Notícias Levantamento parcial
Ciclone que atingiu Rio Grande do Sul causou prejuízos de R$ 320 milhões na avicultura e suinocultura
Houve perdas de produção, rebanho e infraestrutura, sobretudo, de ribeirinhos que se dedicam à produção de hortigranjeiros, avicultura, suinocultura e pecuária leiteira. Os danos também afetam unidades agroindustriais.

As enchentes e chuvas intensas provocadas pelo ciclone extratropical, que ocorreu no início de setembro no Sul do Brasil, geraram grandes transtornos e prejuízos. Até o momento, 47 mortes foram confirmadas no Rio Grande do Sul e um óbito em Santa Catarina. O fenômeno causou danos pelos altos volumes precipitados, ocorrência de granizo localizados e transbordamento de leitos de rios e arroios, ocasionando estragos em 102 cidades gaúchas, de acordo com o último boletim da Defesa Civil, divulgado na manhã desta sexta-feira (15).

Foto: Gustavo Mansur/Secom/RS
O ciclone extratropical teve origem em um sistema de baixa pressão e provocou chuva de granizo, rajadas de vento acima dos 100 km/h e tempestades, que causaram enxurradas e inundações em vários pontos do estado gaúcho.
De acordo com o mais recente balanço divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul, existem ainda nove pessoas desaparecidas, 3.130 pessoas foram resgatadas, 4.898 estão desabrigados, que são pessoas que necessitam de abrigo público, e 20.973 desalojados, que se encontram em outras residências. O total de afetados chega a 354.701 mil pessoas. Além disso, há 943 feridos.
As cidades mais atingidas foram das regiões Norte, Serra e Vale do Taquari.
Pequenos produtores foram os mais afetados
Conforme balanço parcial da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar), na zona rural os pequenos agricultores foram os mais prejudicados. Houve perdas de produção, rebanho e infraestrutura, sobretudo, de ribeirinhos que se dedicam à produção de hortigranjeiros, avicultura, suinocultura e pecuária leiteira. Os danos também afetam unidades agroindustriais.

Foto: Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal/DDA
A Emater/RS-Ascar indica que 665 localidades e 10.787 propriedades foram afetadas. Em relação à infraestrutura, o evento climático afetou 4.456,8 quilômetros de estradas vicinais e causou problemas de escoamento da produção em 197 comunidades até o momento.
Houve danos em 1.192 casas, 621 galpões, 12 armazéns, 116 silos, 25 estufas de fumo, 25 estufas/túneis plásticos para horticultura, 128 açudes (piscicultura/irrigação), 53 aviários e 45 pocilgas.
Na pecuária morreram 29.356 animais, entre bovinos de corte e de leite, suínos e aves. Foram perdidas 370 caixas de abelhas e 35,5 toneladas de peixes, totalizando 346 produtores prejudicados. A produção não coletada de leite chega a 500 mil litros, lesando cerca de 813 produtores. Além do comprometimento de silos que foram alagados. “Mais de 800 produtores de leite de várias cidades gaúchas, principalmente das regiões da Serra e do Vale do Taquari, foram atingidos diretamente com danos na estrutura das suas instalações, assim como com a morte de animais”, ressalta o presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang.
Na produção primária, as chuvas torrenciais resultaram em sérias perdas na produção de frutas, olericultura, fumo e grãos, principalmente nas lavouras de milho e trigo, que tiveram grandes áreas atingidas e alto volume de produção perdidas. Ao todo, 1.616 produtores tiveram perdas na produção de grãos, 88 na fruticultura, 2.691 no fumo e 198 na olericultura.
As perdas na produção de forragens impactam diretamente na atividade pecuária, afetando a produção de carne e de leite, e representam um desafio adicional para os produtores, que buscam alternativas para suprir as necessidades alimentares de seus rebanhos. Foram atingidos 1.880 hectares de pastagem nativa, 10.730 hectares de pastagem cultivada e 50 hectares de silagem, com um total de 1.022 produtores prejudicados. Houve perda de 35,5 mil pés de eucalipto.
“Essas são informações gerais de todo o setor agropecuário. Mas a Emater/RS-Ascar está trabalhando no levantamento de perdas, produzindo laudos que geram informações técnicas eficientes e coordenando outras estratégias junto às famílias atingidas. Temos conhecimento dos estragos feitos, mas acredito, que logo teremos informações concretas dos danos causados por esse desastre natural”, menciona o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Luis Folador.
Desde a passagem do ciclone extratropical no Rio Grande do Sul, existe uma mobilização pela situação de calamidade, com o intuito de socorrer as vítimas afetadas pelo desastre natural.

Foto: Nacir Penz
Danos à suinocultura
De acordo com a Acsurs, as chuvas afetaram duas granjas comerciais de suínos. Uma dessas granjas estava destinada para creche e os leitões haviam sido transferidos para a próxima fase de recria e engorda a cerca de três ou quatro dias antes da enchente, e a outra era responsável pela terminação dos suínos. “Na granja em que os animais estavam prontos para serem enviados ao frigorífico ocorreu a perda de quase todos os suínos”, lamenta Folador. “Foram somente duas granjas de suínos afetadas, estimo que os danos com a criação perdida e a infraestrutura das duas granjas atingidas devem ser próximos a R$ 4 milhões”, aponta.
O presidente da Acsurs ressalta que esses prejuízos foram localizados e não tiveram um impacto significativo no setor da suinocultura do Rio Grande do Sul.
SOS Rio Grande do Sul
A Acsurs concentra seus esforços em apoiar e promover as iniciativas que o governo do Rio Grande do Sul está implementando para auxiliar os produtores afetados pela enchente.
Uma dessas ações é a divulgação da conta SOS Rio Grande do Sul, criada no Banrisul para receber doações em dinheiro daqueles que quiserem ajudar as vítimas das enchentes. Foi estabelecida uma chave PIX (CNPJ: 92.958.800/0001-38) que já está disponível para que empresas e pessoas físicas possam repassar qualquer valor, de forma segura, para um canal oficial. “Neste momento, estamos focando nossos recursos e energia em disseminar informações sobre essa conta, a fim de incentivar contribuições tanto de dentro do Rio Grande do Sul como de todo o Brasil. Dessa forma, a Acsurs contribui indiretamente para o apoio aos produtores rurais e a todas as pessoas afetadas pela enchente”, expõe Folador.

Foto: Divulgação/Asgav
Além disso, o presidente da Acsurs frisa que o governo gaúcho está disponibilizando recursos próprios para a recuperação e reconstrução das áreas afetadas, enquanto o governo federal também anunciou medidas para auxiliar na recuperação das regiões danificadas pela enchente. Nesse contexto, a Acsurs atua como um canal de divulgação e mobilização para que a solidariedade e o apoio cheguem de maneira mais efetiva aos afetados.
Atividades suspensas temporariamente
A Cooperativa dos Suinocultores de Encantado (Cosuel) teve suas instalações inundadas pelas águas da enchente, tendo que suspender temporariamente suas operações de abate enquanto realiza os reparos e restaura o que foi danificado pelo desastre. “Durante este período os animais dos produtores cooperados integrados à Cosuel serão redirecionados para outras agroindústrias a fim de manter o fluxo de produção. Essa mudança, sem dúvida, deverá resultar em prejuízos para a cooperativa. O montante exato dessas perdas é difícil de estimar no momento”, ressalta Folador.
Prejuízos podem chegar a R$ 100 milhões na suinocultura gaúcha
Conforme Folador, o Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips) estima que a cadeia suinícola gaúcha deve ter um prejuízo que varia entre R$ 70 a R$ 100 milhões, tanto de forma direta quanto indireta, devido às dificuldades no transporte de ração e na logística para retirada dos animais nas unidades produtoras afetadas pelo ciclone. “Esses prejuízos afetam não apenas a Cosuel, que foi a mais impactada, mas também outras agroindústrias de suínos na região”, pontua.
Perdas na indústria de aves são estimadas em R$ 220 milhões
A Organização Avícola do Rio Grande do Sul (Asgav/Sipargs) estima que os impactos ocasionados pelas enchentes e chuvas intensas decorrentes do ciclone extratropical podem chegar a R$ 220 milhões em prejuízos para as indústrias de aves e derivados na região do Vale do Taquari.

Foto: Divulgação/Asgav
Com participação de 21% na produção total do Rio Grande do Sul, a região foi a mais atingida pelas chuvas. Segundo informações da Asgav, seis indústrias localizadas no Vale do Taquari foram danificadas pela passagem do ciclone extratropical. “A tragédia que atingiu a região não impactou totalmente esta participação, mas gerou danos consideráveis a seis indústrias locais”, afirmou em nota sobre o levantamento parcial dos prejuízos do setor.
Os danos estão relacionados a estruturas de indústrias, aviários, mortalidade de animais, genética, logística, danos elétricos, avarias em máquinas e equipamentos, além de impactos no mercado.
Segundo a associação, tanto as indústrias quanto os produtores afetados estão apurando os reais prejuízos que devem ter em decorrência do ciclone. No entanto, ainda são necessárias avaliações técnicas para obter uma visão mais precisa dos danos. “É um momento crítico para a região, para as indústrias e produtores impactados. O amparo governamental e de outras instituições será extremamente necessário e vital para a retomada”, avalia o presidente executivo da Asgav/Sipargs, José Eduardo dos Santos.
Medidas em apoio aos produtores rurais
Lideranças sindicais, representantes de associações, prefeitos e secretários municipais de 23 cidades, além de deputados, participaram de uma reunião com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (AL-RS), a qual teve como foco principal discutir medidas de apoio aos agricultores afetados pelas chuvas nas regiões da Serra, Vale do Taquari e Vale do Rio Pardo.
Durante a reunião, foram formuladas 12 medidas em apoio aos produtores das áreas atingidas, que agora estão sendo apresentadas aos governos estadual e federal para que possam ser atendidas.
Dentre as reinvindicações ao Governo Federal estão a suspensão imediata da cobrança de todas as operações de crédito rural (custeios, investimentos, credito fundiário), vincendas nos próximos 180 dias, contratados por agricultores e pecuaristas atingidos pela intempérie climática (enchente, ciclone); anistia das operações de custeio e investimento, não amparadas por seguro (Proagro ou seguro agrícola); renegociação das dívidas de custeio e investimento contratadas pelos agricultores e pecuarista, atingidos pelo fenômeno climático; linha de crédito emergencial, para recuperação das unidades produtivas (recuperação de solo, compra de maquinários e equipamentos, reconstrução de Galpões, Pocilgas, Aviários, Estufas etc); com prazo de 10 anos para pagamento, 3 anos de carência, sem juros e com bônus de adimplência %; habitação – inclusão das famílias do meio rural que perderam suas casas, nas políticas de habitação destinadas a reconstrução das unidades habitacionais dos municípios atingidos; que os critérios para escolha dos municípios nos programas do Minha Casa Minha Vida, seja a situação de calamidade pública; linha de crédito não reembolsável, para compra de mobiliário e utensílios domésticos perdidos com a enchente, tendo por base o valor do saque emergencial do FGTS; (R$ 6.200,00); e recursos para recuperação de estradas vicinais, pontes e pontilhões, para permitir o escoamento da produção e o deslocamento entre as propriedades rurais.

Foto: Gustavo Mansur/Secom/RS
E ao Governo do Rio Grande do Sul serão solicitados recursos para recuperação de estradas vicinais, pontes e pontilhões, para permitir o escoamento da produção e o deslocamento entre as propriedades rurais; suspensão imediata da cobrança de todas as operações de crédito rural (custeios, investimentos, FEAPER), vincendas nos próximos 180 dias, contratados por agricultores e pecuaristas atingidos pela intempérie climática (enchente, ciclone); habitação – Inclusão das famílias do meio rural que perderam suas casas, nas políticas de habitação destinadas a reconstrução das unidades habitacionais dos municípios atingidos; anistia das operações de custeio, investimento e FEAPER, não amparadas por seguro (Proagro ou seguro agrícola); e linha de crédito não reembolsável, para compra de mobiliário e utensílios domésticos perdidos com a enchente, incluindo os agricultores no anúncio feito pelo estado de R$ 2,5 mil para as pessoas da CAD Único.
R$ 741 milhões de recursos federais
Governo federal destinou R$ 741 milhões em recursos para as regiões afetadas pelas chuvas provocadas pelo ciclone extratropical no Rio Grande do Sul. O Ministério das Cidades é o que vai destinar mais recursos às áreas afetadas, custeando a construção de moradias na região com R$ 195 milhões. Em seguida vem o da Integração, que vai disponibilizar R$ 185 milhões para ajudar na reconstrução dos municípios atingidos pelas chuvas.

Foto: Marinha do Brasil/RS
Entre outras ações, o governo também vai ajudar a reconstruir as Unidades Básicas de Saúde (UBS), a refazer uma ponte da BR-116 sobre o Rio das Antas e a liberar um auxílio de R$ 800 por pessoa, em duas parcelas de R$ 400, para os municípios afetados.
RS em alerta
O Rio Grande do Sul segue em alerta para altos volumes de chuva e temporais nos próximos dias, sobretudo na Metade Sul. O boletim da Sala de Situação do governo estadual, coordenada pela Defesa Civil e pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), aponta até esta sexta-feira (15) para risco de tempo severo em grande parte das regiões. Os volumes de chuva podem variar entre 100 milímetros e 200 milímetros nas regiões Sul, Campanha, Oeste, Centro, Sudeste, Leste e Noroeste e ultrapassar 250 milímetros em alguns pontos. Além disso, o risco é alto para queda de granizo.

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ESG pode adicionar R$ 247 bilhões ao agro e gerar dois milhões de empregos, diz estudo
Levantamento aponta potencial de expansão de 26,5% no setor e redução expressiva de emissões, resíduos e consumo de água.

A adoção de práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) poderia impulsionar o agronegócio brasileiro em 26,5%, percentual equivalente ao crescimento acumulado do setor nos últimos sete anos, segundo dados do Cepea-USP/Esalq. As informações fazem parte do estudo Impact Edge, da EY-Parthenon, lançado na EY House durante a COP30, em Belém (PA).
O levantamento mostra que os impactos se estendem por toda a economia nacional, com ganhos estimados em R$ 247 bilhões por ano, valor comparável ao PIB de Pernambuco em 2022. A implementação das iniciativas ESG também poderia gerar cerca de 2 milhões de empregos, número próximo à população de Manaus, além de resultar em R$ 112 bilhões adicionais em arrecadação tributária, suficientes para financiar aproximadamente 700 mil vagas em creches ou 14 mil quilômetros de rodovias duplicadas.
Somente em 2024, o agronegócio brasileiro registrou um PIB de R$ 2,7 trilhões, representando quase um quarto de tudo o que o país produz. O levantamento realizado pela EY Parthenon revela que a adoção consistente de práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) no setor pode transformar não apenas a economia do agro, mas também a economia nacional e a sociedade brasileira. “Os números do estudo mostram que a agenda ESG no agronegócio se traduz em ganhos concretos para produtores, sociedade e governo, reforçando que ESG é um motor de eficiência, inclusão e competitividade. A adoção de iniciativas em conjunto vai além do setor, gerando retornos que beneficiam toda a economia brasileira”, diz Otavio Lopes, sócio líder de Agronegócios da EY.
Em termos ambientais, as práticas ESG poderiam evitar a emissão de 328,6 milhões de toneladas de CO₂, economizar 11,5 trilhões de litros de água, evitar a geração de 29 milhões de toneladas de resíduos e reduzir o consumo de energia em 2,8 TWh. No campo social, espera-se a criação de 320 vagas afirmativas em posições de liderança e a prevenção de 1.080 internações hospitalares por ano, o que representaria uma economia de R$ 43 milhões ao Sistema Único de Saúde, recursos que poderiam ser direcionados a outras áreas como educação, infraestrutura e segurança.
Avanços e desafios do agronegócio brasileiro
O agronegócio brasileiro vem incorporando práticas ESG em suas cadeias produtivas, mas ainda enfrenta desafios estruturais relevantes. Pressões por desmatamento zero e cadeias livres de conversão de vegetação nativa geram barreiras não tarifárias, regras técnicas, sanitárias e socioambientais que podem limitar o acesso a mercados premium.
Além disso, lacunas na formalização de profissionais, condições de trabalho precárias e dificuldades de engajamento com comunidades vizinhas, somadas à predominância de estruturas familiares e à baixa maturidade em dados e compliance, dificultam a transparência, a rastreabilidade e a atratividade para financiadores e investidores, elevando riscos operacionais e reputacionais e encarecendo capital e seguros. “Diante desse cenário, o setor migra de uma postura reativa de compliance para estratégias que atacam riscos na origem e desbloqueiam valor comercial e financeiro. Os esforços concentram-se em iniciativas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente o ODS 13, ‘Ação Contra a Mudança Global do Clima’, em consonância com a agenda climática discutida na COP30”, diz Lopes.
Entre as principais frentes de ação estão desmatamento zero, rastreabilidade ponta a ponta e conservação, com monitoramento por satélite, auditorias, georreferenciamento e blockchain, além da seleção de fornecedores alinhados aos mesmos valores e recuperação de áreas degradadas. A eficiência energética e o uso de fontes renováveis, como biomassa, biogás e energia solar, visam reduzir custos e emissões de gases de efeito estufa, enquanto práticas de manejo de solo e sequestro de carbono, como plantio direto, rotação de culturas e sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (ILPF), promovem fertilidade, biodiversidade e resiliência climática.

Outras frentes incluem o uso eficiente de defensivos, insumos e biotecnologia, com manejo integrado de pragas, bioinsumos e aplicação localizada de defensivos para reduzir impactos ambientais e aumentar produtividade; a gestão de resíduos e logística reversa, que promove circularidade e produção de biofertilizantes; o uso eficiente da água, com irrigação de precisão, automação e conservação de nascentes; e iniciativas sociais e fortalecimento comunitário, por meio de programas de educação, saúde preventiva, capacitação técnica e inclusão produtiva, combatendo o trabalho análogo à escravidão e ampliando a licença social para operar.
Essas ações demonstram impactos concretos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Desmatamento zero e rastreabilidade garantem proteção, restauração e uso sustentável de ecossistemas terrestres e florestas. Eficiência energética e fontes renováveis ampliam o acesso à energia confiável e moderna e promovem conscientização e capacidade para mitigação das mudanças climáticas.
Manejo de solo e sequestro de carbono reduzem emissões de gases de efeito estufa e restauram ecossistemas degradados, enquanto o uso eficiente de defensivos e biotecnologias promove padrões de consumo e produção sustentáveis e garante saúde e bem-estar. Gestão de resíduos e logística reversa fortalecem a circularidade na cadeia produtiva, uso eficiente da água assegura disponibilidade e gestão sustentável do recurso, e as iniciativas sociais contribuem para redução da pobreza, promoção de educação inclusiva e diminuição das desigualdades.
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CEASAs do Brasil aderem a programa do Pacto Contra a Fome para reduzir desperdício
Centrais de Abastecimento representam quase 50% do fornecimento de alimentos do país. Adesão de 15 unidades da ABRACEN ao guia “CEASA Desperdício Zero” tem potencial de recuperar R$ 233 milhões em valor econômico por ano e beneficiar 122 mil pessoas por dia.

Em um movimento estratégico para combater a fome e mitigar perdas na cadeia de suprimentos, na quarta-feira (26), foi assinada a Carta Compromisso pelos presidentes de 15 Centrais de Abastecimento ligadas à Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento (ABRACEN) em adesão ao Programa CEASA Desperdício Zero, do Instituto Pacto Contra a Fome. As signatárias representam 49,75% do abastecimento total do Brasil, por onde passaram quase 9 milhões de toneladas de alimentos em 2024, segundo dados da CONAB.
A iniciativa formaliza a implementação de um modelo nacional focado na redução de perdas e na redistribuição de alimentos. O projeto CEASA Desperdício Zero é fruto de uma cooperação técnica do Pacto Contra a Fome junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e à Abracen. O princípio fundamental é garantir que nenhum alimento que chegue à CEASA seja perdido em aterros ou incineradores, mas sim transformado em alternativas que assegurem um destino mais justo, chegando à mesa de quem de famílias em situações de vulnerabilidade social.
O paradoxo do desperdício e a fome
A urgência da ação é retratada por dados alarmantes que expõem a contradição brasileira. Um levantamento realizado pelo Pacto Contra a Fome em parceria com a consultoria Integration mostra que 55 milhões de toneladas de alimentos são perdidos ou desperdiçados anualmente no Brasil em toda a cadeia, do campo à casa do consumidor. Isso ocorre ao mesmo tempo em que temos mais de 54,7 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar.
“As centrais de abastecimento são fundamentais no combate à fome e na redução de desperdício de alimentos. São milhares de toneladas de alimentos in natura que passam todos os dias por estes aparelhos públicos. Além de serem um elo fundamental entre o campo, o varejo e o consumidor, são espaços em que a nossa visão de um Brasil sem fome pode começar a se materializar”, afirma Maria Siqueira, cofundadora e co-diretora do Pacto Contra a Fome.
O impacto nas Ceasas
No recorte específico das centrais de abastecimento, os números também exigem atenção imediata. Dados da Abracen indicam que 2% dos 17 milhões de toneladas de alimentos comercializados nas Centrais são desperdiçadas anualmente. Esse percentual representa mais de 340 mil toneladas de alimentos perdidos, gerando um prejuízo econômico superior a R$ 1,5 bilhão por ano e resultando na emissão de cerca de 510 mil toneladas de CO2 na atmosfera.
A iniciativa visa transformar esse cenário, onde a taxa atual de redistribuição por meio do Banco de Alimentos é de apenas 0,14%.
O CEASA Desperdício Zero define a meta de 0,6% de redistribuição em CEASAs, a partir de casos de sucesso já existentes no país. Assim, a projeção para as 15 Centrais signatárias é redistribuir 53 mil toneladas de alimentos que iriam para o lixo, o que equivale a R$ 233 milhões anuais em alimentos, beneficiando diretamente 122 mil pessoas por dia. A meta total do projeto é atingir 102 mil toneladas de alimentos redistribuídos em todo o Brasil.
Compromissos firmados
Ao assinarem o documento, os presidentes das centrais se comprometem a seguir estratégias claras de infraestrutura e logística:
· Banco de Alimentos: Garantir infraestrutura adequada para implantação de bancos de alimentos com foco em setores básicos para doação in natura, prevendo futuramente áreas de processamento mínimo e cozinhas experimentais.
· Logística eficiente: Assegurar pontos de coleta e infraestrutura logística na CEASA para fluxo eficiente dos alimentos que perdem valor de mercado e garantir áreas de descarga exclusivas e sinalizadas.
· Transparência de dados: Realizar a coleta sistemática de dados e assegurar o compartilhamento regular com o Instituto Pacto Contra a Fome para monitoramento de doadores, volumes e beneficiários.
As 15 centrais que assinaram o compromisso, são: Ceasa Pernambuco, Ceasa Minas Gerais, Ceasa Paraná, Ceasa Rio Grande do Sul, Ceasa Rio Grande do Norte, Ceasa Caruaru, Ceasa Salvador, Ceasa Distrito Federal, AMA, Ceasa Mato Grosso do Sul, Ceasa Campinas, Ceasa Santa Catarina, Ceasa Espírito Santo, Ceasa Ceará e Ceasa Goiás.
Sobre o Pacto Contra a Fome
O Pacto Contra a Fome é uma coalizão suprapartidária e multissetorial que atua no engajamento da sociedade para erradicar a fome, promover alimentação adequada e reduzir o desperdício de alimentos de forma estrutural e permanente. Sua missão é contribuir para erradicar a fome até 2030 e ter todos os brasileiros alimentados adequadamente até 2040. Para isso, o Pacto atua sob três pilares: articulação, inteligência estratégica e incentivo.
“Temos convicção de que a meta é possível de ser cumprida se todos somarmos nesta causa. Governos, setor empresarial, terceiro setor e sociedade civil são imprescindíveis nesta jornada e é unindo essas forças que estamos atuando”, conclui Maria Siqueira, cofundadora e co-diretora do Pacto Contra a Fome.
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Mapa projeta salto histórico no VBP das carnes em 2026
Bovinos, suínos e frangos podem alcançar R$384,1 bilhões em valor bruto puxados pelo maior crescimento das proteínas em mais de duas décadas.

A Secretaria de Política Agrícola (SPA) e o Ministério da Pecuária e da Agricultura (MAPA) divulgou o primeiro prognóstico para 2026 apontando um avanço expressivo no Valor Bruto da Produção (VBP) das principais cadeias pecuárias do país. Somados, bovinos, suínos e frangos podem alcançar R$ 384,1 bilhões no próximo ano, alta de 281% frente aos pouco mais de R$ 100 bilhões estimados no início dos anos 2000.
O desempenho reflete o crescimento consistente das três proteínas, embora com dinâmicas distintas. Entre os bovinos, a previsão é de um VBP ligeiramente superior a R$208 bilhões, 247% acima de 2000; enquanto os frangos devem registrar cerca de R$113,5 bilhões, incremento próximo de 280%. O maior salto, entretanto, será dos suínos, cujo VBP estimado em R$62,5 bilhões representa expansão superior a 476% em 26 anos, elevando sua participação no total do setor de pouco mais de 10% para 16,3%.

Foto: Shutterstock
A análise indica mudanças na composição do VBP da pecuária. A fatia dos bovinos deve recuar 9%, enquanto o segmento de frangos mantém relativa estabilidade, com leve redução de meio ponto percentual. Na comparação com 2024, o setor avícola segue como o de menor crescimento, ainda impactado pelo caso de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) registrado na avicultura comercial.
Já os suínos tendem a um avanço de 10,68% no VBP, enquanto os bovinos projetam o maior crescimento anual do século, com alta próxima de 21%, impulsionados por um desempenho que se manteve robusto mesmo diante do tarifaço dos Estados Unidos, posteriormente revogado.
Frango

Foto: Divulgação/Freepik
A produção de carne de frango deve alcançar cerca de 15,86 milhões de toneladas em 2026, estabelecendo um novo recorde histórico e superando a estimativa de 15,5 milhões de toneladas para 2025. O bom resultado da avicultura de corte, aliado ao desempenho da suinocultura, contribui para que a produção total de carnes no país chegue a 32,6 milhões de toneladas no próximo ano. O volume representa alta de 0,4% frente às 32,48 milhões previstas para este ano e também configura o maior nível já registrado.
Em 2025, a oferta ampliada de carne de frango tem garantido maior disponibilidade no mercado interno, mesmo com o leve avanço das exportações, estimadas em 5,2 milhões de toneladas, acima das 5,15 milhões embarcadas em 2024, quando o setor enfrentou impactos decorrentes do registro de Influenza Aviária no Rio Grande do Sul.
A retomada das compras pela China, principal destino da proteína, contribuiu para aliviar eventuais perdas. Para 2026, a perspectiva é de manutenção do ritmo positivo das vendas externas, que podem atingir 5,25 milhões de toneladas, sem prejudicar o consumo doméstico. A disponibilidade interna deve subir 3,1%, passando de 10,3 milhões de toneladas em 2025 para 10,62 milhões no ano seguinte, permitindo que a disponibilidade per capita chegue a 51,3 quilos por habitante.
Suinocultura

Foto: Shutterstock
O panorama é semelhante para a suinocultura, com produção prevista em 5,63 milhões de toneladas em 2025 e exportações estimadas em 1,48 milhão, mesmo em meio à redução da demanda chinesa após a recomposição de seu plantel pós-PSA. A disponibilidade interna deve aumentar de 4 milhões de toneladas em 2024 para 4,16 milhões em 2025. Em 2026, a produção deve avançar 4,5%, alcançando 5,88 milhões de toneladas, viabilizando exportações de 1,6 milhão de toneladas e ampliando a oferta interna para 4,3 milhões de toneladas.
Carne bovina
Quanto à carne bovina, a produção estimada para 2025 é de 11,38 milhões de toneladas, ligeiramente acima de 2024. As exportações seguem em ritmo acelerado e devem totalizar 4,21 milhões de toneladas até o fim do ano, o maior volume já registrado, impulsionadas pela demanda chinesa, que absorveu 53,7% dos embarques brasileiros. Para 2026, a reversão do ciclo pecuário deve reduzir a produção para 10,89 milhões de toneladas devido à maior retenção de fêmeas. Ainda assim, a demanda internacional deve permanecer aquecida, mantendo as exportações próximas de 4,25 milhões de toneladas. A disponibilidade interna, por sua vez, tende a cair para 6,67 milhões de toneladas.



