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Câmara da Cadeia Produtiva de Carne Bovina debate ferramentas tecnológicas aplicadas na bovinocultura de corte
Durante o encontro, também foram expostos dados gerais sobre o setor, que serão publicados na Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2023.

A apresentação dos aplicativos BovCria e BovSan, resultados do projeto de Pesquisa de Inovação Tecnológica “Desenvolvimento de ferramentas tecnológicas aplicadas na área da bovinocultura de corte”, foi um dos assuntos debatidos na terça-feira (27) durante reunião híbrida da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Carne Bovina, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul.
O coordenador da Câmara, Gilson Barreto Hoffmann, conduziu os trabalhos. “O projeto foi executado por pesquisadores e uma bolsista de Inovação Tecnológica do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Seapi. Os aplicativos foram desenvolvidos para o sistema Android e estão disponíveis gratuitamente na Google Play Store, nas versões em português e inglês”, explicou a médica-veterinária e pesquisadora Adriana Tarouco.
Ela contou que o BovCria foi pensado para estimular produtores rurais a utilizarem ferramentas ágeis e de fácil compreensão como auxiliares na tomada de decisão frente aos desafios da bovinocultura. Segundo Adriana, em seu conteúdo constam funcionalidades como cálculos facilitados dos principais índices de eficiência reprodutiva, tabelas com as metas gerais e especificações de produção e mercado preconizadas, dicas de manejo, entre outras informações relevantes para um melhor desempenho dos rebanhos de cria.
Já o BovSan, conforme a pesquisadora, foi desenvolvido considerando que o sucesso dos sistemas de produção na bovinocultura é altamente dependente do bom desempenho reprodutivo das matrizes e dos reprodutores. “Portanto, a ocorrência de doenças reprodutivas, que afetam a fertilidade, exerce forte impacto na eficiência e na produtividade dos rebanhos de cria”, esclareceu.
Adriana destacou ainda que cerca de 50% das falhas da reprodução podem ser consideradas de origem infecciosa e que 90% dos diagnósticos realizados envolvem bactérias, vírus, protozoários e fungos que resultam em mortalidade embrionária ou fetal, causando sérios prejuízos econômicos à atividade. “Dada a importância dessas doenças no desempenho animal, desenvolvemos um aplicativo móvel disponibilizando informações científicas, em uma linguagem bem acessível, sobre as principais doenças que afetam a saúde reprodutiva dos bovinos para técnicos e estudantes das Ciências Agrárias, assim como criadores, abordando profilaxia, diagnóstico e tratamento de uma forma rápida e objetiva”, pontuou Adriana. “O aplicativo pode também auxiliar na adoção de um programa sanitário adequado, visando melhorar os índices de eficiência reprodutiva dos rebanhos”, concluiu.
Outros aplicativos
Outros aplicativos existentes no mercado também foram abordados: Negócio Fechado, pelo CEO da plataforma, Leandro de Lemos; e AbigeApp, pelo diretor executivo da Be220, empresa criadora do aplicativo, Diego Vilela.
Lemos explicou que Negócio Fechado é uma agroplataforma digital, um ambiente para compra e venda de gado, disponível em aplicativo e na web para os sistemas Android e Apple. “Foi uma demanda do setor, vinda do Instituto Desenvolve Pecuária”, afirmou.
Segundo ele, entre as vantagens destacam-se o alto nível de sigilo, a confidencialidade e a segurança. “Ele fornece ao pecuarista cadastro protegido, anúncios direcionados, buscadores de melhor preço, conversas privativas, pagamento instantâneo, entre outras benesses”, esclareceu Lemos. “É uma rede com mais de 11 milhões de contatos no agro brasileiro e está se transformando em um mercado digital do setor para fazer transações com diversos produtos e serviços”, revelou.
“O objetivo é facilitar as transações no agronegócio, permitindo a comercialização de animais, sêmen e produtos da cadeia produtiva com agilidade e segurança”, declarou Lemos.
De acordo com ele, a ferramenta possibilita, por exemplo, a comercialização de lotes de gado nas mais variadas regiões do país.
Por sua vez, Diego Vilela apresentou o funcionamento do AbigeApp, aplicativo com inteligência artificial para identificação de marcas e sinais de bovinos e equinos pelos órgãos de Segurança e Fiscalização do Rio Grande do Sul, que existe desde 2021. Conforme Vilela, o AbigeApp é utilizado nos municípios de Dom Pedrito, Rosário do Sul, São Gabriel, Santiago, Uruguaiana, Santa Vitória do Palmar, Canguçu, Unistalda, Candiota e pelo Instituto Desenvolve Pecuária. “Já são mais de 14 mil registros (marcas e sinais) de animais, 15 mil pecuaristas cadastrados, 60 mil pesquisas feitas pelos órgãos de Segurança e Fiscalização do Rio Grande do Sul no app e 130 usuários destes órgãos”, disse com satisfação, acrescentando: “Com recursos de inteligência artificial, o AbigeApp atua no registro da propriedade de animais e auxilia no combate ao crime de abigeato”.
Vilela explicou que a Be220, uma software house com sede em Porto Alegre, é responsável pelo desenvolvimento do aplicativo e pela comercialização da licença de uso das tecnologias.
Agregar-RS Carnes
O Programa Estadual de Desenvolvimento, Coordenação e Qualidade do Sistema Agroindustrial da Carne de Gado Vacum, Ovino e Bufalino (Agregar–RS Carnes) foi apresentado por seu secretário executivo, Paulo Spannemberg, fiscal estadual agropecuário da Seapi. De acordo com ele, o objetivo é ampliar o abate realizado sob inspeção sanitária oficial e aumentar o desenvolvimento e a competitividade da cadeia produtiva da carne.
Spannemberg disse que o programa conta com 110 empresas habilitadas, sendo 61 com inspeção estadual (DIPOA), 38 com Inspeção Municipal (SIM) e 11 com inspeção federal (SIF). “O Agregar concede crédito presumido de 3,6% sobre o valor da Nota Fiscal de entrada de animais para abate e mais 4% de crédito de ICMS sobre o valor da Nota Fiscal de venda da carne. Com esses benefícios, a tributação da carne bovina, ovina ou bubalina no Rio Grande do Sul fica em torno de 2% de ICMS”, pontuou.
Spannemberg divulgou ainda um relatório sobre o Agregar. Segundo o programa, entre janeiro e maio de 2023, foram abatidos 649.757 bovinos e 57.140 ovinos. Os 61 estabelecimentos habilitados sob inspeção estadual abateram 48% dos bovinos e 68% dos ovinos, recebendo 50% dos créditos concedidos e sendo responsável por 33% dos postos de trabalho.
Os 38 estabelecimentos habilitados sob inspeção municipal foram responsáveis por 18% dos abates bovinos e 32 % dos abates de ovinos. Receberam 9% dos créditos concedidos e foram responsáveis por 6% dos postos de trabalho. Os 11 frigoríficos com inspeção federal abateram 36% dos bovinos, ocupam 62% dos postos de trabalho e receberam 33% dos créditos concedidos.
Durante o encontro, também foram expostos dados gerais sobre o setor de bovinocultura de corte. que serão publicados na Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2023: rebanho declarado; quantidade de animais abatidos (total e por idade); destino das exportações; e ranking dos municípios com maiores rebanhos. A revista será lançada durante a 46ª Expointer, que ocorre de 26 de agosto a 03 de setembro no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio (RS).

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



