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Suínos / Peixes

Cautelosa, ABCS avalia ano de 2022 da carne suína e projeta 2023 melhor

Apesar dos altos custos de produção persistirem ao longo de 2022, impactado pela menor oferta de milho e farelo de soja e pela alta do dólar, a suinocultura brasileira resistiu e se manteve firme diante das adversidades. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, faz uma análise do setor ao longo de 2022, aponta os principais desafios e oportunidades, bem como se mostra otimista para 2023.

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Fotos: Shutterstock

Apesar dos altos custos de produção persistirem ao longo de 2022, impactado pela menor oferta de milho e farelo de soja e pela alta do dólar, a suinocultura brasileira resistiu e se manteve firme diante das adversidades, que os produtores já estão calejados a superar de tempos em tempos. A esperança em dias melhores é o ‘motor’ que impulsiona a cadeia produtiva do Brasil, que desde 2021 amarga margens negativas.

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, faz uma análise do setor ao longo de 2022, aponta os principais desafios e oportunidades, bem como se mostra otimista para 2023.

Diante de uma crise de oferta elevada sem precedentes no setor, a boa notícia, segundo ele, foi o aumento do consumo per capita de carne suína no Brasil, que deve fechar acima de 19kg. “A carne suína barata ficou muito competitiva não somente em relação à carne bovina, mas também relacionada ao frango. No mercado externo, apesar da redução das exportações para a China, outros mercados asiáticos, como Filipinas e Tailândia aumentaram substancialmente as compras do Brasil. Por outro lado, Canadá e México habilitaram plantas brasileiras para exportação de carne suína, fatos que devem determinar maior pulverização de nossos embarques nos próximos anos, diminuindo a dependência do gigante asiático e mantendo o mercado externo como importante válvula de escape para o crescimento de nossa produção”, avalia Lopes.

Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes: “Se a previsão de consumo interno se confirmar, foram consumidas mais de um quilo de carne suína por pessoa no ano passado em relação a 2021, enquanto a carne bovina teve redução e a carne de frango se manteve estável” – Foto: Divulgação/ABCS

Com relação ao preço pago ao produtor, o primeiro semestre de 2022 foi marcado por aumento significativo de oferta no mercado doméstico, em função da queda nos volumes exportados e produção ainda em crescimento, o que determinou baixos preços pagos ao produtor e margens negativas na atividade. “No segundo semestre as exportações subiram um pouco e o ritmo de crescimento da produção caiu, determinando, em algumas regiões, margens pequenas, mas positivas aos produtores”, afirma.

Atual cenário

Historicamente o último trimestre do ano apresenta aquecimento na oferta e melhora nos preços pagos ao produtor, no entanto, em 2022 este aumento foi menos marcante, em função de que havia muita carne estocada e os preços já vinham reagindo desde o segundo trimestre.

No mercado externo, segundo Lopes, desde setembro do ano passado os preços médios da carne suína exportada em dólar têm subido, fruto de uma retomada das compras por parte da China. “Esta tendência deve continuar na entrada de 2023. Podemos afirmar que estamos em um momento de certa estabilidade de margens com expectativa de que 2023 seja um ano melhor”, vislumbra.

O primeiro trimestre de 2022 foi muito ruim para os produtores com cotações do quilograma do suíno vivo abaixo de R$ 6 em todas as praças. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), a partir de abril os preços médios foram subindo lentamente, com recuos e avanços até agosto, quando Minas Gerais e São Paulo apresentaram preço médio de R$ 7,48 e R$ 7,31, respectivamente. “As demais praças acompanhadas seguiram mais ou menos a mesma tendência, porém em cotações mais baixas e, no caso dos três estados do Sul, com pico de preço em outubro”, pontua Lopes.

Esta diferença de patamar de preço entre o primeiro e segundo semestre está relacionada com a redução da disponibilidade interna da metade do ano em diante fruto do aumento das exportações neste período e redução do ritmo de crescimento da produção.

No ano de 2021, a média geral de preço ficou em patamar um pouco mais elevado, acima de R$ 6 em todas as praças por quase todos os meses do ano.

Produção de suínos

Conforme o presidente da ABCS, era esperada uma redução no ritmo de crescimento da produção de suínos em 2022, em vista do aumento de 20% ocorrido de 2019 para 2021, fator que determinou a crise iniciada ainda no primeiro semestre daquele ano. “Devemos fechar 2022 com uma produção ao redor de 5,2 milhões de toneladas, algo em torno de 6% de crescimento em relação a 2021”, estima Lopes.

Exportações em 2022

O primeiro semestre de 2022 iniciou com queda significativa dos embarques em relação ao mesmo período de 2021. Porém, o segundo semestre apresentou uma retomada das exportações, sendo que agosto houve recorde de volume de carne suína in natura embarcado em um mês, sendo comercializadas 106,3 mil toneladas. “Devemos fechar 2022 com volumes muito próximos de 2021, mas com receita um pouco abaixo”, prevê.

Para 2023, espera-se um crescimento das exportações ao redor de 4 a 5%.

Analisando o volume acumulado de carne suína in natura exportado de janeiro a novembro de 2022, a China e Hong Kong representam 50% dos embarques, mesmo com redução de 125 mil toneladas em relação ao mesmo período de 2021. Lopes chama a atenção que, no mesmo período, o crescimento das vendas para Filipinas – hoje o terceiro maior destino – foi de 181% (+44,8 mil toneladas) em relação a 2021. Outro país asiático que aumentou sua participação de forma significativa foi a Tailândia, com crescimento de 1.437% (+20 mil toneladas).

Apesar da redução para China e Hong Kong, com uma maior pulverização das vendas para outros destinos, a redução total no período foi de apenas 13,5 mil toneladas (-1,45%) em relação ao ano passado.

Tabela 1. Valor médio mensal do quilograma de carne suína in natura exportado pelo Brasil para a China de janeiro a outubro de 2022, em dólares e reais (pelo câmbio médio de cada mês). Elaborado por Iuri P. Machado, sobre dados da Secex e Cepea.

De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o mês de novembro, até o dia 11, já somava 42.866 mil toneladas exportadas, com média de 5.368 mil toneladas por dia útil, volume diário 45% superior ao de novembro de 2021. O valor da tonelada exportada dentro deste mês, em dólar, esteve no maior patamar do ano, com média de US$ 2.585/tonelada, contra US$ 2.256 em novembro de 2021 e US$ 2.474 em outubro de 2022.

Segundo a Secex, esta tendência de aumento do valor unitário da carne suína in natura exportada nos últimos meses de 2022 tem relação direta com o maior valor pago pela gigante asiática. Em outubro, o valor médio da carne suína exportada à China em dólar foi 21,2% maior que janeiro de 2022 e 15% maior em reais (Tabela 1), alta que pode ser resultante da redução de matrizes que iniciou no segundo semestre de 2021, em função das margens negativas que o suinocultor chinês enfrentou no ano passado.

Consumo per capita da carne suína no país

Há mais de uma década o consumo per capita de carne suína tem aumentado ano a ano, porém, nos últimos três anos o consumo dos brasileiros subiu de forma extraordinária.

Em 2019, antes da pandemia, cada brasileiro consumia 16,5 kg ao ano e em 2022 a expectativa é fechar o ano com algo ao redor de 19,3kg, um crescimento de 17% em apenas três anos. “Se essa previsão se confirmar, foram consumidas mais de um quilo de carne suína por pessoa no ano passado em relação a 2021, enquanto a carne bovina teve redução e a carne de frango se manteve estável”, assinala Lopes, acrescentando: “O mercado interno absorveu o excedente e os elos da cadeia – frigoríficos, atacado e varejo – se mostraram preparados para este crescimento, que é também fruto do longo trabalho desenvolvido pela ABCS nesta última década”.

Para 2023 é esperada uma maior estabilidade ou um pequeno aumento do consumo per capita, a depender de como se comportará o mercado de exportação e o crescimento da produção.

Alimentação animal

Cerca de 80% dos custos de produção nas granjas é com a alimentação dos suínos, que, apesar da estabilidade nas cotações dos principais insumos – milho e o farelo de soja – se mantiveram em patamares elevados ao longo de todo o ano passado, mesmo com a safra recorde de milho de 113,2 milhões de toneladas. “O clima tem ajudado no plantio da soja e da primeira safra de milho sem alterações significativas nas projeções de produção destes grãos para o ciclo 2022/23, embora o plantio da segunda safra de milho ainda esteja longe”, menciona Lopes.

Outros itens de custo, como vitaminas, aminoácidos e medicamentos, muitos deles atrelados ao dólar, também experimentaram inflação maior, assim como o diesel e a energia elétrica. “Todos estes fatores agravaram ainda mais a crise do setor que, desde 2021, amarga margens negativas”, salienta o presidente da ABCS.

Abate no maior patamar da série

O abate de suínos registrou crescimento de 5% no terceiro trimestre, atingindo o volume de 14,45 milhões de cabeças abatidas. Foram 693 mil cabeças de suínos a mais em relação ao mesmo período de 2021, com a região Sul responsável por 66,6% do abate nacional, conforme demonstra o último relatório da Estatística da Produção Pecuária, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esse resultado é considerado o melhor já obtido para os meses de julho, agosto e setembro, atingindo o patamar trimestral mais elevado desde o início da série histórica, em 1997. Em comparação ao segundo trimestre de 2022, a alta foi de 2,4%.

No mesmo período, foram embarcadas 288,55 mil toneladas, o que contribuiu para o escoamento da produção brasileira.

O peso acumulado das carcaças suínas alcançou 1,33 milhão de toneladas no terceiro trimestre de 2022, alta de 4,3% em relação ao mesmo período de 2021 e de 1,8% na comparação com o segundo trimestre de 2022.

Projeções para 2023

Em relação as perspectivas para o ano que se inicia, Lopes diz que o atual cenário da suinocultura é de muitas incertezas, tanto para a economia brasileira, quanto para a economia mundial. Entretanto, há expectativas positivas a médio prazo, entre as quais cita a possibilidade de uma supersafra de grãos no Brasil, estimada em 312,2 milhões de toneladas, mas que ainda depende do clima até o segundo trimestre deste ano para se confirmar as previsões.

Por outro lado, a situação complicada da Ucrânia, país grande exportador de grãos, pode aumentar a demanda externa pelo milho e pela soja nacional, pressionando os custos da produção de suínos.

Desde agosto de 2022, as exportações de carne suína vêm dando sinais de aumento da demanda externa, o que deve ajudar a enxugar o mercado pelo menos no primeiro semestre de 2023. O que, aliado a um esperado menor crescimento da produção, deve determinar um melhor ajuste entre a oferta e a demanda doméstica, resultando em margens positivas para os produtores, avalia o presidente da ABCS.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Anuário do Agronegócio Brasileiro.

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Cadeia do peixe mira profissionalização e negócios

Profissionais capacitados e atualizados são essenciais para impulsionar a inovação, aumentar a eficiência produtiva e garantir a competitividade no mercado global.

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Foto: Jaelson Lucas

A piscicultura e a pesca no Brasil têm se mostrado setores de vital importância econômica e alimentar, com um potencial de crescimento extraordinário. No entanto, para que esse potencial seja plenamente alcançado, é crucial enfatizar a constante profissionalização dessas áreas como uma ferramenta fundamental para impulsionar seu desenvolvimento.

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um aumento significativo no número de congressos e feiras de negócios dedicados à piscicultura e pesca. Recentemente, o evento Inovameat em Toledo e os próximos eventos organizados pelo IFC Brasil em Foz do Iguaçu, Itajaí e Belém até o fim deste ano destacam-se como importantes plataformas para a troca de conhecimento, experiências e tecnologias inovadoras.

Esses eventos não são apenas oportunidades para networking, mas também são catalisadores para a profissionalização do setor. Eles oferecem espaços para debates sobre as melhores práticas, novas técnicas de produção, avanços tecnológicos e questões regulatórias, fundamentais para elevar os padrões de qualidade, segurança e sustentabilidade da piscicultura brasileira.

É inegável que a profissionalização é um dos principais impulsionadores do crescimento desses setores. Profissionais capacitados e atualizados são essenciais para impulsionar a inovação, aumentar a eficiência produtiva e garantir a competitividade no mercado global. Além disso, a profissionalização contribui para a valorização do trabalho no campo, incentivando a adoção de práticas sustentáveis e responsáveis.

Um dos aspectos mais promissores é que a produção de peixes no Brasil vem crescendo a uma taxa superior à média das outras proteínas animais. Esse crescimento é resultado não apenas do potencial natural do país, mas também do esforço contínuo de profissionalização e modernização do setor.

É fundamental que os governos, instituições acadêmicas, empresas e profissionais do setor continuem investindo na profissionalização da piscicultura e da pesca. Isso inclui o desenvolvimento de programas educacionais, capacitação técnica, acesso a tecnologias inovadoras e apoio à pesquisa e desenvolvimento.

Ao destacar a importância da profissionalização, reconhecemos que ela não é apenas uma necessidade, mas sim uma oportunidade para transformar a piscicultura e pesca brasileira em um setor ainda mais próspero, sustentável e competitivo no cenário internacional.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Giuliano De Luca, jornalista e editor-chefe do Jornal O Presente Rural.
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Suínos / Peixes

Primeiro trimestre registra crescimento expressivo nas exportações brasileiras de peixe de cultivo

Foram US$ 8,73 milhões movimentados no setor entre janeiro e março, maior valor registrado para o período desde 2020.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Consideráveis aumentos de 48% em valor e de 20% em peso estão entre os principais resultados das exportações brasileiras da piscicultura nos três primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2023. Foram US$ 8,73 milhões movimentados no setor entre janeiro e março, maior valor registrado para o período desde 2020, quando a Embrapa começou a acompanhar sistematicamente esse mercado. Detalhando por mês, foram US$ 2,58 milhões em janeiro, US$ 2,61 milhões em fevereiro e US$ 3,54 milhões em março.

Foto: Cláudio Neves

Ainda representando percentual pequeno com relação a toda a produção nacional, as exportações brasileiras da piscicultura têm aumentado de maneira consistente nos últimos anos. De acordo com Manoel Pedroza, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura na área de economia aquícola, o aumento da produção e da profissionalização da cadeia da piscicultura são alguns dos fatores que explicam o crescimento das exportações. “Apesar do mercado nacional absorver a grande maioria da produção, as empresas do setor têm buscado diversificar os canais de venda por meio das exportações”, expõe.

Entre as categorias de produtos, a mais exportada no primeiro trimestre de 2024 foi a de filés frescos ou refrigerados, que respondeu por 65% de todo o valor movimentado: U$ 5,65 milhões. Na sequência, com 23% do valor movimentado no período, aparece a categoria de peixes inteiros congelados. Esses e outros dados estão disponíveis de maneira gratuita no Informativo de Comércio Exterior da Piscicultura – Trimestre 01/2024. O boletim é editado pela Embrapa Pesca e Aquicultura e conta com a parceria da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).

Série histórica

A edição referente ao primeiro trimestre de 2024 é a 17ª ininterrupta. O trabalho da Embrapa de acompanhamento das exportações brasileiras da piscicultura começou em 2020; portanto, está entrando no quinto ano seguido. O que já permite construir uma série histórica e apontar algumas características desse setor. Manoel explica que a consolidação da tilápia como carro-chefe é a principal característica verificada ao longo desse período. “A importância do mercado norte-americano como principal destino das vendas e o crescimento dos embarques de filés frescos de tilápia são outros pontos de destaque”, ressalta.

Entre janeiro e março deste ano, 95% de todo o peixe exportado pelo Brasil foi tilápia. A espécie movimentou U$ 8,31 milhões. Na sequência, ambos com 2% de participação, aparecem bagres e curimatás.

E, também conforme dito pelo pesquisador, os Estados Unidos, novamente, foram o principal destino das exportações brasileiras da piscicultura no primeiro trimestre de 2024. Com 89% de participação, os valores movimentados chegaram a U$ 7,77 milhões. A seguir, cada país com 2%, estão China, Japão, Colômbia e Canadá. Diferença significativa entre o primeiro e os demais destinos.

Tilápia

Fazendo o recorte para a principal espécie exportada (que também é a mais cultivada no Brasil), dos U$ 8,31 milhões movimentados pela tilápia, U$ 5,64 milhões (ou 68%) foram na categoria de filés frescos ou refrigerados. Na sequência, com 23% da movimentação financeira (U$ 1,87 milhão), aparece a categoria de tilápia inteira congelada.

Com relação ao preço, quatro das cinco categorias tiveram aumento no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2023. A categoria que conseguiu maior preço foi a de filé fresco ou refrigerado, com U$ 7,57 por kg, registrando aumento de 17% com relação ao preço do primeiro trimestre do ano passado, que foi de U$ 6,45 por kg.

Paraná (com 81% dos valores), São Paulo (responsável por 12%) e Bahia (com 4% do total movimentado) foram os três estados que mais exportaram tilápia no primeiro trimestre de 2024. Nos três, a categoria de filés frescos ou refrigerados foi a líder.

E para os próximos trimestres, alguma mudança relevante pode acontecer? Quem responde é o pesquisador Manoel: “as exportações de outros peixes de cultivo têm crescido, em particular do tambaqui. Organizações e empresas da cadeia do tambaqui têm realizado ações para abertura de mercados no exterior (ex: Estados Unidos) e é possível que isso resulte num aumento das exportações nos próximos meses de 2024”.

Fonte: Assessoria Embrapa Pesca e Aquicultura
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Suínos / Peixes

Propriedade no Paraná é reconhecida modelo em sustentabilidade

O que diferencia o trabalho da família Zanatta é sua abordagem holística, que abrange desde a conservação de nascentes de água até a adoção de energia solar na piscicultura, visando tornar sua propriedade completamente autossustentável.

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Foto: Divulgação

Quando em 2016 decidiram ingressar na piscicultura, o casal de produtores Jairo e Sandra Zanatta assumiram o compromisso de preservar a área verde, conservar os recursos naturais e adotar boas práticas sustentáveis para garantir a longo prazo o equilíbrio do ecossistema e a sustentabilidade da sua propriedade, localizada na linha Marrecos, distrito de Margarida, no interior de Marechal Cândido Rondon (PR).

Casal de piscicultores Sandra e Jairo Zanatta produzem tilápia há oito anos e recentemente recebeu o 1º lugar do Prêmio Produtor Rural Sustentável: reconhecimento classificou a propriedade para a etapa nacional da premiação – Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

Com uma área de 12,6 alqueires, a fazenda possui 12 tanques escavados destinados à criação de tilápias, com possibilidade para alojar até 500 mil peixes por ciclo produtivo, que varia de 10 a 11 meses. “São 70 mil metros quadrados de lâmina d’água”, conta o piscicultor. “Dependendo da época que alojamos os peixes, atingimos uma produção de 1,2 a 1,3 lotes por ano”, complementa.

A produção anual alcança entre 400 a 450 toneladas, com uma média de peso de 950 gramas por peixe. De acordo com os produtores, há espaço para ampliar o negócio em mais 30 mil metros quadrados de lâmina d’água, o que possibilitaria chegar até 100 mil metros quadrados em seu sistema produtivo.

Recentemente, Zanatta foi reconhecido entre mais de 300 produtores com o 1º lugar do Prêmio Produtor Rural Sustentável, iniciativa promovida pelo Sicoob Central Unicoob no Paraná, destacando sua propriedade como autossustentável. A premiação o classificou junto com outras 11 propriedades na etapa nacional, sendo ele o único representante do Paraná. “Independente de ganhar ou ficar entre os primeiros, figurar entre as propriedades mais sustentáveis do Brasil é muito gratificante, além de ser uma demonstração do reconhecimento do trabalho que realizamos para preservar e conservar as nascentes e a área verde, do cuidado com o manejo da atividade e o uso da geração de energia limpa”, salienta, contando que uma equipe da cooperativa já esteve na propriedade para validar as informações repassadas e a data prevista para divulgação do resultado da etapa nacional é em meados de maio. “Nossa expectativa é figurar entre os seis melhores do Brasil”, ressalta.

Compromisso inabalável com a sustentabilidade

O que diferencia o trabalho da família Zanatta é sua abordagem holística, que abrange desde a conservação de nascentes de água até a adoção de energia solar na piscicultura, visando tornar sua propriedade completamente autossustentável.

Propriedade possui duas usinas de minigeração de energia renovável através de placas fotovoltaicas que atende toda a propriedade, incluindo os aeradores, os alimentadores automáticos e o bombeamento de água para os tanques escavados

Sua visão vai além da mera produção, Jairo entende que cuidar do meio ambiente é uma responsabilidade compartilhada e que, ao adotar práticas sustentáveis, não apenas preserva os recursos naturais, mas também garante a viabilidade de seu negócio a longo prazo. “Ao iniciarmos na piscicultura, priorizei a preservação das nascentes. Hoje são quatro minas de água preservadas. Também priorizamos a mata no entorno da propriedade, inclusive com plantio de novas árvores. Também instalamos duas usinas para minigeração de energia renovável através de placas fotovoltaicas e para garantir a qualidade da água nos tanques escavados usamos probióticos uma vez por semana. Além disso, a propriedade foi totalmente automatizada, incluindo a alimentação dos peixes, realizada por alimentadores automáticos em cada açude, integrados ao sistema de geração de energia limpa. E os peixes mortos são destinados à compostagem”, explica.

Na usina principal, instalada em 2021, com 280 placas, é produzida energia para toda a propriedade, incluindo os aeradores e os alimentadores automáticos. Na segunda usina, 28 placas geram energia dedicada exclusivamente ao bombeamento de água para os tanques escavados. O investimento total foi de cerca de R$ 450 mil nos dois sistemas. “Desde que temos as usinas conseguimos uma redução de custos com energia elétrica de aproximadamente 95%. Embora o investimento ainda não esteja totalmente pago, já se mostra altamente vantajoso”, exalta Jairo.

Aprimorar operações

Jairo e Sandra destacam que, embora a propriedade seja considerada autossustentável, a busca por melhores práticas é constante. “Estamos empenhados em aprimorar nossas operações diariamente, buscando tecnologia e inovação para tornar nossa produção ainda mais sustentável”, enaltecem, acrescentando: “É muito gratificante ver que, como resultado desse esforço contínuo, fomos reconhecidos pela cooperativa Sicoob, que nos projetou para buscar o título de propriedade autossustentável a nível nacional”.

Qualidade da água

Para garantir a qualidade da água para o cultivo e o bem-estar dos peixes, Jairo conta que a água utilizada tem origem em uma mina do Rio Marrecos. “Além disso, realizamos medidas sanitárias rigorosas, como manejo adequado e alimentação de qualidade. A qualidade da água é priorizada, sendo tratada semanalmente com probióticos para mitigar o estresse hídrico causado pelo calor excessivo. Contamos também com o suporte da equipe veterinária e técnica da C.Vale, cooperativa à qual somos integrados”, mencionam os produtores.

Propriedade fica localizada na Linha Marrecos, Distrito de Margarida, no interior de Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná

Desafios

O casal de piscicultores afirma que o desafio atual que persiste na criação de tilápia é relacionado ao estresse hídrico devido às altas temperaturas, que, em alguns dias chegaram a superar 40ºC. “Isso nos obriga a reduzir a quantidade de alimentação, resultando em um ganho de peso diário menor, o que acaba comprometendo a conversão alimentar. Essa situação afeta não apenas nossa propriedade, mas toda a piscicultura. Apesar dos desafios, realizamos um controle rigoroso e manejo cuidadoso para buscar constantemente melhorias”, enfatizam.

Outra forma de garantir o bem-estar e o conforto térmico para controlar a temperatura da água devido ao calor excessivo é por meio do bombeamento e renovação de água, além da aeração. “Essas práticas de manejo são essenciais para proporcionar conforto aos peixes, controlar a mortalidade e garantir a sanidade do ambiente”, afirma Jairo.

Prêmio Produtor Rural Sustentável

O Prêmio Produtor Rural Sustentável é uma iniciativa promovida pelo Sicoob Central Unicoob, com o propósito de reconhecer e premiar os produtores rurais cooperados que se destacam por suas práticas sustentáveis no setor agropecuário brasileiro. Nesta edição foram oito produtores do Paraná reconhecidos por suas boas práticas de sustentabilidade. Somente a família Zanatta se classificou para a etapa nacional.

O prêmio valoriza as ações implementadas por produtores rurais financiados pelo Sicoob, que adotam práticas de produção sustentável alinhadas com os princípios do ESG (ambiental, social e governança). Este reconhecimento destaca tanto as iniciativas ambientais quanto as sociais e de governança desses produtores, contribuindo para o avanço da sustentabilidade no campo.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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CBNA – Cong. Tec.

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