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Como a guerra na Ucrânia impacta a economia global
Estrutura do comércio internacional, que ainda se reerguia dos impactos da pandemia de Covid-19, sofreu outro abalo com o início do conflito, complicando ainda mais o cenário econômico.

O conflito entre Rússia e Ucrânia continua e seu impacto ecoa muito além dos conflitos armados, alcançando esfera econômica e, por consequência, os investimento em todo o mundo. A estrutura do comércio internacional, que ainda se reerguia dos impactos da pandemia de Covid-19, sofreu outro abalo com o início do conflito, complicando ainda mais o cenário econômico.
No entanto, em meio a onda de incertezas, algumas indústrias conseguiram se manter firmes, erguendo uma bandeira de estabilidade que atrai os olhares dos investidores mais atentos. Setores como o petrolífero e o agrícola, impulsionados por uma produção robusta, se mantiveram estáveis e demonstram bons indicativos de investimento. “A economia russa, como grande produtora de petróleo, gás natural e fertilizantes, e a economia ucraniana, responsável por uma parcela significativa dos grãos do mundo, sentiram os impactos de forma aguda, especialmente no setor agrícola”, analisa o economista Marcello Corsi Janota de Carvalho. “O aumento dos custos de insumos, fertilizantes e combustíveis, combinado com a redução na oferta de grãos, gerou desafios significativos”, complementa.

Economista Marcello Corsi Janota de Carvalho: “O aumento dos custos de insumos, fertilizantes e combustíveis, combinado com a redução na oferta de grãos, gerou desafios significativos” – Foto: Divulgação
Segundo o economista, essa dinâmica criou tanto oportunidades quanto desafios para os agentes econômicos. Aqueles com reservas e capacidade de expansão puderam capitalizar sobre o aumento dos preços dos grãos. No entanto, para os que precisavam capitalizar para expandir sua produção, o cenário foi mais complexo, especialmente diante das taxas de juros elevadas.
Quanto aos investidores, Carvalho destaca a importância de manter a vigilância sobre os ativos que mais se valorizaram nos últimos dois anos. “Muitos ativos viram seus valores disparar em meio ao cenário de guerra”, observa. “Mas é fundamental compreender que mudanças podem ocorrer, e a alocação de ativos que foi bem-sucedida até agora pode não ser mais a ideal. Os investidores devem estar preparados para realizar lucros e ajustar suas estratégias conforme necessário”, pondera.
Risco de uma escalada de tensões
Enquanto a guerra na Ucrânia continua a moldar as dinâmicas geopolíticas, a proximidade política entre a China e a Rússia adiciona uma nova camada de complexidade às relações internacionais. Com a China mantendo o comércio com a Rússia, apesar do conflito em curso, uma aliança econômica tem se fortalecido entre os dois países, tornando-os parceiros significativos, pelo menos no âmbito econômico. Esta parceria, que transforma a China no principal fornecedor de produtos para os russos, não passou despercebida pelos Estados Unidos, que veem com preocupação a crescente influência conjunta de China e Rússia.
Contudo, dada a magnitude do papel desempenhado pela China na economia global, o impacto dessa aliança nas tensões entre EUA e China é até certo ponto limitado. A interdependência econômica entre os Estados Unidos e a China atua como um freio nas hostilidades, apesar das divergências políticas.
Quanto à possibilidade de uma ampliação dos conflitos, tanto na Ucrânia quanto no Oriente Médio, as perspectivas divergem. Enquanto os conflitos na Ucrânia parecem mais contidos, com os principais países já demonstrando seu apoio, os conflitos no Oriente Médio parecem estar ganhando escala. A região continua a ser um caldeirão de tensões, com conflitos se intensificando e reavivando antigas disputas que estavam em um período de menor intensidade.
Assim, embora os conflitos na Ucrânia possam estar mais controlados, a instabilidade no Oriente Médio permanece uma preocupação constante, com o potencial de desencadear novas ondas de violência e desestabilização na região e além dela. Nesse contexto, o mundo observa com cautela, consciente dos desafios que esses conflitos representam para a paz e a estabilidade global.
Apoio dos EUA
Apesar da duração da guerra, a Rússia mantém uma superioridade militar sobre a Ucrânia, enquanto esta depende cada vez mais do apoio internacional para se manter abastecida. Uma possível retirada do apoio dos EUA, especialmente em caso de vitória de Trump, poderia mudar significativamente o curso da guerra, dificultando ainda mais a situação ucraniana e facilitando as ofensivas russas. Assim, o desenrolar do conflito depende não apenas das dinâmicas locais, mas também das decisões políticas internacionais. “Os EUA são uma das maiores potências militares e econômicas do mundo. Caso seu apoio seja reduzido, a Ucrânia terá muito mais dificuldades em manter suas tropas abastecidas e terá muito mais dificuldade de financiar os custos da guerra. Dessa forma, a Rússia terá mais facilidades em suas ofensivas”, avalia.
Comércio global
Num mundo cada vez mais polarizado e fragmentado, a viabilidade do acordo UE-Mercosul é questionada. “O aumento da polarização torna o acordo menos viável, mas muito mais necessário. Embora as exigências possam ser maiores, as economias precisam de facilitações nas negociações para promover ambientes competitivos e eficientes, fundamentais para o crescimento econômico global”, aponta Carvalho.
Quanto à abordagem multilateral para o comércio global, ainda faz sentido em um mundo cada vez mais polarizado? Apesar dos desafios, a resposta é afirmativa. “Embora tenhamos enfrentado momentos de polarização mais intensa no século passado, os acordos multilaterais se mostraram essenciais. Apesar de se tornarem mais difíceis em momentos de polarização, a multilateralidade se torna cada vez mais necessária para termos uma solução mais pacífica e eficiente para todos os lados envolvidos”, ressalta.
Resiliência da economia russa
A resiliência da economia russa diante da extensa guerra na Ucrânia tem sido surpreendente, especialmente considerando o impacto inicial da crise. Em 2022, no primeiro ano do conflito, o PIB da Rússia registrou uma queda de 1,2%, de acordo com dados oficiais. No entanto, analistas de mercado apontam que em 2023 a economia russa conseguiu um crescimento de 3,1%.
O economista explica que a capacidade da Rússia de manter sua economia durante os primeiros meses da guerra foi ampliada com o auxílio de economias que não aderiram às sanções, como China e Índia. Porém, após diversos países terem que voltar a negociar com ela, como a Alemanha no caso do gás natural e o Brasil no caso dos fertilizantes, os russos conseguiram contornar as principais sanções impostas no início da guerra.
No entanto, a retirada dos bancos russos do sistema Swift, a interrupção de várias cadeias produtivas, marcação a zero de títulos russos e a desvalorização acentuada do rublo tiveram impactos significativos. A exclusão do sistema Swift dificultou consideravelmente as transações e o comércio dentro da Rússia, reduzindo a demanda pelo rublo no mercado internacional e desvalorizando a moeda. “Essa desvalorização também tornou os produtos russos mais competitivos no mercado internacional, ajudando a manter a economia russa ativa”, afirmou.

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Plantio de milho em Santa Catarina entra na fase final com boas perspectivas
Controle fitossanitário segue ativo e produtores monitoram impacto das chuvas na germinação.

A semeadura do milho de verão em Santa Catarina entra na fase final, com 92% da área estimada já plantada, segundo os dados mais recentes do Boletim Agropecuário de Santa Catarina. Até o momento, 93% das lavouras apresentam condição considerada boa, reforçando a expectativa de um início de ciclo favorável no estado.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
O ritmo da safra é descrito como adequado, com bom estabelecimento das plantas e condições climáticas favoráveis, o que tem permitido avanço dentro do calendário previsto pelo zoneamento agroclimático.
O controle fitossanitário segue ativo, especialmente no monitoramento da cigarrinha-do-milho, praga que preocupa produtores nos últimos anos. Até agora, porém, a incidência registrada é baixa. No litoral catarinense, técnicos observaram falhas de germinação em algumas áreas, atribuídas ao excesso de chuvas no período de emergência das plantas.
O boletim também alerta para as chuvas intensas na região Sul, que podem exigir maior atenção no manejo de doenças e na aplicação de adubação de cobertura, etapas cruciais para o desenvolvimento das lavouras.
Apesar dos pontos de atenção, o cenário até o momento é favorável. A Epagri/Cepa mantém perspectiva positiva de produtividade, condicionada à continuidade de clima e sanidade adequados nas próximas semanas.
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Caminho Verde recebe R$ 30 bilhões e inicia recuperação de 1,3 milhão de hectares no país
Primeiro aporte do Mapa viabiliza crédito com juros reduzidos para converter áreas degradadas em produção sustentável, com meta de restaurar 40 milhões de hectares em dez anos.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou, na segunda-feira (17), o primeiro aporte de recursos da ordem de R$ 30 bilhões para o Programa Caminho Verde, com foco nos investimentos voltados para a conversão de áreas degradas para a produção de alimentos. O programa será financiado por bancos, com juros abaixo do mercado, entre eles o Banco do Brasil, o BNDES, o BTG, o Itaú, Caixa Econômica, entre outros. Os recursos começarão a ser acessados a partir de 2026 e conta com a parceria do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Fazenda para o financiamento. A meta inicial é recuperar, com este montante, cerca de 1,3 milhão de hectares nesta primeira rodada.
A meta geral do programa é recuperar até 40 milhões de hectares de áreas degradadas em dez anos. Este foi o debate do painel “Programa Caminho Verde Brasil: avanços, desafios e oportunidades”, realizado nesta segunda-feira em um dos auditórios da AgriZone, espaço da Embrapa e parceiros, também conhecido como “Casa da Agricultura Sustentável” na COP30. O evento técnico foi organizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), a Embrapa e o Banco do Brasil.
Para o assessor especial do ministro da Agricultura e Pecuária e presidente do Conselho de Administração da Embrapa, Carlos Augustin, o Caminho Verde reforça a posição estratégica do País na agenda global e destaca as práticas regenerativas como solução para garantir segurança alimentar e estabilidade climática.
“O programa cria condições para um expressivo aumento da produção de alimentos e de biocombustíveis, sem desmatamento de novas áreas, preservando matas nativas”, explica. “Dessa forma, promove simultaneamente a segurança alimentar, apoia a transição energética e conserva o meio ambiente”.
Dados do Mapa indicam que, atualmente, o Brasil possui cerca de 280 milhões de hectares destinados à agropecuária, dos quais 165 milhões são pastagens, sendo que aproximadamente 82 milhões de hectares estão em algum grau de degradação. A proposta do programa é a recuperação de até 40 milhões de hectares de pastagens de baixa produtividade ao longo dos próximos dez anos, convertendo essas áreas em terras agricultáveis de alto rendimento, sem a necessidade de desmatamento.
O recurso que será aportado no valor de R$ 30 bilhões representa o início do programa, mas o Mapa está em busca de novas parcerias. O programa Caminho Verde faz parte da carteira de financiamento do Ministério da Fazenda – O Eco Invest Brasil, parte do Novo Brasil, criado para impulsionar investimentos privados sustentáveis e atrair capital externo para projetos de longo prazo, oferecendo instrumentos de proteção contra a volatilidade do câmbio. Com mecanismos financeiros inovadores, o programa viabiliza projetos estratégicos para a indústria verde, recuperação de biomas, infraestrutura para lidar com os efeitos das mudanças do clima e de inovação tecnológica para a Transformação Ecológica. Serão R$16,5 bilhões do Tesouro e os outros R$ 16 bilhões das instituições financeiras.
Judson Valentim, pesquisador da Embrapa Acre, destacou que as áreas degradadas oferecem um potencial forte de recuperação para a produção de grãos, fibras e biocombustíveis, aumentando a capacidade brasileira de fornecimento de alimentos em um cenário global, de forma sustentável.
Na perspectiva da sustentabilidade, o Programa Caminho Verde inclui o uso de boas práticas recomendadas pela Embrapa. No caso de produção de alimentos, plantio conforme recomendação do ZARC, plantio direto, uso de bioinsumos e inoculantes, uso de sementes certificadas ou salvas legalmente, plantio de cobertura, gestão de embalagens de agroquímicos. No caso de pecuária o uso de sementes de forrageiras, divisão das pastagens e manejo do pastejo, proteção aos corpos d´água, taxa de lotação de acordo com a capacidade de suporte das pastagens e rastreabilidade. Para florestas plantadas a Embrapa sugere as seguintes recomendações: uso de bioinsumos, manejo de solos, manejo integrado de pragas, plano de combate a incêndios e proteção dos corpos d´água.
A Embrapa também elaborou um conjunto de indicadores métricas para aplicação no programa. Entre elas: metodologia de Bioanálise dos Solos (BioAs), metodologia de determinação de estoques de carbono no solo, metodologia de balanço de emissão de gáses, dentre outras. Além de calculadoras como o RenovaCalc, ABC+Calc, Zarc, Plataforma de Saúde do Solo, Carne Baixo Carbono, entre outras.
Para o diretor de Agronegócio do Banco do Brasil, Gilson Bittencourt, o tema da sustentabilidade é uma das suas prioridades. Ele explicou que o primeiro estímulo para que o produtor entre no programa é a expectativa efetiva de rentabilidade com a recuperação de suas áreas degradadas. “Este convencimento é o primeiro argumento para a tomada de decisão de recuperar a pastagem”, explicou. Ele acrescentou que o incentivo, via crédito e tecnologias, deve vir junto com o controle do estado brasileiro contra o desmatamento ilegal. Por fim, o acesso ao crédito será fundamental com pagamento a longo prazo. “As três ações serão determinantes para o acesso ao crédito para o Caminho Verde”.
Para ele, o Caminho Verde é uma das soluções que traz vários elementos positivos, mas para o agricultor familiar, o ideal ainda é o Pronaf. O Caminho Verde se aplicará melhor aos médios e grandes produtores rurais. Mas a grande vantagem deste financiamento é sua veiculação à uma área que usará boas práticas para a sua recuperação. “Um programa de governo com um compromisso mensurável do ponto de vista de área recuperada e o compromisso de não desmatar e um monitoramento que soma qualitativo e quantitativo”.
Saiba mais sobre o Programa Caminho Verde acessando aqui
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Brasil lidera integração inédita entre clima, natureza e uso da terra na COP30
No principal painel das três Convenções da ONU, o Mapa apresentou políticas públicas que recuperam áreas degradadas, reduzem emissões e fortalecem a produção sustentável, alinhando agendas globais.

Pela primeira vez, as três Convenções da ONU reuniram suas agendas de clima, natureza e uso da terra em um mesmo debate, e o Brasil foi protagonista. No painel realizado nesta terça-feira (18), na COP30, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou como políticas públicas já implementadas pela pasta integram essas frentes e transformam áreas degradadas em solos produtivos, resilientes e de baixa emissão.
O encontro destacou a necessidade de alinhar agendas globais de clima, natureza e uso do solo, reforçando soluções que reduzam emissões, restaurem ecossistemas e ampliem a segurança alimentar. O representante do Mapa no painel, Bruno Brasil, diretor do Departamento de Produção Sustentável da Secretaria de Desenvolvimento Rural, afirmou que há caminhos concretos capazes de entregar resultados simultaneamente para as três convenções — e o Brasil já demonstra isso com políticas públicas consolidadas.
“Eles estão falando das sinergias e das complementaridades entre os objetivos das três convenções e que existem investimentos custo-eficientes do ponto de vista do clima, da natureza, da segurança alimentar e do desenvolvimento socioeconômico. Um bom exemplo é a recuperação de áreas agrícolas degradadas com boas práticas, como vemos no Plano ABC, no ABC+ e no Caminho Verde Brasil”, afirmou.
Durante sua intervenção, Bruno reforçou que o país chega ao debate com programas robustos, ampla experiência técnica e capacidade de escalar iniciativas alinhadas ao desenvolvimento sustentável. “O Brasil já possui políticas públicas de destaque nesse sentido, como as que mencionei. E esperamos continuar trabalhando em parceria com os países anfitriões das COPs de biodiversidade, combate à desertificação e do clima no próximo ano, de forma a atrair novos investimentos”, destacou o diretor.
O painel também marcou a preparação para o lançamento da Belém Joint Statement on Action Agendas on Land, Climate and Nature, iniciativa que orientará esforços conjuntos das três convenções para restaurar terras degradadas, proteger ecossistemas, fortalecer meios de vida sustentáveis e integrar agendas globais de adaptação, biodiversidade e produção agrícola.
A sessão reuniu representantes de governos, organismos internacionais, comunidade científica, setor privado e lideranças indígenas, reforçando que o avanço na restauração de paisagens depende de cooperação, ciência, financiamento adequado e do protagonismo de produtores, comunidades rurais e povos tradicionais.



