Suínos
Climatização com pressão negativa: eficiência garantida ou armadilha cara?
Tecchio reforçou que a eficiência alimentar é um dos principais argumentos a favor da climatização, considerando que 70% a 80% do custo de produção de suínos está concentrado na alimentação.

A suinocultura brasileira atingiu um novo patamar técnico, mas também enfrenta um dilema: como acomodar, de forma eficiente, suínos cada vez mais produtivos em um clima que se torna cada vez mais desafiador? A pergunta não é retórica — e tampouco tem resposta fácil. Durante o Encontro Abraves-PR, realizado nos dias 12 e 13 de março de 2025, em Toledo (PR), o médico-veterinário especialista na produção de suínos, Cícero Tecchio, trouxe uma reflexão prática e direta sobre a climatização com pressão negativa nas fases de crescimento e terminação, abordando os benefícios técnicos do sistema e os riscos de fracasso para quem tenta adotar a tecnologia sem o devido preparo.

Desde o início, Tecchio, que atua na Seara Alimentos, deixou claro que sua abordagem seria baseada em dados reais e na experiência prática, e não em suposições teóricas. “Vamos falar se existe viabilidade ou não, baseado nas avaliações que a gente fez, e no que a gente vê no dia a dia da nossa empresa”, afirmou. A partir daí, costurou uma análise que passou pela evolução dos suínos modernos, pelo impacto das mudanças climáticas no sistema produtivo e pelos detalhes técnicos que podem separar o sucesso do fracasso quando o assunto é climatizar granjas.
Tecchio iniciou contextualizando a evolução zootécnica dos animais nos últimos anos. Ele destacou que, entre 2018 e 2024, houve um aumento de 17% no peso dos suínos, um crescimento de 20% no ganho diário e uma redução de 23% na idade de terminação. Para ele, o que se observa hoje são “super-suínos”, com enorme potencial genético e nutricional, mas que também se tornaram mais exigentes em relação ao ambiente. “Esses animais têm muito potencial, mas, de certa maneira, toleram menos os desafios do dia a dia.”
Essa evolução, segundo ele, coincide com um cenário climático cada vez mais hostil. Tecchio citou o caso de Porto Gordinho (MS), que em 2024 registrou 156 dias com temperaturas superiores a 42°C, além de cidades do Paraná que bateram recordes de calor em 2025. “O ambiente está mudando. E nossos animais também. Se antes eles aguentavam mais, agora o desafio é muito maior”, alertou. Tecchio comparou a situação a colocar uma Ferrari para rodar em uma estrada esburacada: “Você até pode chegar no destino, mas vai demorar muito mais — ou talvez nem chegue.”
Custo de implantação e visão de longo prazo
Ao tratar da climatização propriamente dita, Tecchio abordou sem rodeios a questão do custo. A climatização com pressão negativa exige investimentos consideráveis em infraestrutura e gera despesas contínuas mais elevadas, principalmente com energia elétrica. No entanto, ele advertiu que a análise não pode se limitar à comparação entre valores imediatos. “Você tem 25 anos para pagar essa estrutura. Não dá para construir pensando só no agora. Tem que pensar no desempenho futuro, no uso de medicamentos, na exigência dos mercados para onde a gente vai vender.”
Tecchio reforçou que a eficiência alimentar é um dos principais argumentos a favor da climatização, considerando que 70% a 80% do custo de produção de suínos está concentrado na alimentação. Melhorar a conversão alimentar, portanto, representa um ganho econômico significativo — algo que, segundo ele, é impossível sem cuidar do ambiente térmico e respiratório dos animais.
Resultados técnicos em campo
Para calibrar expectativas, Tecchio explicou que climatização verdadeira envolve pressão negativa bem controlada, vedação perfeita e uso correto de exaustores — não meramente ventiladores adaptados. “Exaustor é exaustor. Ventilador é outra coisa. E sem vedação, não adianta querer fazer pressão negativa”, frisou.
Apresentando dados de granjas em clima tropical quente e úmido, Tecchio mostrou que os galpões climatizados com pressão negativa tiveram uma melhora técnica constante, mês a mês, de aproximadamente 6% em relação aos galpões convencionais. O consumo de ração por animal foi reduzido em nove quilos, gerando uma economia média de R$ 18 por cabeça. Houve ainda a redução de seis dias no tempo de terminação dos lotes, permitindo mais ciclos produtivos e, por consequência, aumento da eficiência operacional.
O custo adicional para manter o sistema varia entre R$ 2,79 e R$ 3,60 por animal, dependendo da região e do custo local de energia. Tecchio avaliou que, mesmo considerando esse custo, os benefícios de desempenho compensam amplamente.
Ele também chamou atenção para ganhos menos tangíveis, mas igualmente importantes, como a melhoria na qualidade do ar, a redução de doenças respiratórias e o aumento no bem-estar dos animais. “É como dormir com ar-condicionado e sem ar-condicionado. A maioria vai crescer melhor com conforto.”
Transformação de estruturas e cuidados na implantação

Fotos: Shutterstock
Tecchio também abordou a viabilidade de transformar granjas já existentes para a climatização com pressão negativa. “Depende”, respondeu, sem ilusões. Antes de qualquer decisão, é preciso avaliar se a propriedade dispõe de energia elétrica adequada para suportar os sistemas. “Já vimos muitos casos em que falta energia para tocar os exaustores e tudo o que foi investido se perde.”
Além disso, a vedação precisa ser completa. Buracos, frestas em portas ou muretas mal posicionadas comprometem totalmente o funcionamento do sistema. “Se não vedar direito, não vai ter pressão negativa. Não adianta querer dar um jeitinho”, alertou. A formação dos corredores, o fechamento adequado dos galpões e o uso de cortinas de qualidade também são fatores que, segundo ele, definem o sucesso ou o fracasso da adaptação.
Outro ponto crucial é a formação da equipe de manejo. A operação de um galpão climatizado exige atenção diária e capacidade de fazer ajustes finos no sistema. “Se quem estiver no comando não acreditar ou não entender como funciona, a climatização não vai dar resultado.”
Fazer direito ou nem começar

Médico-veterinário especialista na produção de suínos, Cícero Tecchio: “A gente é trabalhador, a gente é referência em indicador técnico, mas temos essa mania de querer fazer ajuste em projeto que já estava certo” – Foto: Giuliano De Luca/OP Rural
Para Tecchio, a climatização por pressão negativa é, sim, uma ferramenta viável para a suinocultura brasileira, desde que seja feita de maneira correta. “Ou faz bem-feito, ou é melhor não fazer”, resumiu.
Ele destacou que o produtor brasileiro tem capacidade técnica, mas muitas vezes perde resultados ao tentar adaptar projetos para economizar no curto prazo. “A gente é trabalhador, a gente é referência em indicador técnico, mas temos essa mania de querer fazer ajuste em projeto que já estava certo. Com climatização, isso não funciona. Se fizer errado, vai gastar mais e não vai colher os resultados.”
Na suinocultura que se desenha — mais técnica, mais exigente e mais pressionada por eficiência —, a climatização bem planejada e corretamente operada deixou de ser luxo. É questão de sobrevivência. E como bem resumiu Tecchio, se o ambiente não acompanhar a evolução dos animais, “a Ferrari vai ficar atolada no barro.”

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



