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Cepea lança selo para fortalecer transparência e confiança no setor lácteo

“Selo de Colaboração Transparente” premia laticínios e cooperativas comprometidos com qualidade, rastreabilidade e governança dos dados de preço do leite.

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Foto: Shutterstock
Nas últimas duas décadas, o sistema agroindustrial (SAG) do leite no Brasil passou por mudanças muito relevantes – como a evolução das instruções normativas para assegurar qualidade, o incremento na produtividade, o aumento da escala da produção, a intensificação dos processos de concentração e o acirramento do padrão competitivo na aquisição do leite cru. Esses movimentos alteraram as estruturas de governança, ou seja, a forma como cooperativas, laticínios e produtores organizam as negociações da matéria-prima. E isso tem conexão direta com a coordenação e competitividade do setor.

Coordenação, na cadeia produtiva, significa a forma como informações e estímulos circulam entre produtores, cooperativas, indústrias e outros agentes. Quanto melhor essa circulação, mais fácil fica alinhar decisões e ações, reduzindo conflitos e fortalecendo objetivos comuns para todo o sistema agroindustrial. Quando a coordenação é forte, a informação flui com clareza, permitindo que os agentes ajustem suas estratégias de maneira convergente. Mas, quando existem barreiras ou falhas nessa transmissão, a coordenação se enfraquece e cada agente tende a agir de forma isolada, aumentando os riscos de descompasso e perda de eficiência no seu negócio e no setor, como um todo. Em resumo, coordenação é a capacidade de alinhar decisões entre agentes que operam de forma autônoma, mas interdependente em uma cadeia produtiva. Ao elevar a intensidade da coordenação, o fluxo de informação, produtos e recursos é favorecido e os riscos são minimizados.

No contexto atual do setor lácteo, a informação de preço deixa de ser só uma cifra ou um mero termômetro do mercado e se torna uma infraestrutura de coordenação. Veja bem: a informação do preço auxilia os agentes de um SAG a mensurar seu desempenho, a oferta, a demanda e os impactos de diferentes estratégias que podem adotar para gerir seus negócios. Ao se munirem dessa informação, os agentes da cadeia do leite podem não apenas compreender melhor o cenário atual, mas se preparar para cenários futuros. É essa constante adaptação, no curto e longo prazos, que possibilita a resiliência dos negócios, mesmo diante das adversidades do mercado. E é daí que vem o desenvolvimento econômico.

O Cepea sustenta, há décadas, um esforço sistemático de coleta e validação de dados para o cálculo do Indicador do preço do leite ao produtor. Vale lembrar: o propósito do Indicador é refletir o preço médio do leite cru efetivamente negociado entre produtores e indústrias/cooperativas, capturando o ambiente competitivo, ou seja, o mercado, independentemente da forma de governança utilizada nessa negociação. Ao abastecer o setor com essa informação, o Cepea contribui para reduzir a assimetria de informação e, assim, intensificar a coordenação entre agentes – o que é uma premissa para o aumento de competitividade e desenvolvimento do setor.

A pesquisa de preço ao produtor do Cepea existe desde 1986. Por 32 anos, o trabalho foi executado sem parceria direta do setor com o Indicador. A partir de 2018, o projeto recebeu apoio financeiro e institucional de OCB e Viva Lácteos e, de 2018 a 2024, concentrou-se em três frentes: evolução metodológica, ampliação da amostra e aprimoramento da divulgação.

Para sustentar a qualidade e a utilidade dos Indicadores, é necessária evolução contínua: ampliar a amostra, assegurar veracidade e confiabilidade dos dados, padronizar formatos e garantir trilhas de auditoria. Em 2025, o objetivo do projeto é a automação da coleta (via API) e a rastreabilidade das informações, assegurando periodicidade, padronização e governança dos dados – bases para ganhar velocidade e qualidade sem abrir mão de confidencialidade.

Nesse contexto, surge “Selo de Colaboração Transparente”, que funciona como um mecanismo de enforcement positivo: incentiva comportamentos desejáveis dos participantes da pesquisa; previne desvios e reconhece publicamente as empresas que sustentam a qualidade informacional do Indicador. A implementação ocorrerá a partir de avaliação anual de critérios como: frequência na participação e respeito aos prazos, adesão à API para coleta de dados, qualidade e rastreabilidade das informações, manutenção da confidencialidade, comprovação de negócios quando solicitada e colaboração institucional. O selo terá três gradações – ouro, prata e bronze – que sinalizam o nível de comprometimento de cada empresa com o processo. A primeira concessão ocorrerá ainda em dezembro de 2025, avaliando o desempenho dos agentes colaboradores no mesmo ano.

Os benefícios do selo são múltiplos. Para o Indicador em si, o selo significa assegurar a rastreabilidade e garantir fluxo contínuo de informações auditáveis, elevando sua qualidade. Para as empresas participantes, o selo agrega visibilidade, reputação e reconhecimento público da confiança do Cepea em relação à governança dos dados. Para o setor como um todo, ele contribui para a construção da coordenação entre os agentes do setor. Mais do que um símbolo, o selo traduz a importância da transparência, da rastreabilidade e da confiança mútua entre pesquisadores e agentes de mercado.

Ao garantir regularidade, qualidade e integridade dos dados compartilhados, os colaboradores fortalecem não apenas a credibilidade do Cepea, mas também a própria governança do setor, possibilitando análises mais precisas, decisões mais seguras e maior valorização da cadeia produtiva como um todo.

Um Indicador de preços é uma construção social: um ativo coletivo do setor. O Cepea tem a responsabilidade e a competência técnica de projetar metodologia, coletar, validar e publicar resultados; os colaboradores (laticínios e cooperativas) precisam participar eticamente, enviando informações corretas, completas e rastreáveis; e os parceiros financiadores devem sustentar financeiramente a execução, a inovação e o atendimento às demandas do setor.

Quando essa corresponsabilidade se materializa, o Indicador cumpre seu papel: refletir o preço médio efetivo negociado no mercado, captando o ambiente competitivo. O Selo Cepea nasce exatamente para organizar incentivos, reconhecer bons comportamentos e blindar a qualidade informacional de um ativo que pertence, em última instância, a todo o setor.

Fonte: Artigo escrito por Natália Grigol, pesquisadora da Equipe Leite do Cepea.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso

Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

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Foto: Juliana Sussai

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.

Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel

E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.

Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.

Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.

Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.

Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.

Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.

Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.

Fonte: Assessoria AgroTravel
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Meio ambiente e cooperativismo

Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.

As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.

Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.

A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.

O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.

Fonte: Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
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