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Brasil corre risco de queda na exportação de aves e suínos por falta de auditores agropecuários
Delegacia Sindical Estadual do Paraná, maior exportador de aves do país, e segundo em suínos, alerta que só no estado, são 55 estabelecimentos de abate, fiscalizados de forma permanente e 210 estabelecimentos de produtos de origem animal, avaliados periodicamente

A fiscalização da produção agropecuária do Brasil está em alerta com a carência de auditores fiscais federais agropecuários (affas) no Paraná, maior exportador de aves do país, e segundo em suínos, de acordo com a Delegacia Sindical Estadual do Paraná. A Delegacia Sindical estima que seriam necessários pelo menos mais 30 servidores para atender à demanda no estado, o que poderá comprometer a exportação de carnes de aves e suínos do país. Apenas no mês de abril, a atividade de comércio exterior teve alta de 3,9% no Paraná, na comparação com o mês anterior. No total, as exportações somaram US$ 1,87 bilhão, de acordo com informações da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. No acumulado do ano, o crescimento é de 17% em relação ao primeiro quadrimestre do ano passado, com US$ 6,4 bilhões negociados, contra US$ 5,5 bilhões no mesmo período de 2021.
Ainda segundo dados da Secex, o segundo produto mais vendido para fora do país, pelo Paraná, este ano, depois da soja, que lidera o ranking, foi carne (US$ 1,16 bilhão), que responde por 18% do total exportado pelo estado. No acumulado de janeiro a abril, a alta do produto já ultrapassa os 30%. De acordo com delegada estadual sindical no Paraná, Marcia Nonnemacher Santos, só no estado, são 55 estabelecimentos de abate com o Serviço de Inspeção Federal (SIF) fiscalizados de forma permanente e 210 estabelecimentos de produtos de origem animal avaliados periodicamente. “Sem contar duas movimentadas regiões de fronteira, em Foz do Iguaçu e Guaíra, que demandam ainda mais controle, atenção e cuidado por parte dos servidores”, destaca a delegada sindical.
Segundo Marcia, uma estimativa interna apontou que seriam necessários pelo menos mais 30 affas no serviço de inspeção no Paraná para atender a expansão das atividades das empresas, como aumento de turnos e de dias de abate, além de novas organizações que estão iniciando na atividade. Para o ANFFA Sindical (Sindicato dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários), o Paraná é um forte indicador da situação precária de trabalho dos affas em todo o país. O Sindicato alerta que o Mapa tem pouco mais de 2,5 mil auditores agropecuários na ativa. Comparado ao número do ano 2000, em que o contingente era de 4.040, verifica-se redução de 37,3% no quadro de affas em 2021 no Brasil.
Alerta
Dados divulgado no portal do Mapa dão conta de que foram mais de 54 milhões de aves e 685 mil suínos abatidos no estado em abril sob inspeção federal. Outros 60 mil abates são de bovinos. “É um trabalho fundamental que vêm se acumulando com excesso horas extras e banco de horas, que na maioria dos casos não podem ser convertidas em folgas pela carência de servidores”, enfatiza a delegada sindical no Paraná.
Na região de fronteira com o Paraguai a situação é ainda mais complicada. De acordo com a chefia do serviço de vigilância agropecuária em Foz do Iguaçu, mais de dois mil veículos aguardam nos postos da aduana integrada em Cidade do Leste, a maioria carregada com produtos agrícolas. “O efetivo do Mapa na região da fronteira conta com apenas seis profissionais para a vistoria de itens de origem vegetal porque há um déficit profissional por conta de aposentadoria de servidores. Esse cenário gera demora nas operações de fiscalização e atrasos no transporte de mercadorias”, alerta Marcia.
O ANFFA Sindical avalia que essa atividade, que impacta diretamente no atendimento às demandas da população brasileira, pode ter sua situação agravada nos próximos dias. Em assembleia realizada na semana passada (25/5), mais de 92% dos auditores fiscais federais agropecuários aprovaram em assembleia nacional o indicativo de greve, que permite aos affas paralisar o trabalho a qualquer momento, caso a carreira não esteja incluída na reestruturação do Executivo Federal.
Com o indicativo de greve, os affas, que já estão em operação-padrão desde dezembro, estão intensificando a mobilização e esticando ao máximo os prazos para realização das atividades rotineiras. Eles estão mantendo o ritmo normal somente para atividades que afetam diretamente o cidadão, como a liberação de cargas perecíveis e de animais domésticos para viagens. A mobilização também não atinge a realização de diagnóstico de doenças e pragas, evitando comprometer programas importantes para o Brasil. De acordo com o ANFFA, a carreira está sem reajuste salarial desde 2017 e os servidores vêm trabalhando com déficit de 1.620 profissionais. Os concursos públicos para reposição do quadro não são realizados desde 2017.
Os auditores fiscais federais agropecuários (affas) são servidores de carreira do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), responsáveis por garantir a saúde animal, a sanidade vegetal e a qualidade e segurança dos produtos agropecuários que chegam até o consumidor final, seja no Brasil ou no exterior. Atuam nos portos, aeroportos e postos de fronteira, nos campos de produção, nas empresas agropecuárias, nas cidades, nos programas de desenvolvimento agropecuários elaborados pelo Mapa, nas negociações internacionais, entre outros ambientes ligados a atividades agropecuárias.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



