘B’, embora fosse menor do que a primeira, o ganho foi de R$ 78,60 por tonelada produzida. “O que nós queremos dizer com isso é que ao usar o desvio padrão da média ou colocar um coeficiente de incerteza naquilo que estamos trabalhando torna o processo muito caro”, aponta.

Em outro estudo, Penz conta que foi considerado o modelo de sustentabilidade da Cargill em uma dieta de frango em crescimento com 1% a menos de proteína, ajustando o teor dos aminoácidos – aqueles que eram possíveis serem utilizados na fórmula sintética. O resultado deste estudo garantiu uma redução de produção de CO2 em quase 7%. “Essas análises não são só importantes do ponto de vista de desempenho, mas a cada dia serão consideradas mais essenciais no processo de produção”, frisa.

Tecnologia alinhada à produção de ração

Penz diz que é necessário adotar processos cada vez mais tecnológicos nas fábricas de rações, como o uso de expander para aumentar a conversão alimentar das aves e condicionadores mais sofisticados. “Temos que ter cada vez mais tecnologia na fabricação da ração e precisamos aprimorar a qualidade na peletização. Lamentavelmente temos ainda pouca automoção em nossas fábricas”, admite Penz.

Foto: Divulgação

As fábricas são projetadas para atender uma quantidade determinada de produto, por exemplo, 30 mil toneladas de ração por hora, no entanto, muitas vezes esse limite é superado após seis meses, passando a produzir um número superior ao previsto no projeto. “Na medida que saímos do valor nominal abrimos mão de algumas coisas, como a qualidade da ração produzida. E posso dizer que percebemos isso com alguma frequência”, afirma o diretor global.

Tamanho de partículas com farelo de soja

Em um trabalho conjunto desenvolvido com a Universidade do Alabama  foi demonstrado que quando se tem dois tipos de partículas com farelo de soja – uma com 1.300 micra grossa e outra com 530 fina – aumentando o teor de antitripsina na dieta representadas por unidades antitripsícas, as dietas com partículas mais grossas de farelo de soja proporcionaram valores maiores de ganho de peso e isso foi extremamente importante. “Quanto maior o teor de antitripsina, ter partículas grossas significa um benefício. Partículas grossas com soja cruzada por pellet aumenta o refluxo do intestino delgado e causa a desativação dos inibidores de tripsina, aumenta a entrada de bile na moela e libera inibidores de tripsina mais corretamente, permitindo que as aves se adaptem a estes inibidores de crescimento”, enfatizou o diretor global.

Qualidade do pellet

Conforme Penz relata, para cada 10% a mais de Índice de Durabilidade do Pellet (PDI) a ave ganha, em média, 18 a 20 calorias de uma energia líquida pelo não gasto de energia por consumo de pó.

Por isso, é fundamental controlar a quantidade ideial de ração que chega nos comedouros da granja, sendo possível fazer isso usando instrumentos simples para determinar a quantidade de partículas que estão acima de três milímetros.

Margem conjunta

O profissional explica ainda que quando se tem margem conjunta – milho e soja – dependendo do tamanho da peneira terá mais ou menos proteína, portanto quanto menor o DGM (Diâmetro Geométrico Médio) mais proteína terá na parte mais fina que ficou no pó, o que caracteriza uma dieta com margem conjunta desinforme no comedouro. “Quem come partículas maiores comerá níveis proteicos diferenciados, só que os dominantes comem em lugares diferentes do comedouro e os dominados ficarão com um pó com alta perda de balanceamento entre os nutrientes, por isso que a margem conjunta deve ser extremamente avaliada”, relata Penz.

Outras variáveis

Neste contexto, ainda estão outras variáveis que não são características nutricionais, mas que interferem no resultado e, segundo Penz, se não for dada a devida atenção de nada adianta ter a melhor nutrição. Entre elas estão genética, proposta de produção, sexo, número de fase de produção, idade de abate, intervalo de lotes, densidade de alojamento, tipo de ambiente, estação do ano, qualidade de água e treinamento de pessoal.

Como medir os componentes de variação

O primeiro passo é substituir uma formulação linear por uma não linear, apesar dos poucos modelos disponíveis, o que exigirá da equipe de nutrição mais atenção ao processo de formulação, além de conhecimento de modelagem. “Os modelos são estratégicos e não de rotina de formulação. E, mais do que isso, não existe formulação copy-page, o que o meu concorrente está formulando não interessa, o que precisamos levar em consideração é o que nós estamos formulando para aquilo que nós estamos esperando. Quando nós fizemos com formulação usamos modelos matemáticos mais complexos, não lineares, acrescentamos aos modelos vários indicadores diferentes que permitirão uma determinação de custo de produção com margem da produção. Vários componentes são associados ao componente nutricional para que depois, usando formulações lineares, consigamos chegar na melhor formulação possível”, detalha Penz.

Na sequência, o profissional diz que com o uso das enzimas foi possível diminuir a variabilidade entre certos ingredientes dando maior acessibilidade a vários substratos. “Fomos entendendo que não é uma única enzima e sim que precisamos trabalhar com associações de enzimas e de forma customizada, o que vale para uma empresa não obrigatoriamente vale para outra”, avisa.

Penz também destaca o uso do NIR em linha e de ferramentas que permitam o acompanhamento da produção dos animais em tempo real. “As informações que estamos gerando precisam ser transformadas em análises de dados. No passado não se tinha números, hoje os números estão ocorrendo em tempo real e se não transformarmos essas informações em dados para aplicar no campo também vamos estar perdendo em produtividade e melhores processos de manejo”, comenta.

Robotização

“Cada vez mais estamos caminhando para a robotização, a exemplo de medidores de valores de temperatura, umidade, CO² e utilização de sensores para determinação de consumo em tempo real”. Penz sugere que a inteligência artificial estará cada vez mais presente na atividades do campo, o que poderá diminuir a necessidade de mão de obra.

Por sua vez, o palestrante ressalta que com a alta tecnologia vem a necessidade de pessoas mais capazes e bem treinadas para fazer o manejo das aves. “Hoje temos galpões avícolas em que foram investidos em torno de R$ 2 milhões, que devem ser manejados por pessoas que entendam da tecnologia instalada nestes aviários e não por simples tratadores, que estavam acostumados a galpões convencionais do passado. Temos que treinar as pessoas para essa nova realidade do setor”, salienta.

Evitar comparações

Ainda, o diretor global da Cargil enfatiza a importância da cadeia produtiva usar a inteligência artificial para o setor ser mais previsível, aumentando com isso a eficiência da produção, bem como para evitar a comparação dos resultados entre concorrentes. “Vamos deixar de comparar os resultados quando as variabilidades dentro de casa são maiores que as diferenças médias com os outros, por exemplo, o meu concorrente tem 0,03% de conversão melhor que a minha granja, quando eu tenho uma diferença dentro de casa de 2% para 1,64%, então vamos nos preocupar em analisar nossos números, trabalhar com eles, e sermos muito mais previsíveis. Imprevisibilidade é sinônimo de subjetividade, quando eu tenho previsibilidade eu tenho ideias, opiniões, quando eu sou mais previsível eu sou mais objetivo”, pontua Penz, ampliando: “Sinto muito em desapontar vocês, mas se estavam esperando por uma fórmula mágica não há, porque não existe uma saída única, o que nós temos que fazer é voltar nossa atenção para dentro de casa e analisar nossos números, separar diferenças médias dentro da granja para que possamos ajustar a dieta das aves e obter assim melhor produtividade”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura.

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Produção de frangos cresce e alcança 1,69 bilhão de abates no 3º trimestre

Setor avícola mantém ritmo firme, impulsionado pela recuperação sanitária e pela demanda internacional aquecida.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

O setor de aves manteve o ritmo firme entre julho e setembro. No terceiro trimestre de 2025, os frigoríficos brasileiros abateram 1,69 bilhão de frangos, volume 2,9% maior que o registrado no mesmo período de 2024 e 3% acima do total observado no trimestre imediatamente anterior.

O desempenho também se refletiu no peso das carcaças. O acumulado chegou a 3,60 milhões de toneladas, avanço de 3,1% na comparação anual e de 1,1% frente ao segundo trimestre deste ano.

Segundo a gerente de pecuária do IBGE, a rápida recuperação do status sanitário de livre de influenza aviária teve papel determinante para o setor, garantindo a continuidade do acesso da carne de frango brasileira aos principais mercados internacionais, que seguem sendo fundamentais para sustentar o nível de produção atual.

Com a demanda externa firme e a normalização das vendas após a retomada sanitária, a expectativa é de que o ritmo de abates se mantenha consistente nos próximos levantamentos trimestrais.

Fonte: O Presente Rural com informações Agência Brasil
Continue Lendo

Avicultura

Frango congelado registra leve recuo no início de dezembro

Queda discreta no preço do quilo indica equilíbrio entre oferta e demanda no período pré-festas.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

Os preços do frango congelado no Estado de São Paulo registraram pequenas variações na primeira semana de dezembro, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/ESALQ).

Na segunda-feira (08), o quilo do produto foi negociado a R$ 8,09, apresentando queda diária de 0,12% e recuo mensal de 0,25%. Entre os dias 02 e 05 de dezembro, os preços permaneceram praticamente estáveis, variando entre R$ 8,10 e R$ 8,11 por quilo.

O comportamento de estabilidade nos primeiros dias do mês indica que o mercado do frango congelado enfrenta pouca pressão de alta ou baixa, refletindo equilíbrio entre oferta e demanda no estado. Apesar da leve redução registrada na segunda-feira, o recuo é discreto e não representa grandes alterações para consumidores ou atacadistas.

De acordo com especialistas do setor, pequenas oscilações como as observadas são comuns nesta época do ano, quando os negócios costumam se manter firmes enquanto produtores e distribuidores ajustam estoques para as festas de final de ano.

Fonte: Assessoria Cepea
Continue Lendo

Avicultura

Ácido deoxicólico se destaca como aliado estratégico na avicultura de corte

Suplementação com ácidos biliares preserva a saúde hepática, aumenta a eficiência alimentar e melhora rendimento de carcaça, elevando desempenho e rentabilidade na produção de frangos.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

Artigo escrito por Julio C.C. Carvalho, PhD, Nutrição Animal, zootecnista da Biotec e Marianne Kutschenko, MSc., Nutrição Animal, zootecnista da IcePharma

A avicultura de corte brasileira consolidou-se como uma das atividades mais competitivas do agronegócio mundial, sendo referência em eficiência produtiva e qualidade da proteína ofertada aos consumidores globais. Décadas de avanços em genética, nutrição, biosseguridade e manejo permitiram o desenvolvimento de aves modernas, capazes de atingir rápido crescimento, elevada conversão alimentar e altos rendimentos de carcaça em períodos cada vez mais curtos.

Entretanto, esse sucesso produtivo trouxe consigo um desafio crítico: a saúde hepática. O fígado, órgão central no metabolismo das aves, desempenha funções essenciais como metabolismo energético, síntese proteica, detoxificação, regulação imunológica e secreção de bile. Nas linhagens atuais, a sobrecarga metabólica frequentemente leva a distúrbios como esteatose, ascite e hepatite metabólica, comprometendo tanto o desempenho quanto a lucratividade.

Neste cenário, cresce o interesse por estratégias nutricionais capazes de proteger o fígado e sustentar a eficiência alimentar. Entre elas, destacam-se os ácidos biliares, especialmente o ácido deoxicólico (DCA) – presente em altas concentrações apenas em bile de origem bovina. Estudos recentes demonstram que o DCA atua além da digestão lipídica: ele regula a microbiota intestinal, modula o metabolismo hepático, e reduz a incidência de fígados gordurosos, consolidando-se como molécula-chave para sustentar desempenho e rentabilidade na avicultura moderna.

Assim, a manutenção da qualidade hepática deve ser reconhecida como parâmetro zootécnico essencial, tão relevante quanto ganho de peso ou conversão alimentar.

Qualidade hepática como indicador de desempenho

A avaliação do desempenho de frangos de corte tradicionalmente inclui parâmetros como consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar. Entretanto, evidências recentes indicam que tais indicadores devem ser complementados pela análise direta e indireta da saúde hepática. Fígados histologicamente preservados estão associados a melhor aproveitamento de energia e nutrientes, menor deposição de gordura abdominal, maior uniformidade dos lotes e menor taxa de condenações.

Portanto, a qualidade hepática emerge como novo marcador produtivo, integrando saúde, bem-estar animal e sustentabilidade do sistema. Aves com fígados comprometidos demandam mais nutrientes, apresentam menor resiliência imunológica e aumentam os custos de produção.

Ácidos biliares como solução estratégica

Entre as estratégias nutricionais voltadas à proteção hepática, os ácidos biliares destacam-se por sua função multifatorial. Produzidos a partir do colesterol hepático, essas moléculas anfipáticas atuam tanto na digestão de lipídios e absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), quanto como moduladores metabólicos e imunológicos.

Em um ensaio de inibição do crescimento de C. perfringens, pesquisadores investigaram o papel do DCA no controle da enterite necrótica (NE) em frangos causada por Clostridium perfringens. A NE é uma doença intestinal grave que afeta a produção avícola, especialmente com a redução do uso de antibióticos. O DCA inibiu 82,8% do crescimento de C. perfringens in vitro enquanto outros ácidos biliares, como TCA e CA, apresentaram inibição muito menor (16,4% e 8,2%, respectivamente). O DCA reduziu mais de 95% da invasão de C. perfringens nos tecidos ileais e diminuiu a expressão de mediadores inflamatórios no tecido ileal: Infγ: redução de 51%; Litaf (Tnfα): redução de 82%; Mmp9: redução de 93%. Por sua vez, a suplementação com Ácido Cólico (AC) não promoveu os mesmos resultados que o DCA. Assim sendo, o perfil de ácidos biliares é importante para os resultados da suplementação.

Figura 1. (WANG et al., 2019) DCA atenua a inflamação intestinal induzida por NE. As aves foram infectadas com Eimeria maxima aos 18 dias de idade e Clostridium perfringens aos 23 e 24 dias de idade. (A) Coloração H&E mostrando imagens representativas da histologia intestinal. (B) Quantificação da pontuação de danos histológicos intestinais. Todos os gráficos representam média ± SEM. *P < 0,05; **P < 0,01. NE + CA: aves com NE alimentadas com dieta contendo CA; NE + DCA: aves com NE alimentadas com dieta contendo DCA. Setas amarelas: infiltração de células imunológicas; seta verde: fusão de vilosidades e criptas.

Na avicultura, a suplementação com ácidos biliares promove:

Proteção hepática e redução de fígados gordurosos;

Otimização da digestibilidade lipídica e maior eficiência energética da dieta;

Melhor aproveitamento de cálcio e fósforo;

Apoio imunológico e ação antioxidante, reduzindo estresse metabólico.

Enquanto a suplementação de ácido deoxicólico promove:

Redução e controle da inflamação associada à Enterite Necrótica, oferecendo novas abordagens para o controle de doenças intestinais em aves;

Modulação da microbiota intestinal e na prevenção de enterites.

Perfil de ácidos biliares e relevância do ácido deoxicólico

A composição de ácidos biliares varia entre espécies: aves apresentam predominância de CDCA, TLCA e T-α-MCA; suínos apresentam HDCA em proporções elevadas; já os bovinos possuem perfis ricos em ácido cólico (CA) e, sobretudo, ácido deoxicólico (DCA).

A suplementação com perfis ricos em DCA, portanto, é a que gera efeitos metabólicos consistentes sobre digestibilidade lipídica, proteção hepática e desempenho produtivo. Misturas derivadas de aves e suínos, desprovidas de DCA, apresentam impacto limitado.

Tabela 1. Comparação da composição de ácidos biliares entre espécies e seus efeitos metabólicos

Evidências científicas nacionais

Entre 2024 e 2025, universidades brasileiras como a UFPR (Universidade Federal do Paraná) e a UFLA (Universidade Federal de Lavras) conduziram ensaios controlados com frangos de corte para avaliar os efeitos da suplementação com Ácido Deoxicólico (produto comercial de origem bovina e nacional). Esses estudos foram pioneiros em integrar parâmetros clássicos de desempenho (ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar) com avaliações complementares de enzimas hepáticas, histologia intestinal, qualidade óssea e rendimento de carcaça, gerando evidências consistentes sobre a relevância fisiológica e zootécnica dessa molécula.

1. Desempenho produtivo

Nos experimentos conduzidos, a inclusão de ácidos biliares promoveu diferenças estatísticas significativas (p<0,05) para as variáveis de desempenho.

Ganho de peso corporal: O grupo tratado apresentou o melhor resultado absoluto (3,263 kg) em comparação ao controle negativo (2,890 kg), representando +12,9% de incremento no ganho de peso.

Conversão alimentar (FCR): A variável mais sensível ao efeito da suplementação. O grupo tratado apresentou a melhor conversão (1,436) relação ao controle negativo (1,600), houve melhora de -10,3% na FCR, mostrando maior eficiência no aproveitamento da dieta.

2. Rendimento de carcaça e cortes comerciais

Em um experimento posterior, conduzido até os 42 dias de idade, avaliou-se o rendimento de carcaça e cortes comerciais, além da deposição de gordura abdominal.

Peso de carcaça: aumento de +2,0% com a suplementação (2682 g vs. 2629 g no controle).

Peito: apresentou tendência de aumento (+3,8%; 1059 g vs. 1021 g), embora não significativo estatisticamente (p=0,0986).

Pernas: apresentaram ganho de +2,0% em peso absoluto (823 g vs. 807 g).

Gordura abdominal: redução significativa de -10,4% com a suplementação (41,7 g vs. 46,5 g)

Figura 2. A inclusão de Ácidos Biliares aumenta o rendimento de carcaça (%)

Figura 3. A inclusão de Ácidos Biliares aumenta o rendimento de peito e perna

Figura 4. A inclusão de Ácidos Biliares reduz a gordura abdominal

Esses resultados mostram que o ácido deoxicólico não apenas sustenta o ganho de peso e a eficiência alimentar, mas também promove melhor qualidade de carcaça, com cortes valorizados e menor acúmulo de gordura, o que é especialmente importante para a rentabilidade do negócio.

3. Parâmetros hepáticos

Os estudos reportaram ainda melhora expressiva na homogeneidade e coloração hepática, redução expressiva de fígado gorduroso e mais preservado histologicamente nos grupos suplementados. Isso indica que o ácido deoxicólico reduz a sobrecarga metabólica do fígado, contribuindo para menor taxa de condenações em abatedouros e maior uniformidade entre os lotes.

4. Absorção mineral e qualidade óssea

O NDP (nucleotídeos de desoxipiridinolina) é um marcador de reabsorção óssea, que reflete a atividade dos osteoclastos (células que degradam a matriz óssea). Altos níveis de NDP: significam maior degradação óssea → ossos mais frágeis e predispostos a fraturas. Baixos níveis de NDP: indicam menor reabsorção óssea → ossos mais conservados, fortes e resistentes.

A suplementação com ácidos biliares apresentou resultados consistentes sobre a mineralização óssea:

Absorbância sérica: indicador da capacidade de absorção de cálcio e fósforo. Nos tratamentos com Ácido Deoxicólico, observou-se aumento de +15,5% em comparação aos controles. Esse efeito se traduz em melhor aproveitamento da dieta e redução da necessidade de suplementação com minerais inorgânicos, impactando diretamente o custo da formulação.

Resistência óssea: o grupo tratado apresentou o maior valor (0,374 kgf/cm²; +7,2%) em relação ao grupo controle. Em contraste, o produto comercial sem DCA apresentou resistência inferior (0,335; -4,0%). Ossos mais resistentes resultam em menor incidência de fraturas, melhorando o bem-estar e reduzindo perdas por condenação.

Tempo de ruptura óssea: indicador da resiliência estrutural. O grupo tratado apresentou o melhor resultado absoluto (100,77 s; +65,9% em relação ao controle de 60,73 s), evidenciando ossos mais duradouros e menos suscetíveis a fraturas durante transporte e processamento.

Isso representa maior integridade esquelética, fundamental para sustentar o rápido ganho de peso dos frangos modernos, reduzir problemas locomotores, aumentar o bem-estar animal e melhorar a eficiência produtiva.

5. Síntese dos resultados práticos

Os resultados preliminares dos estudos nacionais confirmam que a suplementação com Ácido Deoxicólico:

Manteve ou melhorou o desempenho em dietas com redução de energia metabolizável (–87 kcal/kg), gerando economia líquida de ~US$ 3,30/ton de ração;

Reduziu significativamente lesões hepáticas e melhorou a uniformidade dos fígados;

Aumentou o rendimento de carcaça (+2,0%), peito (+3,8%) e pernas (+2,0%);

Melhorou a conversão alimentar em até -10,3%, reduzindo custos de produção;

Favoreceu a absorção mineral (+15,5%), diminuindo a necessidade de fontes inorgânicas;

Elevou a resistência óssea (+7,2%) e o tempo de ruptura (+65,9%), reduzindo problemas locomotores;

Reduziu gordura abdominal em -10,4%, favorecendo carcaças mais magras e valorizadas.

Essas evidências demonstram que o ácido deoxicólico vai além da digestão lipídica, atuando como ferramenta multifuncional para preservação hepática, suporte esquelético, eficiência alimentar e melhoria da qualidade de carcaça.

Conclusão

A produção intensiva de frangos de corte depende da preservação do fígado como órgão-chave do metabolismo. A suplementação com ácidos biliares, particularmente aqueles ricos em ácido deoxicólico, consolida-se como uma ferramenta estratégica capaz de:

Reduzir condenações por lesões hepáticas;

Melhorar rendimento de carcaça e cortes comerciais;

Aumentar absorção mineral e qualidade esquelética;

Otimizar a eficiência;

Melhorar a rentabilidade.

A suplementação com Ácido Deoxicólico alia ciência, inovação e sustentabilidade, garantindo não apenas bem-estar animal, mas também competitividade econômica para produtores e integradores.

versão digital está disponível gratuitamente no site oficial de O Presente Rural. A edição impressa já circula com distribuição dirigida a leitores e parceiros em 13 estados brasileiros.

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.