Suínos Biossegurança
Biossegurança na produção de suínos: o que o produtor pode (e deve) fazer para reforçar a proteção de seu plantel
Manutenção de boas práticas de biossegurança é um exercício contínuo, que exige planejamento, diretrizes claras e muita disciplina
A sanidade é hoje um dos principais pontos de atenção na suinocultura. O registro de enfermidades nos últimos anos, sejam elas emergentes ou reemergentes, tem causado grandes prejuízos aos suinocultores em várias partes do mundo e colocado o setor em estado de alerta. Mais do nunca, a execução de um bom programa de biossegurança deve ser tratada como prioridade máxima pelos produtores. A manutenção de boas práticas sanitárias, no entanto, requer planejamento, políticas e diretrizes claras, disciplina e, sobretudo, o comprometimento de todos os envolvidos. Em entrevista exclusiva ao Presente Rural, Gustavo Simão, gerente de Serviços Veterinários da Agroceres PIC, enumera uma série de dicas e procedimentos de biossegurança essenciais para impedir a introdução de enfermidades nas unidades de produção de suínos.
O Presente Rural (OP Rural) – Como você analisa a atual situação sanitária da suinocultura mundial?
Gustavo Simão – A sanidade é hoje uma das principais preocupações da suinocultura. O avanço de enfermidades com alto potencial de disseminação, como a Peste Suína Africana (PSA) por exemplo, vem demonstrando a necessidade de reforçarmos as políticas e padrões quanto a estrutura e procedimentos de biossegurança, tanto em nível oficial, através dos órgãos de defesa sanitária, como nas unidades de produção. A situação exige atenção e empenho de todos. Neste momento, temos que intensificar nossos esforços para evitar a entrada de doenças, mas, caso isso ocorra, temos que ter medidas claras de contenção e contingência. Em se tratando de vírus, como PSA, por exemplo, para o qual não temos nenhuma arma efetiva, como a vacina, a preparação e as medidas de prevenção devem ser ainda maiores.
OP Rural – Qual o papel dos programas de biossegurança nesse cenário?
GS – Tem um papel absolutamente prioritário. A biossegurança compreende um amplo conjunto de medidas para mitigação de risco durante os manejos diários, que são essenciais para o funcionamento de uma unidade de produção de suínos. Da mesma forma que as empresas possuem regras e uma filosofia de trabalho, as boas práticas de biossegurança devem fazer parte de sua cultura. Somente com um bom programa de biossegurança, elaborado a partir da realidade e das características da granja ou do sistema de produção, é possível definir as normas a serem executadas, promover treinamentos e mensurar, a partir de indicadores e auditorias, as vulnerabilidades e o que é preciso fazer para aprimorar, continuamente, a proteção das unidades de produção.
OP Rural – Sob o ponto de vista da biossegurança, quais são os eventos de maior risco para a entrada de patógenos numa granja?
GS – Baseando-se em resultados de modelos epidemiológicos, sem dúvida, seriam, primeiro, a movimentação de animais – o que engloba introdução de animais de reposição no plantel residente, sem passar por quarentenas, carregamento de descartes sem critérios claros de inspeção dos caminhões após lavação e desinfecção e procedimentos corretos durante o carregamento, dentre outros. Em seguida, a entrada de pessoas, o ingresso de ração contaminada, equipamentos e materiais sem passar por processo rigoroso de fumigação, alimentos, doses inseminantes sem procedência confiável, a destinação de animais mortos e, por fim, o acesso livre às composteiras por animais silvestres e situações que atraiam pragas carreadoras de patógenos, como roedores e pássaros.
OP Rural – Que medidas precisam ser adotadas quanto a movimentação de animais nas granjas, por exemplo?
GS – É necessário monitorar o trânsito de veículos na unidade de produção. Para isso, é preciso intensificar os processos de lavação, desinfecção e secagem dos caminhões e automóveis. Outro ponto importante é que todos os veículos cumpram o período de vazio sanitário antes de sua entrada na granja, com o objetivo de garantir a secagem completa na maioria dos casos. Nesse sentido, o TADD é uma tecnologia que vem ganhando espaço, pois promove a desinfecção dos caminhões por secagem forçada com ar aquecido. Uma vantagem adicional deste processo é a não necessidade de período de vazio sanitário após a lavagem, secagem e desinfecção, otimizando o tempo de utilização dos veículos no transporte de animais. Em resumo, somente os veículos inspecionados e aprovados devem ser autorizados a entrar.
Além disso, a entrada e saída dos suínos deve respeitar o fluxo unidirecional e a divisão das áreas limpa, intermediária e suja da granja, limitando o contato do colaborador interno com a carroceria do caminhão. São medidas importantíssimas, pois até que se prove o contrário, o caminhão deve ser considerado um vetor potencial de contaminação por circular em locais de risco, como outras unidades de produção e frigoríficos.
Já as granjas que adotam o sistema de produção fechado, têm como grande vantagem a autorreposição de fêmeas, evitando a introdução de leitoas e reprodutores de origem externa, uma vez que a atualização genética do plantel é feita internamente com o apoio de Genética Líquida, ampliando, assim, a proteção sanitária da granja.
OP Rural – A entrada de pessoas na granja é outro ponto crítico. Como se deve agir nesse sentido?
GS – É preciso restringir ao máximo as visitas à unidade de produção. Somente pessoas essenciais ao funcionamento da granja devem ter sua entrada autorizada. Ainda assim, devem seguir um rigoroso protocolo de biossegurança, como banho, troca de roupas e calçados e cumprir o tempo de vazio sanitário. Para atender a essas medidas, as instalações do vestiário precisam ser adequadas, de modo a permitir a correta realização dos procedimentos de rotina, como por exemplo, a utilização de bancos como barreira física, para serem deixados os calçados, dispor de armários na áreas suja e limpa, possibilitando a organização das vestimentas e toalhas em seus devidos lugares. Também é importante manter uma sinalização clara dos limites entre as áreas suja, intermediária e limpa, facilitando o aprendizado das ações corretas na granja.
OP Rural – E quanto ao ingresso de equipamentos, materiais e utensílios, como proceder?
GS – A entrada de quaisquer equipamentos deve obedecer rígidas normas de descartes de embalagem como papelão e plásticos, na área suja, e desinfecção completa e eficiente do restante dos materiais. Todo objeto, seja ele suprimento ou equipamento, antes de ingressar na granja precisa fazê-lo através das salas de descontaminação, utilizando fumigação com desinfetantes aprovados, e das câmaras de descontaminação, utilizando luz ultravioleta ou álcool 70%, dependendo do tipo de material, seguindo o protocolo específico da unidade de produção. O tipo de produto, dosagem e tempo de exposição devem ser, rigorosamente, seguidos e são fundamentais para garantir o processo de fumigação e reduzir o risco de introdução de patógenos por essa via. Detalhes dos procedimentos podem ser encontrados em nosso Guia de Biossegurança.
OP Rural – A compra e uso de insumos para fábrica de ração é outro ponto de vulnerabilidade. Que normas de biossegurança devem ser adotadas para mitigar a introdução de agentes por essa via?
GS – É preciso redobrar a atenção e controlar a importação desses insumos, principalmente os originados dos países de risco, onde a transmissão de PSA entre granjas permanece ativa. Estudos recentes, realizados por pesquisadores renomados, mostraram que vários vírus podem resistir a diferentes oscilações de humidade e temperatura, como em viagens intercontinentais de navios e, mesmo dentro de ingredientes de ração comumente importados. Portanto, a orientação em relação as ações de mitigação de risco, em se tratando de suplementos de fábrica, é aguardar, pelo menos, 30 dias após a chegada do container. Somente após esse período, os suplementos devem ser distribuídos e utilizados, já que a inativação natural da maioria dos vírus ocorre quando o produto é armazenado durante 78 dias na temperatura de 21ºC. Esse tempo é facilmente atendido considerando o processo de importação e os 30 dias após a chegada. Outra orientação é a fumigação do interior do container com aplicação de formaldeído e exposição de, pelo menos, uma hora. O exterior também deve ser descontaminado com a ajuda de desinfetantes aprovados.
OP Rural – Reforçar outras medidas de biossegurança, como o manejo da composteira, é outro expediente a ser adotado?
GS – Se imaginarmos que os vírus e bactérias possuem diferentes períodos de incubação, ou seja, de tempo distintos para iniciar os sinais clínicos mais severos e chamar a atenção do produtor ou do sanitarista, podemos estar diante de uma “torneira” vazando a dias. Isso significa que o patógeno poderá estar por toda parte, inclusive na composteira. Portanto, podemos concluir que seria uma fonte de contaminação e, portanto, uma ameaça para granjas vizinhas, quando pensamos nos raios de atuação das moscas e animais silvestres. E se a composteira não estiver devidamente telada, bem manejada e com critérios rigorosos de acesso por parte dos colaboradores, a disseminação acontecerá de forma mais comum do que imaginamos. Dessa forma, a perda do controle do foco pode representar a perda da guerra contra algum vírus exótico que possa vir a entrar no país. Assim, temos o compromisso de cuidar da compostagem considerando-a uma porta de entrada de doenças da mesma forma que as outras já citadas.
OP Rural – Diante do impacto econômico causado pelas doenças na suinocultura, pode-se concluir que prevenir é sempre mais barato do que remediar. Daí a importância de o produtor rever, frequentemente, suas práticas de biossegurança?
GS – O trabalho de prevenção de qualquer enfermidade é um esforço coletivo, que envolve as autoridades sanitárias oficiais e o setor privado. Mas o engajamento do produtor é fundamental. Para se ter uma ideia do impacto econômico causado por algumas doenças exóticas ao Brasil, como PRRS, por exemplo, estudos recentes publicados pela Universidade do Estado de Iowa, nos EUA, estimaram quedas de até 5 leitões desmamados/fêmea/ano após introdução do vírus de alta patogenicidade em UPLs negativas, e aumento da mortalidade em recrias e terminações podendo chegar em 25%. Os EUA estimam que os prejuízos para conviverem com o agente (forma endêmica) podem estar na ordem de U$ 700 milhões/ano. As granjas brasileiras têm um bom nível sanitário, quando comparado com outros países produtores importantes. O fortalecimento das medidas de biossegurança nos sistemas de produção continua a ser a principal forma de prevenção. Ao garantir sua correta execução, a empresa ou o produtor podem reforçar a segurança sanitária de sua granja e reduzir o risco da entrada de qualquer agente infeccioso.
OP Rural – Para finalizar, o que a Agroceres PIC vem fazendo para reforçar a cultura da biossegurança entre seus colaboradores e clientes?
GS – Tratamos a biossegurança com prioridade máxima e temos levado essa mensagem para todos os nossos clientes. Nos últimos 5 anos, por meio de uma equipe dedicada a essa área, implementamos inúmeros procedimentos de mitigação de risco em nossas unidades e em nossa rede de multiplicação. Para comunicar estas regras de biossegurança ao mercado, criamos vídeos educativos que apresentam, de forma bastante ilustrada e didática, as normas e protocolos de biossegurança que devem ser praticados nas unidades de produção. Todos os vídeos estão disponíveis em nosso aplicativo e no canal técnico de nosso site, podendo ser acessados facilmente. Investimos ainda na biossegurança do transporte, como a renovação de 100% das carrocerias da frota, permitindo melhor qualidade de lavação e desinfecção, instalação do sistema de desinfecção TADD, treinamentos constantes de toda equipe e, por fim, participação ativa junto aos órgãos competentes na elaboração de planos de contingência para os principais agentes que ameaçam a nossa suinocultura.
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Suínos
Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.