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“Boi safrinha” maximiza uso da terra e potencializa ganhos de produtores no Cerrado

Boi safrinha ocupou, no ano-safra 2019/20, 3 milhões de ha no Cerrado, ante 2,3 milhões de ha no ano-safra 2018/19

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Produtores rurais do Cerrado têm encontrado na adoção de um sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) uma alternativa rentável para evitar os riscos climáticos da segunda safra de verão em sistema de sequeiro, aproveitar áreas agrícolas que ficam em pousio durante o inverno, período seco do ano, produzir carne a custo mais baixo e incrementar a produtividade das lavouras de grãos. É o chamado sistema “Boi safrinha”, “safrinha de boi” ou “pasto safrinha”, tecnologia cada vez mais adotada na região.

O sistema recebeu esse nome em alusão à segunda safra de milho, também chamada “milho safrinha”. Nele, uma gramínea forrageira dos gêneros Brachiaria ou Panicum é semeada simultaneamente com o milho ou sobressemeada a lanço em soja, a partir do final do enchimento dos grãos até o amarelamento das plantas. Após a colheita da lavoura de grãos, a massa de capim formada para cobrir o solo para o plantio da cultura anual no verão seguinte em Sistema Plantio Direto* (SPD) também pode ser usada como pastagem de curta duração na cria, recria ou terminação de bovinos, promovendo bem-estar animal, diminuindo custos com confinamento, intensificando o uso da área e aumentando a lucratividade das fazendas.

De acordo com a avaliação de impactos da tecnologia realizada pela Embrapa Cerrados (DF), o Boi safrinha ocupou, no ano-safra 2019/20, 3 milhões de ha no Cerrado, ante 2,3 milhões de ha no ano-safra 2018/19. A área é estimada com base na estimativa de formação de pastagens e cobertura de solo com as espécies forrageiras mais utilizadas para o período seco do ano em sistemas de ILP especializados. O Boi safrinha foi uma das 152 tecnologias cujos impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais foram analisados no Balanço Social 2020 da Embrapa, cujos resultados serão anunciados no próximo dia 27 pelo presidente da Embrapa, em uma coletiva virtual de imprensa marcada para as 10h30.

A receita bruta com a tecnologia foi estimada em R$ 12,3 bilhões, quase o dobro do ano-safra anterior (R$ 6,2 bilhões) e a margem bruta em R$ 2,99 bilhões, praticamente o triplo do período antecedente (R$ 1 bilhão), com rentabilidade mensal de 9,7% do capital investido por ha, quatro pontos percentuais acima do obtido em 2018/19. A rentabilidade total em 2019/20 foi de 31,7%/ha, contra 18,8%/ha do período anterior. As simulações econômicas de 2020 consideram os valores de R$ 207,25 para boi magro e R$ 243,59 para boi gordo, com base em valores médios do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) nos meses de junho e outubro, respectivamente.

O efeito ambiental de “poupa-terra” (quando novas áreas deixam de ser utilizadas devido ao uso de tecnologias de intensificação do uso da terra) foi de 9,4 milhões de ha de pastagens perenes desocupadas durante a estação seca no Cerrado e pelo pastejo evitado decorrente da antecipação da idade de abate dos animais, contra 7,1 milhões de ha em 2018/19. Cada real investido na pesquisa sobre a tecnologia, entre 2009 e 2015, retornou R$ 534,82 para a sociedade.

Benefícios

Lourival Vilela, um dos pesquisadores responsáveis pela sistematização do Boi safrinha, destaca que tanto os produtores de grãos e fibras como os pecuaristas se beneficiam da tecnologia, assim como os frigoríficos, que contam com maior oferta de carne na estação seca, quando há menor disponibilidade de forragem.

Os principais impactos agronômicos do sistema Boi safrinha observados pelos pesquisadores são ganhos de produtividade de soja de 10 a 15% quando em sucessão a pastagens de maior produtividade e adubadas; ganho de peso em equivalente-carcaça entre 6@/ha e 12@/ha na pastagem de curta duração na estação seca; e ciclagem de nitrogênio, fósforo e potássio estimada, em equivalente-fertilizante, em cerca de 60 kg/ha/ano de ureia, 95 kg/ha/ano de superfosfato simples e 85 kg/ha/ano de cloreto de potássio, respectivamente.

O sinergismo da rotação lavoura-pasto do sistema promove melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, resultando no aumento do teor de matéria orgânica do solo; diminui a incidência de plantas daninhas e auxilia no controle de pragas e doenças das culturas, como Fusarium spp. e mofo branco em soja, reduzindo o uso de agroquímicos. Além disso, a palhada do capim, se bem manejada, aumenta a taxa de infiltração de água no solo, elevando a recarga do lençol freático.

Desenvolvimento

Apesar de ter sido descrito em uma publicação somente em 2017, o Boi safrinha já existia como prática desde o início da adoção de sistemas de ILP para recuperação de pastagens em fazendas na década de 1990, como lembra Lourival Vilela.

“Um dos aspectos que mais chamavam a atenção é que as pastagens permaneciam verdes por um período longo do ano. Quando o produtor de grãos começou a introduzir a braquiária nas áreas de agricultura, surgiu esta oportunidade: trabalhar com o boi, que é uma atividade de menor risco que o milho safrinha em muitas regiões”, diz o pesquisador.

O médico veterinário William Marchió, que atua como consultor de agronegócios em 11 estados brasileiros e no Paraguai, aponta que o Boi safrinha é uma estratégia que se tornou corriqueira em grande parte das fazendas com atividades agrícolas e pecuárias, principalmente em estados com perfil agrícola, como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, mais receptivos a esses sistemas.

“O fato de haver uma gramínea no sistema diminui a ocorrência de pragas e doenças e aumenta o teor de matéria orgânica do solo. A fertilidade do solo fica bem conduzida e quem se dispõe a ter gado produz uma arroba muito barata (por R$ 120 a R$ 140, contra R$ 200 na pastagem convencional). Além disso, os animais em pastejo conferem aumento da produtividade agrícola”, explica.

Marchió observa que os principais adotantes do Boi Safrinha são pecuaristas que se tornaram também agricultores cerca de 15 anos atrás, quando se iniciou o aumento da adoção de sistemas de integração no País. Em seguida, aparecem os agricultores que vislumbraram a agregação de valor com a atividade pecuária e adquiriram animais – por sinal, o principal investimento do sistema.

Lourival Vilela destaca que a tecnologia vai além da alimentação dos bovinos na entressafra. “Há fazendas que estão fazendo a estação de monta invertida, saindo do período tradicional (novembro) para o mês de maio (período da pastagem do Boi safrinha)”, comenta, salientando que os animais, nesse sistema, não perdem peso. “O grande objetivo do criador é obter mais bezerros por área. Na monta invertida, ele consegue aumentar a fertilidade das vacas devido ao valor nutricional superior da pastagem. Além disso, o nascimento dos bezerros ocorre normalmente na seca. Com a inversão da monta, a mortalidade diminui”, completa Marchió.

Vilela acrescenta que a maior disponibilidade de forragem proporcionada pelo sistema, aliada ao manejo animal adequado, pode proporcionar a redução das idades de abate dos animais machos e de primeiro parto das novilhas, encurtando o ciclo pecuário e proporcionando o aumento da rentabilidade da atividade ano após ano.

“Estamos num momento de demanda internacional por alimentos muito forte. A tendência é de que as commodities continuem sendo valorizadas. Como o valor da terra aumentou muito nos últimos anos, o produtor que não conseguir fazer a expansão horizontal da produção fará a expansão vertical, aumentando a produtividade na mesma área”, aponta Marchió.

Existem diferentes alternativas de Boi safrinha (ver figura), e a escolha depende das condições operacionais da fazenda, como infraestrutura, cercas, aguadas e máquinas, bem como das condições climáticas de cada região favoráveis aos cultivos de soja, milho e sorgo, e do conhecimento e experiência necessários para implantação das práticas do sistema.

Figura: Alternativas potenciais de Boi safrinha

Caso de sucesso

No Oeste da Bahia, as condições climáticas são restritivas ao cultivo da segunda safra de verão, como o milho após a colheita da soja. A Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto (BA), propriedade da família de Eduardo Manjabosco, adota o Boi safrinha há mais de 10 anos, tendo contribuído para a validação da tecnologia. O sistema é atualmente usado em toda a área com milho da fazenda, que na safra 2020/21 representa 4900 ha.

A fazenda utilizava tradicionalmente a semeadura do capim Brachiaria ruziziensis após a emergência do milho, visando à formação de palhada para o SPD. “Era muita palha de ótima qualidade e achamos que seria um desperdício não colocar um boi para comer parte daquela forragem no período da seca. Foi aí que decidimos adotar o Boi safrinha”, lembra Manjabosco.

Para melhorar o rendimento operacional do plantio do consórcio, foram introduzidos na safra 2009/10 os consórcios milho com B. ruziziensis e milho com B. brizantha cultivar Piatã em 200 ha da propriedade. A semeadura das braquiárias foi realizada imediatamente antes do plantio do milho, sendo que o capim Piatã foi utilizado para diversificação do sistema e aumento do potencial de produção de forragem.

Naquele primeiro ano, a produtividade do milho no consórcio com B. ruziziensis foi de 156,6 sc/ha, valor próximo ao do rendimento do milho solteiro (160 kg/ha). Já a produtividade do consórcio com o Piatã foi de 140 sc/ha (com capim Piatã), sendo que houve competição do capim com o milho, afetando a produtividade. Segundo Manjabosco, as produtividades médias do milho no sistema vêm se mantendo próximas a 200 sc/ha, sendo que na safra 2019/20 foram colhidas 187 sc/ha.

Ganhos na pecuária e na soja

A formação de massa seca de forragem nos consórcios no primeiro ano de Boi safrinha na fazenda foi de 2.677 kg/ha (B. ruziziensis) e 5.514 kg/ha (Piatã). Na entressafra, o ganho de peso médio de animais Nelore chegou a 0,98 kg/animal/dia no consórcio com o capim Piatã, e a 0,8kg/animal/dia no consórcio com B. ruziziensis, com rendimentos médios de carcaça de 6,9@/ha e 3,4@/ha, respectivamente.

O pastejo na fazenda é manejado em piquetes de 50 ha, de modo a preservar cerca de 50% da massa de forragem acumulada no consórcio com milho para uso no SPD. Assim, quando o consumo de forragem se aproxima dessa meta, geralmente entre 15 e 20 dias, os animais são transferidos para uma nova área, num sistema de pastejo itinerante.

Entre 2010 e 2015, a melhoria do potencial genético do rebanho da propriedade, associada aos ajustes no manejo animal e na pastagem no sistema, proporcionou a redução na idade de abate de 36 para 24 meses, além do aumento de 29% no peso médio da carcaça, de 202 kg para 261 kg. O crescimento médio anual de bovinos engordados foi de 41%.

Cerca de 90% dos animais utilizados na Fazenda Triunfo para recria e terminação vêm de outra propriedade da família, em Riachão das Neves e Santa Rita de Cássia (BA). Em 2020, eles foram vendidos com idade entre 22 e 23 meses e com peso médio de 315 kg (ou 21 @). Com o aumento da área ocupada pelo Boi safrinha na fazenda ao longo dos anos, o número de animais no sistema passou de 358 em 2010 para cerca de 4800 no ano passado. “Para nós, houve um grande ganho com a implantação do sistema Boi safrinha. Os negócios andam bem e, com o aumento do preço da arroba, melhor ainda”, afirma Manjabosco, que prevê utilizar em torno de 5 mil cabeças no sistema em 2021.

Ele observa que, como no Boi safrinha a engorda do gado ocorre no período de preços mais baixos da arroba (início da seca), o sistema proporciona animais gordos no período em que os preços começam a subir (final do período seco) e ainda há pouca oferta no mercado. “É um ganha-ganha de vários lados”, comenta o produtor.

Na safra 2010/11, a produtividade de soja em áreas de SPD no resíduo pós-pastejo havia sido de 67,5 sc/ha, 24% a mais que as 54,6 sc/ha obtidas nas áreas sem os capins. Nas últimas safras, a produtividade média em soja tem sido de 72 sc/ha, tendo alcançado 82 sc/ha na safra 2017/18. “Tanto em pesquisa como em trabalhos realizados em fazendas, tem-se observado que o pastejo do capim na entressafra tem proporcionado rendimentos de grãos maiores que em áreas não pastejadas. Em soja e milho, esses aumentos na produtividade são da ordem de 5 a 10 sc/ha”, diz Lourival Vilela.

“Sou fã do sistema e não quero voltar atrás. Ele me ajuda a colher mais soja e permite utilizar uma mão de obra que ficaria ociosa na entressafra, quando em vez de produzir nada, produzo carne”, afirma Manjabosco, acrescentando que o Boi safrinha na Fazenda Triunfo também viabiliza a propriedade de pecuária, onde o gado é mantido em pastagem extensiva com tecnologias de adubação e correção do solo.

Eficiência de uso da adubação

A liberação de nutrientes pela decomposição da palhada do milho consorciado com braquiária é outro benefício potencial do Boi safrinha observado nas pesquisas na Fazenda Triunfo. Na avaliação do efeito da redução da dose de fertilizante usada nos consórcios de milho com os capins, tendo como referência as doses normalmente utilizadas na propriedade, foi possível reduzir em 39% as doses de fósforo e em 33% as de potássio sem afetar significativamente a produtividade de soja, independente do modo da adubação ou do manejo da braquiária. Os resultados indicam que é possível reduzir as quantidades de fósforo e potássio e melhorar a eficiência desses nutrientes.

“No primeiro ano de soja após o consórcio milho com braquiária, aplico zero de potássio. E temos reduzido o uso de fósforo no plantio da soja, aplicando 250kg/ha de supersimples. Os níveis de fertilidade estão se mantendo. As próprias braquiárias têm capacidade de solubilizar algum fósforo da argila do solo. Hoje, só precisamos manter essa fertilidade, calculando a necessidade de nutriente pela extração pelas plantas”, comenta Manjabosco, lembrando que no período de construção da fertilidade do solo na fazenda as aplicações do adubo fosfatado eram de 400 kg/ha.

Além da intensificação dos fatores de produção (terra, insumos e mão de obra) e de melhorar as qualidades químicas, físicas e biológicas do solo, o sistema Boi Safrinha na Fazenda Triunfo contribui para reduzir a incidência de plantas daninhas e controlar algumas doenças das culturas e de solo. “Tínhamos problemas com o Pratylenchus sp. (“nematóide oportunista”) e hoje não vemos mais manchas de nematoides. São inúmeros ganhos, como a atividade biológica que o sistema traz para nossa lavoura”, aponta o produtor.

Novas experiências

Com o sucesso da adoção do sistema, Manjabosco passou a fazer novas experiências. Na safra 2017/18, além de manter os consórcios de capins com o milho, a fazenda passou a trabalhar com a sobressemeadura de Panicum maximum cultivar Mombaça em soja – nas duas últimas safras, foram 3 mil ha, cerca de 30% da área plantada com a leguminosa na fazenda. Em 2020, foram colocados animais sobre a pastagem formada antes de seguirem para os pastos de braquiárias dos consórcios com o milho.

“O Mombaça produz muita massa e o excesso de palhada dificulta o plantio (da safra seguinte). O desempenho dos animais foi muito bom, com maior ganho de peso que na braquiária”, conta o produtor, que cogita repetir a experiência em 2021 se a chuva for suficiente para favorecer o crescimento do capim.

Ainda neste ano, buscando aumentar a taxa de prenhez do rebanho, Manjabosco pretende introduzir novilhas no sistema Boi safrinha para serem entouradas aos 14 meses. “É uma experiência, quero ver se ganho um ano (no ciclo pecuário)”, diz.

Inovação com agregação de valor

A avaliação dos impactos (redução de custos, sustentabilidade, agregação de valor, incremento de produtividade e inclusão produtiva) do Boi safrinha para o Balanço Social da Embrapa tem sido realizada e atualizada anualmente desde o ano-safra 2015/2016. Na edição de 2020, foi uma das 152 tecnologias cujos impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais foram analisados no Balanço Social da Embrapa.

A metodologia da avaliação é baseada em números do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de comercialização de sementes de espécies forrageiras usadas para sistemas especializados de ILP (pastejo de inverno no Cerrado em sucessão à cultura anual principal de grãos) e com grande volume de venda de sementes – B. ruziziensisB. brizantha cultivar Marandu e B. brizantha cultivar Piatã. Também são consideradas informações de representantes dos filiados à Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), instituição parceira da Embrapa que reúne empresas de diferentes estados e responsáveis por cerca de 60% do mercado de sementes de forrageiras do País. Dos 34 filiados, 32 participaram por meio de entrevistas estruturadas.

As informações da Unipasto parametrizam um modelo matemático que considera os montantes de sementes vendidas e de sementes de salvamento (produzidas legalmente nas propriedades), além de uma estimativa da Unipasto sobre a quantidade de sementes comercializadas ilegalmente (sementes piratas), considerando apenas a região do Cerrado. A estimativa dos índices zootécnicos do componente pecuário é baseada em entrevistas estruturadas com consultores atuantes na região do Cerrado e publicações em eventos técnicos. A agregação de valor foi calculada pela diferença do ganho de peso vivo antes e depois da adoção tecnológica.

Em quatro anos de avaliação, a área estimada com o Boi safrinha no Cerrado passou de 973 mil ha em 2015/16 para 1,5 milhões de ha em 2016/17; 2,3 milhões em 2017/18 e 3 milhões de ha em 2019/20. O pesquisador Paulo Fernandes e o analista Tito Sousa, responsáveis pela avaliação de impactos da tecnologia, ressaltam que a área ocupada com a tecnologia não está sobreposta às áreas tradicionais de pecuária brasileira.

“Estamos ocupando uma área que não era ocupada. O Boi safrinha entra no pousio da agricultura, sendo contabilizado na área agrícola, não na de pecuária”, explica. “Isso constitui uma inovação, com uma agregação de valor que não existia antes e que foi gerada pelo senso de oportunidade do produtor, pelo cenário de inovação da ILP e por cultivares de soja com ciclo precoce”, completa Sousa.

A avaliação de impactos utiliza os conceitos macroeconômicos Taxa Interna de Retorno (TIR**), Relação Benefício/Custo (B/C***) e Valor Presente Líquido (VPL****) e considera o investimento da Embrapa no desenvolvimento tecnológico do Boi safrinha entre 2009 e 2015 e a adoção a partir de 2016 com ampliação da área ocupada pelo sistema especializado de ILP no Cerrado. A análise econômico-financeira mostrou Índice B/C da tecnologia de 534,82, TIR de 150,37% e VPL de R$ 850.860,62, que a uma taxa de juros de 6% por cada real investido na pesquisa, retorna R$ 534,82 para a sociedade.

Ao comentar os valores gerados pela tecnologia no ano-safra 2019/20, Fernandes lembra que 2020 foi um ano atípico na agropecuária brasileira. “Mesmo tendo ocorrido a melhor safra de grãos da história em decorrência das condições climáticas favoráveis e do aumento da produtividade, os preços dos produtos foram muito elevados. A pandemia da Covid-19 alterou a rotina do País e influenciou o mercado agropecuário”, analisa, acrescentando que mudanças cambiais e o aumento das exportações elevaram o valor dos grãos e da carne nos mercados interno e externo. “Só não houve mais Boi safrinha no ano passado porque não havia mais boi no mercado. Quem tinha, vendeu”, completa.

Análise de impacto segura e de baixo custo

Em 2020, a pandemia do novo coronavírus provocou uma mudança na forma de levantamento de dados de campo usados para as estimativas de adoção e os indicadores sociais e ambientais contemplados no método para avaliar os impactos da tecnologia. Em lugar dos contatos presenciais feitos a cada dois anos, Fernandes e Sousa realizaram as entrevistas de modo remoto, utilizando telefone, WhatsApp e ferramentas web.

“Montamos um esquema de perguntas bem prático para os entrevistados. É um grupo de alto nível”, diz Sousa. “Já fazíamos entrevistas à distância, então não foi uma novidade. De um ano para o outro, nossos números são muito coerentes”, completa Fernandes.

Além de garantir o distanciamento social, o levantamento remoto dos dados representou uma economia de R$ 95 mil, considerando o valor semanal de R$ 3 mil por empregado com deslocamentos, diárias, combustível e hospedagens, somado ao custo de mão de obra de um pesquisador e um analista. O custo com a obtenção de dados de forma remota foi praticamente zero, já que boa parte das entrevistas foi realizada via WhatsApp e plataformas web, não havendo a cobrança de tarifas adicionais para chamadas de longa distância.

Dados sobre o Boi safrinha

– O Cerrado brasileiro tem 22,1 milhões de ha com culturas anuais e, nessas áreas, o Boi safrinha ocupou 3 milhões de ha em sistemas especializados de ILP no ano-safra 2019/2020.

– A elevação dos preços dos produtos proporcionou grande aumento na receita bruta e na margem bruta, que alcançaram, respectivamente, R$ 12,3 bilhões e R$ 2,99 bilhões

– O efeito poupa-terra no Boi safrinha foi de 9,4 milhões de ha de pastagens perenes desocupadas no Cerrado e pelo pastejo evitado decorrente da antecipação da idade de abate dos animais.

– A relação benefício/custo mostra que cada real investido em pesquisa pela Embrapa com o Boi safrinha retorna R$ 534,82 para a sociedade.

Ano-safra 2019/2020:

  • Efeito poupa-terra: 9,4 milhões de ha
  • Área ocupada: 3.025.031 ha
  • Rentabilidade no período: 31,7 %/ha
  • Rentabilidade mensal: 9,7 %/ha
  • Receita bruta: R$ 12,3 bilhões
  • Margem bruta: R$ 2,99 bilhões

    Ano-safra 2018/2019:

  • Efeito poupa-terra foi de 7,1 milhões de ha
  • Área ocupada: 2.303.263 ha
  • Rentabilidade no período: 18,8 %/ha
  • Rentabilidade mensal: 5,7 %/ha
  • Receita bruta: R$ 6,2 bilhões
  • Margem bruta: R$ 1 bilhão

*O SPD é constituído pelo não revolvimento do solo, em sua cobertura permanente e na rotação de culturas, com supressão das etapas de preparo convencional de aração e gradagem do solo são suprimidas.

**A TIR é uma taxa de desconto hipotética que, quando aplicada a um fluxo de caixa, faz com que os valores das despesas, trazidos ao valor presente, seja igual aos valores dos retornos dos investimentos, também trazidos ao valor presente.

***Indicador que relaciona os benefícios de um projeto ou proposta e o seus custos, sendo ambos expressos em termos monetários e em valores presentes.

****O VPL determina o valor presente de pagamentos futuros descontados a uma taxa de juros apropriada, menos o custo do investimento inicial.

Fonte: Embrapa Cerrados

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Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo

Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024

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No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.

Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.

“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.

Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.

“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.

Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.

As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.

Mudanças estabelecidas

Prazos

Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.

O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.

Desburocratização da declaração

A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.

A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.

Fonte: Assessoria Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
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Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado

Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.

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Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.

A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.

Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.

A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.

Ameaças sanitárias e os impactos para a economia

No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.

A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.

Fonte: Assessoria Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul

Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.

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Foto: oliver de la haye

O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.

A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.

Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.

Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.

“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.

Foto: Shutterstock

O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.

Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.

Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.

Veja aqui o vídeo do presidente.

Fonte: Assessoria Faesp
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