Avicultura
Brasil precisa virar o jogo para manter liderança no agro
Ex-ministro Antônio Cabrera alertou que, apesar do enorme potencial produtivo e da relevância global em segurança alimentar, o Brasil perde competitividade por falhas internas.

O Brasil ocupa uma posição estratégica no abastecimento mundial de alimentos, com destaque para o setor avícola, mas enfrenta obstáculos internos e pressões externas que podem comprometer seu protagonismo. A análise foi feita pelo médico-veterinário e ex-ministro da Agricultura, Antônio Cabrera Mano Filho, durante o Avicultor Mais 2025 – Frangos, Ovos & Peixes, promovido pela Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig), entre os dias 25 e 26 de junho, no Expominas, em Belo Horizonte (MG). “O Brasil é uma potência em segurança alimentar, mas ainda não entendeu plenamente o jogo global. Precisamos mudar a forma de comunicar e corrigir gargalos internos que não são do país em si, mas de seus sistemas institucionais e governamentais”, enfatizou Cabrera.
Na avaliação do palestrante, é preciso substituir o discurso de o Brasil ser uma potência mundial do agronegócio pela ideia de segurança alimentar, a fim de aproximar a sociedade da atividade produtiva. Ele lembra que países altamente dependentes de importações, como a Arábia Saudita, que compra 92% de seus alimentos do exterior, têm no Brasil um seus principais parceiros comerciais. “O Oriente Médio é abastecido em grande parte pela produção brasileira, mas isso precisa ser mais bem valorizado e compreendido, tanto internamente quanto lá fora. Não vendemos apenas commodities, vendemos comida, vendemos estabilidade alimentar”, ressaltou.
Comunicação frágil
Embora seja o maior fornecedor mundial de carne, produzida de forma sustentável, o Brasil não consegue promover sua imagem de forma eficiente. “É impressionante como produtos de outros países chegam aos mercados internacionais com forte identidade, enquanto a carne brasileira não é devidamente identificada e valorizada. Esse jogo precisa ser mudado”, enfatizou.
Segundo Cabrera, a ausência de uma estratégia clara de comunicação faz com que narrativas contrárias ganhem espaço, reforçando mitos sobre desmatamento e ameaçando a competitividade nacional.
Infraestrutura: o atraso que custa caro

Médico-veterinário e ex-ministro da Agricultura, Antônio Cabrera Mano Filho: “Temos tudo para consolidar nossa liderança: clima, água, sol, tecnologia e gente capaz. O que precisamos é reduzir o custo de produção, melhorar a qualidade e superar as barreiras institucionais e governamentais” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
Um dos pontos mais enfáticos da palestra foi o déficit logístico do Brasil. Ao comparar a malha ferroviária nacional com grandes potências, Cabrera destacou a distância entre o potencial agrícola e a capacidade de escoamento da produção.
Enquanto os Estados Unidos contam com 293 mil quilômetros de ferrovias, a China com 141 mil e a Índia com 108 mil, o Brasil soma apenas 30 mil quilômetros. O contraste é ainda mais marcante no Mato Grosso, maior produtor agrícola do país. “O estado, que sozinho colhe mais soja que a Argentina inteira, tem apenas 200 km de ferrovias. É inacreditável”, frisou.
O projeto Ferrogrão, que pretende transferir 20 milhões de toneladas de grãos do transporte rodoviário para o ferroviário na BR-163, é visto como exemplo de como o país perde oportunidades. “Essa ferrovia reduziria em 77% as emissões de CO₂. É um projeto ambientalmente correto, mas enfrenta resistência de ONGs e até de entidades estrangeiras”, criticou.
Hidrovias esquecidas
Outro gargalo logístico apontado por Cabrera é o uso limitado do potencial hidroviário. Enquanto o Rio Mississipi é vital para o transporte de cargas nos EUA, o Brasil possui três rios de porte semelhante – Paraguai, Teles Pires/Tapajós e Madeira – praticamente subutilizados. “O país insiste em depender do transporte rodoviário, mais caro e poluente, quando tem um dos maiores potenciais hidroviários do mundo”, enalteceu.
A sustentabilidade como diferencial
O ex-ministro também rebateu as críticas internacionais sobre desmatamento e sustentabilidade. Imagens de satélite, afirmou, mostram com clareza as Áreas de Preservação Permanente (APPs) preservadas no Brasil, em contraste com países como os Estados Unidos, onde regiões agrícolas, como de Nebraska, não mantêm áreas de proteção. “O Brasil é o maior exportador de sustentabilidade do planeta, mas falhamos em mostrar isso ao mundo”, lamentou, acrescentando: “A narrativa de que comprar produtos brasileiros destrói a Amazônia é uma mentira usada como protecionismo comercial”, salientou.
Em contrapartida, Cabrera destacou que países que se se apresentam como ambientalmente responsáveis, caso da Alemanha, por exemplo, destruiu florestas milenares (dos Irmãos Grimm) para instalar turbinas eólicas e reabriu a maior mina de carvão a céu aberto do mundo, removendo nove cidades para acessar combustíveis fósseis. “Isso é muita hipocrisia”, criticou.
Vantagem competitiva
Cabrera destacou que, no mundo, apenas três países conseguem atender simultaneamente a três critérios considerados essenciais para sustentar o desenvolvimento econômico: ter uma área superior a cinco milhões de km², uma economia acima de US$ 3,8 trilhões e uma população maior que 150 milhões de habitantes. Segundo ele, esses países são China, Estados Unidos e Brasil, posições que conferem a eles relevância estratégica no cenário global. “Entre esses, só o Brasil reúne abundância de água e sol, o que o coloca numa posição única em termos de oportunidades para a agricultura”, destacou.
Oportunidades para explorar
Apesar dos desafios enfrentados, o Brasil já se consolidou como referência mundial em diversos segmentos do agronegócio. O país é o maior exportador de carne de frango e o maior produtor e exportador de soja. Além disso, ocupa o segundo lugar entre os maiores exportadores de alimentos e na produção de carne de frango, é o terceiro maior produtor de milho e possui a terceira maior reserva de potássio do mundo.
No cenário global, o Brasil se destaca também pelo seu tamanho e economia: possui a sexta maior população e a oitava maior economia, reforçando sua relevância estratégica. Ao se somar a isso a liderança no recolhimento de embalagens no campo e uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, o país demonstra capacidade de conciliar produtividade, responsabilidade ambiental e potencial de crescimento sustentável. “Temos tudo para consolidar nossa liderança: clima, água, sol, tecnologia e gente capaz. O que precisamos é reduzir o custo de produção, melhorar a qualidade e superar as barreiras institucionais e governamentais”, evidenciou Cabrera.
A versão digital está disponível gratuitamente no site oficial de O Presente Rural. A edição impressa já circula com distribuição dirigida a leitores e parceiros em 13 estados brasileiros.

Avicultura
Sul vive ano de contrastes no frango entre Paraná e Santa Catarina
Paraná sustenta preços mais altos ao produtor e puxa as valorizações de 2025, enquanto Santa Catarina mantém estabilidade regional e vê cortes premium, como o filé de peito, seguirem liderando no atacado.

O setor avícola do Sul do Brasil registrou um ano de oscilações importantes tanto no preço do frango vivo quanto nos principais cortes no atacado. Dados da Epagri/Cepa e de levantamentos regionais mostram que Paraná e Santa Catarina seguiram trajetórias distintas ao longo de 2025, com disparada mais intensa no mercado paranaense a partir do segundo trimestre.
Paraná abre vantagem e mantém preços mais altos ao produtor

Entre abril e julho, o Paraná puxou as valorizações no frango vivo, alcançando pico de R$ 5,18/kg em maio, bem acima de Santa Catarina, que chegou a R$ 4,76/kg em junho. Enquanto o Paraná manteve preços mais aquecidos no segundo semestre, Santa Catarina apresentou movimento mais moderado e estável, com variações menores entre suas regiões produtoras.
No estado catarinense, o Meio Oeste liderou as cotações durante todo o ano, superando Litoral Sul e Oeste e alcançando R$ 5,13/kg em julho, antes de se estabilizar em torno de R$ 5,10/kg.
No atacado, filé de peito segue isolado no topo
Os preços da carne de frango no atacado catarinense confirma a diferença entre os cortes. O filé de peito congelado manteve-se como o produto de maior valor agregado, encerrando novembro (parcial) a R$ 17,74/kg, praticamente no mesmo patamar de outubro.
Outros cortes mostram comportamento mais suave:
Peito com osso congelado recuou do pico de abril (R$ 14,49/kg) para R$ 13,58/kg em novembro.
Coxa e sobrecoxa seguiu trajetória de leve queda, chegando a R$ 8,63/kg.
Frango inteiro congelado permaneceu estável, fechando novembro a R$ 12,90/kg.
Mercado firme, mas com comportamentos diferentes
O Paraná teve um ano mais pressionado por demanda e exportações, sustentando preços mais elevados ao produtor.
Santa Catarina manteve estabilidade regional, com diferenças marcantes entre Meio Oeste, Litoral Sul e Oeste.
No atacado, cortes premium, especialmente o filé, seguem resistentes, enquanto os cortes populares refletem maior equilíbrio entre oferta e demanda.
A avicultura catarinense, marcada pela forte integração, mostrou novamente um padrão de menor volatilidade, mesmo em um ano de custos variáveis e ritmo intenso nas indústrias.
Avicultura
Exportações de frango disparam e rentabilidade melhora no mercado interno
Retomada das vendas à China e a diversificação dos destinos impulsionaram os embarques brasileiros, enquanto a estabilidade dos preços e o controle dos custos fortaleceram a margem da atividade no País.

Segundo dados do Itaú BBA Agro, as exportações brasileiras de carne de frango registraram forte recuperação em outubro, enquanto o mercado interno apresentou estabilidade nos preços e avanço na rentabilidade da atividade. O desempenho foi impulsionado pela retomada das vendas à China e pela diversificação de destinos.
A China anunciou recentemente a retirada do embargo imposto desde maio, reabrindo um mercado estratégico para pés e patas de frango, cortes de baixo valor agregado, mas fundamentais para a renda das indústrias. A medida reforça o papel do país asiático como parceiro essencial para o segmento.
No campo externo, outubro consolidou o melhor resultado do ano: o Brasil embarcou 501 mil toneladas de carne de frango, volume 8,2% superior ao registrado no mesmo mês de 2024. Houve ainda retomada das exportações à União Europeia, que voltaram após quase quatro meses de suspensão, ampliando a diversificação dos mercados atendidos.

Foto: Divulgação/Freepik
No mercado doméstico, os preços do frango inteiro congelado, que haviam subido em outubro, se estabilizaram próximos de R$ 8/kg, em linha com as cotações observadas há um ano.
Do lado da oferta, os abates cresceram em setembro e outubro após ritmo mais contido em agosto. Mesmo com o aumento das exportações ajudando a enxugar parte da produção, a disponibilidade interna permanece maior que a de 2024, sustentando o equilíbrio dos preços.
A rentabilidade também avançou. O spread do frango abatido subiu de 38% em setembro para 42% em outubro, impulsionado pela valorização de 6,2% da ave e por custos de produção estáveis. Há um ano, o indicador estava em 37%; em maio, antes dos impactos da gripe aviária, havia atingido 44%.
Avicultura
AVES reconhece os melhores ovos do Espírito Santo em 2025
Concurso reuniu 39 amostras e avaliou rigorosamente casca, clara e gema em três etapas técnicas, confirmando a evolução da avicultura capixaba e premiando produtores que se destacam em excelência e manejo.

A Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES) realizou em Santa Maria de Jetibá mais uma edição do Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba, iniciativa já tradicional que reconhece o profissionalismo, o cuidado e a evolução técnica da avicultura do Estado. A edição de 2025 registrou uma forte participação, com 27 amostras de ovos brancos e 12 de ovos vermelhos enviadas por produtores de diversas regiões capixabas, reforçando o alcance da atividade e a importância do evento para a cadeia produtiva.
Marcado por rigor técnico, o concurso estruturou sua avaliação em três etapas conduzidas pela Comissão Organizadora e por um grupo de dez jurados convidados, representantes de empresas, instituições e entidades do setor avícola de diferentes estados. O médico-veterinário Leandro Marinho, do Idaf, atuou como auditor externo, garantindo neutralidade e transparência ao processo.
Na primeira fase, as amostras passaram pela análise objetiva da Máquina Digital Egg Tester, que avaliou resistência e espessura da casca e Unidade Haugh, parâmetro de referência internacional para medir a qualidade interna dos ovos. Todas as amostras foram submetidas aos mesmos critérios, e apenas as dez mais bem classificadas de cada categoria avançaram. A segunda etapa consistiu em uma análise visual minuciosa da qualidade externa, em que os jurados avaliaram uniformidade de tamanho, limpeza, textura e formato dos ovos, além da coloração da casca no caso dos ovos vermelhos. As amostras iniciavam com pontuação máxima e perdiam pontos conforme fossem identificadas pequenas imperfeições, o que destacou o cuidado dos produtores com manejo, nutrição e ambiência.
A etapa final abriu quatro ovos de cada amostra finalista para avaliação interna. Os jurados observaram presença de manchas de sangue, resíduos de oviduto, consistência do albúmen, centralização da gema e uniformidade de cor, consolidando a pontuação final. Representando a Avimig, o jurado Gustavo Ribeiro Fonseca elogiou o desempenho dos produtores capixabas: “No contexto geral, os avicultores estão de parabéns. São ovos de muita qualidade”, exaltou.
Já a médica-veterinária Karin Grossman, da Poly Sell, destacou a relevância do concurso para o fortalecimento do setor: “É uma satisfação para mim estar participando desse concurso. É um reconhecimento de um trabalho realizado ao longo dos anos, colaborando para a melhoria da qualidade dos ovos”, salientou.
Para a coordenadora técnica da AVES, Carolina Covre, os resultados reforçam o papel estratégico da iniciativa. Segundo ela, a edição de 2025 ocorreu exatamente como planejado, com forte adesão, avaliações criteriosas e alto nível de desempenho entre os concorrentes. “O concurso cumpre seu papel de estimular qualidade, aprimorar práticas e fortalecer a avicultura do Espírito Santo”, afirmou.
Vencedores
Ao final das três etapas, a AVES anunciou os vencedores. Na categoria ovos brancos, o primeiro lugar ficou com Jerusa Stuhr, da Avícola Mãe e Filhos, seguida por Waldemiro Berger, da Ovos Santa Maria, e por Jesebel Foesch Botelho e Thiago Botelho, da Botelho Alimentos. Na categoria ovos vermelhos, o campeão foi Antônio Venturini, da Ovos da Nonna, enquanto Jesebel e Thiago Botelho ficaram em segundo lugar e Lourival Bold, do Sítio Pai e Filhos, em terceiro.
As empresas vencedoras do primeiro lugar que possuem marca comercial própria terão o direito de usar um selo especial em suas embalagens, identificando os produtos como “Melhor Ovo Branco do Espírito Santo – Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba 2025” e “Melhor Ovo Vermelho do Espírito Santo – Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba 2025”.
Empresas reconhecidas
Também foram divulgadas as empresas de genética e nutrição responsáveis pelo suporte técnico aos produtores vencedores, reforçando o papel fundamental desses parceiros na obtenção de resultados de excelência. Na categoria Ovos Brancos, a campeã Jerusa Stuhr contou com genética Bovans White e nutrição fornecida pela ADM-Nutriminas. O segundo colocado, Waldemiro Berger, utilizou genética Hy-Line W80 e recebeu assistência nutricional da DSM. Já o terceiro lugar, representado por Jesebel Foesch Botelho e Thiago Botelho, trabalhou com genética Bovans White e nutrição da Brasfeed.
Na categoria Ovos Vermelhos, o primeiro colocado, Antônio Venturini, utilizou genética Hy-Line Brown e nutrição da Agroceres Multimix. Em segundo lugar, Jesebel Foesch Botelho e Thiago Botelho competiram com genética Bovans Brown e suporte nutricional da Brasfeed. O terceiro colocado, Lourival Bold, participou com aves de genética Hy-Line Brown e nutrição fornecida pela Auster.
A edição 2025 do Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba reafirma o compromisso da AVES com a promoção de boas práticas, a difusão de conhecimento e o reconhecimento do trabalho dos avicultores. Mais do que premiar os melhores ovos do ano, o evento funciona como ferramenta técnica e educativa, contribuindo diretamente para o avanço da avicultura capixaba.



