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“Boi safrinha” maximiza uso da terra e potencializa ganhos de produtores no Cerrado
Boi safrinha ocupou, no ano-safra 2019/20, 3 milhões de ha no Cerrado, ante 2,3 milhões de ha no ano-safra 2018/19

Produtores rurais do Cerrado têm encontrado na adoção de um sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) uma alternativa rentável para evitar os riscos climáticos da segunda safra de verão em sistema de sequeiro, aproveitar áreas agrícolas que ficam em pousio durante o inverno, período seco do ano, produzir carne a custo mais baixo e incrementar a produtividade das lavouras de grãos. É o chamado sistema “Boi safrinha”, “safrinha de boi” ou “pasto safrinha”, tecnologia cada vez mais adotada na região.
O sistema recebeu esse nome em alusão à segunda safra de milho, também chamada “milho safrinha”. Nele, uma gramínea forrageira dos gêneros Brachiaria ou Panicum é semeada simultaneamente com o milho ou sobressemeada a lanço em soja, a partir do final do enchimento dos grãos até o amarelamento das plantas. Após a colheita da lavoura de grãos, a massa de capim formada para cobrir o solo para o plantio da cultura anual no verão seguinte em Sistema Plantio Direto* (SPD) também pode ser usada como pastagem de curta duração na cria, recria ou terminação de bovinos, promovendo bem-estar animal, diminuindo custos com confinamento, intensificando o uso da área e aumentando a lucratividade das fazendas.
De acordo com a avaliação de impactos da tecnologia realizada pela Embrapa Cerrados (DF), o Boi safrinha ocupou, no ano-safra 2019/20, 3 milhões de ha no Cerrado, ante 2,3 milhões de ha no ano-safra 2018/19. A área é estimada com base na estimativa de formação de pastagens e cobertura de solo com as espécies forrageiras mais utilizadas para o período seco do ano em sistemas de ILP especializados. O Boi safrinha foi uma das 152 tecnologias cujos impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais foram analisados no Balanço Social 2020 da Embrapa, cujos resultados serão anunciados no próximo dia 27 pelo presidente da Embrapa, em uma coletiva virtual de imprensa marcada para as 10h30.
A receita bruta com a tecnologia foi estimada em R$ 12,3 bilhões, quase o dobro do ano-safra anterior (R$ 6,2 bilhões) e a margem bruta em R$ 2,99 bilhões, praticamente o triplo do período antecedente (R$ 1 bilhão), com rentabilidade mensal de 9,7% do capital investido por ha, quatro pontos percentuais acima do obtido em 2018/19. A rentabilidade total em 2019/20 foi de 31,7%/ha, contra 18,8%/ha do período anterior. As simulações econômicas de 2020 consideram os valores de R$ 207,25 para boi magro e R$ 243,59 para boi gordo, com base em valores médios do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) nos meses de junho e outubro, respectivamente.
O efeito ambiental de “poupa-terra” (quando novas áreas deixam de ser utilizadas devido ao uso de tecnologias de intensificação do uso da terra) foi de 9,4 milhões de ha de pastagens perenes desocupadas durante a estação seca no Cerrado e pelo pastejo evitado decorrente da antecipação da idade de abate dos animais, contra 7,1 milhões de ha em 2018/19. Cada real investido na pesquisa sobre a tecnologia, entre 2009 e 2015, retornou R$ 534,82 para a sociedade.
Benefícios
Lourival Vilela, um dos pesquisadores responsáveis pela sistematização do Boi safrinha, destaca que tanto os produtores de grãos e fibras como os pecuaristas se beneficiam da tecnologia, assim como os frigoríficos, que contam com maior oferta de carne na estação seca, quando há menor disponibilidade de forragem.
Os principais impactos agronômicos do sistema Boi safrinha observados pelos pesquisadores são ganhos de produtividade de soja de 10 a 15% quando em sucessão a pastagens de maior produtividade e adubadas; ganho de peso em equivalente-carcaça entre 6@/ha e 12@/ha na pastagem de curta duração na estação seca; e ciclagem de nitrogênio, fósforo e potássio estimada, em equivalente-fertilizante, em cerca de 60 kg/ha/ano de ureia, 95 kg/ha/ano de superfosfato simples e 85 kg/ha/ano de cloreto de potássio, respectivamente.
O sinergismo da rotação lavoura-pasto do sistema promove melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, resultando no aumento do teor de matéria orgânica do solo; diminui a incidência de plantas daninhas e auxilia no controle de pragas e doenças das culturas, como Fusarium spp. e mofo branco em soja, reduzindo o uso de agroquímicos. Além disso, a palhada do capim, se bem manejada, aumenta a taxa de infiltração de água no solo, elevando a recarga do lençol freático.
Desenvolvimento
Apesar de ter sido descrito em uma publicação somente em 2017, o Boi safrinha já existia como prática desde o início da adoção de sistemas de ILP para recuperação de pastagens em fazendas na década de 1990, como lembra Lourival Vilela.
“Um dos aspectos que mais chamavam a atenção é que as pastagens permaneciam verdes por um período longo do ano. Quando o produtor de grãos começou a introduzir a braquiária nas áreas de agricultura, surgiu esta oportunidade: trabalhar com o boi, que é uma atividade de menor risco que o milho safrinha em muitas regiões”, diz o pesquisador.
O médico veterinário William Marchió, que atua como consultor de agronegócios em 11 estados brasileiros e no Paraguai, aponta que o Boi safrinha é uma estratégia que se tornou corriqueira em grande parte das fazendas com atividades agrícolas e pecuárias, principalmente em estados com perfil agrícola, como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, mais receptivos a esses sistemas.
“O fato de haver uma gramínea no sistema diminui a ocorrência de pragas e doenças e aumenta o teor de matéria orgânica do solo. A fertilidade do solo fica bem conduzida e quem se dispõe a ter gado produz uma arroba muito barata (por R$ 120 a R$ 140, contra R$ 200 na pastagem convencional). Além disso, os animais em pastejo conferem aumento da produtividade agrícola”, explica.
Marchió observa que os principais adotantes do Boi Safrinha são pecuaristas que se tornaram também agricultores cerca de 15 anos atrás, quando se iniciou o aumento da adoção de sistemas de integração no País. Em seguida, aparecem os agricultores que vislumbraram a agregação de valor com a atividade pecuária e adquiriram animais – por sinal, o principal investimento do sistema.
Lourival Vilela destaca que a tecnologia vai além da alimentação dos bovinos na entressafra. “Há fazendas que estão fazendo a estação de monta invertida, saindo do período tradicional (novembro) para o mês de maio (período da pastagem do Boi safrinha)”, comenta, salientando que os animais, nesse sistema, não perdem peso. “O grande objetivo do criador é obter mais bezerros por área. Na monta invertida, ele consegue aumentar a fertilidade das vacas devido ao valor nutricional superior da pastagem. Além disso, o nascimento dos bezerros ocorre normalmente na seca. Com a inversão da monta, a mortalidade diminui”, completa Marchió.
Vilela acrescenta que a maior disponibilidade de forragem proporcionada pelo sistema, aliada ao manejo animal adequado, pode proporcionar a redução das idades de abate dos animais machos e de primeiro parto das novilhas, encurtando o ciclo pecuário e proporcionando o aumento da rentabilidade da atividade ano após ano.
“Estamos num momento de demanda internacional por alimentos muito forte. A tendência é de que as commodities continuem sendo valorizadas. Como o valor da terra aumentou muito nos últimos anos, o produtor que não conseguir fazer a expansão horizontal da produção fará a expansão vertical, aumentando a produtividade na mesma área”, aponta Marchió.
Existem diferentes alternativas de Boi safrinha (ver figura), e a escolha depende das condições operacionais da fazenda, como infraestrutura, cercas, aguadas e máquinas, bem como das condições climáticas de cada região favoráveis aos cultivos de soja, milho e sorgo, e do conhecimento e experiência necessários para implantação das práticas do sistema.
Figura: Alternativas potenciais de Boi safrinha

Caso de sucesso
No Oeste da Bahia, as condições climáticas são restritivas ao cultivo da segunda safra de verão, como o milho após a colheita da soja. A Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto (BA), propriedade da família de Eduardo Manjabosco, adota o Boi safrinha há mais de 10 anos, tendo contribuído para a validação da tecnologia. O sistema é atualmente usado em toda a área com milho da fazenda, que na safra 2020/21 representa 4900 ha.
A fazenda utilizava tradicionalmente a semeadura do capim Brachiaria ruziziensis após a emergência do milho, visando à formação de palhada para o SPD. “Era muita palha de ótima qualidade e achamos que seria um desperdício não colocar um boi para comer parte daquela forragem no período da seca. Foi aí que decidimos adotar o Boi safrinha”, lembra Manjabosco.
Para melhorar o rendimento operacional do plantio do consórcio, foram introduzidos na safra 2009/10 os consórcios milho com B. ruziziensis e milho com B. brizantha cultivar Piatã em 200 ha da propriedade. A semeadura das braquiárias foi realizada imediatamente antes do plantio do milho, sendo que o capim Piatã foi utilizado para diversificação do sistema e aumento do potencial de produção de forragem.
Naquele primeiro ano, a produtividade do milho no consórcio com B. ruziziensis foi de 156,6 sc/ha, valor próximo ao do rendimento do milho solteiro (160 kg/ha). Já a produtividade do consórcio com o Piatã foi de 140 sc/ha (com capim Piatã), sendo que houve competição do capim com o milho, afetando a produtividade. Segundo Manjabosco, as produtividades médias do milho no sistema vêm se mantendo próximas a 200 sc/ha, sendo que na safra 2019/20 foram colhidas 187 sc/ha.
Ganhos na pecuária e na soja
A formação de massa seca de forragem nos consórcios no primeiro ano de Boi safrinha na fazenda foi de 2.677 kg/ha (B. ruziziensis) e 5.514 kg/ha (Piatã). Na entressafra, o ganho de peso médio de animais Nelore chegou a 0,98 kg/animal/dia no consórcio com o capim Piatã, e a 0,8kg/animal/dia no consórcio com B. ruziziensis, com rendimentos médios de carcaça de 6,9@/ha e 3,4@/ha, respectivamente.
O pastejo na fazenda é manejado em piquetes de 50 ha, de modo a preservar cerca de 50% da massa de forragem acumulada no consórcio com milho para uso no SPD. Assim, quando o consumo de forragem se aproxima dessa meta, geralmente entre 15 e 20 dias, os animais são transferidos para uma nova área, num sistema de pastejo itinerante.
Entre 2010 e 2015, a melhoria do potencial genético do rebanho da propriedade, associada aos ajustes no manejo animal e na pastagem no sistema, proporcionou a redução na idade de abate de 36 para 24 meses, além do aumento de 29% no peso médio da carcaça, de 202 kg para 261 kg. O crescimento médio anual de bovinos engordados foi de 41%.
Cerca de 90% dos animais utilizados na Fazenda Triunfo para recria e terminação vêm de outra propriedade da família, em Riachão das Neves e Santa Rita de Cássia (BA). Em 2020, eles foram vendidos com idade entre 22 e 23 meses e com peso médio de 315 kg (ou 21 @). Com o aumento da área ocupada pelo Boi safrinha na fazenda ao longo dos anos, o número de animais no sistema passou de 358 em 2010 para cerca de 4800 no ano passado. “Para nós, houve um grande ganho com a implantação do sistema Boi safrinha. Os negócios andam bem e, com o aumento do preço da arroba, melhor ainda”, afirma Manjabosco, que prevê utilizar em torno de 5 mil cabeças no sistema em 2021.
Ele observa que, como no Boi safrinha a engorda do gado ocorre no período de preços mais baixos da arroba (início da seca), o sistema proporciona animais gordos no período em que os preços começam a subir (final do período seco) e ainda há pouca oferta no mercado. “É um ganha-ganha de vários lados”, comenta o produtor.
Na safra 2010/11, a produtividade de soja em áreas de SPD no resíduo pós-pastejo havia sido de 67,5 sc/ha, 24% a mais que as 54,6 sc/ha obtidas nas áreas sem os capins. Nas últimas safras, a produtividade média em soja tem sido de 72 sc/ha, tendo alcançado 82 sc/ha na safra 2017/18. “Tanto em pesquisa como em trabalhos realizados em fazendas, tem-se observado que o pastejo do capim na entressafra tem proporcionado rendimentos de grãos maiores que em áreas não pastejadas. Em soja e milho, esses aumentos na produtividade são da ordem de 5 a 10 sc/ha”, diz Lourival Vilela.
“Sou fã do sistema e não quero voltar atrás. Ele me ajuda a colher mais soja e permite utilizar uma mão de obra que ficaria ociosa na entressafra, quando em vez de produzir nada, produzo carne”, afirma Manjabosco, acrescentando que o Boi safrinha na Fazenda Triunfo também viabiliza a propriedade de pecuária, onde o gado é mantido em pastagem extensiva com tecnologias de adubação e correção do solo.
Eficiência de uso da adubação
A liberação de nutrientes pela decomposição da palhada do milho consorciado com braquiária é outro benefício potencial do Boi safrinha observado nas pesquisas na Fazenda Triunfo. Na avaliação do efeito da redução da dose de fertilizante usada nos consórcios de milho com os capins, tendo como referência as doses normalmente utilizadas na propriedade, foi possível reduzir em 39% as doses de fósforo e em 33% as de potássio sem afetar significativamente a produtividade de soja, independente do modo da adubação ou do manejo da braquiária. Os resultados indicam que é possível reduzir as quantidades de fósforo e potássio e melhorar a eficiência desses nutrientes.
“No primeiro ano de soja após o consórcio milho com braquiária, aplico zero de potássio. E temos reduzido o uso de fósforo no plantio da soja, aplicando 250kg/ha de supersimples. Os níveis de fertilidade estão se mantendo. As próprias braquiárias têm capacidade de solubilizar algum fósforo da argila do solo. Hoje, só precisamos manter essa fertilidade, calculando a necessidade de nutriente pela extração pelas plantas”, comenta Manjabosco, lembrando que no período de construção da fertilidade do solo na fazenda as aplicações do adubo fosfatado eram de 400 kg/ha.
Além da intensificação dos fatores de produção (terra, insumos e mão de obra) e de melhorar as qualidades químicas, físicas e biológicas do solo, o sistema Boi Safrinha na Fazenda Triunfo contribui para reduzir a incidência de plantas daninhas e controlar algumas doenças das culturas e de solo. “Tínhamos problemas com o Pratylenchus sp. (“nematóide oportunista”) e hoje não vemos mais manchas de nematoides. São inúmeros ganhos, como a atividade biológica que o sistema traz para nossa lavoura”, aponta o produtor.
Novas experiências
Com o sucesso da adoção do sistema, Manjabosco passou a fazer novas experiências. Na safra 2017/18, além de manter os consórcios de capins com o milho, a fazenda passou a trabalhar com a sobressemeadura de Panicum maximum cultivar Mombaça em soja – nas duas últimas safras, foram 3 mil ha, cerca de 30% da área plantada com a leguminosa na fazenda. Em 2020, foram colocados animais sobre a pastagem formada antes de seguirem para os pastos de braquiárias dos consórcios com o milho.
“O Mombaça produz muita massa e o excesso de palhada dificulta o plantio (da safra seguinte). O desempenho dos animais foi muito bom, com maior ganho de peso que na braquiária”, conta o produtor, que cogita repetir a experiência em 2021 se a chuva for suficiente para favorecer o crescimento do capim.
Ainda neste ano, buscando aumentar a taxa de prenhez do rebanho, Manjabosco pretende introduzir novilhas no sistema Boi safrinha para serem entouradas aos 14 meses. “É uma experiência, quero ver se ganho um ano (no ciclo pecuário)”, diz.
Inovação com agregação de valor
A avaliação dos impactos (redução de custos, sustentabilidade, agregação de valor, incremento de produtividade e inclusão produtiva) do Boi safrinha para o Balanço Social da Embrapa tem sido realizada e atualizada anualmente desde o ano-safra 2015/2016. Na edição de 2020, foi uma das 152 tecnologias cujos impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais foram analisados no Balanço Social da Embrapa.
A metodologia da avaliação é baseada em números do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de comercialização de sementes de espécies forrageiras usadas para sistemas especializados de ILP (pastejo de inverno no Cerrado em sucessão à cultura anual principal de grãos) e com grande volume de venda de sementes – B. ruziziensis, B. brizantha cultivar Marandu e B. brizantha cultivar Piatã. Também são consideradas informações de representantes dos filiados à Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), instituição parceira da Embrapa que reúne empresas de diferentes estados e responsáveis por cerca de 60% do mercado de sementes de forrageiras do País. Dos 34 filiados, 32 participaram por meio de entrevistas estruturadas.
As informações da Unipasto parametrizam um modelo matemático que considera os montantes de sementes vendidas e de sementes de salvamento (produzidas legalmente nas propriedades), além de uma estimativa da Unipasto sobre a quantidade de sementes comercializadas ilegalmente (sementes piratas), considerando apenas a região do Cerrado. A estimativa dos índices zootécnicos do componente pecuário é baseada em entrevistas estruturadas com consultores atuantes na região do Cerrado e publicações em eventos técnicos. A agregação de valor foi calculada pela diferença do ganho de peso vivo antes e depois da adoção tecnológica.
Em quatro anos de avaliação, a área estimada com o Boi safrinha no Cerrado passou de 973 mil ha em 2015/16 para 1,5 milhões de ha em 2016/17; 2,3 milhões em 2017/18 e 3 milhões de ha em 2019/20. O pesquisador Paulo Fernandes e o analista Tito Sousa, responsáveis pela avaliação de impactos da tecnologia, ressaltam que a área ocupada com a tecnologia não está sobreposta às áreas tradicionais de pecuária brasileira.
“Estamos ocupando uma área que não era ocupada. O Boi safrinha entra no pousio da agricultura, sendo contabilizado na área agrícola, não na de pecuária”, explica. “Isso constitui uma inovação, com uma agregação de valor que não existia antes e que foi gerada pelo senso de oportunidade do produtor, pelo cenário de inovação da ILP e por cultivares de soja com ciclo precoce”, completa Sousa.
A avaliação de impactos utiliza os conceitos macroeconômicos Taxa Interna de Retorno (TIR**), Relação Benefício/Custo (B/C***) e Valor Presente Líquido (VPL****) e considera o investimento da Embrapa no desenvolvimento tecnológico do Boi safrinha entre 2009 e 2015 e a adoção a partir de 2016 com ampliação da área ocupada pelo sistema especializado de ILP no Cerrado. A análise econômico-financeira mostrou Índice B/C da tecnologia de 534,82, TIR de 150,37% e VPL de R$ 850.860,62, que a uma taxa de juros de 6% por cada real investido na pesquisa, retorna R$ 534,82 para a sociedade.
Ao comentar os valores gerados pela tecnologia no ano-safra 2019/20, Fernandes lembra que 2020 foi um ano atípico na agropecuária brasileira. “Mesmo tendo ocorrido a melhor safra de grãos da história em decorrência das condições climáticas favoráveis e do aumento da produtividade, os preços dos produtos foram muito elevados. A pandemia da Covid-19 alterou a rotina do País e influenciou o mercado agropecuário”, analisa, acrescentando que mudanças cambiais e o aumento das exportações elevaram o valor dos grãos e da carne nos mercados interno e externo. “Só não houve mais Boi safrinha no ano passado porque não havia mais boi no mercado. Quem tinha, vendeu”, completa.
Análise de impacto segura e de baixo custo
Em 2020, a pandemia do novo coronavírus provocou uma mudança na forma de levantamento de dados de campo usados para as estimativas de adoção e os indicadores sociais e ambientais contemplados no método para avaliar os impactos da tecnologia. Em lugar dos contatos presenciais feitos a cada dois anos, Fernandes e Sousa realizaram as entrevistas de modo remoto, utilizando telefone, WhatsApp e ferramentas web.
“Montamos um esquema de perguntas bem prático para os entrevistados. É um grupo de alto nível”, diz Sousa. “Já fazíamos entrevistas à distância, então não foi uma novidade. De um ano para o outro, nossos números são muito coerentes”, completa Fernandes.
Além de garantir o distanciamento social, o levantamento remoto dos dados representou uma economia de R$ 95 mil, considerando o valor semanal de R$ 3 mil por empregado com deslocamentos, diárias, combustível e hospedagens, somado ao custo de mão de obra de um pesquisador e um analista. O custo com a obtenção de dados de forma remota foi praticamente zero, já que boa parte das entrevistas foi realizada via WhatsApp e plataformas web, não havendo a cobrança de tarifas adicionais para chamadas de longa distância.
Dados sobre o Boi safrinha
– O Cerrado brasileiro tem 22,1 milhões de ha com culturas anuais e, nessas áreas, o Boi safrinha ocupou 3 milhões de ha em sistemas especializados de ILP no ano-safra 2019/2020.
– A elevação dos preços dos produtos proporcionou grande aumento na receita bruta e na margem bruta, que alcançaram, respectivamente, R$ 12,3 bilhões e R$ 2,99 bilhões
– O efeito poupa-terra no Boi safrinha foi de 9,4 milhões de ha de pastagens perenes desocupadas no Cerrado e pelo pastejo evitado decorrente da antecipação da idade de abate dos animais.
– A relação benefício/custo mostra que cada real investido em pesquisa pela Embrapa com o Boi safrinha retorna R$ 534,82 para a sociedade.
Ano-safra 2019/2020:
- Efeito poupa-terra: 9,4 milhões de ha
- Área ocupada: 3.025.031 ha
- Rentabilidade no período: 31,7 %/ha
- Rentabilidade mensal: 9,7 %/ha
- Receita bruta: R$ 12,3 bilhões
- Margem bruta: R$ 2,99 bilhões
Ano-safra 2018/2019:
- Efeito poupa-terra foi de 7,1 milhões de ha
- Área ocupada: 2.303.263 ha
- Rentabilidade no período: 18,8 %/ha
- Rentabilidade mensal: 5,7 %/ha
- Receita bruta: R$ 6,2 bilhões
- Margem bruta: R$ 1 bilhão
*O SPD é constituído pelo não revolvimento do solo, em sua cobertura permanente e na rotação de culturas, com supressão das etapas de preparo convencional de aração e gradagem do solo são suprimidas.
**A TIR é uma taxa de desconto hipotética que, quando aplicada a um fluxo de caixa, faz com que os valores das despesas, trazidos ao valor presente, seja igual aos valores dos retornos dos investimentos, também trazidos ao valor presente.
***Indicador que relaciona os benefícios de um projeto ou proposta e o seus custos, sendo ambos expressos em termos monetários e em valores presentes.
****O VPL determina o valor presente de pagamentos futuros descontados a uma taxa de juros apropriada, menos o custo do investimento inicial.

Notícias
Plantio da soja desacelera e safra 2025/26 acende alerta
Irregularidade das chuvas mantém o ritmo abaixo do ano passado e aumenta as incertezas sobre o potencial produtivo, com apenas 78% da área semeada até 22 de novembro.

O ritmo de semeadura da soja da safra 2025/26 segue abaixo do registrado na temporada passada. Segundo pesquisadores do Cepea, esse cenário é reflexo da distribuição irregular das chuvas em grande parte do território nacional nos últimos três meses.
No Sul do País, o excesso de umidade ainda tem limitado o acesso às lavouras. Já no Centro-Oeste e no Matopiba, a distribuição desigual das precipitações resultou em umidade abaixo do necessário para avançar nos trabalhos de campo.
Apesar do aumento recente dos acumulados pluviométricos no Centro-Oeste e no Matopiba e da redução dos volumes de chuvas no Sul especialmente no Paraná, colaboradores do Cepea relatam que o cenário é de incertezas quanto ao potencial produtivo da safra 2025/26.
De acordo com a Conab, 78% da área nacional havia sido semeada até 22 de novembro, abaixo dos 83,3% registrados no mesmo período do ano passado.
Notícias
Chuvas irregulares marcam novembro e desafiam início da safra
Semeadura avançou mesmo com precipitações mal distribuídas, enquanto regiões como Matopiba e Centro-Oeste tiveram recuperação gradual da umidade do solo.

No período de 01 a 21 de novembro deste ano, as chuvas registradas em importantes áreas agrícolas foram irregulares e mal distribuídas. Essa condição trouxe impactos na semeadura e no início do desenvolvimento dos cultivos de primeira safra em algumas regiões produtoras do país. Ainda assim, de maneira geral, a umidade no solo e as temperaturas máximas não tão elevadas favoreceram o avanço da semeadura e o desenvolvimento das lavouras, inclusive em parte do Matopiba, com a intensificação das precipitações no final do período. A análise está no Boletim de Monitoramento Agrícola (BMA), divulgado nesta semana pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De acordo com o documento, no Centro-Oeste, principal região produtora de grãos do país, o período chuvoso foi instável, com chuvas irregulares e mal distribuídas em partes da região. A média diária do armazenamento hídrico no solo no período analisado ainda indicava áreas com baixa umidade no sudoeste de Mato Grosso, no Pantanal e no leste de Mato Grosso do Sul, bem como no sul e no norte de Goiás. No entanto, houve uma recuperação do armazenamento hídrico ao longo do mês, favorecendo a semeadura e o desenvolvimento dos cultivos de primeira safra, principalmente nas áreas com maior capacidade de retenção hídrica.

Foto: José Fernando Ogura
As precipitações também foram irregulares na região produtora que abrange áreas do Maranhão, sudoeste do Piauí, oeste da Bahia e Tocantins (Matopiba). Nessa área, as chuvas se intensificaram apenas na terceira semana do mês. Mesmo assim, houve uma recuperação do armazenamento hídrico no solo em toda a região, favorecendo o início da semeadura e o desenvolvimento das lavouras em áreas onde o plantio encontrava-se atrasado. Já em parte da Bahia, contemplando áreas até o sudeste do Piauí, os altos índices de precipitação registrados no final do período analisado não foram suficientes para elevar o armazenamento hídrico no solo a ponto de favorecer a semeadura dos cultivos de primeira safra.
Nas regiões produtoras de Rondônia, Pará e Tocantins, as chuvas não foram regulares, o que manteve a umidade no solo baixa em algumas áreas. Mas, com as chuvas registradas, é possível observar uma elevação do armazenamento hídrico no solo ao longo do período nesses três estados. Em contrapartida, no Amazonas, as chuvas foram frequentes e abundantes, contribuindo para a manutenção do nível dos rios.
No Sudeste, as chuvas foram melhor distribuídas, com maiores acumulados em São Paulo e no centro-sul de Minas Gerais. Entretanto, ainda se notam áreas com baixa umidade no solo em partes do Triângulo, Noroeste e Norte de Minas. Por outro lado, as temperaturas mais baixas diminuíram a perda de umidade no solo e mantiveram as condições favoráveis para o manejo e o desenvolvimento dos cultivos de primeira safra na maioria das áreas.
Já na região Sul, o início do mês foi marcado por altos índices de precipitação, principalmente no oeste do Paraná. Essas chuvas vieram acompanhadas de rajadas de vento, formação de tornados e granizo, causando danos significativos a algumas lavouras. Nas demais áreas da região Sul, os acumulados de chuva, no período de 01 a 21 de novembro, foram menores e mantiveram o armazenamento hídrico no solo em níveis suficientes para o desenvolvimento dos cultivos de primeira safra em praticamente todas as áreas. Considerando os cultivos de inverno, mesmo diante dos eventos de excesso de chuvas, o clima, no geral, foi favorável para o andamento e a conclusão da colheita.
O boletim completo, com informações sobre o clima e seus impactos na safra, está disponível no Portal da Conab.
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Novos destinos impulsionam exportações do agro brasileiro
Filipinas, Guatemala e Nicarágua abriram mercado para gordura bovina, arroz beneficiado e sementes, reforçando a diversificação e o avanço do comércio exterior do setor.

O governo brasileiro concluiu negociações sanitárias e fitossanitárias com os governos das Filipinas, da Guatemala e da Nicarágua, que permitirão ao Brasil exportar diversos produtos agropecuários para esses países.
Nas Filipinas, as autoridades sanitárias aprovaram a exportação de gordura bovina do Brasil. Trata-se de insumo utilizado na indústria de alimentos e na produção de biocombustíveis, contribuindo neste último caso para a geração de energia de baixo carbono, em particular o diesel verde e o “Sustainable Aviation Fuel”. Com cerca de 115 milhões de habitantes, as Filipinas são um dos maiores mercados consumidores do Sudeste Asiático. Entre janeiro e outubro de 2025, o país importou quase US$ 1,5 bilhão em produtos agropecuários do Brasil.
Na Guatemala, o Brasil obteve autorização fitossanitária para exportar arroz beneficiado (sem casca). Com uma população de cerca de 18 milhões de habitantes, a Guatemala importou mais de USD 192 milhões em produtos agropecuários brasileiros entre janeiro e outubro de 2025. Os cereais foram o principal produto exportado pelo Brasil neste ano.
Na Nicarágua, as autoridades fitossanitárias autorizaram o Brasil a exportar sementes de milheto, crotalária e nabo, insumos estratégicos para a agricultura tropical, que contribuem para o aumento da produtividade e a redução da dependência de fertilizantes minerais. Entre janeiro e outubro de 2025, a Nicarágua importou cerca de USD 55 milhões em produtos agropecuários do Brasil.
Com esses anúncios, o agronegócio brasileiro alcança 496 aberturas de mercado desde o início de 2023.
Os resultados reforçam a estratégia de diversificação de destinos e de produtos, incluindo itens de maior valor agregado, e são fruto do trabalho conjunto entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE).



