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Carne vegetal: modismo ou tendência portadora de futuro?

Apesar do crescimento recente do mercado, a carne à base de plantas representa, atualmente, apenas 1% do mercado de carnes no varejo dos EUA. Tudo indica que o mercado deverá crescer se o produto agradar em cheio os consumidores, desligando-se do fundamento inicial da menor emissão de gases do efeito estufa (GEE).

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É amplamente conhecida a ocorrência na sociedade de grupos denominados vegetarianos ou veganos. De forma simplificada, pode-se dizer que os primeiros são os que excluem qualquer tipo de carne (incluindo peixes e frutos do mar) de sua alimentação; os veganos vão além, evitando qualquer produto animal, como manteiga, leite, ovos ou mel, além de não usar roupas e acessórios de couro, pele, lã, seda e cosméticos testados em animais. Em 2018, a Sociedade Vegetariana Brasileira realizou um levantamento, com o apoio do IBOPE, constatando que 14% da população brasileira se declara vegetariana o que, provavelmente, inclui veganos.

Mas quem desenvolve ou comercializa a carne vegetal, conhecida nos Estados Unidos pela sigla PBM (plant based meat) não busca atingir apenas os adeptos do veganismo ou os vegetarianos. Os produtos PBM, que imitam o sabor e a textura da carne bovina, focam especialmente nos consumidores que gostam de carne, mas que acreditam que a diminuição de seu consumo pode ter impactos econômicos, ambientais e de bem-estar animal significativos e positivos, por reduzirem a produção pecuária.

Como é feita a carne vegetal?

A carne é composta, fundamentalmente, de tecido muscular dos animais. As plantas não têm músculos. Então, como as plantas se tornam um pedaço de carne que parece, cheira, tem gosto e cozinha como carne?

Para responder, precisamos aprofundar a análise. A carne é composta de proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e água. Embora as plantas não tenham músculos, elas também contêm proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e água. Então, o processo se baseia na semelhança bioquímica entre plantas e animais para obter um produto vegetal que imita a carne.

Para cada proteína, lipídio ou composto funcional encontrado na carne existe um análogo ou substituto no reino vegetal. Se um substituto não existir na natureza, podemos tentar obtê-lo por meio de tratamento mecânico, químico ou biológico de um ingrediente vegetal. Ou introduzir em vegetais um gene responsável pelo composto ausente, que esteja presente em animais, utilizando técnicas de transgenia.

O arranjo espacial das proteínas no tecido muscular cria a textura típica da carne. Quando moída, a carne tem uma textura mais simples e é mais fácil de replicar do que pedaços maiores como a picanha, o filé, o peito de frango ou costeletas de porco, feitas de tecido muscular intacto. Facilita a produção de hambúrgueres, mas há desafios técnicos a serem superados para imitar a textura dos cortes inteiros de carne, utilizando ingredientes vegetais.

O processo genérico para produzir carne à base de plantas envolve três etapas principais. A primeira é a seleção e o cultivo das plantas que produzirão as matérias-primas. A seguir ocorre o seu processamento para separar as proteínas, gorduras, fibras e outros ingredientes necessários à produção da PBM. Finalmente ocorre a mistura dos ingredientes, nas proporções adequadas para criar a textura, o aspecto e o sabor tão próximos quanto possíveis da carne.

Qual o foco mercadológico da carne vegetal?

O conceito de carne à base de plantas vem sendo trabalhado há tempos. No entanto, os primeiros produtos à base de plantas, que imitavam carne, tinham em mente atingir consumidores vegetarianos, e não tentaram replicar a carne convencional.

O impulso recente tem como pano de fundo temas como sustentabilidade, segurança alimentar e os impactos ambientais e de saúde pública que seriam provenientes da pecuária industrial. No caso, buscam atrair os consumidores em geral, em vez de nichos de mercado. Isso levou a uma série de inovações durante a última década. Atualmente, as opções de carne à base de vegetais atraem o segmento de consumidores em rápido crescimento, que vem sendo denominados pelos estudiosos de “flexitarianos”, em livre tradução do termo inglês “flexitarian”.

Os consumidores “flexitarianos” buscam opções de alimentos à base de plantas que criem a mesma experiência sensorial da carne de origem animal. Digamos que esses consumidores reduzem o consumo de carne, mas não desistem completamente da experiência sensorial dos produtos de origem animal. Essa decisão de comer mais vegetais geralmente se deve a preocupações com a saúde, o meio ambiente ou a proteção dos animais. Também pode ser, simplesmente, uma forma de obter novidade e variedade com refeições saborosas e acessíveis. O aumento do flexitarianismo está na base do crescimento do mercado de alimentos à base de plantas.

Qual o futuro previsível da carne vegetal?

Apesar do crescimento recente do mercado, a carne à base de plantas representa, atualmente, apenas 1% do mercado de carnes no varejo dos EUA. Tudo indica que o mercado deverá crescer se o produto agradar em cheio os consumidores, desligando-se do fundamento inicial da menor emissão de gases do efeito estufa (GEE).

Chamamos a atenção para esse aspecto, porque o argumento pode ser falacioso pois, segundo um artigo publicado pelo professor Jayson Lusk (Purdue University), para cada 10% de redução no preço de PBM, estima-se que o decremento nas emissões equivale a 0,34% das emissões dos EUA devidas à produção de carne bovina e 1,14% se incluída a redução das emissões devidas às mudanças no uso da terra.

Assim, é improvável que mesmo reduções substanciais nos preços das alternativas de PBM tenham impactos ponderáveis sobre as emissões da pecuária nos EUA.

Considerando que os sistemas de produção pecuária no Brasil são menos intensivos em emissões de GEE que os americanos, o mesmo poderia ser afirmado para o Brasil. Apoiando esse fato está um sistema de produção bovino desenvolvido pela Embrapa, denominado Carne Carbono Neutro, que garante que os animais que deram origem ao produto tiveram as emissões de metano entérico compensadas durante o processo de produção, pelo crescimento de árvores no sistema.

Isto posto, desapareceria o argumento de menor emissão de GEE com a redução do consumo de carne. Assim, entendemos que o futuro do mercado será modulado por quatro fatores principais:

a) a adesão dos consumidores aos produtos BPM, em especial dos jovens recém ingressos no mercado, sem hábitos de consumo arraigados e dispostos a novas experiências, atribuíveis a um diversificado conjunto de razões que inclui desde modismo, sensações organolépticas favoráveis e crença em maior sustentabilidade;

b) o avanço da tecnologia de produção, que será tanto mais bem-sucedida quanto mais a textura e o sabor de um produto BPM se aproximar da carne;

c) o custo dos produtos BPM comparativamente aos produtos cárneos;

d) a agressividade dos lobbies comerciais e o sucesso do marketing dos produtos BPM.

Fonte: Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS).

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso

Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

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Foto: Juliana Sussai

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.

Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel

E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.

Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.

Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.

Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.

Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.

Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.

Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.

Fonte: Assessoria AgroTravel
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Meio ambiente e cooperativismo

Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.

As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.

Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.

A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.

O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.

Fonte: Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
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