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Ciência amplia escopo da fixação biológica de nitrogênio no Brasil
Pesquisas com plantas não leguminosas expandem os horizontes da fixação biológica de nitrogênio na agricultura nacional.

A fixação biológica de nitrogênio (FBN) é uma técnica que alia sustentabilidade e ganhos econômicos. De acordo com o balanço social da Embrapa de 2023, a adoção da FBN em lavouras de soja gerou economia de cerca de 38 bilhões de reais nas importações de adubos nitrogenados em 2021. Tal economia chegou a 72 bilhões de reais em 2022, uma elevação de 89% em relação ao ano anterior. A positividade desses resultados, obtidos principalmente com a soj, impulsiona a Embrapa a estender os estudos da FBN para plantas não leguminosas, de forma a ampliar os benefícios dessa tecnologia para a agropecuária nacional.
De acordo com o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Clenio Pillon, a expansão dos conhecimentos de FBN adquiridos pela Embrapa desde a década de 1970 são fundamentais para o avanço da tecnologia com sustentabilidade e ganhos econômicos para o País. “Nosso objetivo é investir em tecnologias de ponta, como a edição gênica, para aprimorar o desempenho das bactérias utilizadas nesse processo, além de expandir a FBN para plantas não leguminosas. Essa é hoje uma das principais estratégias da pesquisa agropecuária brasileira, O conhecimento adquirido pela Embrapa na mitigação de emissão de carbono e adaptação de culturas agrícolas aos riscos climáticos nos garante a base científica para essa evolução”, destaca.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil registrou um volume recorde na importação de fertilizantes em 2024, com um total de 2,77 milhões de toneladas, contra 2,41 milhões no ano anterior, o que representa um acréscimo de 15%. O País é um dos maiores consumidores de fertilizantes nitrogenados no mundo, com um consumo médio anual de aproximadamente 40 milhões de toneladas de fertilizantes, dos quais cerca de um terço são nitrogenados. Apesar de ser um grande consumidor, o Brasil enfrenta desafios relacionados à produção interna de fertilizantes nitrogenados, com uma dependência significativa de importações. Além disso, existe risco de impacto ambiental negativo, decorrente da contaminação da água subterrânea com nitratos e da eutrofização (aumento da quantidade de nutrientes no ambiente aquático), que pode levar à poluição dos ecossistemas aquáticos de rios e lagos.
Por outro lado, a utilização de fertilizantes nitrogenados é o que torna possível alimentar hoje mais da metade da população mundial, dado o papel essencial desse insumo na produtividade agrícola., sendo um dos pilares da segurança alimentar global.
FBN é alternativa sustentável à agricultura e alimentação
Paralelamente, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) se consolida como uma alternativa sustentável, permitindo que culturas, especialmente leguminosas, obtenham esse nutriente de forma natural. Esse processo ocorre por meio da associação simbiótica entre plantas e microrganismos do solo, como as bactérias diazotróficas, que capturam o nitrogênio atmosférico e o convertem em formas assimiláveis pelas plantas.
A Embrapa é pioneira no desenvolvimento dessa tecnologia, altamente sustentável e rentável, desde a década de 1970, graças aos estudos da pesquisadora Johanna Döbereiner, que contribuíram significativamente para a redução da dependência de fertilizantes sintéticos na agricultura brasileira. A evolução da pesquisa no Brasil levou ao patenteamento do primeiro inoculante pela Embrapa em 2.000. Hoje, a principal bactéria utilizada no processo de fixação biológica de nitrogênio em não leguminosas é a Azospirillum brasilense, que além de estimular o crescimento da planta; aumenta o fornecimento de nitrogênio e reforça a tolerância a estresses hídricos. Em 2021, a Embrapa lançou o primeiro inoculante multifincional para pastagens.
Soluções da pesquisa agropecuária para expansão da FBN em plantas não leguminosas
Confira as principais orientações apontadas pela Embrapa para a expansão da FBN no Brasil:
- Isolamento, identificação e seleção de novos organismos diazotróficos para não leguminosas nos diferentes biomas;
- Utilização do banco de germoplasma microbiano da Embrapa para desenvolvimento de novos inoculantes em plantas não leguminosas;
- Definição de culturas agrícolas-chave, como milho, trigo, arroz e pastagens;
- Inovação no uso de inoculantes em outras culturas agrícolas, como alface, tomate, batata e café;
- Edição gênica para aprimoramento das bactérias utilizadas na FBN;
- Desenvolvimento de indicadores de avaliação de FBN em não leguminosas em condições de campo;
- Avaliação de gases de efeito estufa e sua relação com o uso de inoculantes e com a FBN;
- Uso de inteligência artificial;
- Otimizar os resultados do melhoramento

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Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.
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Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.



