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Com forte dependência do mercado externo, setor nacional de fertilizantes enfrenta desafios
Produção nacional de fertilizantes é questão estratégica e precisa ser avaliada com presteza, tendo em vista a definição de como ela será implementada.

Ao longo dos dois últimos anos, o mercado mundial de fertilizantes vem enfrentando muitos desafios, tais como a interrupção da cadeia de suprimentos por falta de produto (devido à pandemia de Covid-19), a alta no preço do gás natural, o embargo econômico imposto pela União Europeia e Estados Unidos sobre Belarus (desde 2021) e já há um ano o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
A consequência desses fatos, sobretudo da guerra no Leste europeu, foi a valorização dos principais fertilizantes intermediários em importantes regiões de negociação. Assim, o primeiro semestre de 2022 foi especialmente desafiador para agentes brasileiros na aquisição de fertilizantes, devido à importância da Rússia nesse mercado, aos gargalos logísticos e aos mecanismos de pagamentos comerciais, além das incertezas sobre a abrangência dos embargos econômicos do mundo sobre a Rússia.
Os preços médios dos fertilizantes intermediários registraram fortes aumentos ao longo do primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo período do ano anterior. No entanto, no final do ano passado, já com a oferta do fertilizante ajustada, observou-se o recuo dos preços médios dos insumos, que voltaram a registrar os patamares de 2021.
No Norte do Egito, a cotação média da tonelada de ureia no primeiro semestre de 2022 esteve 122% mais cara frente ao mesmo período de 2021. Já em dezembro de 2022, o valor médio do nitrogenado caiu 6,7% frente ao mês anterior, sendo o menor desde agosto de 2021.
Para o fosfato negociado no porto do mar Báltico, o valor médio da tonelada do MAP (fosfato monoamonio) aumentou 77,9% no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo período de 2021. Em dezembro de 2022, porém, o valor médio do MAP caiu 1,7% em relação ao mês anterior e voltou ao patamar de fevereiro de 2021. A tonelada de cloreto de potássio se valorizou 227,7% no primeiro semestre de 2022 na comparação com o mesmo período de 2021, mas a cotação média no último mês de 2022 ficou 10,2% menor que a de novembro/22, sendo também a mais baixa desde agosto de 2021.
No Brasil, o cloreto de potássio ficou 150,7% mais caro no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2021, enquanto a média em dezembro de 2022 foi a mais baixa desde julho de 2021. Para o MAP, a cotação média desse fosfatado ficou 66,9% mais cara no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo intervalo de 2021. No encerramento de 2022, registrou-se o menor valor desde fevereiro de 2021.
Dependência externa
É importante relembrar que o Brasil tem grande dependência externa de fertilizantes intermediários. Em 2022 (dados até novembro), a quantidade de fertilizantes no mercado nacional somou 37,72 milhões de toneladas, 11,3% menos que no mesmo período de 2021, sendo que 86% desse volume foi importado, conforme dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos). Dentre os principais fertilizantes intermediários importados, destacam-se o cloreto de potássio, que representa, em média, 38% do total importado nos últimos cinco anos (2017-21); seguido pela ureia, com participação de 22%, do MAP, com 14%, do sulfato de amônio, 9%, e do nitrato de amônio, 6%.
Em 2022, em razão do conflito no Leste Europeu a importação de fertilizantes pelo Brasil foi antecipada. Enquanto de 2017 a 2021, pouco mais de 70% do cloreto de potássio adquirido pelo Brasil foi alcançado em setembro, em 2022, as compras se concentraram até julho, quando somaram 71,4%. O Brasil elevou a quantidade de cloreto de potássio adquirida do Canadá, Israel e Alemanha em 2022, mas reduziu as compras da Rússia e de Belarus.
Assim, a quantidade de cloreto de potássio importado pelo Brasil do Canadá somou 4,54 milhões de toneladas em 2022, volume 9,1% maior que o de 2021. Alemanha e Israel enviaram 1,25 milhão de toneladas e 1,1 milhão de toneladas do insumo ao Brasil em 2022, com aumentos de 6,3% e de 14,1%, respectivamente, frente a 2021. Por outro lado, a Rússia forneceu 3,1 milhões de toneladas de cloreto de potássio em 2022, queda de 13,7% frente ao ano anterior. Belarus foi responsável por fornecer 1,07 milhão de toneladas do insumo em 2022, menos da metade (queda de expressivos 55,3%) da quantidade do ano anterior.
No caso da ureia, os volumes importados pelo Brasil de Omã e da Nigéria cresceram 27,2% e 44,2%, respectivamente, de 2021 para 2022, enquanto o fornecimento do insumo por parte da Rússia caiu 17,7%. No balanço, a quantidade total de ureia importada pelo Brasil em 2022 foi de 7,17 milhões de toneladas, queda de 7,9% em relação ao ano anterior.
Como o Brasil é um grande produtor e exportador de commodities agropecuárias e muito dependente de fertilizantes estrangeiros o cenário internacional recente acende um alerta. Nos últimos 20 anos, a capacidade interna de produção desses insumos evoluiu pouco, e o Plano Nacional de Fertilizantes pode auxiliar na redução da dependência estrangeira.
Nesse sentido, a produção nacional de fertilizantes é questão estratégica e precisa ser avaliada com presteza, tendo em vista a definição de como ela será implementada. Complexidades de natureza tanto político-institucional como socioambiental precisam ser tratadas tendo em conta os interesses nacionais num contexto econômico e geopolítico mundial bastante adverso a acordos e sem claras perspectivas de normalização no curto e no médio prazos.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



