Suínos Balanço de 2023
Brasil deve produzir um milhão de toneladas de peixes pela primeira vez
Projeção da Peixe BR é de que 80% de tudo que se cultiva no país será tilápia até 2030.
O cenário da piscicultura brasileira em 2023 foi marcado por desafios que frearam o crescimento do setor, sobretudo nas principais regiões produtoras do país. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), Francisco Medeiros, aponta quais foram os obstáculos enfrentados pela cadeia ao longo do ano, as oportunidades de mercado, perspectivas de crescimento e tendências para 2024.
O primeiro grande desafio envolveu questões sanitárias e enfermidades, especialmente nas regiões que adotam a produção de peixes em tanques redes. Este ambiente, reconhecido como mais desafiador, demandou uma resposta rápida e eficiente do setor. “Estamos conseguindo contornar a questão da sanidade com estratégias de biosseguridade, vacinação e manejo, utilizando as tecnologias disponíveis, o que assegurou um abastecimento regular aos consumidores”, expôs Medeiros.
O segundo desafio, identificado de forma mais intensa no último trimestre de 2023, está relacionado à obtenção de outorgas para projetos em viveiros escavados no Oeste do Paraná. Nessa região, novos empreendimentos estão sendo barrados devido a critérios considerados não ideais pelo órgão responsável pela concessão da outorga. Segundo o presidente da Peixe BR, há alguns anos, os piscicultores empregavam uma grande quantidade de água em suas atividades. Atualmente, essa prática mudou, uma vez que a água utilizada se limita à reposição das perdas causadas por evaporação e infiltração. Esse volume representa apenas 1/6 do total utilizado anteriormente. No entanto, conforme explica Medeiros, o Instituto Água e Terra (IAT) do Paraná ainda adota a metodologia antiga, realizando um cálculo baseado na disponibilidade versus quantidade que cada produtor vai utilizar de determinado corpo hídrico, o que impossibilita que outros produtores acessem esse recurso hídrico. “Com a aplicação das novas tecnologias e práticas sustentáveis pelos produtores, a quantidade de água utilizada diminuiu significativamente. Isso, por sua vez, abre espaço para novos projetos. A discussão atualmente em pauta junto ao Governo do Paraná busca a revisão dessa normativa para viabilizar a liberação de novos empreendimentos no estado”, menciona Medeiros.
Produção nacional
Nos últimos oito anos, a produção de peixes de cultivo cresceu quase 50% no Brasil, resultado da estruturação do setor, do emprego de tecnologias e do olhar atento dos piscicultores para que o produto chegue à mesa do consumidor com o mais alto padrão de qualidade.
A tilápia coloca o Brasil entre os quatros maiores produtores do planeta, representando atualmente 64% da produção total de peixes de cultivo do país, enquanto que dos peixes nativos o tambaqui é a espécie que lidera a produção nacional. Em 2022, foram produzidos 860.355 toneladas e a projeção da PeixeBR é crescer 20% em 2023, podendo superar um milhão de toneladas de peixes de cultivo. “Estamos bastante otimistas de que a produção nacional de peixes de cultivo deva crescer cerca de 20% em 2023, tanto que há várias empresas fazendo investimentos nesse momento. Ainda não fechamos os números, mas pelo que temos acompanhado Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul cresceram em produção, porém, por outro lado, tivemos regiões que foram impactadas por problemas sanitários, o que deve reduzir o volume final produzido no país. Contudo, temos a certeza de que 2024 será um bom ano para o setor”, anseia Medeiros.
Consumo per capita
No acumulado dos últimos sete anos, com exceção do ano passado, o consumo per capita registrou um crescimento de 5,5%. “O que é muito bom para uma proteína animal, visto que não temos no histórico da produção agropecuária brasileira nenhuma proteína animal que tenha mantido uma série histórica de sete anos com crescimento nesses níveis”, exalta Medeiros.
De acordo com o presidente da Peixe BR, as perspectivas de aumento de consumo são promissoras, apesar de não mencionar nenhum percentual. Segundo ele, os números consolidados serão apresentados na segunda quinzena de janeiro deste ano. “Qualquer número agora é uma parcial do que pudemos alcançar. No início de 2024 fazemos o fechamento do ano para ver quais áreas cresceram, para só então apresentar à sociedade. Mas as perspectivas são muito boas, porque apesar das dificuldades o setor continuou crescendo”, afirmou.
Exportação
Os produtos da piscicultura brasileira foram enviados para mais de 40 países, totalizando um faturamento de US$ 18,7 milhões nos primeiros nove meses do ano passado. Somente no terceiro trimestre, os embarques apresentaram aumento de 48% em receita quando comparado com o mesmo período de 2022, totalizando US$ 6,7 milhões. Porém, em toneladas houve queda de 11% no trimestre. “Essa diferença se deu devido ao aumento das exportações de filés, que possuem maior valor agregado, o que levou a um crescimento em valor apesar da queda em volume”, explica Medeiros, acrescentando: “Não crescemos mais no mercado internacional porque o mercado interno estava bastante aquecido”.
A exemplo de 2022, julho foi o mês com maior valor exportado no acumulado de 2023, atingindo US$ 2,5 milhões, enquanto setembro foi o mês com o segundo maior volume embarcado, chegando a US$ 2,3 milhões.
Diferente do ano anterior, em que a tilápia inteira congelada dominou as vendas externas, em 2023 os filés frescos foram os mais comercializados, registrando crescimento de 367% em valor no terceiro trimestre, atingindo US$ 4,4 milhões.
Contudo, a categoria de peixes inteiros frescos teve aumento de 520% em valor, porém o volume exportado foi bem inferior, alcançando uma receita de US$ 222 mil no período. Por outro lado, as categorias de peixes inteiros congelados registraram queda de 44% e de filés congelados de 45%, assim como a categoria de subprodutos impróprios para alimentação humana, que também apresentou queda. Enquanto os peixes inteiros frescos tiveram crescimento de 1.150% frente ao mesmo período de 2022.
Os embarques de tilápia totalizaram US$ 6,6 milhões, mantendo a posição de principal espécie exportada, e crescimento de 47% frente ao terceiro trimestre de 2022. No mesmo período, o tambaqui seguiu sendo a segunda espécie mais exportada, crescendo 276% e tendo uma receita de pouco mais de US$ 82 mil. Dentre as demais espécies exportadas estão bagres, surubins e curimatá.
Líder absoluto das exportações brasileiras de tilápia, os Estados Unidos representam 90% do total embarcado, totalizando no acumulado do ano um faturamento de US$ 16 milhões. Completam o ranking dos cinco principais importadores Japão, com receita de US$ 479 mil; China, com receita de US$ 420 mil; Canadá, com receita de US$ 143 mil; e Taiwan, com receita de US$ 250 mil. “Em 2022 nós exportamos para 42 países, de 2023 ainda não terminamos esse levantamento. Sabemos que muitos desses países são vendas pequenas, mas o importante é que o nosso produto adentrou nesse mercado”, enaltece Medeiros.
Estados maiores produtores e exportadores
O Paraná mantém sua posição de maior exportador de tilápia, tendo como carro chefe das vendas os filés frescos e a tilápia inteira congelada, registrando uma receita de US$ 14 milhões entre janeiro e setembro do ano passado.
São Paulo ocupa o segundo lugar, com filés e a tilápia inteira frescas como principais itens exportados, acumulando nos primeiros nove meses do ano US$ 2,1 milhões em faturamento. E a Bahia figura na terceira posição, com US$ 1,08 milhão embarcado. Destaque para os filés de tilápia congelada, além de filés frescos, que ampliaram seus embarques em 10.743% no terceiro trimestre.
De acordo com Medeiros, a projeção é de que 80% de tudo que se cultiva no país será tilápia até 2030. “Ano a ano a produção de tilápia está crescendo e hoje, entre os pescados, é a nossa principal commodity no mercado internacional. Se continuarmos neste ritmo de crescimento, projetamos que a produção de tilápia alcance 80% de tudo o que se cultiva no país nos próximos sete anos”, evidencia o presidente da Peixe BR.
Preços médios
Com relação aos preços médios da tilápia, os maiores aumentos foram registrados na tilápia inteira fresca, que chegou a 94% no terceiro trimestre de 2023, sendo comercializada a R$ 4,91 kg, frente aos R$ 2,53 kg no mesmo período de 2022. “O consumidor pagou um preço maior, porque o custo é repassado para o consumidor, mas mesmo com esse preço maior ainda mantivemos o mercado aquecido. Mas isso nos preocupa porque o objetivo é levar o produto ao maior número de pessoas possível”, pontua Medeiros.
Já os filés frescos e congelados tiveram 23% de aumento nos seus preços. “Esse aumento dos preços da tilápia tem relação com a queda na produção de países da América Latina como Colômbia e Honduras, que são importantes fornecedores dos Estados Unidos”, menciona o presidente da Peixe BR.
De outro lado, o valor médio pago pela tilápia em 2023 foi de R$ 5 Kg, um aumento de 10% em relação a 2022. Isso se deve a uma série de fatores, incluindo o aumento da demanda por tilápia no mercado interno e externo, a redução da oferta de peixes importados e a valorização do real em relação ao dólar. “Não tivemos nenhuma outra atividade de origem animal que tenha acompanhado, pelo contrário, a maioria das proteínas de origem animal teve uma queda no preço pago ao produtor. A tilápia foi a única proteína, que é comodity, que teve no Brasil ganho real para o produtor no ano passado”, salienta.
Tendências para 2024
Conforme o presidente da Peixe BR, entre os principais concorrentes mundiais na piscicultura, o Brasil deve continuar liderando em termos de crescimento global, impulsionado por sua competitividade na produção de insumos como milho e soja, componentes fundamentais na elaboração da ração. “O Brasil ao produzir esses insumos em larga escala mantém uma posição de destaque, porque os outros países produtores dependem do mercado brasileiro para adquirir esses grãos, com isso nós temos a obrigação de sermos mais competitivos do que eles”, reforça Medeiros.
Com a quarta maior produção mundial de tilápia, a expectativa é que o Brasil alcance a posição de terceiro ou segundo maior produtor até 2030. Contudo, o otimismo é moderado devido aos desafios apresentados pelo mercado de grãos. “Apesar do mercado interno aquecido para a tilapicultura, nossa preocupação reside na safra de grãos, cujo custo impacta diretamente na produção e, consequentemente, nos preços ao consumidor. A região Sul se mantém dentro do prazo de plantio, mas o atraso na região Centro-Oeste gera apreensões. Precisamos aguardar as próximas semanas para avaliar se haverá um aumento significativo nos custos de produção, refletindo nos preços ao consumidor”, comenta.
Ainda que o mercado consumidor esteja aquecido, a perda de poder aquisitivo do consumidor é um ponto de atenção para o setor. O aumento nos custos de produção, eventualmente repassados aos consumidores, pode restringir ainda mais o poder de compra, configurando um desafio para a sustentabilidade do crescimento do setor.
Para conferir o desempenho das principais atividades agropecuárias de 2023 e as expectativas para 2024 acesse a versão on-line do Anuário do Agronegócio Brasileiro clicando aqui. Boa leitura e um excelente 2024!
Suínos
Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.