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“Boi safrinha” maximiza uso da terra e potencializa ganhos de produtores no Cerrado

Boi safrinha ocupou, no ano-safra 2019/20, 3 milhões de ha no Cerrado, ante 2,3 milhões de ha no ano-safra 2018/19

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Produtores rurais do Cerrado têm encontrado na adoção de um sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) uma alternativa rentável para evitar os riscos climáticos da segunda safra de verão em sistema de sequeiro, aproveitar áreas agrícolas que ficam em pousio durante o inverno, período seco do ano, produzir carne a custo mais baixo e incrementar a produtividade das lavouras de grãos. É o chamado sistema “Boi safrinha”, “safrinha de boi” ou “pasto safrinha”, tecnologia cada vez mais adotada na região.

O sistema recebeu esse nome em alusão à segunda safra de milho, também chamada “milho safrinha”. Nele, uma gramínea forrageira dos gêneros Brachiaria ou Panicum é semeada simultaneamente com o milho ou sobressemeada a lanço em soja, a partir do final do enchimento dos grãos até o amarelamento das plantas. Após a colheita da lavoura de grãos, a massa de capim formada para cobrir o solo para o plantio da cultura anual no verão seguinte em Sistema Plantio Direto* (SPD) também pode ser usada como pastagem de curta duração na cria, recria ou terminação de bovinos, promovendo bem-estar animal, diminuindo custos com confinamento, intensificando o uso da área e aumentando a lucratividade das fazendas.

De acordo com a avaliação de impactos da tecnologia realizada pela Embrapa Cerrados (DF), o Boi safrinha ocupou, no ano-safra 2019/20, 3 milhões de ha no Cerrado, ante 2,3 milhões de ha no ano-safra 2018/19. A área é estimada com base na estimativa de formação de pastagens e cobertura de solo com as espécies forrageiras mais utilizadas para o período seco do ano em sistemas de ILP especializados. O Boi safrinha foi uma das 152 tecnologias cujos impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais foram analisados no Balanço Social 2020 da Embrapa, cujos resultados serão anunciados no próximo dia 27 pelo presidente da Embrapa, em uma coletiva virtual de imprensa marcada para as 10h30.

A receita bruta com a tecnologia foi estimada em R$ 12,3 bilhões, quase o dobro do ano-safra anterior (R$ 6,2 bilhões) e a margem bruta em R$ 2,99 bilhões, praticamente o triplo do período antecedente (R$ 1 bilhão), com rentabilidade mensal de 9,7% do capital investido por ha, quatro pontos percentuais acima do obtido em 2018/19. A rentabilidade total em 2019/20 foi de 31,7%/ha, contra 18,8%/ha do período anterior. As simulações econômicas de 2020 consideram os valores de R$ 207,25 para boi magro e R$ 243,59 para boi gordo, com base em valores médios do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) nos meses de junho e outubro, respectivamente.

O efeito ambiental de “poupa-terra” (quando novas áreas deixam de ser utilizadas devido ao uso de tecnologias de intensificação do uso da terra) foi de 9,4 milhões de ha de pastagens perenes desocupadas durante a estação seca no Cerrado e pelo pastejo evitado decorrente da antecipação da idade de abate dos animais, contra 7,1 milhões de ha em 2018/19. Cada real investido na pesquisa sobre a tecnologia, entre 2009 e 2015, retornou R$ 534,82 para a sociedade.

Benefícios

Lourival Vilela, um dos pesquisadores responsáveis pela sistematização do Boi safrinha, destaca que tanto os produtores de grãos e fibras como os pecuaristas se beneficiam da tecnologia, assim como os frigoríficos, que contam com maior oferta de carne na estação seca, quando há menor disponibilidade de forragem.

Os principais impactos agronômicos do sistema Boi safrinha observados pelos pesquisadores são ganhos de produtividade de soja de 10 a 15% quando em sucessão a pastagens de maior produtividade e adubadas; ganho de peso em equivalente-carcaça entre 6@/ha e 12@/ha na pastagem de curta duração na estação seca; e ciclagem de nitrogênio, fósforo e potássio estimada, em equivalente-fertilizante, em cerca de 60 kg/ha/ano de ureia, 95 kg/ha/ano de superfosfato simples e 85 kg/ha/ano de cloreto de potássio, respectivamente.

O sinergismo da rotação lavoura-pasto do sistema promove melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, resultando no aumento do teor de matéria orgânica do solo; diminui a incidência de plantas daninhas e auxilia no controle de pragas e doenças das culturas, como Fusarium spp. e mofo branco em soja, reduzindo o uso de agroquímicos. Além disso, a palhada do capim, se bem manejada, aumenta a taxa de infiltração de água no solo, elevando a recarga do lençol freático.

Desenvolvimento

Apesar de ter sido descrito em uma publicação somente em 2017, o Boi safrinha já existia como prática desde o início da adoção de sistemas de ILP para recuperação de pastagens em fazendas na década de 1990, como lembra Lourival Vilela.

“Um dos aspectos que mais chamavam a atenção é que as pastagens permaneciam verdes por um período longo do ano. Quando o produtor de grãos começou a introduzir a braquiária nas áreas de agricultura, surgiu esta oportunidade: trabalhar com o boi, que é uma atividade de menor risco que o milho safrinha em muitas regiões”, diz o pesquisador.

O médico veterinário William Marchió, que atua como consultor de agronegócios em 11 estados brasileiros e no Paraguai, aponta que o Boi safrinha é uma estratégia que se tornou corriqueira em grande parte das fazendas com atividades agrícolas e pecuárias, principalmente em estados com perfil agrícola, como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, mais receptivos a esses sistemas.

“O fato de haver uma gramínea no sistema diminui a ocorrência de pragas e doenças e aumenta o teor de matéria orgânica do solo. A fertilidade do solo fica bem conduzida e quem se dispõe a ter gado produz uma arroba muito barata (por R$ 120 a R$ 140, contra R$ 200 na pastagem convencional). Além disso, os animais em pastejo conferem aumento da produtividade agrícola”, explica.

Marchió observa que os principais adotantes do Boi Safrinha são pecuaristas que se tornaram também agricultores cerca de 15 anos atrás, quando se iniciou o aumento da adoção de sistemas de integração no País. Em seguida, aparecem os agricultores que vislumbraram a agregação de valor com a atividade pecuária e adquiriram animais – por sinal, o principal investimento do sistema.

Lourival Vilela destaca que a tecnologia vai além da alimentação dos bovinos na entressafra. “Há fazendas que estão fazendo a estação de monta invertida, saindo do período tradicional (novembro) para o mês de maio (período da pastagem do Boi safrinha)”, comenta, salientando que os animais, nesse sistema, não perdem peso. “O grande objetivo do criador é obter mais bezerros por área. Na monta invertida, ele consegue aumentar a fertilidade das vacas devido ao valor nutricional superior da pastagem. Além disso, o nascimento dos bezerros ocorre normalmente na seca. Com a inversão da monta, a mortalidade diminui”, completa Marchió.

Vilela acrescenta que a maior disponibilidade de forragem proporcionada pelo sistema, aliada ao manejo animal adequado, pode proporcionar a redução das idades de abate dos animais machos e de primeiro parto das novilhas, encurtando o ciclo pecuário e proporcionando o aumento da rentabilidade da atividade ano após ano.

“Estamos num momento de demanda internacional por alimentos muito forte. A tendência é de que as commodities continuem sendo valorizadas. Como o valor da terra aumentou muito nos últimos anos, o produtor que não conseguir fazer a expansão horizontal da produção fará a expansão vertical, aumentando a produtividade na mesma área”, aponta Marchió.

Existem diferentes alternativas de Boi safrinha (ver figura), e a escolha depende das condições operacionais da fazenda, como infraestrutura, cercas, aguadas e máquinas, bem como das condições climáticas de cada região favoráveis aos cultivos de soja, milho e sorgo, e do conhecimento e experiência necessários para implantação das práticas do sistema.

Figura: Alternativas potenciais de Boi safrinha

Caso de sucesso

No Oeste da Bahia, as condições climáticas são restritivas ao cultivo da segunda safra de verão, como o milho após a colheita da soja. A Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto (BA), propriedade da família de Eduardo Manjabosco, adota o Boi safrinha há mais de 10 anos, tendo contribuído para a validação da tecnologia. O sistema é atualmente usado em toda a área com milho da fazenda, que na safra 2020/21 representa 4900 ha.

A fazenda utilizava tradicionalmente a semeadura do capim Brachiaria ruziziensis após a emergência do milho, visando à formação de palhada para o SPD. “Era muita palha de ótima qualidade e achamos que seria um desperdício não colocar um boi para comer parte daquela forragem no período da seca. Foi aí que decidimos adotar o Boi safrinha”, lembra Manjabosco.

Para melhorar o rendimento operacional do plantio do consórcio, foram introduzidos na safra 2009/10 os consórcios milho com B. ruziziensis e milho com B. brizantha cultivar Piatã em 200 ha da propriedade. A semeadura das braquiárias foi realizada imediatamente antes do plantio do milho, sendo que o capim Piatã foi utilizado para diversificação do sistema e aumento do potencial de produção de forragem.

Naquele primeiro ano, a produtividade do milho no consórcio com B. ruziziensis foi de 156,6 sc/ha, valor próximo ao do rendimento do milho solteiro (160 kg/ha). Já a produtividade do consórcio com o Piatã foi de 140 sc/ha (com capim Piatã), sendo que houve competição do capim com o milho, afetando a produtividade. Segundo Manjabosco, as produtividades médias do milho no sistema vêm se mantendo próximas a 200 sc/ha, sendo que na safra 2019/20 foram colhidas 187 sc/ha.

Ganhos na pecuária e na soja

A formação de massa seca de forragem nos consórcios no primeiro ano de Boi safrinha na fazenda foi de 2.677 kg/ha (B. ruziziensis) e 5.514 kg/ha (Piatã). Na entressafra, o ganho de peso médio de animais Nelore chegou a 0,98 kg/animal/dia no consórcio com o capim Piatã, e a 0,8kg/animal/dia no consórcio com B. ruziziensis, com rendimentos médios de carcaça de 6,9@/ha e 3,4@/ha, respectivamente.

O pastejo na fazenda é manejado em piquetes de 50 ha, de modo a preservar cerca de 50% da massa de forragem acumulada no consórcio com milho para uso no SPD. Assim, quando o consumo de forragem se aproxima dessa meta, geralmente entre 15 e 20 dias, os animais são transferidos para uma nova área, num sistema de pastejo itinerante.

Entre 2010 e 2015, a melhoria do potencial genético do rebanho da propriedade, associada aos ajustes no manejo animal e na pastagem no sistema, proporcionou a redução na idade de abate de 36 para 24 meses, além do aumento de 29% no peso médio da carcaça, de 202 kg para 261 kg. O crescimento médio anual de bovinos engordados foi de 41%.

Cerca de 90% dos animais utilizados na Fazenda Triunfo para recria e terminação vêm de outra propriedade da família, em Riachão das Neves e Santa Rita de Cássia (BA). Em 2020, eles foram vendidos com idade entre 22 e 23 meses e com peso médio de 315 kg (ou 21 @). Com o aumento da área ocupada pelo Boi safrinha na fazenda ao longo dos anos, o número de animais no sistema passou de 358 em 2010 para cerca de 4800 no ano passado. “Para nós, houve um grande ganho com a implantação do sistema Boi safrinha. Os negócios andam bem e, com o aumento do preço da arroba, melhor ainda”, afirma Manjabosco, que prevê utilizar em torno de 5 mil cabeças no sistema em 2021.

Ele observa que, como no Boi safrinha a engorda do gado ocorre no período de preços mais baixos da arroba (início da seca), o sistema proporciona animais gordos no período em que os preços começam a subir (final do período seco) e ainda há pouca oferta no mercado. “É um ganha-ganha de vários lados”, comenta o produtor.

Na safra 2010/11, a produtividade de soja em áreas de SPD no resíduo pós-pastejo havia sido de 67,5 sc/ha, 24% a mais que as 54,6 sc/ha obtidas nas áreas sem os capins. Nas últimas safras, a produtividade média em soja tem sido de 72 sc/ha, tendo alcançado 82 sc/ha na safra 2017/18. “Tanto em pesquisa como em trabalhos realizados em fazendas, tem-se observado que o pastejo do capim na entressafra tem proporcionado rendimentos de grãos maiores que em áreas não pastejadas. Em soja e milho, esses aumentos na produtividade são da ordem de 5 a 10 sc/ha”, diz Lourival Vilela.

“Sou fã do sistema e não quero voltar atrás. Ele me ajuda a colher mais soja e permite utilizar uma mão de obra que ficaria ociosa na entressafra, quando em vez de produzir nada, produzo carne”, afirma Manjabosco, acrescentando que o Boi safrinha na Fazenda Triunfo também viabiliza a propriedade de pecuária, onde o gado é mantido em pastagem extensiva com tecnologias de adubação e correção do solo.

Eficiência de uso da adubação

A liberação de nutrientes pela decomposição da palhada do milho consorciado com braquiária é outro benefício potencial do Boi safrinha observado nas pesquisas na Fazenda Triunfo. Na avaliação do efeito da redução da dose de fertilizante usada nos consórcios de milho com os capins, tendo como referência as doses normalmente utilizadas na propriedade, foi possível reduzir em 39% as doses de fósforo e em 33% as de potássio sem afetar significativamente a produtividade de soja, independente do modo da adubação ou do manejo da braquiária. Os resultados indicam que é possível reduzir as quantidades de fósforo e potássio e melhorar a eficiência desses nutrientes.

“No primeiro ano de soja após o consórcio milho com braquiária, aplico zero de potássio. E temos reduzido o uso de fósforo no plantio da soja, aplicando 250kg/ha de supersimples. Os níveis de fertilidade estão se mantendo. As próprias braquiárias têm capacidade de solubilizar algum fósforo da argila do solo. Hoje, só precisamos manter essa fertilidade, calculando a necessidade de nutriente pela extração pelas plantas”, comenta Manjabosco, lembrando que no período de construção da fertilidade do solo na fazenda as aplicações do adubo fosfatado eram de 400 kg/ha.

Além da intensificação dos fatores de produção (terra, insumos e mão de obra) e de melhorar as qualidades químicas, físicas e biológicas do solo, o sistema Boi Safrinha na Fazenda Triunfo contribui para reduzir a incidência de plantas daninhas e controlar algumas doenças das culturas e de solo. “Tínhamos problemas com o Pratylenchus sp. (“nematóide oportunista”) e hoje não vemos mais manchas de nematoides. São inúmeros ganhos, como a atividade biológica que o sistema traz para nossa lavoura”, aponta o produtor.

Novas experiências

Com o sucesso da adoção do sistema, Manjabosco passou a fazer novas experiências. Na safra 2017/18, além de manter os consórcios de capins com o milho, a fazenda passou a trabalhar com a sobressemeadura de Panicum maximum cultivar Mombaça em soja – nas duas últimas safras, foram 3 mil ha, cerca de 30% da área plantada com a leguminosa na fazenda. Em 2020, foram colocados animais sobre a pastagem formada antes de seguirem para os pastos de braquiárias dos consórcios com o milho.

“O Mombaça produz muita massa e o excesso de palhada dificulta o plantio (da safra seguinte). O desempenho dos animais foi muito bom, com maior ganho de peso que na braquiária”, conta o produtor, que cogita repetir a experiência em 2021 se a chuva for suficiente para favorecer o crescimento do capim.

Ainda neste ano, buscando aumentar a taxa de prenhez do rebanho, Manjabosco pretende introduzir novilhas no sistema Boi safrinha para serem entouradas aos 14 meses. “É uma experiência, quero ver se ganho um ano (no ciclo pecuário)”, diz.

Inovação com agregação de valor

A avaliação dos impactos (redução de custos, sustentabilidade, agregação de valor, incremento de produtividade e inclusão produtiva) do Boi safrinha para o Balanço Social da Embrapa tem sido realizada e atualizada anualmente desde o ano-safra 2015/2016. Na edição de 2020, foi uma das 152 tecnologias cujos impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais foram analisados no Balanço Social da Embrapa.

A metodologia da avaliação é baseada em números do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de comercialização de sementes de espécies forrageiras usadas para sistemas especializados de ILP (pastejo de inverno no Cerrado em sucessão à cultura anual principal de grãos) e com grande volume de venda de sementes – B. ruziziensisB. brizantha cultivar Marandu e B. brizantha cultivar Piatã. Também são consideradas informações de representantes dos filiados à Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), instituição parceira da Embrapa que reúne empresas de diferentes estados e responsáveis por cerca de 60% do mercado de sementes de forrageiras do País. Dos 34 filiados, 32 participaram por meio de entrevistas estruturadas.

As informações da Unipasto parametrizam um modelo matemático que considera os montantes de sementes vendidas e de sementes de salvamento (produzidas legalmente nas propriedades), além de uma estimativa da Unipasto sobre a quantidade de sementes comercializadas ilegalmente (sementes piratas), considerando apenas a região do Cerrado. A estimativa dos índices zootécnicos do componente pecuário é baseada em entrevistas estruturadas com consultores atuantes na região do Cerrado e publicações em eventos técnicos. A agregação de valor foi calculada pela diferença do ganho de peso vivo antes e depois da adoção tecnológica.

Em quatro anos de avaliação, a área estimada com o Boi safrinha no Cerrado passou de 973 mil ha em 2015/16 para 1,5 milhões de ha em 2016/17; 2,3 milhões em 2017/18 e 3 milhões de ha em 2019/20. O pesquisador Paulo Fernandes e o analista Tito Sousa, responsáveis pela avaliação de impactos da tecnologia, ressaltam que a área ocupada com a tecnologia não está sobreposta às áreas tradicionais de pecuária brasileira.

“Estamos ocupando uma área que não era ocupada. O Boi safrinha entra no pousio da agricultura, sendo contabilizado na área agrícola, não na de pecuária”, explica. “Isso constitui uma inovação, com uma agregação de valor que não existia antes e que foi gerada pelo senso de oportunidade do produtor, pelo cenário de inovação da ILP e por cultivares de soja com ciclo precoce”, completa Sousa.

A avaliação de impactos utiliza os conceitos macroeconômicos Taxa Interna de Retorno (TIR**), Relação Benefício/Custo (B/C***) e Valor Presente Líquido (VPL****) e considera o investimento da Embrapa no desenvolvimento tecnológico do Boi safrinha entre 2009 e 2015 e a adoção a partir de 2016 com ampliação da área ocupada pelo sistema especializado de ILP no Cerrado. A análise econômico-financeira mostrou Índice B/C da tecnologia de 534,82, TIR de 150,37% e VPL de R$ 850.860,62, que a uma taxa de juros de 6% por cada real investido na pesquisa, retorna R$ 534,82 para a sociedade.

Ao comentar os valores gerados pela tecnologia no ano-safra 2019/20, Fernandes lembra que 2020 foi um ano atípico na agropecuária brasileira. “Mesmo tendo ocorrido a melhor safra de grãos da história em decorrência das condições climáticas favoráveis e do aumento da produtividade, os preços dos produtos foram muito elevados. A pandemia da Covid-19 alterou a rotina do País e influenciou o mercado agropecuário”, analisa, acrescentando que mudanças cambiais e o aumento das exportações elevaram o valor dos grãos e da carne nos mercados interno e externo. “Só não houve mais Boi safrinha no ano passado porque não havia mais boi no mercado. Quem tinha, vendeu”, completa.

Análise de impacto segura e de baixo custo

Em 2020, a pandemia do novo coronavírus provocou uma mudança na forma de levantamento de dados de campo usados para as estimativas de adoção e os indicadores sociais e ambientais contemplados no método para avaliar os impactos da tecnologia. Em lugar dos contatos presenciais feitos a cada dois anos, Fernandes e Sousa realizaram as entrevistas de modo remoto, utilizando telefone, WhatsApp e ferramentas web.

“Montamos um esquema de perguntas bem prático para os entrevistados. É um grupo de alto nível”, diz Sousa. “Já fazíamos entrevistas à distância, então não foi uma novidade. De um ano para o outro, nossos números são muito coerentes”, completa Fernandes.

Além de garantir o distanciamento social, o levantamento remoto dos dados representou uma economia de R$ 95 mil, considerando o valor semanal de R$ 3 mil por empregado com deslocamentos, diárias, combustível e hospedagens, somado ao custo de mão de obra de um pesquisador e um analista. O custo com a obtenção de dados de forma remota foi praticamente zero, já que boa parte das entrevistas foi realizada via WhatsApp e plataformas web, não havendo a cobrança de tarifas adicionais para chamadas de longa distância.

Dados sobre o Boi safrinha

– O Cerrado brasileiro tem 22,1 milhões de ha com culturas anuais e, nessas áreas, o Boi safrinha ocupou 3 milhões de ha em sistemas especializados de ILP no ano-safra 2019/2020.

– A elevação dos preços dos produtos proporcionou grande aumento na receita bruta e na margem bruta, que alcançaram, respectivamente, R$ 12,3 bilhões e R$ 2,99 bilhões

– O efeito poupa-terra no Boi safrinha foi de 9,4 milhões de ha de pastagens perenes desocupadas no Cerrado e pelo pastejo evitado decorrente da antecipação da idade de abate dos animais.

– A relação benefício/custo mostra que cada real investido em pesquisa pela Embrapa com o Boi safrinha retorna R$ 534,82 para a sociedade.

Ano-safra 2019/2020:

  • Efeito poupa-terra: 9,4 milhões de ha
  • Área ocupada: 3.025.031 ha
  • Rentabilidade no período: 31,7 %/ha
  • Rentabilidade mensal: 9,7 %/ha
  • Receita bruta: R$ 12,3 bilhões
  • Margem bruta: R$ 2,99 bilhões

    Ano-safra 2018/2019:

  • Efeito poupa-terra foi de 7,1 milhões de ha
  • Área ocupada: 2.303.263 ha
  • Rentabilidade no período: 18,8 %/ha
  • Rentabilidade mensal: 5,7 %/ha
  • Receita bruta: R$ 6,2 bilhões
  • Margem bruta: R$ 1 bilhão

*O SPD é constituído pelo não revolvimento do solo, em sua cobertura permanente e na rotação de culturas, com supressão das etapas de preparo convencional de aração e gradagem do solo são suprimidas.

**A TIR é uma taxa de desconto hipotética que, quando aplicada a um fluxo de caixa, faz com que os valores das despesas, trazidos ao valor presente, seja igual aos valores dos retornos dos investimentos, também trazidos ao valor presente.

***Indicador que relaciona os benefícios de um projeto ou proposta e o seus custos, sendo ambos expressos em termos monetários e em valores presentes.

****O VPL determina o valor presente de pagamentos futuros descontados a uma taxa de juros apropriada, menos o custo do investimento inicial.

Fonte: Embrapa Cerrados

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Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento Agropecuário e Agroindustrial do Matopiba realiza primeira reunião

Objetivo foi a apresentação dos membros do Comitê Gestor e dos três Grupos de Trabalho.

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O Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento Agropecuário e Agroindustrial do Matopiba (CGPDA-Matopiba) realizou a 1ª reunião no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) nesta semana. A reunião teve por objetivo a instalação do Comitê Gestor (CGPDA Matopiba) e foi conduzida pelo presidente e coordenador de Apoio às Superintendências, Oziel Oliveira, pelo vice-presidente e secretário-adjunto da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo (SDI), Pedro Neto, e pelo secretário-adjunto da Secretaria Executiva, Cleber Soares.

O PDA-Matopiba foi criado por meio do Decreto Nº 11.767 publicado em novembro de 2023. O Plano visa promover e coordenar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico, ambiental e social sustentável, fundado nas atividades agrícolas, pecuárias e agroindustriais que resultem na melhoria da qualidade de vida da população.

Presidente do Comitê, Oziel Oliveira: “A partir de agora, nós vamos ter uma responsabilidade de juntos com o Governo Federal, governos estaduais, municipais, entidades privadas e educacionais de desenvolver políticas públicas de logística, infraestrutura, educação e sustentabilidade para o Matopiba” – Fotos: Divulgação/Mapa 

O presidente do Comitê, Oziel Oliveira, destacou que esta região tem uma grande capacidade de produção e é uma das maiores áreas de extensão agrícola do país e que por meio do Plano os estados terão mais oportunidades de crescimento e desenvolvimento do agronegócio. “A partir de agora, nós vamos ter uma responsabilidade de juntos com o Governo Federal, governos estaduais, municipais, entidades privadas e educacionais de desenvolver políticas públicas de logística, infraestrutura, educação e sustentabilidade para o Matopiba”, afirmou Oliveira.

O Comitê Gestor é formado pela Casa Civil da Presidência da República, pelos Ministérios da Agricultura e Pecuária (Mapa), do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço (MDIC), da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por representantes dos estados e municípios da Bahia, Maranhão, Tocantins e Piauí e por representantes do setor educacional, empresarial e entidades.

Na ocasião, foram apresentados os três Grupos de Trabalho (GT’s) para a criação do Plano Estratégico do PDA-Matopiba. O primeiro GT será de Ordenamento e Gestão Territorial que será coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); GT de Desenvolvimento Agropecuário que será coordenado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente da Bahia (Sema); e GT de Desenvolvimento Agroindustrial que será coordenado pela SDI/Mapa.

De acordo com a Portaria Mapa nº 33/2024, após a designação dos membros do CGPDA Matopiba, o Comitê tem 180 dias para a elaboração do desenvolvimento do Plano de Desenvolvimento Agropecuário e Agroindustrial do Matopiba.

Ainda durante o evento, e em homenagem ao mês das mulheres, o presidente do Comitê evidenciou o trabalho importante e a representação feminina no agronegócio. Estiveram presentes as produtoras rurais Ani Sanders e Rossana Aboud do estado do Piauí; Érika Santos, do estado do Maranhão; Katerine Rios do estado da Bahia; e a senadora pelo estado do Piauí, Jussara Lima.

Além disso, Oliveira destacou o papel delas na região do Matopiba e citou a produtora rural Lídia Souza que foi a primeira mulher a plantar soja no oeste da Bahia, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, em 1977. Durante a reunião, Lídia foi eleita presidente de honra do CGPDA Matopiba.

A próxima reunião ordinária do CGPDA irá acontecer no dia 24 de abril.

Região do Matopiba

A região do Matopiba abrange microrregiões geográficas localizadas nas áreas majoritariamente de cerrado na fronteira dos estados do Maranhão, de Tocantins, do Piauí e da Bahia. As primeiras sílabas de cada estado formam a palavra conhecida como Matopiba.

A região é formada pelo Norte e Nordeste dos estados de Maranhão (33%), Tocantins (38%), Piauí (11%) e Bahia (18%). É o 4º maior produtor de grãos do Brasil, com 5,9 milhões de habitantes.

Os quatro estados devem atingir uma produção de grãos de 48 milhões de toneladas nos próximos dez anos, alta de 37%, em uma área plantada de 11 milhões de hectares, em 2032/33. O crescimento da região deve ocorrer baseado na produtividade.

Nos últimos dez anos, a produção de grãos no Matopiba aumentou 92%, passando de 18 milhões de toneladas (safra 2013/14) para as atuais 35 milhões de toneladas.

Com 337 municípios, o Matopiba tem como principais produtores de grãos Barreiras, Correntina, Formosa do Rio Preto, Jaborandi, Luís Eduardo Magalhães, Riachão das Neves e São Desidério, na Bahia; Balsas e Tasso Fragoso, no Maranhão; Baixa Grande do Ribeiro, Bom Jesus, Ribeiro Gonçalves, Santa Filomena e Uruçuí, no Piauí; e Campos Lindos, no Tocantins.

Fonte: Assessoria Mapa
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Deral divulga estimativa da safra de inverno no Paraná

Há previsão de retração na área das culturas de inverno no Estado. Informações estão na Previsão Subjetiva da Safra, relatório produzido pelo Departamento de Economia Rural da Seab.

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Foto: Gisele Barão/EPR

A área da segunda safra de feijão no Paraná no ciclo 2023/2024 atingiu um novo recorde para a época. A estimativa foi revisada em março para 391,4 mil hectares, 12% superior à projetada em fevereiro, de 348 mil hectares, e 33% maior do que a área semeada no ciclo 2022/2023, de 295 mil. As informações estão na Previsão Subjetiva de Safra (PSS) divulgada na última quarta-feira (27). O relatório é produzido pelos técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab).

O aumento na área consolida a preferência do plantio no verão em detrimento do plantio na primavera, quando agronomicamente a planta teria condições de responder melhor, mas acaba substituída pela soja. “Caso as condições climáticas continuem ajudando, a produção de feijão na segunda safra do Paraná pode chegar a 777 mil toneladas, ainda que existam riscos até a confirmação desta produção”, explica o agrônomo Carlos Hugo Godinho.

Outro destaque do relatório deste mês é a primeira estimativa para as culturas de inverno na safra 2023/24, e o Deral projeta uma retração na intenção de plantio. O aumento da área dedicada à segunda safra de grãos limitou a possibilidade de plantio a partir de abril, pois muitas áreas estarão ocupadas pelo feijão e pelo milho no período de semeadura do trigo.

Foto: Jaelson Lucas/AEN

A área está estimada em 1,17 milhão de hectares de trigo, 17% inferior aos 1,41 semeados em 2023. Canola, centeio, cevada e triticale também devem ocupar uma área menor. Além do avanço da segunda safra, também explicam essa redução a menor rentabilidade esperada pelos produtores comparativamente aos anos anteriores e a desmotivação ocasionada pela safra de 2023.

Com a entrada da safra de inverno, é possível estimar uma produção total de grãos de 41 milhões de toneladas no Paraná. “Esse volume já é 10% inferior ao colhido em 2022/23”, completa o chefe do Deral, Marcelo Garrido.

Soja

O relatório mensal do Deral relativo a março de 2024 também revisou a área de soja. Espera-se que, ao final da safra, o Paraná colha 18,3 milhões de toneladas em 5,77 milhões de hectares. Este volume é 3,5 milhões de toneladas menor que a expectativa inicial para a safra, que era de 21,8 milhões de toneladas. A perda percentual no campo chega a 16%.

“Nesta semana a colheita chegou a 87% da área e as condições climáticas, no geral, estão favoráveis para avançar nos próximos dias”, diz o analista Edmar Gervásio. De acordo com ele, os preços se mantêm estáveis nos últimos três meses, com a saca de 60kg sendo comercializada entre R$ 103,00 e R$ 110,00.

Milho

A colheita da primeira safra de milho 23/24 chegou a 91% dos 297 mil hectares plantados nesta safra. A produção esperada é de 2,5 milhões de toneladas, com uma perda estimada no campo de 418 mil toneladas ou 14% a menos do que a expectativa inicial de produção.

Já o plantio da segunda safra do grão atingiu 99% dos 2,4 milhões de hectares esperados. A expectativa de produção para a safra é de 14,2 milhões de toneladas. “A produção foi

Foto: Fagner Almeida

revisada para baixo, pois os fatores climáticos como calor intenso e chuvas irregulares afetaram o desenvolvimento do milho e com isso já é possível apontar uma safra menor que a inicialmente esperada”, explica Gervásio.

Boletim Agropecuário

O Deral também divulgou hoje o Boletim de Conjuntura Agropecuária. Além da análise da produção de grãos, o boletim traz informações sobre a produção de tomate. Os números mostram que os cultivos da primeira safra, cujo plantio começou em agosto de 2023, estão com 91% da área de 2,4 mil hectares colhida.

De acordo com o engenheiro agrônomo Paulo Andrade, a produção estimada de 138,5 mil toneladas é 10,1% menor que as 154,1 mil projetadas na semeadura. O excesso de chuvas no início da primavera e os bolsões de calor intenso desde o início do ciclo dos plantios contribuíram para esta queda, repercutindo na qualidade do produto final e na volatilidade dos preços praticados.

O boletim também mostra dados sobre a produção de suínos e ovos no Paraná, com base em levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e sobre leite.

Fonte: AEN-PR
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Notícias

Prazo para o preenchimento da plataforma Contabilizando Resíduos é prorrogado até julho

Entidades privadas também ganharam mais tempo para apresentação de relatório sobre planejamento de logística reversa.

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Foto: Divulgação/AEN

O Governo do Paraná prorrogou por meio da Resolução Conjunta Sedest/IAT Nº 004/2024 publicada no Diário Oficial do Estado na última quarta-feira (27) os prazos para o preenchimento da Plataforma Contabilizando Resíduos, da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (Sedest), que se encerrariam domingo (31). Agora, municípios podem preencher o módulo de “Resíduos Sólidos Urbanos – RSU” até 31 de julho de 2024.

Fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos e embalagens pós-consumo também têm até 31 de julho de 2024 para apresentação, de forma individual ou coletiva, do Relatório Comprobatório dos Planos de Logística Reversa. Este relatório deve conter as informações e resultados, tendo como base o ano anterior (janeiro a dezembro) a fim de que seja avaliado e aprovado, e emitido documento que ateste sua aprovação pela Secretaria. A plataforma e os manuais de utilização podem ser acessados no site da Sedest.

O coordenador de Gestão Econômica e Territorial da Sedest, Filipe Dalboni, afirma que havia necessidade de prorrogar o prazo para garantir a qualidade dos dados recebidos. “Aumentamos o prazo para que tivéssemos tempo hábil de fornecer uma formação online para quem está com dificuldades de preenchimento da plataforma, a fim de que possamos obter dados mais fidedignos”, explica.

A formação online ainda não possui data marcada, mas está prevista para ocorrer ainda em abril e buscará trazer informações aos gestores municipais sobre o preenchimento adequado da Plataforma Contabilizando Resíduos – Módulo RSU. Os municípios serão informados do dia da formação por meio do Grupo R-20.

Outros prazos

Dentro deste contexto, a Sedest definiu 31 de outubro de 2024 como o prazo aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos e embalagens pós-consumo sujeitos à logística reversa submeterem o Plano de Logística Reversa referente ao ano de 2025. A razão desta definição é garantir que os empreendimentos sujeitos à logística reversa entrem no ano de 2025 com seus planos devidamente aprovados.

Para aqueles que que iniciarem suas atividades entre 01/11/2024 e 31/12/2024, será admitida a apresentação de seus respectivos Planos de Logística Reversa dentro deste período.

Dalboni reiterou a importância de municípios e entidades privadas estarem em dia com os prazos legais de preenchimento da Plataforma. “Queremos que os municípios estejam em dia com suas obrigações referentes aos resíduos sólidos urbanos, e lembramos que as empresas que não enviarem suas comprovações poderão ter dificuldade em renovar algumas licenças”, pontua.

Sobre a plataforma

O Sistema Estadual de Informações sobre Resíduos Sólidos do Estado do Paraná, a plataforma digital Contabilizando Resíduos, é uma ferramenta de gestão e planejamento sobre os resíduos sólidos do Estado, a qual foi instituída pela Lei Estadual nº 20.607, de 10 de junho de 2021, e teve seus critérios e procedimentos regulamentados pelas Resoluções Conjuntas Sedest/IAT n° 20, de 20 de julho de 2021, e n° 22, de 28 de julho de 2021.

Fonte: AEN-PR
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