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China ‘zera’ compras de soja dos EUA e amplia vantagem brasileira no curto prazo
Especialista de mercado analisa como choque comercial reordena fluxos globais, pressiona basis e pode alterar margens da indústria local.

Um movimento silencioso, mas de impacto global começa a redesenhar o tabuleiro do agro. A decisão da China de suspender compras de soja dos Estados Unidos no início da nova safra tem gerado uma reviravolta no comércio agrícola com implicações diretas na América do Sul. O redirecionamento do maior comprador mundial para Brasil e Argentina fortalece momentaneamente a posição do continente, mas traz efeitos complexos sobre basis nos portos, prêmios de exportação e margens da indústria de processamento.
Segundo o especialista de Mercado, Marcelo Teixeira, a mudança reposiciona o Brasil no centro do jogo. “O choque comercial amplia a vantagem brasileira no curto prazo, mas também exige atenção redobrada. Já registramos exportações acima da média dos últimos cinco anos, mas esse aumento acelerado pressiona estoques internos e pode encarecer a matéria-prima da indústria local, que já opera com margens bastante apertadas”, afirma.

Especialista de Mercado, Marcelo Teixeira: “O Brasil sai fortalecido no curto prazo, mas precisa estar atento ao jogo geopolítico e ao dever de casa interno. Só seremos capazes de sustentar essa vantagem se reduzirmos gargalos de competitividade” – Foto: Divulgação/JPA Agro
Os números confirmam a análise de Teixeira. Segundo relatório da JPA Inteligência, o Brasil exportou 91,2 milhões de toneladas de soja em grão até setembro, apenas 15 milhões abaixo da meta projetada pela Conab para todo o ciclo 2024/25. Em agosto, os embarques somaram 9,34 milhões de toneladas, bem acima da média quinquenal de 6,94 milhões. Esse ritmo acelerado antecipa riscos, já que quanto mais soja in natura o Brasil exporta, menor a disponibilidade para o esmagamento doméstico, que gera farelo e óleo, insumos fundamentais para o abastecimento interno e a indústria de proteínas. “Já vemos algumas esmagadoras praticando preços de farelo descolados de Chicago. Isso significa que, mesmo com a bolsa americana em queda, o valor do farelo no Brasil se mantém mais alto, reflexo da escassez de matéria-prima. O basis começa a se distorcer, e esse será um ponto central nos próximos meses”, observa Teixeira.
Farelo e óleo representam gargalos e oportunidades
Com 78% da soja convertida em farelo e 18% em óleo, qualquer alteração nos fluxos globais de grãos impacta diretamente o mix industrial. O relatório de setembro da JPA Inteligência ajustou a produção brasileira de farelo para 45,2 milhões de toneladas em 2024/25, avanço de mais de 10% sobre o ciclo anterior.
Apesar do avanço, as margens continuam pressionadas e o cenário é de cautela. Margens brutas de esmagamento recuaram em Mato Grosso, principal polo industrial, para R$ 403 por tonelada em agosto, queda de 7% frente ao mês anterior. “Estamos em um ambiente onde o mercado global sinaliza boa oferta, mas a dinâmica local pode levar a distorções severas. O farelo pode se tornar o elo mais sensível dessa cadeia, seja pela escassez de grão, seja pela pressão de preços”, reforça Teixeira.
Impactos nos prêmios e basis
O modelo clássico de precificação da soja baseado em Chicago, prêmio e câmbio pode sofrer distorções importantes diante da ausência chinesa nos EUA e da concentração de demanda no Brasil. Prêmios nos portos tendem a inflar, enquanto o basis interno pode se estreitar, encarecendo a matéria-prima da indústria nacional. “O grande risco é que, em pleno período de entressafra, novembro a janeiro, falte soja disponível no mercado interno. Se isso ocorrer, a indústria terá que pagar mais caro, reduzindo ainda mais margens que já estão muito comprimidas”, alerta o especialista.
Risco argentino
Outro fator capaz de virar o cenário rapidamente é a Argentina. Em meio à crise cambial, o governo argentino já utilizou no passado a estratégia de zerar impostos de exportação (as chamadas “retenciones”) para arrecadar dólares. Uma nova rodada não está descartada e se isso ocorre, o jogo se transforma. “Não seria surpresa se Buenos Aires recorresse novamente a essa medida, como já fez neste ano de 2025. Se isso acontecer, a China pode redirecionar volumes significativos para a Argentina, mudando o fluxo comercial em questão de semanas e impactando diretamente o Brasil”, analisa Teixeira.
Geopolítica
O movimento da China não é apenas comercial, mas também geopolítico. Ao suspender compras nos EUA, Pequim sinaliza desconforto com as tarifas e amplia seu poder de barganha sobre fornecedores sul-americanos. Segundo Teixeira, o fator psicológico também entra em cena: “Se a alta de preços da soja ou seus derivados cair no inconsciente popular americano, como aconteceu com o tomate no Brasil, o tema vira pauta política. Se o consumidor sentir o peso no bolso, cresce a pressão sobre Washington para rever medidas tarifárias”, ressalta.
Marcelo complementa: “A grande questão é que o mercado está mais volátil do que nunca. Uma decisão política na Argentina ou uma mudança de apetite da China pode virar o jogo da noite para o dia. Do nosso lado, o Brasil precisa estar preparado para capturar oportunidades sem perder de vista os riscos internos de competitividade”, expõe.
Reflexos para o Brasil
Por falar no Brasil, maior exportador global, o movimento traz ganhos imediatos, mas também riscos e desafios. A perda de competitividade industrial, o risco de ruptura de margens e a volatilidade nos prêmios tornam fundamental uma gestão estratégica. “O Brasil sai fortalecido no curto prazo, mas precisa estar atento ao jogo geopolítico e ao dever de casa interno. Só seremos capazes de sustentar essa vantagem se reduzirmos gargalos de competitividade, investirmos em logística e equilibrarmos a relação entre exportação e processamento”, salienta Teixeira.

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Brasil explora inovação agrícola na Coreia do Sul
Delegação visita LG e CJ Bio para conhecer tecnologias de bioinsumos e soluções sustentáveis que podem transformar o futuro do agro brasileiro.

Em missão oficial à Coreia do Sul, a delegação brasileira liderada pelo secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Goulart, realizou, na segunda-feira (24), visitas técnicas a fábricas e centros de pesquisa das empresas LG e CJ Bio.
A agenda teve como objetivo aprofundar a cooperação entre os dois países nas áreas de inovação em agrotóxicos, bioinsumos e tecnologias voltadas à agricultura sustentável, com foco no desenvolvimento de produtos mais modernos, seguros e eficientes.
Para o secretário Goulart, as visitas reforçam o interesse mútuo do Brasil e da República da Coreia em ampliar a parceria técnica e comercial no setor agropecuário. “A agricultura brasileira é baseada em inovação. Somos a potência que somos por conta da inovação. Por isso, estreitar relações entre os países é essencial para manter a competitividade do agro”, afirmou.
Compõem a delegação pelo Mapa o coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins, José Victor Torres, e a coordenadora de Registro, Tatiane Nascimento. Pela Anvisa, participam a gerente-geral de Toxicologia, Cassia Fernandes, a gerente de Avaliação de Segurança Toxicológica, Marina Aguiar, o gerente de Produtos Equivalentes, Juliano Malty e a assessora da Terceira Diretoria, Letícia Filier.
Visita ao parque de inovações da LG
Na LG, a delegação conheceu a estrutura global do grupo, que atua em setores como eletrônicos, telecomunicações, química e soluções para agricultura. A empresa apresentou sua visão de gestão baseada em inovação, sustentabilidade e governança, além dos investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento.
A LG também destacou o papel da LG Chem e da FarmHannong, divisão agrícola líder na Coreia em proteção de cultivos, sementes e fertilizantes. A companhia reforçou o interesse em ampliar sua atuação no Brasil e dar continuidade às parcerias com o Mapa e a Anvisa.
CJ Bio apresenta avanços em biotecnologia e soluções sustentáveis
A delegação visitou ainda a CJ Bio, referência mundial em biotecnologia aplicada à agricultura, nutrição e biomateriais. A empresa apresentou seus laboratórios e plataformas de desenvolvimento de microrganismos, fermentação, purificação e produção de bioinsumos.
Foram demonstradas tecnologias voltadas à produção de inoculantes, pesticidas e bioestimulantes, com foco em soluções de baixo impacto ambiental, redução de emissões e recuperação de solos. A CJ Bio também reforçou o interesse em desenvolver produtos biológicos para soja, milho e outras culturas estratégicas para o Brasil.
Colunistas
Saiba por que fungos e nematoides seguem tirando bilhões do agro
Organismos invisíveis avançam silenciosamente sobre as raízes, derrubam a produtividade e já geram prejuízos acima de R$ 35 bilhões por ano, enquanto a biotecnologia ganha espaço no manejo.

No agronegócio brasileiro, algumas das maiores ameaças à produtividade estão escondidas sob os nossos pés. Fungos e nematoides do solo são organismos microscópicos que, muitas vezes, sem darem sinais aparentes, comprometem as raízes, reduzem a absorção de água e nutrientes e minam o vigor das plantas. Quando os sintomas se tornam visíveis, os prejuízos já estão instalados.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), doenças fúngicas radiculares, como as causadas por Rhizoctonia, Fusarium e Sclerotium, podem permanecer no solo por longos períodos graças às suas estruturas de resistência, dificultando o controle e impactando culturas como soja, milho, feijão e hortaliças.

Artigo escrito por Bruno Arroyo, engenheiro agrônomo, com pós-graduação em Agronegócio.
Entre os inimigos invisíveis do solo, os nematoides ocupam lugar de destaque. Esses vermes microscópicos parasitam as raízes, formando galhas ou causando lesões que reduzem a eficiência do sistema radicular. Os reflexos são diretos: menor absorção de nutrientes, estresse hídrico precoce e queda na produtividade.
Pesquisas da Embrapa apontam que áreas infestadas por Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares) podem ter perdas médias de 21% na soja, o equivalente a 12 sacas por hectare. Além das evidências experimentais, estimativas da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) indicam que os prejuízos anuais no agro superam R$ 35 bilhões, sendo cerca de R$ 16,2 bilhões apenas na soja.
O desafio do manejo
O controle de nematoides e doenças fúngicas é particularmente complexo porque não existe uma solução única. A própria Embrapa recomenda o manejo integrado, combinando práticas, como rotação de culturas com espécies não hospedeiras, para reduzir a população de patógenos no solo; o uso de cultivares resistentes, quando disponíveis; adubação equilibrada e correção do solo, que fortalecem as defesas naturais da planta; e o controle biológico, por meio de microrganismos benéficos (bactérias e fungos), que competem com fungos patogênicos e estimulam o crescimento vegetal. Essas práticas, quando aplicadas em conjunto, aumentam a resiliência do sistema produtivo e reduzem a dependência exclusiva de defensivos químicos.
Biotecnologia como aliada

Foto: SAA SP
A biotecnologia vem se consolidando como parceira estratégica do produtor. O uso de bioinsumos, seja via aplicação direta ou tecnologia On Farm, permite ampliar populações de microrganismos benéficos e fortalecer a saúde do solo.
Já desde 2023, dados da Spark Inteligência Estratégica citados pela Embrapa, indicam que o uso de bionematicidas no Brasil ultrapassou o de nematicidas químicos em importantes culturas. Na soja, os produtos biológicos já representavam cerca de 94% do mercado de nematicidas, enquanto no milho esse índice chegava a 100%, consolidando a liderança dos biológicos no controle de nematoides.
Esse movimento continua se ampliando em outras cadeias produtivas. Levantamento da Kynetec mostra que, em 2024, mesmo com a retração de 18% no mercado de defensivos para cana-de-açúcar, os produtos de matriz biológica já respondiam por 7% do total financeiro do setor, com bionematicidas e bioinseticidas representando 75% desse segmento. Esses números confirmam que a biotecnologia deixou de ser apenas uma alternativa e passou a ocupar papel central nas estratégias de manejo do solo e de controle de nematoides no agronegócio brasileiro.
Quando adotamos práticas integradas e combinamos biotecnologia com as recomendações científicas, damos passos importantes para preservar a produtividade e a sustentabilidade do agro. Em um cenário de custos crescentes de insumos, pressão por sustentabilidade e exigência de maior eficiência, deixar de lado esses inimigos invisíveis também significa renunciar margens que fazem diferença no resultado da safra.
A boa notícia é que hoje temos conhecimento científico e tecnologias biológicas robustas para transformar esse desafio em oportunidade. O futuro do agronegócio passa pela capacidade de unir ciência, inovação e sustentabilidade. Não se trata apenas de controlar patógenos, mas de preservar o potencial produtivo de cada hectare, garantindo alimento de qualidade e competitividade para o Brasil no cenário global.
Notícias 02, 03 e 04 de dezembro
Dia de Campo da C.Vale estreia formato antecipado em dezembro
Mudança busca evitar conflito com a colheita de soja e reforça a participação dos produtores.

Para evitar a coincidência com o início da colheita de soja no Oeste do Paraná, a C.Vale decidiu antecipar seu principal evento técnico. A primeira edição do Dia de Campo no novo formato será realizada nos dias 02, 03 e 04 de dezembro, no Campo Experimental da cooperativa, em Palotina (PR).
A programação inclui lançamentos de máquinas e implementos com condições diferenciadas de compra, além da apresentação de novilhas leiteiras, gado de corte, caprinos e ovinos. O evento também mostrará resultados de trabalhos técnicos conduzidos no local. Entre as novidades estão concurso de receitas, maior interação com o público, ações ampliadas das empresas parceiras e mais áreas de sombra para quem aguarda o deslocamento nos ônibus internos.
A edição realizada em janeiro de 2025 reuniu 12 mil visitantes nas proximidades do complexo agroindustrial da C.Vale.
Antecipação estratégica
A decisão de mudar o calendário para dezembro ocorreu porque o plantio mais cedo das lavouras vinha aproximando o início da colheita da soja do período tradicional do evento, em meados de janeiro. A sobreposição afetava a participação dos produtores, levando a cooperativa a estabelecer, a partir de 2025, a realização do Dia de Campo sempre no último mês do ano.
Raio X – Dia de Campo 2025/26
147 empresas participantes
45 cultivares de soja
58 híbridos de milho
16 cultivares de mandioca
65 parcelas de agroquímicos
17 parcelas de produtos biológicos
63 parcelas de programas nutricionais
17 parcelas com tratamento de sementes
14 parcelas de tecnologia de aplicação
16 espécies forrageiras
9 parcelas de plantas de cobertura de solo
4 instituições de pesquisa
1 instituição de ensino
4 instituições financeiras



